sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Helio Schwartsman

folha de são paulo
Braços abertos
SÃO PAULO - Exceto pelo nome brega, "Braços Abertos", vejo com simpatia o plano da Prefeitura de São Paulo para lidar com os viciados em crack no centro da cidade.
É claro que eu mudaria duas ou três coisinhas, para tentar modular melhor os efeitos urbanísticos do uso da área, mas o programa tem o grande mérito de reconhecer, ainda que implicitamente, que a repressão policial não é solução para a questão das drogas. Ela até pode ajudar a inibir o consumo, mas cria tantos efeitos colaterais indesejáveis que não parece exagero afirmar que, no final das contas, agrava o problema.
Um dos bons livros que li no ano passado foi "High Price" (preço alto), de Carl Hart. O autor é neurocientista, professor em Columbia e pesquisa drogas. Ele também é negro, criado nos piores bairros de Miami e que por pouco não se tornou um traficante. Hart combina suas experiências acadêmica e pessoal para sustentar a tese de que quase todas as ideias comumente aceitas sobre drogas estão erradas. Elas se baseiam em má ciência quando não em mitos.
Um deles é o de que basta experimentar o crack uma vez para tornar-se dependente e logo estar vagando pelas ruas esquálido como um morto-vivo. Segundo Hart, mais de 75% dos usuários de crack, a exemplo dos de heroína, jamais se torna dependente da substância. Não é só. Engenhosas pesquisas do autor mostram que mesmo um dependente grave ainda conserva alguma capacidade de tomar decisões racionais, trocando, por exemplo, uma dose que sabe ser de baixa qualidade por recompensa futura. A ideia de que, para obter a próxima dose o viciado rouba, se prostitui e mata, é exagerada.
A dependência é um fenômeno complexo que envolve bioquímica, personalidade e fatores sociais. A ciência ainda está longe de entender como tudo isso interage, mas já sabemos o bastante para ver que não faz sentido acrescentar uma dimensão penal à já difícil vida do dependente.

Polêmica universitária: Estudantes neonazistas devem ser denunciados?

Polêmica universitária: Estudantes neonazistas devem ser denunciados?

Philipp Alvares de Souza Soares e Maximilian Popp
  • FP
O professor falava sobre "lições básicas do direito civil" para estudantes calouros na Universidade de Bochum, na Alemanha, quando um grupo de ativistas "Antifa" (antifascistas) de esquerda irrompeu na sala. Vestidos como Papai Noel, eles correram até um estudante e o apontaram.
Poucos na sala conheciam o rapaz, que tinha cabelo cortado rente e rosto rechonchudo. Mas Michael Brück, 23, é bem conhecido nos círculos de extrema-direita. Ele foi membro do grupo neonazista Resistência Nacional Dortmund até que este foi proibido, há um ano e meio. Seus membros atemorizavam pessoas contrárias a eles, realizavam festas em comemoração a Adolf Hitler e atacavam imigrantes e policiais com facas e spray de pimenta. Brück é vice-presidente regional do partido extremista Die Rechte --ou A Direita.
O palestrante gritou "Saiam! Saiam!" Os ativistas gritaram: "Seu aluno é um neonazista!" Então o professor Borges se aproximou deles, segurou um Papai Noel pelo braço e o empurrou para a porta. Houve empurrões e golpes. Borges disse mais tarde que foi atacado e agredido por pessoas mascaradas. Mas um vídeo gravado com celular não confirma que os ativistas iniciaram a briga. "Eu não pude aceitar que tomassem atitudes contra um dos meus alunos", disse Borges. Ele retomou a palestra com o nariz sangrando.
A operação da Antifa levanta uma questão que muitas universidades e faculdades da Alemanha estão enfrentando. Como as universidades devem reagir quando extremistas de direita estudam nos campi? E como alguém deve reagir se for publicamente denunciado?
Em novembro passado, ativistas de esquerda na Universidade de Hanôver desmascararam uma estudante como um membro graduado do Partido Nacional Democrático (NPD) de extrema-direita. O instituto de ciência política da universidade condenou o comportamento da Antifa como uma "forma de protesto denunciatória". E Marian Döhler, diretora do instituto, disse: "Nós ensinamos independentemente da opinião política, afiliação religiosa ou outras características". A estudante do NPD postou uma mensagem no Facebook dizendo que a ação foi "a melhor publicidade para o partido".

Abordagens diferentes

Outras universidades reagem de modo diferente. A Universidade de Potsdam tentou impedir que um estudante contasse seu período no NPD como um de seus estágios de trabalho obrigatórios. O estudante moveu uma ação legal contra a decisão e venceu.
Órgãos estudantis também reagem de modos diferentes. Em Leipzig e Bielefeld, neonazistas foram denunciados em salas de aula. Mas em Trier e Colônia, extremistas de direita foram eleitos para comitês estudantis. Os neonazistas com frequência estudam direito para que possam representar seus camaradas como advogados mais tarde. Segundo Marc Brandstetter, do grupo antinazista Endstation Rechts, as mulheres muitas vezes estudam para ser professoras --possivelmente para poderem transmitir a ideologia nazista para as crianças.
Mas isso não é motivo para impedi-las de entrar nas universidades. O reitor da Universidade de Bochum, Elmar Weiler, criticou "o pensamento extremista de direita" depois do incidente na sala de aula, mas disse que o estudante de direito não deveria ter sido denunciado. O professor Borges disse que ninguém que cumpra as exigências formais da universidade deve ser privado de seu direito de estudar. Ele acrescentou que, se encontrar Brück, lhe dará um "conselho urgente" para repensar sua ideologia.
O órgão representativo dos estudantes da faculdade de direito emitiu uma declaração condenando "a discriminação com base no envolvimento em partidos políticos", mas salientou mais tarde que não havia espaço para a ideologia de extrema-direita entre os estudantes. O conselho não quis responder a mais perguntas, dizendo que qualquer debate adicional "prejudicaria a reputação da faculdade".
Mas o silêncio resolve o problema? Andreas Zick, diretor do Instituto de Pesquisa de Conflitos em Bielefeld, disse que as universidades precisam lidar com o problema de maneira mais firme. "Não podemos expulsá-los, mas podemos claramente expressar nossa posição", disse Zick.
No início do semestre de inverno, a Universidade de Bielefeld distribuiu distintivos e cartões-postais para os estudantes do primeiro ano com o slogan "Uni Ohne Nazis" (universidade sem nazistas). Zick organizou uma palestra sobre o tema e convidou palestrantes contrários ao racismo assim como um dos advogados que representam os parentes das vítimas da célula terrorista neonazista NSU. "Não podemos deixar só para a Antifa lidar com isso", disse Zick.
Expulsar os estudantes de extrema-direita é polêmico mesmo entre os grupos antifascistas. O método se assemelha ao comportamento dos neonazistas que agridem pessoas que discordam deles, disse um ativista baseado em Berlim.
Depois da briga na Universidade de Bochum, a ira da maioria dos estudantes na página da universidade no Facebook foi dirigida contra a Antifa --e não contra o aluno neonazista.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Barbara Gancia

folha de são paulo
Saudade tem idade e sobrenome
Não é óbvio que clichês como "Vagabundo que morra" e "A PM faz bem em matar" alimentam a violência?
Quero propor um experimen­to de deixar o Hélio Schwartsman radiante: pe­gue um filhote de lulu da pomerânia, aquele que parece uma raposi­nha que teve a má sorte de encostar numa cerca elétrica.
Jogue-o num quintal e deixe-o lá, desatendido. De quando em quan­do, use um porrete para descer o sarrafo no bicho. Não se acanhe, ba­ta com gosto.
Ao mesmo tempo, em outro espa­ço distinto, você coloca outro filho­te de lulu da pomerânia, idealmen­te que seja da mesma ninhada do primeiro, e o cria sem nunca deitar um dedo nele.
Desconfio que, ao cabo de dois anos, quando os cães estiverem maduros, aquele que apanhou sis­tematicamente será um tico mais irritadiço do que o outro. Será?
A maioria de nossos jovens de bai­xa renda, negros e pardos na maio­ria, já nasce praticamente apa­nhando da polícia.
Para essa juventude é rotina ser parado na rua para averiguação. Ninguém é louco de andar sem car­teira de trabalho. Quem não tem, corre o risco de ser confundido com outro "Marcos Ferreira da Silva" ou outro "Joaquim Souza Costa" que tenham cometido delitos. Se fo­rem, o risco é de passar um bom pe­ríodo na detenção ou, no mínimo, de ter a dignidade aviltada e tomar uma surra. Essa é a realidade palpá­vel --a qualquer hora do dia-- para milhares de guris que você e eu cru­zamos na rua diariamente.
O mesmo medo que sentimos de tomar um tiro na cara de um assal­tante, o jovem da periferia que te­nha entre 8 e 28 anos tem da polícia. A cada farda que vê, camarada pen­sa: "É agora!" Um líder negro me explicou que uma das razões que a molecada agora quer passar tempo no shopping é que lá tem câmera para registrar eventuais excessos cometidos por policiais.
Pergunto: frases como "Vaga­bundo tem mais é que morrer" ou "A polícia faz bem em matar" não alimentam o sistema de mais um cão raivoso?
Não existe dicotomia entre demo­cracia e "ordem e progresso". Quem imagina isso é o "clube da saudade" que não consegue enxer­gar o fato de que, na época dos mili­tares, quando alguns imaginavam que reinasse a paz, a perifa cuja existência eles só percebem agora já existia. Só que viviam mais longe, pior e não ousavam abrir o bico.
Pois agora eles sabem de seus di­reitos. E o dever de quem sempre esteve por cima, se tivesse alguma decência, seria dinamitar barreiras e promover mudanças de mãos da­das. Ou foi para ficar tudo igual que saímos às ruas em junho?
Na quarta, o comandante-geral da PM, general Benedito Roberto Meira me disse que nossa PM "não é violenta". Para ele pode ser. Mas não é o que pensa a população ca­rente nem o que dizem as estatísti­cas que tanto chocam o mundo.
E os índices de latrocínio, o mais temido dos crimes, só fazem cres­cer em SP, donde se conclui que o especialista em segurança pública, consultor do governo FHC, antro­pólogo e professor da UERJ, Luiz Eduardo Soares, está coberto de ra­zão ao colocar como prioridade ab­soluta a desmilitarização da polícia (desmilitarização, note, não signi­fica desarmamento). "O objetivo do Exército é defender o território. Para cumprir essa função, ele se or­ganiza para mobilizar grandes con­tingentes com máxima celeridade sob ordens vindas de um só coman­do. Sua estrutura organizacional é totalmente verticalizada. O exérci­to luta contra o inimigo. Já a polícia é outro tipo de instituição. Seu pa­pel é prestar serviço, fazer ronda, patrulhamento, diagnosticar pro­blemas, mediar conflitos, dialogar e evitar a judialização."
"Confrontos armados são as únicas situações em que alguma seme­lhança poderia haver com o Exérci­to, mas correspondem a menos de 1% das atividades da polícia." Só de ouvir uma coisa dessas da vontade fugir para Miami, não dá, clube da saudade?

    Marina Silva

    folha de são paulo
    Distâncias
    O Brasil fica longe de Davos. Mais que nos mapas, a distância pode ser medida no discurso da presidente Dilma Rousseff no Fórum Econômico Mundial, que aconteceu na semana passada na bela e fria estação suíça. Todos concordamos com suas palavras: a educação tem importância estratégica para reduzir a desigualdade social e, ao mesmo tempo, alicerçar uma economia do conhecimento com tecnologia e inovação. Por isso, a educação está entre as prioridades, junto à infraestrutura, ao planejamento urbano, à estabilidade econômica e a outras grandes questões definidoras do desenvolvimento do Brasil.
    Cinco dias depois, a Unesco divulgou relatório que coloca o Brasil --entre 150 países pesquisados-- em 8º lugar no número de analfabetos adultos. Eram 13,2 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais em 2012, segundo o IBGE. É quase impossível reduzir a taxa de analfabetismo entre adultos, de 8,7% naquele ano, para os 6,7% fixados nas metas da ONU para o ano que vem.
    Ontem, lemos nos jornais: os investimentos do Ministério da Educação caíram 13% de janeiro a novembro de 2013 em relação ao mesmo período do ano anterior. O noticiário nos avisa também que a equipe econômica estuda reduzir ainda mais o orçamento da pasta para que o governo recupere a credibilidade perdida desde que foram revelados seus artifícios contábeis para fechar as contas no fim do ano.
    Os especialistas indicam o contrário, a necessidade urgente de o Brasil aumentar os investimentos que hoje são de R$ 5 mil para cada aluno da educação básica. Em países ricos, esse valor é três vezes maior. Que não chegássemos a tanto, mas diminuir as verbas da educação é ir em direção oposta.
    Para completar, no mesmo dia do discurso em Davos, o governo anunciou o cancelamento da Conferência Nacional de Educação (Conae), que aconteceria em fevereiro, a tempo de pressionar o Congresso na tramitação do Plano Nacional de Educação (PNE), que voltou para a Câmara dos Deputados depois de modificado, para pior, pelo Senado. Sob protesto dos movimentos de defesa da educação, a Conae ficou para novembro, depois da Copa e das eleições, e o PNE, que deveria ter sido aprovado há três anos, vai atrasar mais um.
    É impossível tornar consequente o discurso da presidente enquanto perdurar uma ideia fisiológica e patrimonialista de governabilidade, segundo a qual um ministério pode ser fatiado e distribuído entre partidos aliados. Uma reforma ministerial, mesmo diante de prioridades inegavelmente estratégicas e eloquentemente discursadas, longe de significar novo planejamento de metas de longo prazo, reduz-se a uma redistribuição de cargos com o curto prazo eleitoral. Desse modo, a distância entre o Brasil e Davos só aumenta.

    Ruy Castro

    folha de são paulo
    Os donos das cidades
    RIO DE JANEIRO - Nesta terça-feira, na Linha Amarela, importante via expressa do Rio, a caçamba levantada de um caminhão chocou-se contra uma passarela, que caiu, esmagou dois carros e deixou cinco mortos. O caminhão estava rodando fora do horário permitido e em excesso de velocidade. A passarela, de 120 toneladas, ficava a 4,5 metros de altura e tinha 42 metros de extensão. Imagine o tamanho e o peso desse caminhão para derrubar tal estrutura.
    Pode-se discutir se as passarelas deveriam ser mais altas ou construídas com material mais sólido, ou se não há sistemas de alarme para prevenir choques, e certamente os engenheiros já pensaram em tudo isso e buscam soluções. Mas nada altera o fato de que as cidades fo- ram invadidas por brontossauros de 4 --às vezes, 8 ou 12-- rodas, incompatíveis com o bom senso.
    Ruas abertas nos anos 40 pela escala de carros de passeio são hoje trafegadas por ônibus gigantescos, muito maiores e mais altos do que os de há poucos anos. Sem contar os que se multiplicam por dois ou três e, integrados por aquelas sanfonas, tentam fazer curvas e dobrar esquinas que não os comportam. Essas mesmas ruas recebem caminhões-tanque, carretas e outros pesos-pesados que circulam até pelo centro histórico de cidades delicadas, como Petrópolis, Ouro Preto e tantas mais.
    Calçadas recém-refeitas, depois de alguma obra que as esburacou, são tomadas pelas onipresentes caçambas de entulho e destruídas de novo. E os próprios carros particulares deixaram de ser os leves e convencionais, cada qual ocupando um espaço razoável, para ser substituídos por jamantas mais apropriadas, no tamanho e na altura, às estradas ou à zona rural.
    Que os humanos sejam coadjuvantes dos carros em suas próprias cidades parece inevitável. Mas será obrigatório se deixarem esmagar por eles?

    José Simão

    folha de são paulo
    Ueba! Errar é o Mano!
    O Corinthians perdeu de 5 a 1 pro Santos! Como disse aquele santista: 'Cinco muito'. Rarará!
    Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Manchete do Piauí Herald: "Álbum de figurinhas da Copa só ficará pronto em novembro". Pacote com três figurinhas vai custar R$ 650! Rarará!
    E sabe como eu vou colar as figurinhas dos jogadores da Argentina? Tudo de cabeça pra baixo! Pra dar zica. Zica Padrão Fifa!
    E adorei a charge do Sinfronio com o black bloc pichando o muro. No muro, estava escrito Copa Fifa. E aí ele pixou e ficou: COPA PIFA!
    E esse cartaz do torcedor: "Amor, não fui trabalhar. Estou em Quito. Vamos, Fogão". Melhor recado do dia. Volta derrotado, desempregado e sem mulher. Apanhou em Quito e vai apanhar na volta pra casa!
    E esses ônibus incendiados em São Paulo? São João fora de época? Agora em São Paulo temos os ônibus articulados, biarticulados e queimados.
    E um amigo pediu pra eles queimarem o seu Chevette 1984, ele agradece! Rarará!
    Falando em queimados, e o Timão? O Corinthians perdeu de 5 a 1 pro Santos! Como disse aquele santista: "Cinco muito!". Rarará! Tá perdendo de tudo quanto é bicho: de cachorro São Bernardo, peixe! Errar é o Mano e perder tudo é corintiano. E prometo nunca mais fazer trocadilho com Mano!
    E o site Futirinhas tem uma fotomontagem do Sheik com o Pato. Sheik: "Acorda, amor, já são seis". E o Pato: "O que? Mais um gol do Santos?".
    E a torcida do Santos? Sabe onde a torcida do Santos foi comemorar? No baile da Melhor Idade! Sabe dançando juntinho? Dois pra cá e três pra lá? E sabe qual a semelhança entre o Corinthians e o Bin Laden? Ambos viraram comida de peixe! Peixe, nem no Ceasa. O mar não tá pra peixe!
    E o tuiteiro Jorge Miranda me disse que o pai do Neymar virou o pay do Neymar. Rarará!
    É mole? É mole, mas sobe!
    Os Predestinados! Sabe como se chama o ex-primeiro ministro da Ucrânia? Mycola AZAROV! E direto de Vitória, Espírito Santo, o treinador de armamento e tiro: Adriano MATTOS PINTO! O alvo não podia ser em outro lugar? Rarará!
    E essa funcionaria da empresa Keppel de plataformas marítimas: Márcia Maria Bóia Altomar! Predestinadíssima! Rarará!
    Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã.
    Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

    Redenção da 'bicha má' alavanca dramalhão

    folha de são paulo
    CRÍTICA NOVELA
    Redenção da 'bicha má' alavanca dramalhão
    Mudança do personagem Félix deu fôlego à mal escrita 'Amor à Vida', que deve encerrar hoje com boa audiência
    MAURICIO STYCERCOLUNISTA DA FOLHANa última segunda-feira (27), entre 21h09 e 22h41, 72% dos lares na Grande São Paulo com a televisão ligada estavam sintonizados em "Amor à Vida".
    A novela de Walcyr Carrasco ofereceu naquela noite uma cena aguardada havia meses. Depois de uma dezena de tentativas, o ex-vilão Félix (Mateus Solano), agora nas vestes de super-herói, finalmente salvou o pai cego, César (Antonio Fagundes), das garras da vilã Aline (Vanessa Giácomo), que o traía abertamente com o cúmplice Ninho (Juliano Cazarré).
    Neste mesmo capítulo épico, o público viu a megera Aline fingir seduzir Ninho, amarrá-lo na cama e esfaqueá-lo dez (!!!) vezes na barriga antes de fugir para o aeroporto. Mesmo sangrando, o "guerreiro imortal" solta as cordas, escala uma janela, pula numa caçamba encostada na rua e é levado ao hospital San Magno.
    Antes de ser operado, Ninho encontra forças para avisar Paloma (Paolla Oliveira), a heroína original da trama (alguém lembra?), que Aline está naquele momento fugindo para a Bélgica.
    "Champanhe, minha senhora?", pergunta a comissária de bordo à víbora, na cena seguinte, a última do episódio. "Quero sim. Para comemorar a minha vitória", ela responde. Com um close em Aline bebendo uma taça na primeira classe, o capítulo termina.
    RECORDE
    O Ibope deste dramalhão rasgado e mal escrito registrou 48 pontos --algo como 3,1 milhões de espectadores na Grande São Paulo. Hoje, quando vai ao ar o último capítulo, espera-se desempenho semelhante em matéria de números.
    Do ponto de vista comercial, o sucesso parece assegurado. O final da trama pode ter oito intervalos comerciais e bater recorde de anunciantes, informou a coluna "Outro Canal", de Keila Jimenez. Na grade da Globo, prevê-se um capítulo com 110 minutos de duração.
    Por que, mesmo tão ruim, "Amor à Vida" chega tão bem ao final? Ao exibir hoje o 221º capítulo, a novela terá possivelmente batido o recorde mundial de abordagem de temas polêmicos numa mesma novela. Nenhum (repito, nenhum) teve tratamento sério por parte do autor, mas muitos causaram barulho.
    A principal aposta, a "bicha má", um personagem gay terrivelmente cruel (e caricato), foi abandonada no meio do caminho. Sagaz, Carrasco percebeu que Félix inspirava carinho do público. Desistiu, então, do que havia previsto originalmente e providenciou a redenção do personagem. Foi o pulo do gato de "Amor à Vida".
    Vendendo cachorro-quente na rua 25 de Março, o ex-vilão foi absolvido dos mais variados crimes que cometeu, incluindo tentativa de assassinato, fraude, roubo e planejamento de sequestro. Para completar, teve início o romance com Niko (Thiago Fragoso), um dos poucos personagens de boa alma em toda a novela.
    Um pouco como Jorginho em "Avenida Brasil", Niko acabou sendo a "mocinha" de "Amor à Vida". Espera-se hoje que beije o super-herói Félix. Beijando ou não, a audiência está assegurada.

      Festival de Rio Preto perde patrocínio do Sesc

      folha de são paulo
      Festival de Rio Preto perde patrocínio do Sesc
      Instituição diz que perderia poder de decisão no evento de teatro, que ocorre em julho
      GUSTAVO FIORATTIDE SÃO PAULOA próxima edição do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (438 km de SP) será realizada sem o patrocínio do Sesc paulista.
      A parceria, que teve início em 1992, foi fundamental para colocar a mostra em evidência como uma das mais importantes do país. No ano passado, o Sesc destinou R$ 1,5 milhão ao evento, que teve orçamento total de R$ 1,9 milhão.
      A instituição também era parceira na realização do festival, junto à Secretaria Municipal de Cultura da cidade.
      Segundo Luiz Galina, diretor regional em exercício do Sesc, a instituição optou por colocar fim à parceria porque "perderia poder de decisão na organização do evento".
      "A prefeitura impôs condições que não poderíamos aceitar. Não teríamos mais tanto peso na organização e na definição de estratégias e de divulgação", diz Galina.
      O rompimento deverá ter efeito na programação do festival, que está marcado para acontecer entre 16 e 27 de julho. A unidade do Sesc na cidade também não está mais à disposição do festival.
      SÃO PAULO
      Com a saída do Sesc, é possível que haja uma guinada de identidade no festival.
      A instituição interferia na programação de acordo com o interesse de levar peças para São Paulo. Na última edição, por exemplo, os espetáculos internacionais apresentados no FIT foram exibidos também na capital paulista.
      Segundo o secretário de Cultura de Rio Preto, Alexandre Costa, os patrocínios para a próxima edição ainda estão sendo negociados. "Até o momento temos a Caixa, mais prospecção junto ao Proac e Lei Rouanet", diz.
      O time de curadores também já está formado. Foram convidados quatro profissionais ligados às artes cênicas, entre eles Paula de Renor (da mostra pernambucana Janeiro dos Grandes Espetáculos) e César Augusto (do Tempo Festival, no Rio de Janeiro).
      O rompimento do Sesc com a Secretaria de Cultura de Rio Preto também pode ser reflexo de outros problemas. Dois grupos que participaram do FIT de 2012, Les Commediens Tropicales e SerTão Teatro, reclamam que ainda não receberam pagamentos integrais daquele ano.
      Sobre a questão, a Secretaria Municipal de Cultura de Rio Preto diz que as planilhas do Festival Internacional de Teatro de 2012 não apontam contas em aberto.

        Michel Laub

        folha de são paulo
        Chamados da natureza
        Uma das dificuldades de se lidar com a ideia do vício é superar a necessidade de atribuir sentido à existência
        Uma vez li um texto, talvez de Pauline Kael, talvez de Roger Ebert, em que o crítico reclamava da falta de sabor de um filme sobre jogo. Se você quer entender um viciado, a resenha dizia, deve admitir e mostrar que algo o levou até ali: o prazer que, em algum ponto antes da inevitável decadência, experimenta quem fuma crack ou ajuda a abrir a padaria para a pinga do café da manhã.
        Dois filmes em cartaz podem ser vistos como histórias de vício, se considerarmos este a exacerbação patológica de um gosto/hábito socialmente aceito: "Ninfomaníaca "" Parte 1", de Lars von Trier, que trata de sexo, e "O Lobo de Wall Street", de Martin Scorsese, que fala de dinheiro.
        Seguindo a regra de Kael (ou Ebert), Scorsese opta pela vivacidade ao retratar a ganância e a rotina sem limites do protagonista Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio). Não há um minuto de tédio no filme: o sujeito queima dinheiro, engana assalariados com gosto, joga lagostas num agente do FBI, bebe, usa todas as drogas que encontra e se diverte promovendo o arremesso de anões no escritório.
        Também há piadas com pobres, gays, mulheres, crianças deficientes, Aids, paralisia cerebral. As falas e cenas podem chocar individualmente (para quem se choca com essas coisas), mas uma atrás da outra, sem trégua e acompanhadas da exuberância quase histérica das imagens, resultam numa comédia irresistível, retomando o vigor --e o "off", o enredo, os tipos humanos, a montagem, o desfecho-- de dois clássicos do diretor, "Os Bons Companheiros" (1990) e "Cassino" (1995).
        Já "Ninfomaníaca", se a segunda parte não desmentir a tese quando entrar em cartaz, faz o contrário. A visão é clínica, como um microscópio que disseca a protagonista Joe (Charlotte Gainsbourg) de um ponto seguro, distanciado. Nas cenas de sexo, há um esforço para afastar qualquer sugestão (para quem gosta de se consolar com essas coisas) de algo além de mecânica compulsiva.
        A falta de vivacidade, aqui, é literal: há um momento em que a personagem, num de seus oito ou nove encontros diários com toda espécie de predador e/ou idiota, diz não estar sentindo nada. O diálogo que pontua os esquetes é igualmente morno, tentando domesticar seu objeto por meio de metáforas óbvias (como a da isca e do peixe), descrições redundantes, psicologismo barato.
        E, no entanto, há sabor no filme: uma energia, uma ironia e uma beleza surgidas justamente do contraste com a banalidade. É uma ideia que Von Trier já havia explorado em "Anticristo" (2009): mostrar como a razão, cuja caricatura está na linguagem gasta das falas, e também no didatismo do visual --tela dividida, números sobre imagens para explicar o que estamos vendo--, é impotente e ridícula diante do "caos que reina" na psicologia de Joe.
        Uma das dificuldades de se lidar com a ideia do vício, que é um fim em si mesmo, um chamado da natureza que não oferece nada em troca, é conseguir superar nossa necessidade --alimentada por religião, ideologia, moral ou instinto de sanidade-- de atribuir um sentido geral à existência.
        Nem "Ninfomaníaca" nem "O Lobo de Wall Street" caem nessa ilusão. O sexo pode ser apenas um tique fisiológico, e não veículo para algo mais nobre (o amor, a liberdade hedonista). O dinheiro pode ser apenas caminho para mais dinheiro, o prazer material imediato que não integra uma narrativa de vocação, superação de obstáculos, vitória e felicidade pacificada.
        Com sua costumeira ambivalência católica, depois de se lambuzar no mundo de pecado que o fascina, Scorsese tenta amenizar as coisas distribuindo punição, arrependimento e um trailer com o aviso de que "mais nunca é suficiente". Von Trier, mais próximo da dureza (protestante?) de um Bergman ou Michael Haneke, não oferece saída nem pede desculpas.
        Só que ao final, por meio de sensibilidades tão diversas, os dois filmes causam perplexidade semelhante. Estamos diante da mesma tragédia: a fúria dos desejos e o rastro de destruição na sequência, tanto faz se em festas nova-iorquinas ou num quarto escuro da Europa, em meio a gargalhada ou angústia, roupas caras ou nudez.

        quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

        Marcelo Leite

        folha de são paulo
        DNA indica que espécie humana quase se dividiu em duas
        Neandertais acasalaram com Homo sapiens e legaram de 20% a 30% de seus genes, mas descendentes machos parecem ter sido inférteis
        MARCELO LEITEDE SÃO PAULOJá se sabia que neandertais e humanos conviveram por milhares de anos na Europa e na Ásia e aí se acasalaram. O que não se sabia, como sugere uma dupla de novos estudos genéticos, é que esses dois ramos da humanidade estavam naquela altura a ponto de se separar em duas espécies distintas.
        Cada humano vivo carrega em seu genoma individual no máximo 3% de genes neandertais. Ao comparar o DNA ancestral com centenas de genomas modernos, porém, dois novos estudos encontraram que algo entre 20% e 30% de sequências genéticas neandertais sobreviveram.
        Os estudos detectaram uma quase ausência de DNA neandertal no cromossomo X, em especial de genes ativos nos testículos.
        Tais genes teriam sido eliminados do genoma humano atual porque provavelmente tornavam estéreis os descendentes machos do cruzamento. É o tipo de incompatibilidade que acaba por separar uma espécie em duas.
        A cisão entre espécies ocorre quando duas populações perdem a capacidade de gerar descendência fértil ao se reproduzir. Não chegou a ser esse o caso dos dois ramos de hominídeos, o Homo neanderthalensis e o Homo sapiens, pois o primeiro grupo se extinguiu há cerca de 30 mil anos, antes de completar-se a separação.
        Os dois grupos humanos tiveram origem na África, respectivamente há 250 mil anos e 200 mil anos, em números aproximados. Os neandertais já estavam na Eurásia quando os H. sapiens chegaram, uns 100 mil anos atrás, e foram por estes desalojados.
        QUESTÃO DE PELE
        Nas regiões mais ricas em sequências neandertais, chamou a atenção uma concentração de DNA relacionado com a produção de queratina. Essa proteína ajuda a impermeabilizar pele e pelos, e os autores supõem que a sobrevivência do DNA neandertal tenha a ver com características que ajudavam a enfrentar climas mais frios.
        O geneticista Sérgio Danilo Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais, que achou os estudos "espetaculares", alerta contra qualquer especulação racial baseada neles. Ele não vê aí mais que uma boa hipótese: "Mesmo que os genes tenham a ver com pelagem e clima frio, o que isso tem a ver com raça?"
        Os estudos rivais saem hoje nos periódicos científicos "Nature" e "Science". Ambos tomaram a sequência do genoma neandertal estabelecida em 2010 pelo grupo de Svante Pääbo, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, em Leipzig (Alemanha), e a compararam com as de centenas de humanos atuais, participantes do Projeto Mil Genomas.
        Pääbo é também o coautor de um dos estudos, o da "Nature", liderado por David Reich, do Instituto Broad (Harvard e MIT). O da "Science" tem como autor principal Joshua Akey, da Universidade de Washington (EUA).

          Rogerio Gentile

          folha de são paulo
          Vale a pena ver a Copa no Brasil?
          SÃO PAULO - Os episódios do final de semana em São Paulo reforçaram a desconfiança de que o país não está preparado para garantir a segurança dos turistas na Copa do Mundo, a despeito do esforço de autoridades e da Fifa para demonstrar o contrário. Vale a pena assistir a uma competição num lugar em que policiais dão tiros de bala de borracha no saguão de um hotel?
          O governo brasileiro prepara um esquema gigantesco de segurança, com custos estimados em mais de R$ 40 milhões. O plano envolverá a Força Nacional, a Polícia Federal, as polícias estaduais, a Defesa Civil, os Bombeiros, as Guardas Municipais e, provavelmente, até o Exército, o que deve ser suficiente para proteger delegações, autoridades estrangeiras e, talvez, o entorno dos estádios.
          Mas uma Copa do Mundo é muito mais do que um evento esportivo, levando milhares de pessoas a pontos turísticos, estações de metrô, shoppings, restaurantes etc. Ou seja, a inúmeros lugares nas 34 cidades envolvidas de alguma forma no evento que poderão servir de palco para ações violentas e criminosas dos tais "black blocs" e para reações destemperadas de policiais.
          Exatamente como ocorreu na cidade de São Paulo no sábado, por ocasião das comemorações dos seus 460 anos. Cerca de 1.500 pessoas protestaram pacificamente, durante duas horas, contra a competição, até que um grupo encapuzado resolveu atacar bancos, lojas e carros.
          Na sua reação, a polícia paulista não teve dúvidas. Simplesmente invadiu o lobby de um hotel na rua Augusta, onde se refugiaram cerca de cem manifestantes, "black blocs" ou não, com a mesma virulência de quem enfrenta uma rebelião num presídio.
          E os turistas? Bom, levando em conta as declarações das autoridades de São Paulo, que defenderam enfaticamente a ação da polícia no confronto, os turistas eram apenas um detalhe. O importante era "evitar uma tragédia".

          Paula Cesarino Costa

          folha de são paulo
          Fim de caso por e-mail
          RIO DE JANEIRO - É desrespeitoso terminar uma relação por e-mail. Ainda mais uma que chegou a ser definida como perfeita --mesmo que já estivesse desgastada e com crises cada vez mais frequentes.
          Foi assim o fim da aliança entre PT e PMDB no Rio, que Lula rotulou como "um modelo para o país". Foram anos de juras de amor recíproco em discursos dele e do governador Cabral, que renderam centenas de cargos para petistas na administração estadual e bilhões em parcerias federais para o governo do PMDB.
          Lula e Cabral se entendiam no olho a olho. A relação começou a esfriar com a posse da nova presidente e seu apreço mais às tecnicidades. O governador manteve as aparências com Dilma, que chegou a chamar de "extraordinária" a parceria com Cabral. Mas o casamento mantinha-se só por convenção social e política.
          Como noiva traída, o peemedebista não engoliu a manutenção da candidatura do senador Lindbergh Farias à sua sucessão. Esperava que o PT apoiasse seu vice, Luiz Fernando Pezão, que deve ser o candidato do PMDB. Com o desgaste de Cabral e o mau desempenho de Pezão nas pesquisas, Lula perdeu os argumentos para demover a candidatura petista.
          Por e-mail, o presidente do PT no Rio, Washington Quaquá, informou Cabral de que o partido anteciparia a saída do governo. Em seu "reply", o governador comunicou que iria exonerar os petistas e terminou a relação com um agradecimento "pelos sete anos e um mês de convívio fraterno".
          Cabral foi atrás de novas e velhas relações. Tenta seduzir o PSDB (e flerta com o amigo de juventude Aécio Neves) e convidou PSD e Solidariedade para o governo. São opositores de Dilma, que, em 2010, teve vitória apertada no Rio no primeiro turno e não vê vantagem em manter a proximidade que pode tirar-lhe votos.
          Ficarão Dilma e Cabral melhores separados? A política, como o amor, tem razões que a razão desconhece.

            José Simão

            folha de são paulo
            PAC! Progama de Ajuda a Cuba!
            O Fidel acorda gritando: 'Médicos! Yo quiero mis médicos'. 'Non tiene, foram todos pro Brasil'. Rarará
            Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Predestinado do século! Candidato a presidente da Fifa: Jerôme CHAMPANHE! Tá eleito. Nada combina mais com a Fifa que champanhe!
            E a Dilma? A Grande Chefa Toura Sentada! Diz que PAC agora quer dizer Programa de Aceleração de Cuba! Programa de Ajuda a Cuba! E a foto da Dilma com o Fidel? Bob Esponja com El Coma Andante!
            E o Fidel: "Lula, raspaste a barba?". "Non, comandante, yo soy Dilma, no Brasil tem eleciones". "Que? Vacaciones?". "Non, comandante, eleciones. ELECIONES!". "Non compreendo!". Rarará.
            E adorei a charge do Sinfronio, com o Fidel gritando pra Dilma: "Se você levar meu médico, eu te mando pro paredón!".
            Diz que o Fidel acorda gritando: "Médicos! Yo quiero mis médicos". "Non tiene, foram todos pro Brasil". Rarará. A Dilma deixou o Fidel sem médico! Menos médico!
            E diz que a saúde do Fidel tá impecável. Não consegue mais nem pecar! Rarará!
            E a escala da Dilma em Lisboa! Tucanos querem abrir a CPI do Bacalhau! Diz que a Dilma dormiu em hotel de luxo e jantou em restaurante de luxo! CPI do Bacalhau! Sugiro que na próxima viagem a Dilma durma num camping e coma no quilo!
            E sabe como é restaurante a quilo em Portugal? Eles pesam o cliente na entrada e na saída! Rarará! O Fernando Henrique, quando viajava, só comia no rodízio! Rarará!
            E um amigo acabou de chegar de Lisboa, onde foi a um restaurante chamado "Tromba Rija"! Bacalhau com viagra! O Mantega devia ter levado o PIB no "Tromba Rija!" E tem um outro restaurante chamado "Atira-te no Rio". Antes ou depois da comida? Rarará!
            E o slogan de uma rádio em Lisboa? "Rádio Vox, a preferida dos ouvintes da rádio Vox". Rarará.
            É mole? É mole, mas sobe!
            Piada Pronta! E essa piada pronta sobre o jantar em Lisboa: "O jantar não saiu caro, só servi robalo", diz o chef Joachim Koerper. A comitiva tinha que pedir robalo? Justo robalo? Tinha!
            E o PSDB pode, e deve, fazer qualquer denúncia contra a Dilma, menos sobre viagem. Olha essa manchete da Folha de 2002: "FHC gasta U$ 70 mil em viagem a NY". Levou até o papagaio! Rarará!
            Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã!
            Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

            Janio de Freitas

            folha de são paulo
            Um pouco de vida
            A agitação atual serve apenas para mostrar que a sociedade vive. Mas, pode-se acrescentar, não muito
            A desordem da ordem pública provoca uma situação curiosa. Nada, nos muitos acontecimentos simultâneos, tem gravidade que indique descontrole das inconvivências de sempre, mas a projeção dos incidentes dissemina a impressão inquietante de que o país avança com rapidez para um estado caótico e de insegurança generalizada.
            Os 58 incendiados ou depredados até ontem, só neste janeiro da Grande São Paulo, são um número expressivo, de fato. Mas nada sugere algum desdobramento, do qual essa violência suburbana seja parte planejada e preparatória. Nem, tampouco, sugere que não esteja inscrito na regra brasileira das ondas: os incidentes podem até surpreender no surgimento, mas também surpreenderão no murchar repentino, quando ascendiam com aparência indomável. Ocupações de terras, as diversas modalidades de arrastões entre os praieiros e os rodoviários, sucessão de greves tentadas ou efetivadas, as ondas vêm e vão por aí afora. Mesmo o "black bloc" do ano passado.
            Em menor número, que no Rio não nos atreveríamos a comparar-nos com a pujança de São Paulo, os ataques a ônibus fizeram a sua fase de perturbação carioca, e de repente reduziram-se a esporádicas reações à ação policial, quase sempre só por obediência aos bandidos. No momento, por sinal, eles estão criando uma onda, esta contra as unidades de PM instaladas em várias favelas: voltam a infiltrar-se e criam conflitos para restabelecer-se. Sem êxito, ainda bem.
            No Rio Grande do Sul, em Minas, Goiás, Santa Catarina, em vários Estados, maiores e menores desordens urbanas sucedem-se com a mesma cara: ataques a ônibus, interrupção de estradas e baderna urbana. E até os rolezinhos promovidos a grande ameaça por duas semanas de previsões na imprensa. Mas, além de tudo isso muito localizado, sempre, o seu grau verdadeiro de reflexos institucionais ou apenas políticos tem sido, por toda parte, nenhum. Nem sequer efeitos administrativos, dependentes só de alguns jamegões, têm sido necessários: bastaram-se nas passagens de ônibus de São Paulo e Rio, como obra do susto de sete meses atrás.
            Por ora, a agitação serve apenas, como Caetano Veloso disse à Folha, para mostrar que a sociedade vive. Mas, pode-se acrescentar, não muito.
            JÁ CONHECIDO
            O pretendido candidato de Eduardo Campos e Marina Silva ao governo do Tocantins, como Ranier Bragon informou na Folha, não é um neófito na política. Como procurador da República, Mário Lúcio Avelar teve papel ativo na denúncia política e policial do que ficou chamado de "escândalo dos aloprados". É um caso até hoje embrulhado em muitas obscuridades e muitos transformismos, nascido em Mato Grosso, mas com incidência nas eleições de 2006 ao governo paulista, quando fez de José Serra a alegada vítima de um complô petista. Mário Lúcio Avelar servia na regional da Procuradoria da República em Mato Grosso.
            Marina Silva só pôde sugeri-lo para candidato do PSB porque o PSDB, com muito mais razão para fazê-lo, não o fez.

            Mônica Bergamo

            folha de são paulo

            Suzane Von Richthofen tenta obter na Justiça pensão de 2 salários mínimos

            Suzane Von Richthofen tenta obter na Justiça uma pensão de dois salários mínimos do espólio dos pais, que ela ajudou a assassinar em 2002. O pedido será analisado na próxima semana pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).
            TUDO LIMPO
            Richthofen pede dois salários mínimos alegando que precisa do dinheiro para manter as condições de higiene na cela em que cumpre pena, no presídio de Tremembé, em São Paulo.
            PANO DE FUNDO
            A possibilidade de um herdeiro pedir pensão ao espólio ainda é polêmica e não foi pacificada no STJ. Há magistrados que entendem que esse tipo de demanda só pode ser feito contra pessoas que estão vivas. Outra questão é saber se, mesmo excluída da herança, Richthofen poderia obter o benefício.
            MENOS...
            Os atuais dirigentes do São Paulo estudam mudar o estatuto para diminuir o quórum mínimo para a autorização de obras no Morumbi. Hoje são necessários 177 votos, ou 75% do conselho deliberativo do clube. A ideia é diminuir para 50%, ou 120 do total de 240 votos.
            ...É MAIS
            Em razão do quórum alto, até hoje não foi aprovada a cobertura da arena do estádio -a oposição à atual diretoria do São Paulo boicotou a construção. Por causa disso, a empreiteira Andrade Gutierrez anunciou anteontem que se retirava do projeto.
            SINAL VERMELHO
            As bicicletas laranjas do projeto de compartilhamento Bike Sampa estão cada vez mais raras no centro de São Paulo. O Itaú Unibanco, responsável pelo programa operado pela empresa Serttel, desativou dez estações nessa região por causa de atos de vandalismo e furtos nas últimas semanas.
            SINAL VERMELHO 2
            Entre as estações desativadas estão as da praça da Sé, Mercado Municipal, praça da República, Anhangabaú e Liberdade. Todas elas foram instaladas em outubro de 2013. Ainda não foram definidos os novos endereços que serão contemplados.

            Anúncio da reabertura do Belas Artes

              Ver em tamanho maior »
            Bruno Poletti/Folhapress
            AnteriorPróxima
            A atriz Alessandra Negrini foi mestre de cerimônias no anúncio da reabertura do Cine Belas Artes, em evento na Praça das Artes, na terça (28)
            EM CARTAZ
            Os atores Alessandra Negrini e Marcelo Médici foram os mestres de cerimônias do anúncio da reabertura do Cine Belas Artes, na Consolação, após acordo entre o espaço, a Prefeitura de São Paulo e a Caixa. O evento, anteontem, na Praça das Artes, reuniu a atriz Débora Duboc, os diretores Rubens Rewald e Tata Amaral e representantes dos governos municipal e estadual.
            Ó ABRE ALAS
            O Carnaval de rua em São Paulo será regulamentado em decreto da prefeitura nos próximos dias. Um projeto que envolve dez secretarias está no gabinete de Fernando Haddad (PT). "Estamos buscando um equilíbrio entre a repressão e a liberação total [dos blocos]", diz Juca Ferreira, secretário municipal de Cultura, que liderou a discussão sobre a proposta.
            CINQUENTÃO
            O fotógrafo Luiz Tripolli vai comemorar 50 anos de carreira com um documentário sobre sua vida. O média-metragem se chamará "Fragmentos de uma Vida Vadia". Está também prevista uma exposição para a data.
            ÁLBUM DE FAMÍLIA
            Luciano Szafir não autoriza que a mãe, Beth, divulgue vídeos ou fotos de seu filho, David. Durante uma festa em São Paulo, ela teve que dizer não ao jornalista Amaury Jr. "Liguei e o Luciano não deixou. Já postei algumas vezes e levei bronca", diz.
            CAMPO MINADO
            O bairro da Sé, em São Paulo, foi o que teve maior valorização imobiliária no Brasil nos últimos três anos. O metro quadrado na região aumentou 113% entre 2010 e 2013, segundo pesquisa da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) publicada na edição da "Exame" que chega hoje às bancas. O levantamento foi feito em 11 cidades brasileiras.
            CAMPO MINADO 2
            O aumento de preços ocorreu, segundo a revista, por causa da política municipal de incentivos fiscais a incorporadoras. Além disso, a reforma de prédios antigos contribui para a valorização. A segunda região com maior alta na capital paulista é a da Luz/Bom Retiro, que subiu 98% no período.

            Banda Moxine faz show em Pinheiros

              Ver em tamanho maior »
            Bruno Poletti/Folhapress
            AnteriorPróxima
            A líder da banda Moxine, Mônica Agena, recebeu convidados como a atriz Mariana Hein em um coquetel antes do primeiro show do grupo em 2014, no Bar Secreto, em Pinheiros, na terça (28)
            AUMENTA O SOM
            Mônica Agena, líder da banda Moxine, recebeu convidados em show do grupo no Bar Secreto, em Pinheiros, anteontem. A atriz Mariana Hein, o produtor Leandro Barbosa, o apresentador Dennys Motta e a estilista Fabia Bercsek foram à festa. O empresário Emmanuel Filho, o produtor Thomas Roth e a administradora Melissa Kurtz também assistiram à apresentação.
            CURTO-CIRCUITO
            Sig Bergamin e Ana Maria Vieira Santos confirmaram participação na Casa Cor deste ano, no Jockey.
            A peça "A Negra Felicidade", da Cia. Alfândega 88, inicia curta temporada hoje, às 19h15, na Caixa Cultural, na Sé. Grátis. 14 anos.
            O Funk Como Le Gusta faz show hoje no Bourbon Street, às 21h. 16 anos.
            A Galeria Pilar, em Santa Cecília, abre hoje exposição de Leandro Tartaglia.
            Clara Valente faz show de lançamento de disco, amanhã, às 20h30, no Sesc Vila Mariana. 12 anos.
            com ELIANE TRINDADEJOELMIR TAVARESANA KREPP e MARCELA PAES 
            mônica bergamo
            Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

              quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

              Livro conta como crença em divindades afeta comportamento ético

              folha de são paulo

              Livro conta como crença em divindades afeta comportamento ético

              PUBLICIDADE
              Uma dica da pesquisa de ponta em psicologia para quem organiza acordos diplomáticos ou reuniões de condomínio: se você quer minimizar a chance de que alguém tente passar a perna nos demais presentes, pinte um grande olho na parede do salão.
              Parece ridículo, mas é um conselho apoiado por fortes evidências experimentais. Quando voluntários que participam de jogos nos quais há a possibilidade de trapacear são expostos a fotografias de olhos, desenhos de olhos ou mesmo representações totalmente esquemáticas de olhos (dois círculos, por exemplo), a chance de que alguém burle as regras cai consideravelmente.
              "Gente vigiada é gente bem comportada", resume Ara Norenzayan, pesquisador da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, e autor do livro "Big Gods" ("Deuses Grandes"). Na obra, ainda sem versão no Brasil, Norenzayan argumenta que essa é a principal razão pela qual a maioria dos seres humanos de hoje acredita em divindades poderosas e preocupadas com o comportamento ético: independentemente de serem reais ou não, tais figuras ajudam a controlar a tentação de passar a perna nos outros em sociedades complexas, nas quais interações entre estranhos são comuns.
              Daí outra máxima cunhada por Norenzayan para explicar sua tese: "Para grupos grandes, deuses grandes". Com "grandes" o psicólogo social quer dizer deuses que sabem tudo (ou quase tudo) e usam esse acesso a informações privilegiadas para punir malfeitores, e sociedades com dezenas de milhares de indivíduos ou mais.
              CAÇADORES-COLETORES
              Isso porque, curiosamente, embora a crença em seres sobrenaturais esteja presente em todas as sociedades humanas, são muito raros os grupos de caçadores-coletores (formados por dezenas ou, no máximo, algumas centenas de indivíduos) que creem em "deuses grandes".
              Outro fato curioso é que, ao analisar dados antropológicos padronizados de centenas de povos mundo afora, os pesquisadores também verificaram que, quanto maior o tamanho (em número de pessoas) de uma sociedade, maior também é a chance de seus membros adorarem "deuses grandes".
              Esse foi um dos fatores que motivou o pesquisador de origem libanesa a propor a ideia de que esse tipo de divindade só "evolui" em sociedades que alcançam determinada massa crítica de tamanho.
              Em grupos pequenos, coisas como a proximidade de parentesco, o contato diário entre todos os membros e a falta de hierarquias rígidas seriam suficientes para manter quase todo mundo mais ou menos na linha. Quando grande parte das interações sociais passam a ser anônimas (como numa cidade de milhares de habitantes), entretanto, só o "monitoramento divino" teria sido suficiente para impedir o colapso dos grandes grupos.
              Além da influência um tanto bizarra dos olhos sobre o comportamento de voluntários em laboratório, também há indícios de que, quando as pessoas são sutilmente influenciadas ao verem palavras com significado religioso numa tela de computador, seu comportamento em jogos que pagam pequenas quantias em dinheiro como recompensa melhora consideravelmente.
              Além de trapacear menos, também tendem a punir trapaceiros com mais rigor e a dividir mais os recursos que recebem com outros jogadores.
              Detalhe importante: tais palavras ("Deus", "espírito", "oração" etc.) aparecem na tela por frações de segundo, de modo que não são conscientemente percebidas pelos participantes.
              LADO NEGRO DA FORÇA
              Tudo isso parece muito bom, mas as pesquisas de Norenzayan e outros cientistas da área deixam muito claro que há um lado negro na maneira como os grupos que adoram "deuses grandes" se comportam.
              A tendência a ser mais cooperativo costuma ser mais forte quando ela gera dividendos de reputação para a pessoa religiosa, indicam experimentos. E o comportamento mais ético em relação a quem pertence ao mesmo grupo religioso tende a ser compensado por uma competição mais feroz com quem está fora desse grupo.
              Também está longe de ser verdade a ideia de que não é possível ser ético sem crer em Deus, claro. Algumas das sociedades mais pacíficas, prósperas e igualitárias do mundo, como as da Escandinávia, hoje têm predominância de ateus.
              Norenzayan argumenta que isso se deve à força e ao bom funcionamento das instituições seculares nesses países.
              De fato, em nações desenvolvidas, o mesmo efeito de bom comportamento trazido pelas mensagens subliminares com palavras religiosas pode ser conseguido, em laboratório, usando termos seculares, como "tribunal", "polícia" e "juiz". Essas sociedades com instituições seculares confiáveis teriam "subido a escada da religião e, depois, chutaram-na para longe", diz o pesquisador. 
              Editoria de Arte/Folhapress