Deu branco
Dupla de rap Macklemore & Ryan Lewis desbanca veteranos e compra briga com hit sobre amor gay
Brancos, com um hit sobre amor gay ("Same Love") e outro sobre compras em brechó ("Thrift Shop"), o duo venceu a categoria de artista revelação e os três principais prêmios de rap do último Grammy, quebrando expectativas.
Com uma carreira que ganhou força só no último ano, Macklemore & Ryan Lewis desbancaram, não só no Grammy mas também na parada da "Billboard", concorrentes veteranos como Kanye West e Jay-Z e geraram controvérsia entre os puristas do estilo. Macklemore --fora dos palcos, o americano Ben Haggerty, 30, de Seattle--, aliás, alimentou a polêmica.
O rapper, logo após receber o prêmio de álbum do ano, por "The Heist", publicou no Instagram uma mensagem de desculpas ao amigo Kendrick Lamar, negro e um dos favoritos com seu "Good Kid, M.A.A.D City".
Para Macklemore, ele e a outra metade menos conhecida da dupla, o produtor Ryan Lewis, 25, "roubaram", por serem brancos, o prêmio de Lamar, que teria feito um disco melhor.
"Em termos das pessoas que estão votando, preenchendo as urnas [do Grammy], temos uma vantagem injusta devido à raça, devido ao fato de que tivemos grande sucesso de rádio, devido ao fato de que o nosso nome estava circulando mais na indústria dessas pessoas que preenchem as cédulas", disse o rapper à rádio nova-iorquina especializada em hip-hop Hot 97.
Desde que a categoria de álbum de rap foi criada, em 1996, outras cinco vezes o gramofone dourado ficou com um branco --todas com Eminem, que se diz admirador de Macklemore.
"Eu ouvi todo o álbum dele. Ele é realmente da hora'", disse o branco de maior sucesso da história do estilo, em entrevista à revista americana "Rolling Stone". "Ele é um ótimo compositor. Conceitualmente, as coisas que ele faz são incríveis."
No Brasil, rap sobre gays seria atacado, avaliam músicos
Para artistas, movimento ainda rejeita tema homossexual, abordado por Macklemore & Ryan Lewis em 'Same Love'
Nos EUA, Snoop Lion disse que gays não são 'bem-vindos' ao estilo; colega vê preconceito contra Frank Ocean
Com o hit "Same Love", que apoia o casamento gay, a dupla Macklemore & Ryan Lewis mexeu no vespeiro do mundo dos machões do rap.
Snoop Lion (ex-Snoop Dogg), 42, um dos principais nomes do estilo, já disse que gays não são bem-vindos. "Rap é masculino. É como um time de futebol. Você não pode estar num vestiário cheio de caras durões e, do nada, dizer Ei, cara, gosto de você", afirmou ao "Guardian".
A declaração, em abril passado, era sobre a saída do armário do rapper californiano Frank Ocean. "Ele não é um rapper. É um cantor. Isso é aceitável no mundo dos cantores, mas, no mundo do rap, não sei se isso vai ser aceitável algum dia", completou.
Nesta semana, o preconceito contra Ocean voltou à tona. O rapper T-Pain, em entrevista ao site VladTV, sem citar nomes, disse conhecer rappers que já se negaram a trabalhar com Ocean.
Heterossexual, Macklemore --que se recupera do vício em drogas-- diz dar a cara a tapa por convicção na causa.
Em "Same Love", com vocais da cantora Mary Lambert, ele lembra que, quando criança, chegou a achar que fosse gay porque sabia desenhar e manter o quarto organizado. Contou aos prantos à mãe, que lhe fez ver além dos rótulos, diz a canção.
No Grammy, o duo "causou", com Madonna e Queen Latifah, ao promover um casamento gay coletivo ao cantar a música, que foi adotada como uma espécie de hino em Estados americanos que buscam a aprovação da união.
'HIPOCRISIA'
E se um rapper brasileiro falasse sobre casamento gay? "Tenho certeza de que a polêmica seria muito maior [do que nos EUA] e receberia muitas críticas das pessoas do próprio movimento", diz o rapper paulistano Projota, 27.
"Estamos atrasados. Aqui a gente recém começou a assimilar o fato de termos raps que não falem somente da periferia e não sejam voltados só para o periférico'", avalia.
Para Gabriel O Pensador, 39, que citou o amor gay em "Se Liga Aí", a questão é tratada com hipocrisia no país. "Putaria pode, mas amor entre pessoas do mesmo sexo, não. Não faz sentido", diz.
"O trabalho [de Macklemore e Lewis] tem conteúdo e personalidade, o que já é um diferencial enorme num cenário onde muitos usam e abusam de fórmulas de comportamento, postura, marra, ostentação", avalia o carioca.
Apesar do "atraso" brasileiro, para Thaide, 46, um rap com tema gay poderia ser bem-sucedido, com as portas já abertas pela canção americana. "Same Love' é uma música que mexe com a valorização do ser humano. Pessoas que não se sentiam apoiadas até então provavelmente vão fazer músicas assim agora."
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