sábado, 22 de fevereiro de 2014

"Gente rica, bonita e cheirosa" Preta Gil - Monica Bergamo

folha de são paulo
MÔNICA BERGAMO
'GENTE RICA, BONITA E CHEIROSA'
Do palco, Preta Gil saudava os 1.200 convidados: "Gente rica, bonita e cheirosa", dizia ela, que animou o baile de Carnaval da "Vogue", anteontem, no Hotel Unique, em SP.
Na categoria belas, estavam lá Juliana Paes, com uma cabeleira volumosa e brincos gigantes, e Fernanda Paes Leme, que seguiu o "dress code" tropical da noite.
A festa foi um desfile de celebridades em looks para serem postados no Instagram. Uma das "selfies" mais comentadas era a da blogueira Helena Bordon, com capa de anjo, mas confundida com as princesas Xena e She-Ra.
A funkeira Valesca Popozuda homenageou seu próprio hit "Beijinho no Ombro" ao usar boca vermelha como adereço de cabeça. "Lia a 'Vogue' e ficava babando nas fotos do baile, nos vestidos", contou ela, babando pela primeira vez ao vivo, em meio às "it girls" da publicação.
Tatá Werneck subiu no salto a bordo de um longo decotado e transparente. Foi uma das "gostosas" chamadas ao palco por Preta Gil. Não teve sossego. "Em uma hora, tirei foto com 40 pessoas." Justificou a ausência do namorado. "Ele é normal. É engenheiro e acorda cedo."
Uma figura misteriosa coberta da cabeça aos pés com uma roupa estilo Lady Gaga cheia de pérolas era o estilista Walério Araújo. Sabrina Sato brincava com seu rabo de pantera cor-de-rosa.
O diretor da Globo Ricardo Waddington abraçava sua Power Ranger amarela, a namorada Marina Sanvicente. "Ultimamente estou adorando a geografia paulistana. Maravilhosa!", dizia ele, na ponte aérea por conta do namoro.
Perto das três da manhã, Glória Maria e a atriz Cris Vianna subiram ao palco. "Black is beautiful", fizeram reverências Preta Gil e o cantor Thiaguinho. Nos flashes brilhavam louras, como Adriane Galisteu, e a ruiva Marina Ruy Barbosa.
Às 3h20, nem sinal de a festa acabar. "Quem vai trabalhar amanhã?", perguntava Preta Gil. Regina Manssur, ex-participante do "Mulheres Ricas", esperava na fila pelo carro. Depois de muita ansiedade por não ter recebido o convite impresso até o meio da tarde, ela suspirou aliviada antes da meia-noite, quando pôde exibir no salão seu modelito garimpado na última viagem a Paris e Dubai.
PENTE-FINO
O aumento no número de estrangeiros cruzando as fronteiras do Brasil na Copa do Mundo acende um alerta nas aduanas. O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita faz vistorias nas condições de trabalho e estrutura dos portos e aeroportos das cidades-sede. Relatório sobre os problemas que prejudicam a fiscalização sai até abril.
BOLA E SAMBA
Por causa do protesto contra a Copa marcado para hoje, o Festival CCBB de Carnaval pediu reforço no policiamento no centro de SP. O fim dos shows na praça do Patriarca deve coincidir com o início da concentração dos manifestantes, na República, às 17h.
DE SALTO ALTO
A bancada do "Jornal Nacional" será ocupada pela primeira vez por duas mulheres. Patrícia Poeta e Sandra Annenberg apresentam o telejornal em 8 de março, Dia da Mulher. Na data, os programas da Globo vão homenagear o sexo feminino. Pedro Bial deverá ceder seu microfone no "BBB" a uma moça.
NO FIO DA NAVALHA
Sobre as críticas e elogios à sua franja, Giovanna Antonelli diz, via assessoria, que ela e "todos na Globo" estão satisfeitos com o visual. E que não fez ajustes desde o corte, em dezembro. Segundo Fernando Torquatto, responsável pela caracterização dos atores de "Em Família", a franja foi pensada para a primeira fase da trama e "vai crescer naturalmente e ter outro aspecto".
PLATEIA HERMANA
A peça "Intimidade Indecente", de Leilah Assumpção, lota o Teatro Regina, em Buenos Aires, desde janeiro. A montagem é estrelada por dois atores de sucesso, Marta González e Arnaldo André. "É uma satisfação", diz Leilah.
CURTO-CIRCUITO
Tiê canta amanhã com a banda norueguesa Bigbang, às 18h, no CCSP. Livre.
A peça "Brasília - Rumo ao Planeta Boeing", d'Os Melhores do Mundo, será exibida no site do grupo, hoje (21h) e amanhã (21h30).

    Propaganda enganosa - Alexandre Vidal Porto

    folha de são paulo
    Propaganda enganosa
    O Brasil é um país lindo. Mas não é o único, e tem muito a melhorar em serviços turísticos
    Detesto quando estrangeiros criticam o Brasil. Sobretudo quando são meus amigos, e, mais ainda, quando as críticas que fazem têm fundamento. Recentemente passei por isso em um jantar em Tóquio.
    O que fazer? Minha primeira reação foi rebater as críticas em tom conciliatório. Em seguida, tentei mudar de assunto. Quando nada disso funcionou, avisei que não estava gostando do papo. Acrescentei que, se continuassem, teria coisas desagradáveis a falar do país de cada um deles. Passamos a outros assuntos, e o jantar seguiu seu curso.
    Dos quatro amigos com quem jantava, três moraram no Brasil. Falam português e se dizem fãs do país. Tão fãs que resolveram passar as últimas férias por lá. Fazia anos que não voltavam. Estranharam o que viram. Talvez a distância geográfica e temporal os tivesse feito esquecer mazelas. Talvez a memória tivesse embelezado a realidade.
    Eu tinha voltado do Brasil na semana anterior e sabia que meus amigos tinham razão. Mas lamentei que o dissessem na minha frente, porque, afinal, é para evitar constrangimentos que hipocrisia existe.
    As críticas de meus amigos se referiam basicamente à falta de preparo do país para receber turistas. Falaram de amadorismo. Sentiram-se explorados com os preços das coisas. A amiga que teve os sapatos roubados na praia e pagou R$ 200 por uma corrida de táxi que devia custar R$ 20, me falou: "o Brasil é um ótimo país, mas não quero voltar mais lá."
    Ao ouvir isso, você lamenta, mas não há muito o que contra-argumentar. Todos têm direito a não querer voltar a um determinado lugar. Ninguém gosta de se sentir explorado. Eu mesmo tenho uma lista de lugares aos quais só voltaria por obrigação profissional.
    A relação custo-benefício para um turista no Brasil obviamente deixa a desejar. É desagradável pagar por serviços que, internacionalmente, não têm categoria para custar nem a metade do que custam. Os próprios brasileiros descobriram isso e cada vez mais fazem turismo no exterior.
    Por essa razão, pior do que ouvir as críticas de meus amigos foi tomar conhecimento de uma campanha governamental para fomentar o turismo cujo slogan é "o Brasil é o melhor país do mundo para viajar".
    Campanhas como essa, que vendem o Brasil como "o melhor país do mundo" não contribuem em nada. Traduzem um ufanismo irresponsável, desperdiçam dinheiro público e prejudicam o progresso do Brasil. São deseducativas. Ao ouvi-las, o hoteleiro explorador e o garçom incompetente sentem-se justificados. Não precisam fazer nada para melhorar. Afinal, já são os melhores do mundo.
    O Brasil é um país lindo. Mas não é o único, e tem muito a melhorar em termos de serviços turísticos. Repetir uma mentira ("o Brasil é o melhor país do mundo para viajar") em campanha promocional não a tornará realidade.
    O que pode transformar Brasil no melhor país do mundo para viajar é investimento em infraestrutura e capacitação. É nisso que deveria ter sido gasto o dinheiro do contribuinte --não em propaganda enganosa.

      Comitê realiza debate sobre violência contra população negra

      folha de são paulo
      DISCRIMINAÇÃO
      Comitê realiza debate sobre violência contra população negra
      DE SÃO PAULO - Acontece hoje, das 10h às 14h, uma roda de conversa sobre a violência contra a população negra, especialmente os jovens. O evento é organizado pelo Comitê contra o Genocídio da População Pobre, Preta e Periférica, que reúne mais de cem organizações do movimento negro.
      Entre as pautas da discussão estão a desmilitarização da polícia, a indenização a vítimas da violência e a defesa de testemunhas de crimes.
      Segundo a organização, esses serão pontos de partida para uma discussão mais ampla sobre a segurança pública no Estado de São Paulo.
      O objetivo da reunião é levantar discussões e elaborar políticas que serão levadas a instâncias como a Secretaria de Direitos Humanos e a Assembleia de São Paulo.
      O evento, gratuito e aberto ao público, será realizado no Espaço Guiomar Novaes, na Funarte (al. Nothmann, 1058, Campos Elíseos, São Paulo).

      Helio Schwartsman

      folha de são paulo
      O verdadeiro abismo
      SÃO PAULO - Foi só os termos de troca da economia internacional ficarem um pouco menos favoráveis à América Latina para os problemas ganharem visibilidade. A Argentina vive uma situação particularmente grave. A da Venezuela é ainda pior. É difícil imaginar uma saída não traumática para a enrascada em que se meteram. Em outros países do continente, Brasil incluso, o cenário não é tão ruim, mas está muito longe de ser confortável.
      É claro que não dá para culpar apenas a mudança de ares na economia. No caso da Argentina, ela só agravou anos e anos de erros cometidos por seus governantes.
      O que me levou a escrever esta coluna, porém, não foi a economia, mas a educação. Os equívocos perpetrados pelos Kirchner e seus antecessores são fichinha perto do que está ocorrendo com o ensino na Argentina. É aí que está o verdadeiro abismo.
      No último Pisa, o exame internacional que compara o desempenho de alunos de 15 anos, ela conseguiu resultados piores do que os do Brasil em matemática e leitura. Só venceu, e por muito pouco, em ciência. Na primeira edição do teste, realizada em 1999, os alunos argentinos ainda tinham uma razoável folga sobre os brasileiros. Detalhe importante: nós não os ultrapassamos porque melhoramos significativamente. Eles é que foram ficando para trás, não só do Brasil como de quase todos os países que participam do exame.
      A comparação fica ainda mais escandalosa quando alargamos o horizonte de tempo. Até os anos 60, a educação da Argentina era provavelmente a melhor do continente e não fazia feio diante da de nações desenvolvidas. O país conseguiu angariar três Prêmios Nobel científicos e foi um dos primeiros a reduzir o índice de analfabetismo para baixo dos 10%, ainda nos anos 50.
      O grave aqui é que estão dilapidando aquilo que o país tem de mais valioso, que é a capacidade de adaptar-se e reinventar-se.

      A democracia na Venezuela está ameaçada? - Ignacio Ramonet e M.Coutinho respondem

      folha de são paulo

      IGNACIO RAMONET
      A democracia na Venezuela está ameaçada?
      NÃO
      Técnicas de manual
      A Venezuela passou por quatro eleições decisivas recentemente: duas votações presidenciais, uma para governos estaduais e uma para prefeituras. Todas foram vencidas pelo bloco da revolução bolivariana. Nenhum dos resultados foi impugnado pelas missões internacionais de observação eleitoral.
      A votação mais recente aconteceu apenas dois meses atrás e resultou em clara vitória para os chavistas. Desde que Hugo Chávez assumiu a Presidência, em 1999, todas as eleições demonstram que, sociologicamente, o apoio à revolução bolivariana é majoritário no país.
      Na América Latina, Chávez foi o primeiro líder progressista --desde Salvador Allende-- a apostar na via democrática para chegar ao poder. Não é possível compreender o que é o chavismo se não for levado em conta o seu caráter profundamente democrático. A aposta de Chávez, ontem, e a de Nicolás Maduro, hoje, é o socialismo democrático. Uma democracia não só eleitoral. Também econômica, social, cultural...
      Em 15 anos, o chavismo conferiu a milhões de pessoas que não tinham documentos de identidade por serem pobres a situação de cidadãos e permitiu que votassem. Dedicou mais de 42% do Orçamento do Estado aos investimentos sociais. Tirou 5 milhões de pessoas da pobreza. Reduziu a mortalidade infantil. Erradicou o analfabetismo. Multiplicou por cinco o número de professores nas escolas públicas (de 65 mil a 350 mil). Criou 11 novas universidades. Concedeu aposentadorias a todos os trabalhadores (mesmo os informais). Isso explica o apoio popular de que Chávez sempre desfrutou e as recentes vitórias eleitorais de Nicolás Maduro.
      Por que, então, os protestos? Não nos esqueçamos de que a Venezuela chavista --por possuir as maiores reservas mundiais de hidrocarbonetos-- sempre foi (e será) objeto de tentativas de desestabilização e de campanhas de mídia sistematicamente hostis.
      Apesar de se haver unido sob a liderança de Henrique Capriles, a oposição perdeu quatro eleições consecutivas. Diante desse fracasso, sua facção mais direitista, ligada aos Estados Unidos e liderada pelo golpista Leopoldo López, aposta agora em um "golpe de Estado lento". E aplica as técnicas do manual quanto a isso.
      Na primeira fase: 1. Criar descontentamento ao tirar do mercado produtos de primeira necessidade. 2. Fazer crer na "incompetência" do governo. 3. Fomentar manifestações de descontentamento. E 4. Intensificar a perseguição pela mídia.
      A partir de 12 de fevereiro, os extremistas ingressaram na segunda fase: 1. Utilizar o descontentamento de um grupo social (uma minoria de estudantes) a fim de provocar protestos violentos e detenções. 2. Montar "manifestações de solidariedade" aos detidos. 3. Introduzir entre os manifestantes pistoleiros com a missão de provocar vítimas de ambos os lados (a análise balística determinou que os disparos que mataram o estudante Bassil Alejandro Dacosta e o chavista Juan Montoya, em 12 de fevereiro, em Caracas, foram feitos com a mesma arma, uma Glock calibre 9 mm). 4. Ampliar os protestos e seu nível de violência. 5. Redobrar a ofensiva da mídia, com apoio das redes sociais, contra a "repressão" do governo. 6. Conseguir que as "grandes instituições humanitárias" condenem o governo por "uso desmedido da violência". 7. Conseguir que "governos amigos" façam "advertências" às autoridades locais.
      É nesta etapa que estamos.
      Portanto, a democracia venezuelana está ameaçada? Só se for, uma vez mais, pelos golpistas de sempre.
      MARCELO COUTINHO
      A democracia na Venezuela está ameaçada?
      SIM
      Monarquias eleitas
      MARCELO COUTINHO
      É um erro reduzir a democracia a um sistema que realiza eleições. Até na totalitária União Soviética havia voto e um sistema eleitoral do qual "todos participavam".
      Aliás, foi justamente o bloco socialista no século 20 o último grande inimigo da democracia, que ao longo da história enfrentou monarcas, sultões, coronéis e tiranos.
      A redução da democracia a apenas um dos seus elementos não passa de um truque para grupos autoritários se legitimarem no poder. Quem recorre a esse artifício sabe que está ludibriando as pessoas e confundindo a opinião pública.
      O que distingue a democracia é o voto livre, para o qual se faz necessário garantir a liberdade e a autonomia da imprensa e do Judiciário e os direitos de manifestação e de organização sem riscos de perseguição. Pode-se dizer que nenhum regime tem esses componentes em plenitude, mas, se há democracia, eles estão presentes.
      A eleição em uma falsa democracia é como um dado viciado, que só pode dar um mesmo número sempre. As supressões de liberdade vão aumentando uma a uma, até que se torna virtualmente impossível para qualquer oposição vencer, mesmo quando o país está um caos. Até há voto, mas ele não é livre.
      A Venezuela deixou de ser uma democracia quando Hugo Chávez morreu (2013). Ele já havia castigado o regime democrático, mas foi com seu sucessor que a mudança autocrática aconteceu. Com o apoio de um Judiciário controlado pelo governo, Nicolás Maduro foi empossado presidente antes das eleições, sem qualquer legitimidade, porque naquele país, ao contrário do Brasil, o vice não é eleito.
      Depois disso, a mesma Justiça controlada estabeleceu um prazo exíguo de apenas um mês para o pleito, mantendo o presidente ilegítimo no poder. Por acaso, seria ele mesmo o candidato às eleições que veio a vencer por alguns poucos decimais. Mesmo com a imprensa quase toda capturada, o abuso de poder estatal, ameaças e uma campanha de duração ínfima, a oposição conseguiu virtualmente empatar a disputa.
      As democracias e os organismos internacionais que reconheceram as eleições anteriores nas quais Chávez de fato foi o vencedor mostraram-se menos confiantes no pleito de 2013. Ao final, a Justiça chavista recusou-se a fazer uma auditoria ou recontagem total dos votos, a despeito do que manda a praxe e do que solicitou a oposição, que obteve, no mínimo, 49% dos votos.
      Desde então, o quadro venezuelano só tem piorado. A última notícia é a da prisão de líderes oposicionistas e fortíssima repressão --com mortos-- aos movimentos contrários ao governo. Difícil encontrar um direito humano que o governo venezuelano já não tenha violado. Não há democracia eleitoral sem Estado democrático de Direito.
      Depois de Franklin Delano Roosevelt exercer quatro mandatos consecutivos como presidente dos Estados Unidos, entre 1933 e 1945, em um momento singular de depressão econômica e Grande Guerra, o espírito democrático dos norte-americanos prevaleceu, impedindo que tais reeleições sucessivas voltassem a acontecer naquele país.
      Mas, na Venezuela, não há mais margem para dúvidas. Infelizmente, o país deixou de zelar a democracia. As oposições não encontram condições leais de disputa eleitoral, impedindo uma virtual vitória, mesmo que esta pudesse refletir a vontade popular. Não se pode falar em democracia onde a oposição está impedida de tornar-se situação.
      O socialismo do século 21 continua sendo irremediavelmente autoritário. As novas gerações dessa suposta esquerda também fracassaram. Só não querem reconhecer e muito menos largar o poder, como verdadeiras monarquias eleitas.

      Sylvia Colombo

      folha de são paulo
      Os fora da lei
      O fenômeno não é novo na América Latina. Quando o Estado não consegue ser eficaz para garantir a segurança da população (ou quando quer afirmar seu poder usando a força sem respeitar as leis e os direitos humanos), apoia-se em grupos paramilitares. Alguns destes surgem espontaneamente entre os civis, outros são estimulados e financiados desde o princípio.
      Foi assim com esquadrões da morte em vários países. Também com os temidos Tonton Macoute, do Haiti, que ajudaram a manter o poder ditatorial dos Duvalier. Ou com as Autodefesas Unidas da Colômbia, cujo objetivo inicial era lutar contra as Farc. Ainda com as Rondas Campesinas, destinadas a combater os terroristas do Sendero Luminoso, no Peru.
      Além de ferirem mortalmente a ideia de Estado de Direito, esses grupos deixaram para trás um legado de sangue e injustiça, em alguns casos criando novas forças criminosas que ameaçaram as democracias e desacreditaram o Estado.
      Os erros do passado parecem não ter servido de lição. Agora, em pelo menos dois países do continente, essa estratégia volta a ser adotada. No México, são as "autodefesas". Na Venezuela, os "coletivos".
      No país do norte, elas ganharam força nos últimos dois anos, na região do Golfo e no sul. Cansados de sofrer os abusos de narcotraficantes, que praticam extorsão, sequestram e matam a população local, grupos de civis decidiram se armar e atacar os criminosos por conta própria. Hoje, já estão em mais de 11 Estados mexicanos.
      Em Michoacán, onde o poder público não consegue atuar devido à força do cartel dos Cavaleiros Templários, as "autodefesas" são a única esperança de Enrique Peña Nieto para manter o controle da região. Seu governo acaba de fazer um acordo com as milícias, integrando-as às guardas rurais do Exército. A oposição combate firmemente a proposta, uma vez que significa a legalização de uma milícia paramilitar armada de fuzis e tanques.
      Na Venezuela, os "coletivos" não são novidade e vêm sendo base de apoio dos governos Chávez e Maduro. Só nos últimos dias, encapuzados e a bordo de suas motos, espalharam medo e terror nas ruas de Caracas, ajudando a polícia na repressão dos protestos antigoverno e causando mortes.
      A oposição, entidades de direitos humanos e ONGs no México e na Venezuela vêm alertando para a ameaça que esses grupos representam.
      Esses exemplos deveriam iluminar o debate medieval que se instalou no Brasil depois do caso do adolescente preso num poste no Flamengo, no Rio. Aos setores da sociedade que apoiam a criação de milícias contra a criminalidade, vale o convite a conhecer o final dessas tristes experiências, que terminaram com a criação de entidades monstruosas, armadas e sem nenhum controle.

      Ruy Castro

      folha de são paulo
      Para quem quiser
      RIO DE JANEIRO - Martinho da Vila está lançando um disco, "Enredo", em que canta os sambas-enredo que compôs para as duas escolas de sua vida, a Aprendizes da Boca do Mato e a Unidos de Vila Isabel --alguns, só agora gravados. É uma ótima ideia numa indústria, a fonográfica brasileira, que deprime pela falta de imaginação. Pois, aberta a porta, por que não um disco similar com Paulinho da Viola cantando os grandes sambas da Portela, inclusive o seu próprio --e campeão-- "Memórias de um Sargento de Milícias", de 1966?
      Outros veios poderiam ser explorados. Levei anos tentando convencer alguma gravadora a reunir em disco João Donato, acordeão; Johnny Alf, piano, e Paulo Moura, clarineta, inspirado num tipo de formação que eles tanto admiravam em 1950, quando estavam no Sinatra-Farney Fan Club. Nenhuma se interessou.
      Os americanos eram mestres em combinar dois nomes num disco, geralmente um cantor e um instrumentista --Crosby com Armstrong, Sinatra com Duke, Johnny Hartman com John Coltrane, Helen Merrill com Clifford Brown, Rosemary Clooney com Perez Prado, muitos mais. No Brasil, teria sido formidável acoplar Os Cariocas ao Tamba Trio, mas não foi possível. E por que Tom Jobim e Vinicius de Moraes nunca fizeram um disco juntos? (O ao vivo no Canecão, com Toquinho e Miúcha, não conta).
      Mas, se não tivermos pressa, talvez ainda vivamos para ver um disco reunindo João Gilberto e João Donato --quem sabe? Já juntar Leny Andrade ao trombonista Raul de Souza soa tão natural que é incrível ninguém ter pensado nisso ainda. E por que não combinar estilos? Rita Lee com Roberto Menescal. Wanda Sá com Erasmo Carlos. Leila Pinheiro com Marcos Sacramento. Orlandivo com Mart'nália. E os songbooks? Alcione canta Aldir Blanc. Ed Motta canta Marcos Valle.
      São só ideias. Para quem quiser.

      Xico Sá

      folha de são paulo
      Carta a messiê Jérôme
      A Fifa não poderia ser menos arrogante e entender o que se passa no país? Até a ONU revê seus acordos
      Amigo torcedor, amigo secador, peço a devida licença para me dirigir especialmente à senhora Fifa, na pessoa do seu secretário-geral, Jérôme Valcke, sempre em visita a este país com a sua panca de colonizador fanfarrão do Velho Mundo.
      Tudo bem, o sr. pode alegar que não tem culpa se o governo rubricou e assinou tudo em submissa e cordialíssima obediência de colonizado. O governo talvez tenha o mesmo hábito popular de não ler aquelas letrinhas contratuais.
      Sim, oui, messiê, as digníssimas autoridades da terra do pau-brasil fizeram uma faraônica e franciscana transposição do dinheiro público para sumidouros privados. O sr. está certo nesse ponto: os governantes aceitaram tudo, agora não reclamem.
      Queriam mostrar que são a nova potência, o país da vez e da moda no mundo? Agora agasalhem as obrigações. As ponderações de vossa senhoria, sr. secretário, são até razoáveis ao pé da letra fria e miúda dos termos. Cumpra-se e escutem o grito das ruas.
      Nem que seja o grito abafado pelos gols. Nelson Rodrigues diria que diante do primeiro gol dos canarinhos, não haveria um só brasileiro decente que fizesse coro com os grupelhos de manifestantes. Será?
      Continuasse o gênio pernambucarioca com a opinião que conservou desde a Copa de 1958, certamente manteria a ideia clássica da "Pátria em chuteiras" --o que é bem diferente do pachequismo de ocasião. O futebol brasileiro, segundo as suas crônicas, estava acima do bem e do mal das ideologias.
      Viajamos na mesa branca. Voltemos ao destinatário inicial. Caro Jérôme, letrinhas contratuais à parte, o sr. não acha que, diante do cenário que se anuncia desde os protestos da Copa das Confederações, a Fifa não poderia ser menos arrogante e entender o que se passa no país? Até a ONU revê seus acordos, ora bolas!
      Por que insistir, por exemplo, nestes currais festivos, com seus reis dos camarotes, as tais fan fests? A festa, no Brasil, é em qualquer canto, não sob placas oficiais, jabás e abadás dos patrocinadores. A festa aqui é no bar do David, no Chapéu Mangueira --excelente para gringos e brasileiríssimos, seu Jérôme--, a fuzarca é no cabaré Lady Laura, lá no Crato; é na Beth Cuscuz, em Teresina; é no Zé Batidão, o agito da Cooperifa, na ZS paulistana.
      A rebeldia do Recife, que se nega a bancar a farra copeira, messiê, está moralmente correta, seja atitude demagógica ou não do governador Campos, ops, do prefeito Geraldo Julio. Mesmo considerando que este mesmo poder andou pisando na bola em relação às manifestações culturais em Pernambuco, que em nada dependiam dos encafifados senhores.
      Sr. Jérôme, mais juízo, considere o cenário dos trópicos no momento. Melhor que botar a perder, por letrinhas tão pequenas, a festa maior do futiba.
      @xicosa

        As ficções de Freud - Raquel Cozer

        folha de são paulo
        As ficções de Freud
        Estudo analisa a influência de escritores como Goethe, Thomas Mann, Shakespeare e Dostoiévski sobre médico criador da psicanálise
        RAQUEL COZERCOLUNISTA DA FOLHA
        Um dos maiores escritores de língua alemã, Thomas Mann (1875-1955) sentia-se "inquietado e apequenado" pelo pensamento de Freud.
        "O artista é varado pelas ideias dele como se por um feixe de raios X, isso chegando à violação do segredo do ato criador", disse o autor de "Morte em Veneza", em 1926, após admitir ter feito a novela "sob influência direta" de Sigmund Freud (1856-1939).
        Narrada no recém-lançado "Freud com os Escritores" (ed. Três Estrelas, selo editorial do Grupo Folha), a passagem ilustra um dos lados da íntima relação histórica entre psicanálise e literatura.
        O outro ocupa a maior parte do livro de J.-B. Pontalis (1924-2013) e Edmundo Gómez Mango, 73, e trata de como Shakespeare, Goethe, Dostoiévski e outros, além de amigos como Mann e Stefan Zweig, ajudaram Freud a transmitir seu pensamento.
        Mango, professor de literatura, psiquiatra e psicanalista uruguaio em Paris, falou àFolha por e-mail.
        Folha -- Freud usava textos literários para traduzir ideias. Pode-se dizer que, mais que isso, ele não teria tido tais ideias sem esses textos?
        Edmundo Gómez Mango -- Esse é um aspecto delicado. As nuances são várias. Freud confessa, por exemplo, temer encontrar na leitura de Nietzsche ideias que investigava. Encontra muitos de seus conceitos na ficção. Chamava os escritores de "os avançados", os que exploraram antes aspectos importantes do conflito psíquico.
        Mas partia de experiências pessoais: a escuta de pacientes e a autoanálise. O essencial vem dessas fontes.
        Mas o trabalho do romantismo alemão na representação do sonho preparou o terreno para Freud. Ao mesmo tempo em que conserva algo do valor onírico do poeta romântico, rompe com ele na elaboração teórica de compreensão do sonho, indissociável da do sujeito dividido entre o eu consciente e suas forças inconscientes.
        Como vê estudos que relacionam psicanálise e literatura?
        A psicanálise permitiu novas abordagens críticas da literatura. Pontalis e eu não somos partidários da "psicanálise aplicada" à obra literária, enfoque redutor e formalista. A vida psíquica singular não é um "texto" que se possa ler e interpretar só a partir de significantes linguísticos.
        É, porém, evidente que grandes críticos puderam compreender melhor o sentido e até a estrutura de algumas obras da literatura tendo em conta as contribuições fundamentais da psicanálise.
        Freud se nutriu de Shakespeare, diz autor
        De acordo com pesquisador, Hamlet era visto como a figura mais representativa do complexo de Édipo na literatura
        Austríaco 'admirava como Zweig e Schnitzler transmitiam tendências do psiquismo humano', assinala Gómez Mango
        DA COLUNISTA DA FOLHA
        Leia, a seguir, a continuação da entrevista de Edmundo Gómez Mango --autor, com J.-B. Pontalis, de "Freud com os Escritores".
        Folha - Os ensaios do livro tratam em grande medida da relação de Freud com o pensamento dos autores citados. Há também aproximação em relação ao estilo narrativo?
        Edmundo Gómez Mango - Quase no início de sua obra, Freud reconhece que, para descrever o que se dá na vida psíquica dos pacientes, para transmitir a clínica da neurose que está descobrindo, deve fazê-lo como os escritores, e não como os psiquiatras ou neurologistas da época. "Me assombra", diz, "que minhas histórias clínicas sejam lidas como romances".
        Quando tenta se aproximar dos processos psicológicos que descobre no fundo dos sintomas neuróticos, aproxima-se quase involuntariamente dos escritores. Admira como seus contemporâneos, Stefan Zweig, Arthur Schnitzler (a quem via como um "duplo" de si mesmo), Thomas Mann, são capazes, aparentemente sem esforço, de transmitir as tendências mais poderosas e obscuras do psiquismo humano.
        Também quando Freud narra seus próprios sonhos, é capaz de ceder sua pena de investigador ao "escritor poeta" que abrigava dentro de si.
        Essa dualidade, escritor científico e literário, mantém viva até hoje a obra que revolucionou a concepção do homem moderno.
        Dos autores citados no livro, quais tiveram maior influência sobre a obra de Freud?
        J.-B. Pontalis aponta, com razão, que, para além das várias referências à obra de Shakespeare, Freud parece ter se "nutrido" dele, como se o tivesse "incorporado". Assim que define como "complexo de Édipo", além da referência à tragédia de Sófocles, convoca Hamlet como figura que mais bem o representa na literatura, exemplo do "neurótico universalmente célebre".
        Sobre Goethe, Freud confessa ter se voltado à medicina após escutar o poema "A Natureza", então atribuído a ele. É talvez o poeta mais presente na obra de Freud, que chegou a enumerar os aspectos do escritor que mais influenciaram seu pensamento, como a compreensão da influência de impressões infantis e a concepção de amor. Freud considera Mefistófeles, personagem do "Fausto" goethiano, a encarnação de uma de suas ideias mais discutidas, a "pulsão da morte".
        Em Schiller, encontrou a antecipação de sua ideia do primeiro dualismo pulsional, entre as pulsões que se dirigem ao objeto, como "a fome e o amor", e as narcisistas, ligadas ao "eu".
        CRÍTICA ENSAIOS
        Abrangente, obra traz achados até para o leitor familiarizado
        MANUEL DA COSTA PINTOCOLUNISTA DA FOLHA
        Quando se fala da relação de Freud com a literatura, é quase obrigatório lembrar que o único reconhecimento oficial que o criador da psicanálise recebeu em vida foi o Prêmio Goethe, em 1930.
        Honraria dúbia: embora não fosse uma premiação exclusivamente literária, iluminava o ímpeto "fáustico" de sua obra. E, com isso, talvez colocasse em segundo plano (ou, em termos psicanalíticos, "recalcasse") o que nela havia de mais perturbador.
        Ao mesmo tempo, há justiça poética nessa homenagem que equipara o gênio freudiano ao do "Dichter", do "criador literário". "Freud com os Escritores" começa justamente assinalando a especificidade (no limite, intraduzível) do termo alemão "Dichter", que designa aquele capaz de conferir às palavras o dom de revelar o ser.
        E é essa mesma qualidade "poiética", de "fazedor" de mundos, que surge dos encontros de Freud com Shakespeare e Dostoiévski, Goethe e Schiller, de sua interlocução (sobretudo por cartas) com escritores como Arthur Schnitzler, Romain Rolland, Thomas Mann e Stefan Zweig.
        Os ensaios de Mango e Pontalis não foram feitos a quatro mãos. Ao final dos textos, as iniciais indicam a autoria de cada um, e logo percebe-se a diferença de abordagem --mais literária e conceitual no primeiro, mais metapsicanalítica no segundo.
        Abrangentes ao apresentar como cada autor impregnou a escrita freudiana, os ensaios trazem achados até para o leitor familiarizado com psicanálise. É o caso do conceito de "Trieb", inicialmente traduzido como "instinto" e cujo sentido de "pulsão" aparece antes em Schiller.
        Assim como o "Unheimlich" ("sinistro" ou "inquietante estranheza", como prefere Mango), que Freud formula a partir de Hoffmann, indica como a literatura "preparou' a língua alemã para tornar-se o vernáculo do pensamento de Freud".
        Nos capítulos sobre Goethe e Schnitzler vemos quase a antecipação da "pulsão de morte", que corresponde à última e mais complexa tópica psicanalítica. Mas é através de Mann que passamos a ver "um romantismo que se tornou científico" sob o projeto iluminista da psicanálise.
        FREUD COM OS ESCRITORES
        AUTORES J.-B. Pontalis e Edmundo Gómez Mango
        TRADUÇÃO André Telles
        EDITORA Três Estrelas
        QUANTO R$ 39,90 (304 págs.)
        AVALIAÇÃO ótimo

        José Simão

        folha de são paulo
        Carnaval! 'Mamãe, Virei Bicha'
        Charge com o Azeredo: 'Juro que não sei de nada, esse nariz não é de pinóquio, é de tucano'. TUCANÓQUIO!
        Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada Pronta: "Picapau aparece no CT do São Paulo". Justo no São Paulo? E diz que os bambis quando viram o picapau, gritaram: quero quero! Rarará.
        O São Paulo virou um galinheiro, um viveiro: Pato, Ganso, os frangos do Ceni, a cara de galo véio do Muricy. E agora um picapau.
        E um dos assessores do tricolor disse que o picapau podia ser o novo mascote. NÃO! Já imaginou: São Paulo, mascote picapau. Rarará.
        E a Dilma com o papa? Com o simPAPAticíssimo! "Trouxe um santinho para o senhor: Dilma 2014'". E ainda vai dizer pro papa: "Nós temos uma coisa em comum: a HUMILDADE!". Rarará. Ela vai desmontar o papa. Vai sacudir tanto a mão do papa que ele vai desmontar. Cumprimento de caubói! Chacoalhou o papa!
        E esse papa é muito simpático, mas se liberasse a camisinha, a pílula e o casamento gay, seria muito mais simpático! E adorei a charge do Duke. Na saída, o papa falou pra Dilma: "Que o Criador a acompanhe". "Pode deixar! O Lula tá sempre ao meu lado". Rarará!
        E diz que a vaquinha do Dirceu é a única vaquinha que só tem filé mignon! Vaquinha de filé mignon! E o mensalão tucano? O Azeredo! O Azeredo azedou os tucanos!
        E eu tenho duas charges. Charge do Marco Aurélio com o Azeredo declarando: "Eu juro que não sei de nada, esse nariz não é de pinóquio, é de tucano". TUCANÓQUIO! É um novo tipo de tucano, tucanóquio! E o chargista Miguel: Azeredo renunciou pra escapar do Supremo: "Sou um homem modesto, não faço questão de foro privilegiado". Rarará!
        E atenção! Faltam seis dias pro Carnaval. E os blocos? Direto de BH: Mamãe, Virei Bicha. Aquele que espera o Carnaval pra sair do armário! Já imaginou o bloco passando em frente ao prédio "Mamãe, Virei Bicha". E a mãe, da janela: EU JÁ SABIA! Rarará!
        E direto do Rio: É Pequeno, mas Vai Crescer. A gente acredita! O Brasil aguarda! E direto de Olinda um bloco só de sessentões: Levanta, mas Não Trava. Como disse um amigo sessentão: "Além de gostoso, tô ficando crocante. Levantei a coluna e fez TREK, fiquei em pé e o joelho fez TREK, olhei pro chão e o pescoço fez TREK". Levanta, mas não trava. Levanta, mas não faz TREK! Rarará!
        Nóis sofre, mas nóis goza!
        Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

        Painel das Letras - Raquel Cozer

        folha de são paulo
        Casa reformulada
        Dois anos e meio após adquirir 51% da Casa da Palavra, a Leya Brasil passa a ser responsável por 95% da editora carioca. Os outros 5% ficam com Martha Ribas, que permanece como editora-executiva.
        Em 2011, ao assumir distribuição, marketing e estratégia de vendas da Casa, a Leya informou que não interferiria na linha editorial, mas não foi bem o que aconteceu. Metas de vendas fizeram com que editora carioca, reconhecida pelos livros sobre a história e a cultura brasileiras, somasse ao catálogo títulos mais comerciais, inclusive com a criação do selo Fantasy.
        CASA REFORMULADA 2
        Pascoal Soto, diretor editorial da Leya, diz que a Casa da Palavra continuará publicando tanto obras mais acadêmicas quanto comerciais.
        Com a unificação de operações, Thaís Marques e Ana Cecilia Martins deixam o quadro societário da editora carioca. Marques assume a direção de marketing da Leya.
        Já Ana Cecilia tem planos maiores. Abre, com a colega Renata Nakano e um grupo de investidores liderados pelo empresário José Luiz Alquéres, a editora Edições de Janeiro, já sediada em Ipanema. Os primeiros títulos saem ainda neste semestre. Entre os autores, estão Ferreira Gullar, Barbara Heliodora, Adriana Calcanhotto e Cleonice Berardinelli.
        Casa Fixa A Cosac Naify adquiriu exclusividade da obra de Maurice Sendak (1928-2012); são, a princípio, 17 livros, incluindo a renovação de 'Onde Vivem os Monstros' e livros como 'The Sign on Rosies Door'
        Autoeditor Enquanto não publica "O Professor", seu próximo romance, Cristovão Tezza testa mais um título como "autoeditor" na Amazon. Trata-se de "Leituras: Resenhas & Ensaios", com 94 textos próprios publicados na imprensa. Já o romance, que lhe tomou dois anos e é, segundo diz, seu "melhor livro", está previsto para março pela Record.
        Autoeditor 2 Desde agosto, Tezza vem disponibilizando na loja virtual, por conta própria, livros seus fora de catálogo. Juntos, a tese de doutorado "Entre a Prosa e a Poesia" e dois títulos a serem reeditados pela Record, "A Suavidade do Vento" e "Ensaio da Paixão", venderam 170 exemplares.
        Homenagens Notório agitador cultural responsável por homenagens a autores como Raduan Nassar e Augusto de Campos na Balada Literária, o escritor Marcelino Freire terá seus dias de autor homenageado na Festa Literária de Porto Alegre, em maio, e na Bienal do Livro de Pernambuco, em 2015.
        Homenagens 2 Antes, vai à Feira do Livro de Buenos Aires, em março, e ao Salão do Livro de Paris, em abril, lançar as traduções de seu romance "Nossos Ossos" para o espanhol e o francês.
        Pioneiro Membro da equipe que desenvolveu os primeiros modelos de Kindle, Jason Merkoski é o primeiro confirmado do 5º Congresso do Livro Digital, da Câmara Brasileira do Livro, que neste ano será em 21 e 22 de agosto. O homem que ajudou a criar a tecnologia usada hoje nos e-books tratará, na palestra, da revolução digital, tema de seu livro "Burning the Page".
        Black blocs A Veneta lança em março, com tradução de Guilherme Miranda, "Les Black Blocs: La Liberté et l'Egalité se Manifestent", de Francis Dupuis-Déri, professor de ciências políticas da Universidade de Québec e pesquisador do MIT.
        Black blocs 2 A obra foi elogiada por George Katsiaficas, um dos principais estudiosos do mundo do movimento anticapitalista. "Embora pouco se saiba sobre esses Zorros modernos, o livro revela criticamente suas origens e perspectivas", disse.
        Fail Ao tomar conhecimento do aplicativo Hemingway, que convida o leitor a submeter seus textos para saber como se posicionariam numa escala baseada no estilo do autor, a revista "New Yorker" fez um teste usando trechos de obras do autor. Foram considerados "não suficientemente Hemingway".

          Drauzio Varella

          folha de são paulo
          Solidariedade feminina
          Vá aos hospitais. A probabilidade de ver um acompanhante do sexo masculino é mínima
          Se você só tem filhos homens, não tem mãe nem irmãs, reze para morrer antes de sua esposa. Se acontecer o contrário, meu amigo, é provável que seus últimos dias sejam passados com estranhos.
          Vá aos hospitais. A probabilidade de ver um acompanhante do sexo masculino é mínima, ao lado de um doente internado haverá sempre uma mulher, seja filha, esposa, irmã, mãe, nora ou amiga.
          Sem pretender ofendê-lo, leitor sensível, capaz de cair em pranto convulsivo só de pensar no dia em que seus pais partirem, lamento prever que ao ficar gravemente enfermos eles pouco poderão contar com você.
          Não me interprete mal, não digo que vá abandoná-los num leito qualquer, à espera da morte. Você irá visitá-los quase todos os dias, na hora do almoço. Perguntará se estão bem, se precisam de alguma coisa, se as dores melhoraram, tomará providências práticas, mas infelizmente precisará voltar para o escritório.
          Em dias mais corridos, você deixará para ir no fim do expediente. Pedirá desculpas pelos três dias de ausência motivada pelo excesso de trabalho, repetirá as mesmas perguntas, reclamará do tempo perdido no trânsito, sentará no sofá durante 15 minutos, dirá que está exausto, morto de fome e que as crianças o esperam para o jantar.
          Pode ser que você não se identifique com o personagem que acabo de descrever. Talvez você seja do tipo ultrassensível, que gosta tanto do papai, que se mortifica ao vê-lo naquele estado, e que na hora de visitá-lo não encontra forças. Aquele que não vai à casa da mamãe velhinha que perdeu o juízo, para não ter o coração despedaçado cada vez que ela o confunde com o verdureiro.
          Talvez, ainda, você seja do tipo durão, acostumado a agarrar o boi pelos chifres. Nas visitas-relâmpago, você fará o possível para animá-lo. Insistirá que é preciso reagir, que esmorecer é desmerecer, que o pessimismo é metade do caminho para a sepultura, além de outras pérolas retiradas dos calendários seicho-no-ie.
          Irá embora irritado, decepcionado com a passividade do progenitor, convencido de que ele se acha naquela situação porque é --e sempre foi-- antes de tudo um fraco.
          Existe uma característica comum a esses cavalheiros, sejam sensíveis, ultrassensíveis ou durões: são cidadãos responsáveis, tão dedicados ao trabalho que não lhes sobra tempo para nada. Se não passam uma noite sequer com a mãe hospitalizada é porque precisam correr atrás do ganha-pão.
          Por incrível que pareça, os circunstantes aceitam e repetem essa justificativa, como se as mulheres não passassem de um bando de desocupadas, à disposição dos doentes.
          Mesmo quando ela é arrimo de família, casada com um daqueles cidadãos que esganaria o inventor do trabalho, fosse-lhe dada a oportunidade de encontrá-lo, é ela que passará a noite ao lado do sogro acamado. A explicação? Os homens são desajeitados para essas coisas.
          Em mais de 40 anos de medicina, assisti a tantas demonstrações de empatia e solidariedade feminina com as pessoas doentes que aprendi a considerar as mulheres seres mais evoluídos do que nós. São capazes de esquecer da própria vida, para lutar pela saúde de um ente querido. Nem falo no caso de um filho, já que o amor materno é instinto visceral, mas de gente mais distante: tios, primas e amigas, que se dependessem de nossa companhia estariam solitárias.
          Apesar de me render à grandeza da alma feminina, reconheço a parcela de culpa que cabe às mulheres na gênese do egocentrismo masculino nessas situações.
          No afã de proteger o filhinho, as mães procuram mantê-lo distante de tudo que lhe possa trazer tristeza. Tão naturais e inevitáveis como o dia e a noite, a doença e a morte são entendidas por elas como experiências extremas das quais o pimpolho deve ser poupado.
          Estranhamente, a filha não é educada da mesma maneira. Desde pequena é estimulada a cuidar das bonecas doentes, a ajudar a mãe quando o irmãozinho está gripado. Essa exposição precoce às vicissitudes de nossa existência interage com o espírito feminino, deixando marcas que se refletirão na forma peculiar como as mulheres lidam com o sofrimento humano.