A caravana passa
A esquerda acha que a gente é vendido. A direita acha que a gente é petista. Os petistas acham que a gente é tucano
Estreamos numa sala de dança de 50 lugares graças à benevolência de uma amiga bailarina e logo passamos para um teatro de 150 lugares e de repente estávamos num teatro de 1.200 lugares, fazendo três sessões lotadas. Era um sucesso, essa palavra cafona que causa horror em tanta gente.
Nossos detratores não paravam de aumentar. Ouvimos toda sorte de coisas. "Essa é a peça mais ofensiva que eu já vi na vida." "Essa é a peça mais careta que eu já vi na vida." Assim que a peça virou moda, virou moda odiar a peça. O pessoal do teatro contemporâneo achava que a gente fazia comédia escrachada (o que era verdade). O pessoal da comédia dizia que nosso ingresso era muito barato (realmente era) e só por isso fazíamos sucesso (talvez fosse). E os dois pessoais achavam que a gente fazia stand-up comedy.
Uma vez o Renato Aragão (que eu admiro muito, apesar das discordâncias) disse que, quando os trapalhões chegaram do Nordeste, eles foram taxados de "retirantes que faziam um humor subnutrido". Quando foram pra Globo, vestiram um smoking e investiram numa grande produção. A crítica meteu o pau, disse que perderam a graça. "A graça de vocês é serem pobres", disseram-lhes. "Descaracterizou." Mas foi um sucesso.
A fórmula é batida: odiar o que esperam que você goste. Chico Buarque é uma fraude. Caetano Veloso é uma besta. Tom Jobim é um porre. Quanto mais unânime é o alvo da sua crítica, mais inteligente você vai parecer. A fórmula funciona e paga as contas de muita gente.
O Porta dos Fundos se parece com o Z.É. Agrada a muita gente, mas todo dia ganha um novo detrator. A esquerda acha que a gente é vendido. A direita acha que a gente é petista. Os petistas acham que a gente é tucano. Os tucanos acham que a gente é chavista. Os chavistas acham que a gente é da Globo. A Globo acha que a gente é a Record. A Record acha que a gente é o demônio. O demônio nunca se manifestou. Mas deve achar que a gente é católico.
Nessas horas, é bom lembrar do Cervantes: "Se os cães ladram, é porque estamos avançando". Ou da Valesca Popozuda: "Late mais alto que daqui eu não escuto".
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