quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Ministro alemão alerta que energias renováveis podem minar indústria

Ministro alemão alerta que energias renováveis podem minar indústria

Melissa Eddy
O novo ministro da Energia da Alemanha fez um sério alerta na terça-feira (21) sobre as metas ambiciosas do país de tornar seu setor de energia mais dependente de fontes renováveis, dizendo que a alta dos custos pode minar o apoio público e colocar em risco a poderosa base industrial alemã. Sigmar Gabriel, em seu primeiro discurso importante, disse em uma conferência anual de energia, organizada pelo jornal "Handelsblatt" em Berlim, que os custos anuais de renováveis de cerca de 24 bilhões de euros para o consumidor já estavam pressionando os limites com que a economia alemã, a mais poderosa da Europa, é capaz de arcar.
"Nós precisamos ter em mente que todo o futuro econômico de nosso país depende disso", disse Gabriel, que é responsável pela Energiewende, ou transição energética. "A transição energética tem o potencial de ser um sucesso econômico, mas também pode causar uma desindustrialização traumática de nosso país".

As propostas de Gabriel para reforma da lei de energia foram apresentadas ao novo Gabinete da chanceler Angela Merkel na quarta-feira (22). Ele é presidente do Partido Social-Democrata, que formou uma coalizão de governo em dezembro com a União Democrata Cristã de Merkel. O país está aguardando por seus planos para reforma da Energiewende, que foi implantada em 2011 pelo governo anterior da chanceler, em resposta ao desastre nuclear no Japão.

As propostas alemãs estão sendo discutidas enquanto a União Europeia planejava anunciar também na quarta-feira (22) suas metas climáticas e energéticas para 2030. As autoridades estão tentando equilibrar os interesses das empresas com o imperativo de redução de emissões dos gases que causam o aquecimento global. A Alemanha se vê como um exemplo de como adotar fontes de energia mais limpas. Berlim agora quer assegurar que sua própria transição energética não coloque em risco o progresso na redução de emissões.

Colocar a energia alemã no caminho certo é tão importante para a nova coalizão de governo que Gabriel foi encarregado de duas pastas antes separadas, em uma espécie de superministério que combina energia e economia. Suas propostas reduziriam alguns dos subsídios pagos aos produtores de eletricidade gerada por produção solar e eólica, em até um terço até 2015, estabelecendo ao mesmo tempo limites para melhorar o controle da expansão de fazendas eólicas e solares, segundo documentos, versões dos quais foram amplamente divulgadas pela imprensa alemã. "Nós precisamos controlar a expansão da energia renovável para não termos a anarquia que vimos anteriormente", disse Gabriel. "Nós precisamos reduzir os custos para que permaneça de preço acessível."
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Planta que atinge seis metros em 120 dias é promessa na produção de energia4 fotos

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O sorgo da variedade Palo Alto, desenvolvido pela Nexsteppe pode chegar a 6 metros, e tem produtividade de até 89 toneladas por hectare; a planta é promessa na produção de energia através da queima Leia mais Divulgação/Nexsteppe

Ao mesmo tempo, Gabriel buscou minimizar as expectativas de que pode promover mudanças radicais. Ele enfatizou repetidamente que não está prometendo reduzir os preços da eletricidade, que já estão entre os mais altos na Europa. A Alemanha enfrenta um equilíbrio delicado. Ela deseja manter o ritmo de avanço da energia renovável assegurando, ao mesmo tempo, que seu preço permaneça acessível. O país deseja desativar gradualmente seus reatores nucleares até 2022, aumentando o percentual de energia gerada por fontes renováveis para 40% ou 45% até 2025. No ano passado, 23,4% de toda energia produzida na Alemanha vinha de fontes renováveis.

O governo de Merkel deseja que a reforma da lei seja aprovada pelo Parlamento até a metade do ano, em um esforço para conter a alta dos custos. Para aumentar a pressão, há uma investigação pela União Europeia das isenções para operações de uso intensivo de energia na Alemanha, que Bruxelas diz que podem violar as leis de comércio, mas que Berlim argumenta serem necessárias para manter a competitividade do país. Gabriel disse que reagiria contra Bruxelas, argumentando que a Alemanha estava conduzindo um experimento que pode vir a beneficiar todos os 28 países do bloco. "Nós estamos tentando aliviar fardos como em nenhum outro lugar na Europa", disse Gabriel. "A Alemanha está pagando pela curva de aprendizado para que outros não precisem pagar por ela, mas precisamos manter isso a um preço que a indústria alemã possa pagar."

A Alemanha também enfrenta o desafio de assegurar a estabilidade do mercado de energia. Os provedores de energia convencional sofreram perdas devastadoras devido aos desequilíbrios no mercado de energia causados pelas fontes renováveis altamente subsidiadas. Vários exigiram que o governo os compense por manterem usinas não lucrativas em funcionamento para assegurar a estabilidade do mercado.

Peter Terium, o chefe da companhia elétrica alemã RWE, disse na conferência que a energia nuclear pode ser eliminada antes mesmo do que o governo planejava, já que não é mais lucrativa. "Não seria responsável permitir que um reator continue funcionando quando está dando prejuízo diariamente", disse Terium. Gabriel rejeitou subsídios para as usinas elétricas convencionais, mas disse que conversará com os líderes do setor para descobrir qual a melhor forma de tratar o problema.

Um efeito adverso da transição energética da Alemanha é o aumento do uso de linhito (carvão marrom), um das fontes mais baratas e mais sujas de energia. A Alemanha já é maior produtora do mundo de linhito e, no ano passado, produziu mais eletricidade a partir do linhito do que em qualquer momento desde 1990.

Tradução: George El Khouri Andolfato

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Saiba quanto cada eletrodoméstico gasta de energia11 fotos

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O Idec fez um levantamento para saber qual é o consumo de energia dos eletrodomésticos usados na cozinha e na lavanderia. Confira, a seguir, o gasto médio de cada um Leia mais Arte/UOL

Pasquale Cipro Neto

folha de são paulo
'Xifópagos'
Mal entrou no carro e me reconheceu, o policial me perguntou: "Qual é o coletivo de cobras, professor?"
Chego ao jornal, e, no estacionamento, um motorista da casa me aborda: "Professor, como é que se diz quando irmãos nascem grudados?". "Siameses", digo eu. "É outra palavra, professor. Qual é mesmo?" E eu: "Xifópagos". "Ah, então é isso?!"
Não resisti à tentação de pedir-lhe a razão da pergunta. O rapaz fez uma prova de português de um concurso para estudar confeitaria. Exigiram dos candidatos o conhecimento da importantíssima palavra "xifópago", que, ao pé da letra, significa "consolidado, unido como espadas". O elemento grego "xifo-" significa "espada"; o também grego "-pago" significa "unido", "consolidado".
Por que será que um examinador quer que futuros confeiteiros conheçam o termo "xifópago"? Deve ser porque há pães que saem do forno grudados, como irmãos siameses (ou "xifópagos", antes que me esqueça). Quanta bobagem, meu Deus!
Um confeiteiro precisa entender ou escrever uma receita, o que não é pouco, não. É comum ficarmos sem saber como se preparam determinados alimentos porque não entendemos o que diz a mal redigida receita.
É, caro Rubem Braga. Em 1951, escreveste a memorável crônica "Nascer no Cairo, ser fêmea de cupim", em que falavas justamente da falta de sentido de perguntas como a feita ao nosso candidato a confeiteiro ou como as que citas já no título da crônica. Diz o grande Mestre: "Por que fazer do estudo da língua portuguesa uma série de alçapões e adivinhas, como essas histórias que uma pessoa conta para pegar' as outras? O habitante do Cairo pode ser cairense, cairei, caireta, cairota ou cairiri --e a única utilidade de saber qual a palavra certa será para decifrar um problema de palavras cruzadas".
É, caro Rubem, passaram-se 53 anos, mas nesse tempo muitas questões semelhantes foram feitas em provas e concursos. Certa vez, num concurso para oficial de Justiça, pediu-se o feminino de "peixe-boi". Claro! Todos sabemos que o peixe-boi é um malandro contumaz, incorrigível. Ao menor sinal da chegada do oficial de Justiça, dá no pé e larga a bomba na mão da dona peixa-vaca...
O feminino de "peixe-boi" não é "peixa-vaca", não, caro leitor; é "peixe-mulher", forma usada por pescadores brasileiros e angolanos, segundo o "Aulete". Ouvi dizer que a genitália do peixe-mulher é semelhante à da mulher, mas não fui até o fim na pesquisa sobre a origem desse termo.
Quer outra barbaridade? Há 10 ou 15 anos dei carona a um policial rodoviário. Assim que entrou no carro e me reconheceu, foi logo perguntando: "Qual é o coletivo de cobras, professor?". E eu: "Por que o senhor quer saber isso?". Pela cara que fez, supus que ele estivesse pensando que eu o estava cozinhando, ganhando um tempo para pensar na resposta. E ele: "Fiz um concurso interno na polícia e...". Não preciso concluir, preciso?
Sim, sim, policiais rodoviários que sabem o coletivo de cobras ganham tempo quando pedem socorro à central. Como sabemos, nossas rodovias são coalhadas de cobras, que põem em risco a segurança dos motoristas. Se o policial souber a palavra que nomeia isso, ganha tempo, já que é mais rápido dizer uma palavra do que uma locução. Há montes de cobras nas nossas rodovias, sim, caro leitor, mas elas são os nossos motoristas, de longe os mais irresponsáveis do planeta.
Perguntei ao policial se nas alternativas da questão havia "ofidiário" ou "serpentário", o que o fez pular no banco do carro. "Então é isso?", disse ele. "Não", respondi. Só na cabeça de um examinador desocupado pode surgir a (falsa) ideia de que o coletivo de cobras seja "serpentário" ou "ofidiário", palavras que designam o lugar em que se criam cobras para finalidades científicas.
Ainda há muitos examinadores que estão na idade da pedra. Saber uma língua é bem diferente de toda essa bobajada, caro leitor. É isso.

IOF alto afeta alunos do Ciência sem Fronteiras - Giuliana Miranda

folha de são paulo
IOF alto afeta alunos do Ciência sem Fronteiras
Ficou mais caro levar para o exterior primeira parcela do pagamento, feita ainda no Brasil
GIULIANA MIRANDADE SÃO PAULOBolsistas do programa Ciência sem Fronteiras estão sendo afetados pela alta do IOF para saques no exterior, que em dezembro foi reajustado de 0,38% para 6,38%.
O problema está na primeira parcela do pagamento, depositada em reais na conta dos estudantes no Brasil.
Os valores costumam ser elevados, uma vez que esse primeiro pagamento compreende as três primeiras mensalidades, auxílio instalação no destino, seguro saúde, passagens aéreas e verba para comprar um computador ou tablet.
Muitos estudantes sacavam o dinheiro no exterior ou o transferiam para cartões pré-pagos. Com o reajuste nas duas operações, a principal alternativa é realizar o câmbio no Brasil, levando a verba em espécie. Nesse caso, a alíquota ainda é de 0,38%.
No entanto, além dos inconvenientes e riscos de andar com grandes somas de dinheiro, quem sai do país portando mais de R$ 10 mil precisa declarar à Receita Federal o dinheiro.
"Há uma brecha para transferências feitas para conta no exterior, mas é uma opção trabalhosa. Pode-se em alguns casos fugir do IOF, mas ter gastos e tarifas de uma nova conta, que terá de ser declarada no imposto de renda", diz Miguel Silva, contador e advogado tributarista do escritório Miguel Siva & Yamashita.
Desde o anúncio da mudança, grupos de discussão dos bolsistas foram dominados pelo assunto.
Para tentar reverter o aumento para os estudantes, um grupo organizou uma petição na internet (http://goo.gl/ru9B2X), que já tem mais de 13 mil assinaturas.
O autor do protesto, o estudante de física Matheus de Araújo, recém-chegado à Escócia, diz que já sente os efeitos negativos. "Saquei só um pouco do dinheiro e vou deixar para ir tirando aos poucos aqui. tenho esperança de que algo vai mudar", diz ele.
Questionado pela Folha, o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) respondeu que "a mudança nos valores de taxas e tributos como o IOF e seus efeitos são atribuição de outra área governamental".
Apenas pagamentos no Brasil foram afetados. Após o terceiro mês, a bolsa é creditada em um cartão especial, que não teve mudanças.

    Democratizar a indústria farmacêutica

    folha de são paulo
    THANA CAMPOS, JOSÉ AUGUSTO BARRETO-FILHO E THOMAS POGGE
    TENDÊNCIAS/DEBATES
    Democratizar a indústria farmacêutica
    Um novo modelo de registro permite que os medicamentos sejam distribuídos de forma acessível a toda população
    Dona Maria dos Santos, 74, usuária do Sistema Único de Saúde, foi acometida por um acidente de acidente vascular cerebral (AVC ou derrame cerebral) que felizmente deixou apenas uma mínima sequela.
    Seu cardiologista detectou a causa: uma arritmia cardíaca denominada fibrilação atrial. Como tratamento, sugeriu anticoagulação com varfarina. O uso desse medicamento demanda coletas frequentes de sangue para ajuste da dose terapêutica. Dadas as circunstâncias locais de onde Dona Maria reside, a realização de monitorização é logisticamente impossível. O médico sugeriu duas alternativas de medicamentos: dabigatrana ou rivaroxabana.
    Essas opções cairiam como uma luva! Além de serem eficazes, dispensariam controle laboratorial regular. O único senão: o preço! O valor é inacessível para Dona Maria.
    Infelizmente, essa é uma situação frequente no Brasil. A maioria dos brasileiros é privada do acesso à cobertura médica integral, como determina a Constituição, por razões econômicas. Esse fato é especialmente relevante no contexto dos novos medicamentos, introduzidos no mercado após a lei n° 9.279/96, de propriedade industrial.
    Amparados por essa lei, que confere proteção intelectual por um período de 20 anos a partir do depósito do pedido de patente ou por dez anos a contar da sua concessão, as indústrias farmacêuticas são estimuladas a praticar preços exorbitantes na tentativa de recuperar o esforço de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de dado produto.
    As consequências negativas desse modelo são verificadas mundialmente. Um dos projetos de reforma institucional mais promissores é o Fundo de Impacto sobre a Saúde. O HIF, na sigla em inglês, propõe o estabelecimento de um fundo global, a ser financiado por Estados, que incentiva a P&D e também a adequada distribuição de medicamentos.
    O HIF propõe aos proprietários de inovações farmacêuticas que, em vez de as registrarem perante a agência de propriedade intelectual, o façam perante o fundo. Com isso, eles têm a liberdade de patentear sua inovação ou não. No segundo caso, a eles é conferido o direito de receber uma remuneração proporcional ao impacto positivo que a inovação gerar sobre a saúde da população por dez anos.
    Esse modelo é vantajoso para os detentores de inovações farmacêuticas que não possuem um atrativo valor de mercado. É o caso de graves doenças que afetam majoritariamente populações pobres, as chamadas doenças negligenciadas.
    Sob o modelo proposto pelo HIF, os proprietários de inovações aceitam que o produto final seja vendido e distribuído pelo produtor ao menor preço de custo. Há o incentivo de baixarem seus preços ao máximo, para assim ampliarem o acesso da população ao tratamento e, com isso, aumentarem o impacto positivo sobre a saúde pública. O HIF permite, desse modo, que os interesses dos proprietários alinhem-se aos princípios do direito humano à saúde.
    Embora essas promessas pareçam distantes, o governo e acadêmicos brasileiros lançaram o projeto Asap (Acadêmicos contra a Pobreza) no Brasil, sob a coordenação do Ministério Público Federal, no qual o HIF tem sido debatido.
    Queremos crer que tal iniciativa constitua um marco na busca de um sistema de saúde equânime e que, com ele, pacientes como Dona Maria possam se beneficiar, em tempo real, dos avanços da indústria farmacêutica.

    Oded Grajew

    folha de são paulo
    TENDÊNCIAS/DEBATES
    As escolhas de São Paulo
    A sociedade precisa decidir se procurará pagar menos imposto e se conformará com a desigualdade, ou se usará sua riqueza para ajudar a reduzi-la
    São Paulo é a cidade mais rica do Brasil. Não obstante, apresenta vergonhosos indicadores de desigualdade e carência. Dos 96 distritos da cidade, 31 não possuem hospital, 38 não têm parque e em 44 não há uma biblioteca pública sequer.
    A diferença entre os indicadores do melhor e pior distrito chega em inúmeros casos a milhares de vezes. Cerca de 170 mil crianças estão à espera de vaga em creches públicas e 1,3 milhão de pessoas moram em favelas. O paulistano passa em média quase um mês por ano no trânsito.
    O Irbem (Indicadores de Referência do Bem-Estar nos Municípios), uma pesquisa realizada anualmente pela Rede Nossa São Paulo para avaliar a qualidade de vida na cidade, mostra que, dos 169 indicadores pesquisados, 137 têm uma avaliação abaixo da média. Além disso, 55% da população, se pudesse, mudaria de cidade!
    Recentemente, a Câmara Municipal aprovou a proposta do prefeito de mudanças na cobrança do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). Pela lei nº 15.044/2009, o prefeito foi obrigado a atualizar os valores dos imóveis. A valorização imobiliária na cidade desde a última atualização superou 100% --e a atualização feita pela prefeitura foi de aproximadamente a metade.
    Se a proposta da administração municipal tivesse sido aprovada, mais de 1 milhão de imóveis seriam isentados de cobrança --um terço do total-- e 8% dos contribuintes, os mais pobres, teriam redução do imposto. Em 61 distritos, os mais carentes, haveria redução do imposto ou aumento médio de no máximo 10%. A cidade toda teria, em 2014, um aumento médio de 14,09%.
    A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e alguns partidos políticos (todos financiados por impostos de cuja cobrança não abrem mão) conseguiram barrar na Justiça essa proposta, e a prefeitura terá que se contentar com um aumento linear de 5,6%. Pobres e ricos arcarão com o mesmo reajuste.
    Duvido que os autores da contestação judicial e seus familiares frequentem escolas, hospitais, postos de saúde, ônibus e bibliotecas públicos nem creio que o aumento maior do IPTU para a maioria da população de maior renda possa afetar o seu padrão de vida.
    Há um justíssimo clamor para que recursos públicos sejam utilizados com ética, competência e responsabilidade. Graças à lei que instituiu o programa de metas podemos cobrar do prefeito o cumprimento das mesmas e também das promessas de campanha.
    Graças à Lei de Acesso à Informação (que garante a todo cidadão e organização o acesso a qualquer dado sobre a aplicação dos recursos públicos) e ao poder que tem a Câmara Municipal (especialmente os partidos de oposição) podemos fiscalizar a aplicação dos recursos.
    Uma mídia atuante e investigativa, os diversos conselhos da sociedade civil que atuam junto às secretarias e às subprefeituras, o Ministério Público e a sociedade civil possibilitam o controle sobre a aplicação dos recursos públicos.
    É só não se omitir exercendo os deveres e direitos da cidadania.
    A sociedade paulistana precisa fazer sua escolha: procurará pagar menos imposto e, consequentemente, colocará menos recursos para os serviços públicos, omitir-se-á na cobrança e na fiscalização do governo e se conformará em morar numa cidade extremamente desigual com enormes carências e péssima qualidade de vida, ou exercerá a sua cidadania, fiscalizando a aplicação do dinheiro público, cobrando do governo ética e competência, sendo mais solidária e usando sua riqueza para ajudar a reduzir a desigualdade e oferecer qualidade de vida e bem-estar a todos os habitantes.

    Kenneth Maxwell

    folha de são paulo
    Enredados
    Os EUA se veem em uma estranha encruzilhada. Por um lado, o novo clima isolacionista do país foi confirmado na semana passada por uma pesquisa do Pew Research Center. Cerca de 52% da população concorda com a afirmação de que "os EUA deveriam cuidar de seus assuntos e permitir que os outros países se ajeitem da melhor maneira que puderem, por conta própria". Apenas 38% discordam.
    Além disso, o ceticismo quanto a envolvimentos estrangeiros agora se estende também à elite política. O Pew entrevistou integrantes do Council on Foreign Relations e constatou que as opiniões deles se alinham às do público geral. Bruce Stokes, do Pew, disse que "temos agora o balanço mais pesado em favor de os EUA cuidarem de seus próprios assuntos", nos quase 50 anos em que pesquisas de opinião fazem essa pergunta.
    Por outro lado, o país está encarando as consequências das revelações de Edward Snowden, ex-prestador de serviço da NSA (Agência de Segurança Nacional), que têm o efeito oposto. O presidente Obama falou de algumas dessas preocupações na sexta-feira, mas a resposta dele pouco acalmou a inquietação pública sobre a vasta dimensão das operações americanas de vigilância. Tampouco sanou os desentendimentos entre o aparato de segurança nacional americano e as companhias de tecnologia do Vale do Silício.
    Proeminentes empresas americanas de hardware, software e internet serviram de canais de ação aos espiões, ainda que não tenham sido cúmplices deliberadas deles. Embora tentasse reassegurar aos americanos que a privacidade deles não estava em risco, Obama deixou claro que o mesmo não se aplicava aos outros países, o que não é boa notícia para as empresas americanas de tecnologia que armazenam dados de estrangeiros ou cujos equipamentos são o cerne de redes mundo afora.
    Obama prometeu que suspenderia a escuta de comunicações de aliados importantes, como a chanceler alemã, Angela Merkel, e, presume-se, a presidente Dilma Rousseff. Também solicitou ao Congresso que apontasse uma comissão de especialistas independentes que assessorariam os tribunais secretos que fiscalizam as decisões da NSA.
    Obama, porém, não propôs limites à invasão das redes internas do Google e do Yahoo! pelos serviços de segurança ou para a criação de "portas dos fundos" em equipamentos produzidos por empresas como a Cisco. Estima-se que, caso os estrangeiros nacionalizem a armazenagem de dados, como propôs Dilma, isso custaria US$ 180 bilhões em negócios perdidos a essas companhias de tecnologia.
    Cortar demais os elos com o mundo e vigiar excessivamente amigos e inimigos não é uma combinação feliz.

    Rindo de quê? - Paula Cesarino Costa

    folha de são paulo
    Rindo de quê?
    RIO DE JANEIRO - Em meio aos trilhos, milhares de passageiros caminham sem saber como e em que horas chegarão a seus destinos. Em pontos de ônibus e estações de metrô, aglomeração, desorganização e falta de informação. Cenas corriqueiras que nem chamam a atenção.
    Parado nos trilhos, o secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes, conversa e ri (ou será que gargalha?) com representantes da SuperVia, responsável pelos trens do Rio. O flagrante resume mais do que um estado de espírito. Aponta o espírito do Estado no trato leniente de um concessionário público.
    Por quase 12 horas, nenhuma composição chegou ou saiu da Central do Brasil, a principal estação por onde passa a maior parte dos 600 mil usuários do transporte ferroviário.
    Não houve quebra-quebra nem protesto. Só resignação e conformismo de cidadãos acostumados à rotina de paralisações, superlotação, maus-tratos e desconforto.
    Em 2010, o governador Sérgio Cabral antecipou a renovação do contrato de concessão, após a Odebrecht assumir o controle acionário da SuperVia. Estendeu o negócio até 2048.
    A Agetransp, que deveria fiscalizar os transportes, tem entre seus conselheiros o tesoureiro do PMDB. O homem do dinheiro do partido de Cabral terá como função fiscalizar empresas cujos sócios doaram milhões para a campanha peemedebista. Outro conselheiro foi vice-presidente da concessionária Metrô Rio.
    Relações que soam como escárnio, mais do que o riso nos trilhos.
    O secretário culpou as "décadas de abandono" e disse que "talvez" o plano de contingência não tenha sido suficiente. Anteontem, Lopes comemorava no Twitter o decreto de Cabral que dava 50% de desconto no IPVA para os ônibus. "Boa notícia" escreveu. Para quem? Certamente não para os maltratados usuários do transporte público fluminense, que não têm do que rir.

    José Simão

    folha de são paulo
    Tucanos! 50 Alstons de Cinza!
    Já sei como vai acabar esse escândalo do Metrô: vão botar a culpa na Folha ou no Covas, que já morreu
    Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada Pronta: "Em Miami, Ângela Bismarchi dispara: só encontrei gente cafona". Rarará! Que falta de autocrítica. O cúmulo da autoestima!
    E uma amiga chegou de Miami e disse que o pior aeroporto do mundo não é o de Guarulhos, é o de Miami: duas horas na imigração e uma hora na esteira pra pegar mala. Ops, as 200 malas! Rarará!
    E atenção! Best-seller nas paradas! O chargista Nani revela o novo livro do PSDB: "50 Alstons de Cinza". Ops, 50 Alstons de Siemens. Rarará! Com a dupla sertaneja Alcksiemens e Serralston.
    E eu já sei como vai acabar esse escândalo do Metrô: vão botar a culpa na Folha ou no Covas, que já morreu! E notícia com corrupção tucana é tudo "suposto": supostos tucanos praticaram suposto roubo chamado suposto cartel no suposto Metrô. PSDB virou o Partido Suposto Do Brasil. Rarará!
    E a Dilma? A Grande Chefe Touro Sentado! Vai pro Fórum Econômico de Davos na Suíça e logo depois para a conferência dos Estados caribenhos em Cuba! Vai ter um choque térmico! Vai virar sanfona! Suíça e Cuba! Primos Ricos x Primos Pobres! Na Suíça, ela vai de terninho da Colombo, estilo técnico de futebol. E em Cuba, ela desce de shortinho com estampa do Che Guevara! Rarará!
    E os tucanos tão dando uma de Lula: ninguém sabia nada. Lulite contagiosa! E eu tenho a foto de um encontro de tucanos: um monte de homem branco com camisa social azul. Não tem uma mulher, um jovem, um gay, um negro. E todos com cara de que desceram de um metrô fantasma.
    E a charge do Erasmo: "Quanto sai o metrô quadrado em São Paulo?". Tão vendendo São Paulo por metrô quadrado! E avisa que nós queremos metrô com serviço de bordo, banheiro limpo e na telinha "A Era do Gelo 6". Chega de vagão velho e trilho podre! Rarará!
    É mole? É mole, mas sobe!
    O Brasil é Lúdico! Cartaz num boteco em Porongava, Serra do Japi: "Cerveja fiado nem para a Dilma acompanhada do Lula". Eu diria: principalmente acompanhada do Lula. Rarará! E eu tenho a foto dum boteco bem bagaça chamado: "Bar da Lady Gaga". Esse a Madonna não frequenta. Rarará!
    Nóis sofre, mas nóis goza! Hoje, só amanhã!
    Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!