'Sorriso' mostrou a Paes a alma do Rio
O prefeito achou que encarava a greve dos garis com radicalismo de gogó e produziu uma grande lixeira
"Sorriso" aderiu à greve dos garis do Rio. Na outra ponta, o prefeito Eduardo Paes teve seu momento Ronald Reagan. Diante da greve, demitiu 300. Quando a cidade ficou parecida com Nápoles durante sua terrível paralisação de 2011, aceitou readmiti-los, pagando os dias parados. O presidente Reagan havia sido ator mas não fazia teatro, demitiu 11 mil controladores de voo, quebrou a greve e nenhum deles retornou ao emprego. Depois do recuo, Paes chamou grevistas de "delinquentes". Nisso, a cidade continuava imunda pois, ao contrário de Reagan, que armou um plano B, a prefeitura entrou só com a agressividade do gogó. Disse que a greve era coisa de 300 garis. Tudo bem. Se fosse assim, cada um deles deveria ganhar R$ 100 mil por mês pois, quando pararam, a cidade virou um lixo. Desfeita a patranha, reconheceu-se que o movimento envolveu pelo menos 30% dos 4.000 servidores. Em vez de tentar um caminho que o levou ao fracasso, poderia ter acompanhado a alma do Rio, evitando a linha do posso-logo-faço. Filmado arremessando pedaços de fruta na rua, explicou que jogou-os na direção de uma lixeira longínqua "ou para que um de seus assessores fizesse o descarte em local adequado". Fica criada assim a categoria de assessor de descarte, ou gari de prefeito. Seria mais fácil cantar: "Viver é arte. Errar faz parte".
Brigar com gari pode não ser uma boa ideia, mas, quando um prefeito está de um lado e um sujeito como "Sorriso" está do outro, ele deve pensar duas vezes.
TERROR
O ministro Ricardo Lewandowski recebeu uma carta de um advogado que defende a banca no julgamento pelo STF do processo dos poupadores tungados nos planos econômicos. Dizia o seguinte:
"A prevalência do entendimento até agora adotado por numerosas decisões judiciais provocará uma convulsão econômica que lançará o país numa coorte de horrores que, sem exagero, irão do desemprego em massa à fome da população mergulhada nos sortilégios de uma crise econômica que afetará toda a nação."
A banca da banca deve estar lendo demais sobre a Ucrânia.
BURLE MARX
Um carioca de alma exilado em Brasília estava esperando sua hora no aeroporto do centro da cidade e não acreditou no que viu. Sumiu o jardim de Burle Marx que ficava na pracinha em frente.
Virou estacionamento e sobraram só as árvores, para dar sombra aos carros.
SUCESSÃO
Durante um almoço do andar de cima, no Rio, falava-se nas virtudes de Eduardo Campos como candidato à Presidência, até que um grande empresário que estava à mesa perguntou ao garçom:
-Você sabe quem é Eduardo Campos?
-Não senhor, respondeu o rapaz, com sotaque nordestino.
O assunto morreu.
MADAME NATASHA
Madame Natasha vai a Brasília pedir aos educatecas do Inep que estudem as mudanças anunciadas para o sistema de testes do SAT americano. Nos Estados Unidos, os estudantes podem fazer esses exames em sete ocasiões ao longo de um ano. No Brasil, Lula e Dilma prometeram duas provas anuais do Enem, mas era lorota.
A instituição que cuida do SAT anunciou que retirará dos exames os fatores de "ansiedade improdutiva". Para começar, banindo expressões que são colocadas nas provas com o propósito de humilhar e confundir os estudantes. Algumas palavras, como "síntese" ou "empírico", não são corriqueiras, mas devem ser conhecidas. Outras, como "deletério", podem ser substituídas. (Por "destruidor", por exemplo.)
Natasha foi a uma prova do Enem de 2012 e achou coisas assim: "canalizar as pulsões", "cultura lipofóbica", "sentimentos de pertencimento" e "biorremediação".
Natasha teme que o Inep diga que é isso mesmo, porque a doutora Dilma disse o seguinte há dias:
"Tem uma infraestrutura muito importante para o Brasil, que é também a infraestrutura relacionada ao fato de que nosso país precisa ter um padrão de banda larga compatível com a nossa, e uma infraestrutura de banda larga, tanto backbone como backroll, compatível com a necessidade, que nós teremos para entrarmos na economia do conhecimento, de termos uma infraestrutura, porque no que se refere a outra condição, que é a educação, eu acho importantíssima a decisão do Congresso Nacional do Brasil em relação aos royalties." (84 palavras em busca de um sentido.)
TRÊS VIÚVAS DO HAITI NO GAVETEIRO DA JUSTIÇA
Em 2010, durante o terremoto do Haiti, morreram 18 militares brasileiros que integravam a força internacional que policiava o país. Lula recebeu os caixões com pompa e circunstância e o governo deu às famílias as pensões a que tinham direito, bem como um auxílio especial de R$ 500 mil a cada uma.
Encerrada a marquetagem, começou uma encrenca. Todos os mortos tinham seguro de vida vendido pelo Bradesco, consorciado com a Fundação Habitacional do Exército. Até hoje não se sabe o que pode levar um exército a se juntar a uma seguradora privada. As viúvas diziam que os militares morreram em serviço (o que é óbvio) e, portanto, tinham direito ao dobro do valor da apólice. A seguradora dizia que eles morreram num cataclismo ao qual o contrato não dava cobertura. Foram para a Justiça e o Bradesco fez acordo com 15 famílias. Sobraram três, que reivindicam também indenização por danos morais ocorridos durante a disputa. Como seus maridos foram promovidos post-mortem, são viúvas de dois generais e um coronel. Com elas não houve oferta formal de acordo, além de um telefonema.
Desde 2012, um recurso dessas três senhoras está no gaveteiro do Tribunal Regional Federal 1. Se o Exército não tivesse se associado a uma seguradora que vende apólices de grupo dentro de suas instalações, a questão estaria resumida a um negócio privado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário