Enjoy sem enjoar!
Pergunte ao Nizan: quando falam de Brasil, até rolezinho no shopping vira rebelião no presídio da Roseana
Alô, turista que vem ao Brasil em 2014! Não me chamo Nizan Guanaes, mas gostaria de lhe dar as boas-vindas e oferecer algumas dicas a fim de tornar sua estada tão mais agradável do que já está programada para ser.
Assim que seu pezinho tocar o solo desta gloriosa potência, a primeira coisa que você verá serão fartos seios bronzeados balançando ao vento em meio a exóticos frutos tropicais.
Bem. Isso é o que o Nizan Guanaes gostaria que acontecesse. Ele torce muito para que a Copa dê certo, sabe? E se Deus e Oxássa, ou sei lá qual o santo do premiadíssimo publicitário e emérito filantropo (o Nizan é baiano) mentalizarem bastante entre 12 de junho e 13 de julho, tenho certeza de que tudo sairá a contento. Não há como errar.
Mas é provável, caro turista, que logo após sua chegada, a primeira coisa a chamar atenção será uma placa dizendo: "disembarkation". Pois é, o uso do termo "arrival" parece ter sido vetado, foi o que ouvi, em estudo encomendado pela Anac às Organizações Tabajara.
Não faz mal, logo você irá experimentar o calor local. Saiba que é natural a não retribuição do seu "obrigada" ou "bom dia". Somos descontraídos. Está pensando que é à toa sermos os maiores exportadores de sandália de dedo do planeta? Sabe o que se investiu em tecnologia para fazer um chinelo que não cheira e não solta as tiras, mané?
Entre um jogo e outro, você há de querer esticar as pernocas, aliviar a carteira, levar um berimbau para a mamãe, essas coisas "turísticas".
Cabe alertar, caso o Nizan ainda não o tenha feito, que nós brasileiros temos asco de calçada. Tirando dois ou três calçadões à beira-mar, em que gostamos de ser admirados andando, o resto a gente asfaltou. Calçada dá muito trabalho. E não agrega valor, entende? Para quem gosta de ir a todo lugar de automóvel, calçada não serve. Ainda mais se você reparar, caro gringo, que somos adeptos da arquitetura "peru no pires".
Pois é. Essa história de Niemeyer, arcos e o escambau é conversa de cartão-postal. Negócio de brasuca é morar em casa que nunca tenha jardim. Gostamos de muro alto e construção, um charme. Jardim para quê, se a gente tem a Amazônia inteira para chamar de nossa?
A Amazônia é um quintalzão e tanto, uma farra, o Nizan não gosta que eu fale disso com gente de fora, mas como é divertido espetar bunda de índio com vara de pesca, dar estilingada neles com mamona --ui!-- e derrubar mata para plantar ração! Sabe como é, somos o maior país exportador de carne do mundo. Até boi vivo exportamos. Bicho vai cagando de pé daqui até a China. Nos enche o peito de orgulho.
Podiam, quem sabe, ser mais compreensivos com nossos lapsos em matéria de conservacionismo. Começamos tarde a separar lixo. Estávamos muito ocupados assistindo a novela, percebe? Entre uma distração e outra, esquecemos também de questionar a inviolabilidade da urna eletrônica. Apenas achamos o máximo que o resultado das eleições chegue a galope. Assim a coisa se resolve de uma vez, né? Afinal, eu não pedi para votar. Saco.
Temos também uma questão menor com homicídios, latrocínios e acidentes com filhos de turistas argentinos que escorregam por vãos em aeroportos. A fragilidade da integridade física por aqui é só um detalhe. Veja o Schumacher: não foi esquiar inocentemente e se deu mal? Minha mãe quebrou o maxilar comendo uma bolacha água e sal. Coisas ruins acontecem.
Se fosse na Suíça ninguém falaria. Mas quando é aqui qualquer rolezinho no shopping vira rebelião no presídio da Roseana. Eu, hein!
Olha só, Mr.Tourist: em vez de reclamar da poluição e do frio, se dê por contente que ninguém pega dengue no inverno. Boa Copa e um 2014 melhor ainda! Brasil, il, il!
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