quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

De certo, só o incerto

Por Alexandre Rodrigues | Para o Valor, de São Paulo

AP / APTufão Yolanda dizimou cidades inteiras nas Filipinas: "Existência de incerteza não significa falta de conhecimento", diz David Stainforth, pesquisador da London School of Economics
"Há incógnitas conhecidas, isto é, há coisas que agora sabemos que não sabemos", disse o ex-secretário americano de Defesa Donald Rumsfeld, em 2002, tentando explicar o contexto imprevisível da guerra ao terror. "Mas também existem desconhecimentos desconhecidos - há coisas que não sabemos que não sabemos."
Onze anos depois, esse jogo de palavras, execrado na época, é um ícone pop, citado no filme "Guerra ao Terror" e parte de letras de músicas, como em "Riddles, de Joan Jett. E, principalmente, uma verdade: a incerteza é parte da vida. Investir no mercado financeiro, fazer projeções de inflação, jogar na loteria ou decidir levar ou não um guarda-chuva ao sair de casa são eventos que envolvem grande dose de incerteza. Mas, se até uma década atrás, a imprevisibilidade era considerada apenas um elemento do jogo, a tecnologia e os mercados mundiais aumentaram seus efeitos sobre as sociedades. A incerteza tornou-se fonte de angústia política e econômica.
"As incertezas aumentaram muito nos últimos anos", diz o professor de psicologia social da Universidade de São Paulo (USP) Sigmar Malvezzi. A tecnologia e as bolsas tornaram as economias mais instáveis. Governos perderam controle sobre mercados. "Outro ponto importante é o enfraquecimento da capacidade das instituições sociais - família, escola, igrejas - de reproduzir os valores e a cultura. Esse enfraquecimento está deixando as pessoas sem sentido na vida. Sem esse controle, os indivíduos são volúveis em suas decisões. Têm seu individualismo intensificado e isso aumenta as incertezas."
Estudos de psicologia cognitiva e neurociência, principalmente os mais ligados à neuroeconomia - que une neurociência e economia -, mapearam nos últimos anos como o cérebro humano reage aos momentos de incerteza. As decisões são tomadas no córtex pré-frontal médio, região localizada na altura da testa que orienta as decisões, pesando os resultados bons e ruins de escolhas passadas. Em testes com ratos - os cientistas dizem que possivelmente humanos se comportam da mesma maneira -, uma equipe do Instituto Médico Howard Hughes, nos Estados Unidos, conseguiu visualizar como surge a dúvida. No início, são apenas algumas células nervosas, mas, à medida que aumenta a confusão, mais e mais novas células ficam agitadas e criam um turbilhão mental, forçando uma mudança de perspectiva.
"Quando o ambiente muda, você quer reavaliar o mundo", diz Alla Karpova, neurocientista encarregada do estudo. Essa atividade parece indicar como agem, por exemplo, os donos de carteiras de ações em tempos de crise. Em outro estudo, do Programa de Neurobiologia da Escola de Medicina da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, cães foram submetidos a testes em que obtinham ração numa máquina parecida com uma de venda de refrigerantes. Conforme a portinhola do aparelho que escolhiam, podiam receber mais ou menos comida. Ou nenhuma.
O teste apontou para uma verdade conhecida dos mercados financeiros: em tempos incertos, somos conservadores. Quando aumentaram os nichos vazios, os animais passaram a escolher aqueles onde já sabiam que havia comida, mesmo que em menor quantidade. O resultado, segundo Michael Platt, neurobiólogo responsável pelo estudo, explica esse mecanismo de proteção.
Geralmente, as pessoas são avessas à incerteza quando tomam decisões sobre ganhos financeiros, revela a pesquisa. "Ao mesmo tempo, são mais abertas à incerteza quando se defrontam com perdas em potencial." Em outro exemplo, se uma pessoa for a um "game show" na TV em que o apresentador dá a chance de escolha entre receber R$ 100 mil naquele momento ou tentar a sorte e ganhar R$ 500 mil ou perder tudo, a maior parte dos candidatos escolherá a primeira opção. É o que os economistas costumam chamar de aversão ao risco.
Teste aponta para uma verdade conhecida dos mercados financeiros: em tempos incertos, somos conservadores
A descoberta explica por que, em momentos de grande incerteza, medidas de emergência tomadas por governos geralmente não funcionam. Trata-se do que o economista americano Nicholas Bloom, da Universidade de Stanford, chama de "choque de incerteza". Depois da crise que se seguiu à quebra do banco Lehman Brothers, Bloom foi um dos interessados em analisar como as economias se comportam em tempos incertos. Após analisar 14 crises, começando pela dos mísseis em Cuba, em 1962, até a quebra do Lehman Brothers, em 2008, notou que, em um primeiro momento, a incerteza sempre prevaleceu, anulando as ações dos governos.
O processo é conhecido. Em momentos de incerteza, os mercados reagem mal, derrubando as bolsas. As empresas congelam investimentos, e a taxa de desemprego aumenta. Os governos reagem, injetando dinheiro no mercado e cortando a taxa de juros. Mas, em todos os casos, a preocupação maior é sempre com o risco, anulando as medidas adotadas para contê-la. Somente há uma resposta quando a incerteza diminui e a economia se normaliza.
"Para os políticos, isso é importante: sugere que uma resposta monetária ou fiscal a um choque de incerteza provavelmente não terá quase nenhum impacto imediato", diz Bloom. Se medidas certas tomadas em um clima de incerteza podem demorar para ter efeito, uma subida errada na taxa de juros para conter a fuga de capitais, por exemplo, pode atrasar a recuperação mais tarde. "Políticas voltadas para o que está por trás da incerteza são mais prováveis de funcionar."
Sob incerteza, dizem outros estudos, as pessoas também se tornam mais propensas a antecipar gastos e fazer menos poupança. Os efeitos vão além da economia. "A incerteza pode afetar a política", diz Ingrid Haas, pesquisadora de psicologia política da Universidade de Nebraska. Em uma série de experimentos, ela testou voluntários em vários cenários criados para provocar incerteza. Os pesquisadores então faziam uma série de perguntas para determinar os níveis de abertura a novas ideias. Resultado: em tempos incertos, as pessoas se tornam mais intolerantes.
A rejeição aumentava quanto mais os participantes da pesquisa se sentiam inseguros. No mundo real, isso seria uma explicação para ondas de xenofobia e perseguição a minorias em momentos de temor nas sociedades sobre o futuro. Em um caso extremo, munição para o totalitarismo, como na Alemanha nazista. No mercado financeiro, mais uma explicação para o "efeito manada" em momentos de crise.
Mas a incerteza, descobriram os pesquisadores, também pode ter o efeito contrário no caso de opiniões radicais. Em situações nas quais a intolerância é resultado de alguma certeza, criar dúvidas nas mentes das pessoas levou a posições menos radicais. "Dúvidas podem gerar mentes mais abertas a opiniões opostas e menos dispostas a minimizar o que pensam os outros", diz Ingrid.

Bloomberg / Bloomberg"Há incógnitas conhecidas, isto é, há coisas que agora sabemos que não sabemos", disse o ex-secretário americano de Defesa Donald Rumsfeld, em 2002
Com dados sobre famílias em situação econômica frágil por causa da recessão entre 2007 e 2009, o sociólogo Dohoon Lee, professor da Universidade de Nova York, constatou que a incerteza também faz com que mães criem os filhos de maneira mais dura. Cada 10% de aumento na taxa de desemprego correspondeu a 1,6% a mais de casos de palmadas, gritos, ameaças e espancamento de crianças. Estudos sobre a Grande Depressão, nos anos 1930, haviam chegado à mesma descoberta, mas ligavam os maus tratos à vida mais difícil criada pela maior crise econômica do século XX.
Lee descobriu que a mente antecipa os piores momentos. Já na fase inicial da recessão, quando as taxas de desemprego ainda não estavam altas, mas o índice de confiança do consumidor caía, as mães começaram a bater e a gritar mais com os filhos. "A antecipação da adversidade foi mais importante do que a exposição real", asseguram os pesquisadores, que ainda fizeram mais uma constatação: entre mães com um grupo específico de genes que as deixam mais suscetíveis à incerteza, os casos de maus tratos foram ainda maiores.
Até mesmo os processos químicos que fazem sentir o sabor dos alimentos são afetados. Em um teste para o exército americano, em 2012, batizado significativamente de "Jantando no escuro", 160 voluntários experimentaram, de olhos vendados, porções de biscoitos, carne e enchiladas, uma tortilha de milho recheada. Enquanto nos dois primeiros pratos, que fazem parte da culinária do dia a dia, a aceitação não mudava, os militares recusaram a enchilada, prato mexicano não familiar a eles. Mas quando sabiam do que se tratava, a aceitação subia. Os resultados, segundo os organizadores da pesquisa, professores de universidades americanas como Cornell e Yale e de um centro de pesquisas do Exército em Massachusetts, mostram uma ligação entre os processos psicológicos e o paladar.
Esses estudos respondem a perguntas que filósofos e escritores fazem há milênios. Já no século IV A.C., o grego Sócrates criava sua frase famosa: "Só sei que nada sei". O francês Voltaire, no século XVIII, considerava a incerteza algo positivo: "Incerteza é uma posição desconfortável, mas certeza é uma [posição]absurda". Aqui no Brasil, Machado de Assis escreveu no romance "Esaú e Jacó": "O imprevisto é uma espécie de Deus avulso que pode ter voto decisivo na assembleia dos acontecimentos". O economista americano John Kennedy Galbraith (1908-2006), em seu clássico "A Era da Incerteza", tem uma visão negativa: em comparação com a certeza das ideias do século XIX, a incerteza atual é resultado da desigualdade, da ineficiência e da instabilidade.
Nem sempre incerteza é ruim. Para os criadores de videogames, por exemplo, quanto mais incerteza, melhor. Seja em clássicos como "Space invaders" e "Super Mario" ou em sucessos recentes, como "World of Warcraft", a quantidade de incerteza à qual o jogador é submetido desperta medos subconscientes e é a essência do jogo. Mas, no caso dos cientistas climáticos, falar de incerteza tem sido motivo de dor de cabeça.
Com o tufão Yolanda, que dizimou cidades inteiras nas Filipinas e deixou mais de 10 mil mortos, o tema da previsão climática ganhou destaque especial. Em estudo realizado em parceria com a agência Reuters, pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, analisaram 350 notícias publicadas em seis países - o Brasil não faz parte da lista - e notaram que, em 80% dos casos de noticiário sobre o clima, falava-se da incerteza dos cientistas. A situação fez a Sense about Science, organização inglesa de divulgação científica, lançar uma campanha para esclarecer que incerteza não é o mesmo que ignorância.
"A existência de incerteza não significa falta de conhecimento ou que uma ação, bem justificada, não pode ser tomada", diz David Stainforth, pesquisador do instituto de pesquisas Grantham para a Mudança Climática e o Meio Ambiente, da London School of Economics. "Se eu jogar uma bola no ar, posso ter enorme incerteza quanto ao local onde ela vai parar, mas posso ficar muito confiante de que vai cair. E se eu não quero que ela caia na minha cabeça, posso ir embora."

Bloomberg / BloombergAo analisar 14 crises, incluindo a do Lehman Brothers, pesquisador verificou que a incerteza, num primeiro momento, sempre prevaleceu, anulando ações dos governos
Apesar dos alertas, continua-se a cobrar dos cientistas algo que a ciência não pode prometer: certeza. "Incertezas são inerentes ao processo científico e ao conhecimento em geral", diz o físico Paulo Artaxo, da USP. "Basta ver as incertezas nas projeções de inflação, de taxa de cambio, de cura de câncer etc. Essa confusão cria um ruído desnecessário, que não chega a ameaçar, mas sem duvida é um ponto muito negativo."
No último relatório do Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas da ONU, a palavra "incerteza" aparece 42 vezes. Mesmo assim, o documento recebeu criticas por despertar mais dúvidas no público e nos políticos. "A questão é que, nas mudanças climáticas, as implicações socioeconômicas são enormes", diz Artaxo. "Decisões de mitigação e adaptação são questões complicadas e com amplas implicações políticas."
Em outro aspecto, um dado curioso é que a incerteza não é percebida da mesma maneira em todos os lugares. Ao analisar, nos anos 1960 e 70, os dados de 100 mil moradores de 40 países diferentes para saber como reagem à incerteza, o psicólogo social holandês Geert Hofstede notou que a cultura local influencia essa visão.
O Brasil, segundo o estudo, é o país com maior aversão à incerteza na América Latina, onde a rejeição também é alta. Portugal, Grécia e Bélgica são outros lugares com grande rejeição ao incerto. Já Inglaterra, Suécia, Dinamarca, Jamaica e Cingapura veem a incerteza de maneira mais positiva.
"No Brasil, como nas sociedades com alta rejeição à incerteza, burocracia, leis e regras são muito importantes para fazer o mundo um lugar seguro para viver", diz o estudo de Hofstede. "A necessidade das pessoas de obedecerem a essas leis, no entanto, é fraca. Mas se as regras não podem ser mantidas, novas são feitas."
A sociedade, aqui, é moldada - concluiu o estudo - para evitar a incerteza. Brasileiros são mais coletivistas e costumam se juntar a grupos. Quanto menos voltada para o indivíduo for uma sociedade, mais mecanismos existirão contra momentos de incerteza.
Enfim, caso uma pessoa se sinta abalada pela incerteza, como lidar com ela? Um estudo da Universidade de Toronto, no Canadá, divulgado em junho, descobriu que ler romances diminui o bloqueio cognitivo, uma tendência a delimitar demais um problema. Cem voluntários, estudantes universitários, mostraram-se mais abertos a informações contraditórias depois de ler contos de autores como os americanos Wallace Stegner, Jean Stafford e Paul Bowles. As opiniões, no entanto, tornavam-se menos abertas com a leitura de ensaios. Se estiver se sentindo em dúvida, ler "Os Sonhos da Morte de Pessoas Queridas", de Sigmund Freud, será mau negócio.

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http://www.valor.com.br/cultura/3337980/de-certo-so-o-incerto#ixzz2mWtridE8

Putin é um órfão traumatizado e com tendências gays, diz escritor


Putin é um órfão traumatizado e com tendências gays, diz escritor

Matthias Schepp

  • Mikhail Klimentyev/RIA-Novosti/AFP
    4.out.2013 - Presidente da Rússia, Vladimir Putin, participa de encontro do seu partido em Moscou
    4.out.2013 - Presidente da Rússia, Vladimir Putin, participa de encontro do seu partido em Moscou
Em um novo livro, um cientista político descreve Vladimir Putin como um órfão traumatizado, com supostas tendências homossexuais e uma enorme fortuna. O Kremlin negou as alegações, chamando-as de insinuações infundadas.

Para seus partidários, o presidente russo Vladimir Putin é o salvador da pátria. Para seus adversários, ele não passa de um tirano implacável. Nos telegramas diplomáticos vazados pelo WikiLeaks, ele é comparado ao super-herói Batman; a revista empresarial norte-americana "Forbes" acaba de selecioná-lo como uma das pessoas mais influentes do planeta. No entanto, há uma coisa que praticamente ninguém reivindicou antes: que o governante do maior país do mundo (em território), com 143 milhões de habitantes, armas nucleares e grandes quantidades de recursos naturais, é na realidade um fraco patético.

Mas o cientista político de Moscou Stanislav Belkovsky, 42, alegou exatamente isso em seu novo livro, cujo subtítulo promete nada menos que "toda a verdade sobre Putin". As editoras russas evitaram publicar a obra escandalosa. Belkovsky vem se chamando a atenção há anos, fazendo repetidamente suas reivindicações descaradas e picantes sobre Putin. Muitos até acreditam que o repórter conta com a proteção de altos membros da comunidade de inteligência russa.

Belkovsky, colunista de um tabloide de Moscou, acredita que a chave para a compreensão de Putin está em sua infância infeliz.

"O pequeno Vladimir, que cresceu praticamente sem pai e sem o amor e o carinho dos pais, foi uma criança triste e retraída", escreve o cientista político. De acordo com esta versão dos acontecimentos, Putin é filho de um alcoólatra, nascido dois anos antes da data oficial de seu nascimento. Sua mãe mudou-se para a Geórgia com Vladimir, mas, pouco tempo depois, a criança foi enviada para Leningrado, onde foi criada por aqueles que se tornaram os pais oficiais do futuro presidente.

Belkovsky não fornece provas, como cópias do registro de nascimento. Em vez disso, ele fala sombriamente sobre a misteriosa morte de um jornalista investigativo famoso que vinha tentando desvendar o mistério em torno do nascimento de Putin, antes de ser morto em um acidente de avião privado. De acordo com Belkovsky, Putin passou toda a sua vida adulta em busca de uma família substituta. Em Boris Yeltsin, ele viu um pai substituto e no oligarca proprietário de clube de futebol Roman Abramovich, que é órfão, viu um irmão substituto.

Putin foge das pessoas

Além disso, escreve Belkovsky, Putin é um político profundamente solitário que quase teve que ser forçado à presidência, tem que ser pressionado para tomar decisões e prefere passar seu tempo livre com animais, devido ao medo que tem das pessoas. As muitas fotos machistas que mostram Putin voando em veículos de neve ou posando com tigres supostamente anestesiados por ele não são parte de uma cínica campanha de relações públicas, e sim um olhar profundo para a alma do presidente, argumenta o autor. "É aí que reside o verdadeiro Putin. Ele foge das pessoas e de suas obrigações para a natureza", escreveu Belkovsky. "Aqui temos os melhores amigos de Vladimir: o labrador Conny e o cão pastor búlgaro Buffy, seus únicos companheiros de quarto na residência presidencial".

Isso é pseudo-psicologia barata. No entanto, as agências de inteligência ocidentais, os diplomatas e os especialistas em Rússia estão interessados em duas partes da teorias de Belkovsky em particular: a suposta fortuna fabulosa de Putin e sua vida sexual. De acordo com Belkovsky, o caso de Putin com a bela ex-ginasta e campeã olímpica Alina Kabaeva nada mais foi do que uma invenção de seus assessores de relações públicas. Eles pintaram uma imagem de Putin como "macho com potência sexual", a fim de esconder que, para Putin, "o sexo e a vida sexual são estranhos", ou mesmo que ele é "gay latente", especula Belkovsky.

Uma foto tirada em 2007 na qual a reputação de Putin como "ícone gay" foi estabelecida supostamente serve como evidência para esta especulação de homossexualismo, como se fosse uma "sessão de fotos eróticas em que Putin e o príncipe Albert de Mônaco posaram sem camisa com suas varas de pescar nas mãos". O porta-voz de Putin, Dmitry Peskov rejeitou categoricamente esta acusação, assim como a suposta fortuna ou a falsificação da data de nascimento. "Os comentários de Belkovsky não têm base ou, como dizemos na Rússia: são um lixo total", disse Peskov.

O próprio Belkovsky parece estar ciente de que está patinando em gelo fino com suas especulações sobre as possíveis tendências homossexuais do chefe do Kremlin e escreve: "Para os meus leitores advogados", é preciso notar que "um ícone entre homossexuais não é automaticamente um homossexual".

Belkovsky também dedica várias páginas à vida privada das duas filhas de Putin, Mariya, 28, e Ekaterina, 27, que o presidente sempre tentou proteger dos olhos do público. Mariya teve um romance com um arquiteto holandês. Quando ele foi forçado a se jogar em uma vala por uma comitiva blindada de um banqueiro de Moscou, levou apenas 15 minutos para que os culpados fossem presos. O comandante da operação que teve a velocidade de um relâmpago mais tarde foi nomeado ministro do Interior de Putin, enquanto o banqueiro foi imediatamente condenado a sete anos de prisão e agora "tem uma boa oportunidade para refletir sobre o silencioso arquiteto holandês", escreveu Belkovsky.

Mansão de luxo no Mar Negro

A segunda filha de Putin, Yekaterina, mora com o filho de Nikolai Shamalov, um amigo de longa data de Putin. Shamalov é conhecido nos círculos empresariais russos e alemães como mediador de grandes contratos entre as autoridades russas e ocidentais, ganhando o seu dinheiro com negócios na indústria médica.

No final de 2010, um dos parceiros de negócios de Shamalov afirmou em uma carta aberta ao então presidente Dmitriy Medvedev que um palácio de centenas de milhões de euros estava sendo construído perto da cidade de Sochi, onde os Jogos Olímpicos de Inverno ocorreriam no ano seguinte, "para o uso privado de Putin". Ele alegou que Shamalov financiou a construção como uma espécie de administrador de Putin.
O porta-voz de Putin respondeu prontamente, dizendo que o presidente russo não tinha nada a ver com a mansão magnífica no Mar Negro. Belkovsky agora afirma que o palácio se destinava à filha de Putin Ekaterina e seu marido, o filho de Shamalov. Shamalov disse que sua empresa não comenta sobre assuntos particulares.

Ficção e verdade nunca estão distantes no livro de Belkovsky. Quando ele escreve sobre os rumores na virada do século de que Putin estava gravemente doente, ele afirma que certos guarda-costas embriagados do presidente confirmaram a teoria. Eles supostamente disseram a Belkovsky que o presidente ocasionalmente é substituído por um dublê para "esconder suas doenças crônicas e seus problemas de saúde".

Belkovsky diminuiu o tom depois de sua entrevista ao jornal alemão "Die Welt", em 2007, em que acusou Putin de beneficiar-se de investimentos corporativos de bilhões de dólares.

O que o livro de Belkovsky revela não é a verdade sobre o próprio Putin, mas sim sobre o sistema de Putin, onde a informação e a desinformação se fundem. As garantias feitas pelas pessoas no poder não convencem mais uma população desconfiada há muito tempo. É por isso que as teorias da conspiração prosperam, e é por isso que os russos consideram quase tudo possível, não importa o quão louco possa parecer. Belkovsky pode ser considerado um pouco louco ou um manipulador de espírito comercial, cujas "declarações são sempre bem pagas por alguém com antecedência", como disse outro cientista político.
Tradutor: Deborah Weinberg

Conversa de patos - Maria Esther Maciel


Numa linda manhã de novembro, a pata e o patinho tomavam sol à beira da
lagoa. Deitados sobre a grama, de vez em quando viravam-se para coçar com o bico
as próprias costas. Pareciam de bem com o mundo, despreocupados e felizes.
De repente, o patinho rompeu o silêncio com uma pergunta meio fora de
propósito: “Mãe, qual é a diferença entre ironia, sarcasmo e deboche?” A pata, saindo
do seu prazeroso estado de sossego, virou-se para o filho: “Nossa, querido, que
pergunta mais difícil! Por que quer saber isso?”. “Por curiosidade, mãe”, ele
respondeu. A pata, então, jogou os olhos para o alto, sacudiu o corpo como se
quisesse se livrar das últimas gotas de água retidas nas penas e disse: “Você sabe
que nunca fui à universidade, não conheço bem as leis da retórica, não estudei teoria
literária nem filosofia da linguagem. Mas vou tentar te explicar a diferença, pelo que a
vida me ensinou.”
A conversa que se seguiu foi esta, que reproduzo literalmente:
Pata: “Pelo que sei, ironia não é muito fácil de fazer, nem de entender. Está
muito mais naquilo que não se diz do que no que é dito. Quando alguém fala uma
coisa para dizer discretamente o contrário, faz ironia. É só se lembrar daquela canária
– qual é mesmo o nome dela? – que construiu um ninho em cima da gaiola que
alguém havia dependurado no jardim para decorar o canteiro. Aquela, sim, sabe fazer
ironia, falar as coisas nas entrelinhas. Já o sarcasmo, é corrosivo. Está mais para uma
ironia ácida. Pode ser também amargo, se movido por mágoa e ressentimento. Nesse
caso, pode até fazer mal para o fígado!”
Patinho: “E como o sarcasmo aparece no rosto de quem é sarcástico?”
Pata: “É só você prestar atenção nos olhos e nas linhas ao redor do bico (ou do
focinho, se o bicho não for ave). A expressão, nesses pontos do rosto, mostra um riso
meio cruel, se é que você me entende. O sarcástico, muitas vezes, põe a pata sobre o
bico para rir por trás, como certas aves de rapina.”
Patinho: “E aquele cachorro, o Muttley, do desenho A corrida maluca?” Ele
também é sarcástico?”
Pata: “Digamos que sim... ele tem uma risadinha malvada e disfarçada, né?
Talvez ele esteja mais para cínico, mas tenho que pensar melhor sobre isso.”
Patinho: “Na ironia não tem riso?”
Pata: “Tem, mas quase não aparece. Quem faz ironia, ri mesmo é por dentro.
Patinho: “E o deboche, mãe? A senhora não falou do deboche...”
Pata: “O deboche é grosseiro, querido. Ele pode até querer se disfarçar de
ironia, mas isso não funciona, pois ironia precisa de sutileza. O deboche é estridente,
fala alto e dá risadas. Quem debocha, achando que faz ironia, é traído pela altura da
voz ou pela gargalhada. Às vezes, o deboche serve apenas para fazer piada, divertir.
Em certos casos, porém, pode ser motivado por inveja. Você não se lembra daquela
gansa debochada que ficava fazendo chacota com o nosso ninho, só porque nele
havia ramos de flores azuis?”
Patinho: “Legal, mãe. Acho que agora aprendi a diferença entre ironia,
sarcasmo e deboche. E, entre os três, gosto mais da ironia. Será que a senhora me
ensina a ser irônico?”
Pata, com um leve sorriso no bico: “Logo eu, filhinho, que sou tão meiga e
delicada? É melhor você ir pedir à coruja, que é filósofa e fez doutorado no assunto...
(JORNAL ESTADO DE MINAS, 03/12/2013)

Helio Schwartsman

folha de são paulo
Carnívoros renitentes
SÃO PAULO - Veganos ficaram bravos com Josimar Melo por causa do relato pouco enaltecedor que ele fez de sua experiência de passar uma semana sem consumir proteínas de origem animal. É claro que todo mundo é livre para reclamar do que bem entender. O que eu me pergunto é quais são as perspectivas do vegetarianismo e suas variantes.
Quem coloca bem a questão é o psicólogo evolucionista Steven Pinker em "Melhores Anjos": "Será que nossos descendentes do século 22 vão ficar tão horrorizados com o fato de nós comermos carne como nós ficamos com o fato de nossos ancestrais terem escravizado pessoas?".
Para Pinker, a resposta é "provavelmente não". Embora a analogia entre libertação animal e escravidão seja retoricamente poderosa, ela não é exata. Para começar, no aspecto prático, humanos têm fome de carne. A obtenção de proteínas animais foi essencial para a evolução de nossos cérebros e moldou nossos relacionamentos sociais. As marcas dessa história aparecem no desejo por vezes irrefreável de devorar um filé.
Apesar dos avanços do vegetarianismo, esse movimento parece ter um teto. Mesmo na Índia, onde algumas das principais religiões e a pobreza o incentivam, a proporção de praticantes fica entre 24% e 42% da população. Em países ocidentais, raramente chega aos dois dígitos.
No plano teórico, uma boa justificativa para não consumir animais exigiria que resolvêssemos o problema da consciência --o que nem a ciência nem a filosofia parecem prestes a conseguir. Bichos vêm num amplo gradiente que inclui desde protozoários e insetos que precisamos destruir para assegurar nossa saúde até os simpáticos macacos. Enquanto não formos capazes de distinguir os que estão na zona cinzenta com base numa teoria mais ou menos completa da consciência, haverá espaço para ambiguidades que vão garantir se não o filé pelo menos o "escargot" e o camarão dos carnívoros renitentes.

José Simão

folha de são paulo
Ueba! O Ceni fica até 2049!
Um lojista tá tão em crise que só conseguiu contratar um Papai Noel magro, fumante e com a cara do Serra! Rarará!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Peguei a gripe Ceni: é chata e não vai embora! Ceni diz que fica! Fica, Ceni! Vai ter frango! Rarará.
O Dia do Fico do Ceni! "Se é para o meu bem-estar e para a felicidade geral dos corintianos, diga aos bambis que eu fico!". Rarará!
O Ceni é dono do São Paulo? É! Por usucapião! Ops, usocapitão!
E eu já disse que o Ceni participou da fundação do São Paulo! Defendeu o primeiro arremesso de tijolo! O segundo ele engoliu! Rarará!
E o Ceni dá pitaco em tudo no São Paulo. Inclusive na maquiagem! Rarará! Só falta ele se arrepender, se aposentar e acabar com a minha coluna de hoje! Rarará!
E o Haddad? E a manchete do Piauí Herald: "Rejeição de Haddad é similar a Celso Pitta, Félix, Fausto Silva e Hulk". E mais: diz que o Haddad não tem alvará para administrar cidade!
E o RedatorBiPolar: "1 Ano de Gestão Haddad: esburacada, 8%. Engarrafada, 26%. Pior que o Pitta: 58%. Mãe e familiares não responderam". Rarará! Resumo: o Haddad subiu o IPTU e a casa caiu! Rarará!
IPTU quer dizer Impossível Pagar TUdo! E com essas chuvas vai virar Imposto Para Teto Úmido! E repito que o Haddad devia ser prefeito de Bollywood! Com aquela cara de galã indiano. E um leitor me disse que o Haddad encheu a cidade de "haddares". Rarará!
E adorei essa: "Maduro antecipa o Natal na Venezuela". Os shoppings também! Em qualquer shopping do Brasil já é Natal!
E um amigo meu lojista tá tão em crise que só conseguiu contratar um Papai Noel magro, fumante e com a cara do Serra! Rarará!
E foi só Maduro antecipar o Natal que deu apagão! Rarará!
E olha o e-mail que recebi: "Como mineiro, peço desculpas por todos os mineiros que elegeram o Perrellinha". E eu, como paulista, peço desculpas pelo Maluf, Kassab, Serra, Alckmin e Haddad! Et caterva! Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
O Brasil é Lúdico! Olha essa placa do preparado pra Copa: "Ingles não é meu forte, mas portugues eu DISTRÓIO". E essa outra num buteco: "Sogra devia ter dois dentes: um pra doer e outro pra abrir garrafa". Rarará. Essa foi das piores que eu já vi sobre sogra. Rarará.
Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

    Marcelo Coelho

    folha de são paulo
    Gregorio Duvivier
    Com a publicação de 'Ligue os Pontos', surge um poeta de primeira ordem no horizonte
    Tirar poesia do cotidiano não é coisa tão rara assim. Afinal, ninguém mais se propõe a versejar sobre os deuses do Olimpo, os heróis da pátria ou as odaliscas do Oriente. Fala-se mais do gatinho de casa que dos colibris da Flórida, mais da casca de um pão que dos vinhos de Agrigento, mais do bar da esquina que das escadarias de Halicarnasso.
    O problema, muitas vezes, não é que o cotidiano seja esquecido. É que ele se torna abstrato. O poeta escreve "pão", "gato", "rua", "esquina", "botequim" --e se dá por satisfeito.
    Outra coisa, a meu ver, é recuperar o que existe de realmente cotidiano, de trivial, de pouco nobre, de passageiro, em palavras desse tipo. Se, em vez de "gato", dissermos "gato amarelo" (o exemplo é de Roland Barthes, falando sobre Chateaubriand), a coisa melhora muito.
    Se, em vez de "pão", dissermos "pão de centeio", também esse efeito de despretensão será reforçado. Mas é possível ir mais longe; em vez de "pão de centeio", por que não escrever "Wickbold" de uma vez?
    É o que faz Gregorio Duvivier em seu livro "Ligue os Pontos "" Poemas de Amor e Big Bang" (Companhia das Letras). Miojo, revistinhas do Cascão, nuggets, rua Mena Barreto, Ford Ka, todo tipo de marca e produto pode entrar nesses versos de Duvivier, como nota o cronista Antonio Prata, também colega aqui da Folha.
    Tudo poderia ser, entretanto, simplesmente uma poesia engraçadinha, documental e pop. Mas "Ligue os Pontos" vai muito além disso.
    Experiências do dia a dia muitas vezes são registradas no papel sem maior elaboração, como se o trabalho do poeta fosse apenas anotar qualquer coisa em versos curtinhos e seguir adiante.
    Tipo: "Oi/ como vai/ me dá um chopps/ e dois pastel". Pronto, o poema está feito. Duvivier não cai nessa armadilha oswaldiana; seu cotidiano, e sua poesia, estão mais próximos de Manuel Bandeira que de Oswald de Andrade.
    O segredo está, creio, em manter o texto sob tensão. O registro verbal instantâneo, a referência ao Ford Ka, não funcionam sozinhos. Se o objeto comum não se ilumina, não irrompe de algum lugar desconhecido, a poesia se empobrece.
    Não vou contar como surge o Ford Ka num dos mais belos poemas de Duvivier; nem de que modo o pão da Wickbold aparece diante de seus olhos. Basta dizer que não estão ali à toa. Vêm carregados de toda a força poética que, ao longo dos versos anteriores, estava sendo preparada --como quem leva uma pedra até bem alto de um morro e, só no fim, deixa que despenque.
    Para isso, o poeta usa de vários procedimentos. Destaco dois. O primeiro poderia ser chamado de "metáfora oculta". Duvivier é mestre em criar imagens verbais muito precisas. Assim, a avenida Niemeyer, no Rio de Janeiro, se esgueira entre o mar e a montanha "como o Chile", e a baía da Guanabara "é uma sopa de óleo diesel".
    Mas essas metáforas são apenas uma parte do jogo. Inserem-se em poemas que são comparações mais amplas, entre coisas escondidas.
    O melhor exemplo está num poema sobre a necessidade de apagar a luz às seis da tarde, no mês de outubro, "sobretudo nos bairros sem praia".
    Ao longo de 20 versos, tudo nos leva a crer que se trata de algo amedrontador, que o assunto do poema são bandidos, milícias, traficantes; mas nada se diz a esse respeito, e menos ainda a respeito do que realmente está sendo descrito, e que se revelará sem dificuldade numa segunda leitura.
    É a metáfora oculta, a metáfora "verdadeira" debaixo da metáfora "aparente". Artista de primeira ordem, Duvivier não se torna chato nem hermético por causa disso.
    O segundo procedimento é ainda mais refinado, acho, mas novamente não resulta em formalismo e "rigor" ao gosto acadêmico.
    Quando veio o modernismo, o público se chocava com versos irregulares e sem rima. Esse efeito de novidade não existe mais. Duvivier segue, nesse ponto, a lição do poeta Armando Freitas Filho. Os seus versos são todos do mesmo tamanho, só que a "música" deles não acompanha o metro e o compasso das sílabas.
    As pausas entre uma linha e outra parecem interromper o fluxo da frase; as repetições e as rimas, ou "quase rimas", como que pulam de surpresa no meio dos versos. Palavras aparentemente casuais, como "volta", "Urca", "mate", parecem estar botando a cabeça para fora da sintaxe, mudando de sentido e cortando a respiração do leitor.
    Daí, sem dúvida, a tensão que se acumula durante o poema, e se libera no final. É o momento em que o leitor finalmente "liga os pontos" do que estava diante de seus olhos. Descobre com isso, também, uma nova e intensa estrela no horizonte da poesia brasileira.

    Ruy Castro

    folha de são paulo
    O mesmo e grande papel
    RIO DE JANEIRO - Não faz muito, escrevi sobre um novo seriado de TV, "O show de Michael J. Fox", em que o ator interpreta um âncora de televisão acometido do mal de Parkinson. Como se sabe, Fox era um astro de Hollywood quando, aos 30 anos, se viu com a doença. Com o tempo, trocou o cinema pela militância no parkinson. Criou uma fundação para apoiar pesquisas, passa o ano viajando e dando palestras, e servindo de exemplo às pessoas na sua condição. Há pouco, decidiu retomar a carreira e, aos que se surpreenderam, explicou: "Posso interpretar qualquer personagem --desde que ele tenha parkinson".
    Outro ator, este brasileiro, com um currículo muito maior e também portador da doença, Paulo José, também pode interpretar qualquer personagem --mesmo que ele não tenha parkinson. Na verdade, Paulo José, 76, não faz outra coisa desde que teve seu caso diagnosticado, há 20 anos.
    Seu impressionante currículo nesse período inclui filmes, peças de teatro, novelas e minisséries, como ator ou diretor --às vezes, as duas coisas ao mesmo tempo--, e cursos como professor dessas especialidades, além das dezenas de comerciais que dirigiu. Nos intervalos, toca piano em casa, para exercitar a mão direita, e segue o Flamengo pela TV. Ele não se submeteu.
    Paulo José não se vê como um super-homem. É apenas um homem que aceitou a doença e aprendeu a tratá-la com respeito, mas sem reverência. Ele continua no comando. "Na hora de trabalhar, não tenho parkinson", diz em entrevistas. Outros com o mesmo problema poderiam fazer como ele, se soubessem que não é impossível.
    Agora chegou a vez de Paulo José demonstrar isso aos olhos de milhões. Na próxima novela de Manoel Carlos, "Em Família", a estrear em janeiro, ele fará um personagem com parkinson. Viverá na tela o mesmo e grande papel que interpreta na vida.