quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Livro conta como crença em divindades afeta comportamento ético

folha de são paulo

Livro conta como crença em divindades afeta comportamento ético

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Uma dica da pesquisa de ponta em psicologia para quem organiza acordos diplomáticos ou reuniões de condomínio: se você quer minimizar a chance de que alguém tente passar a perna nos demais presentes, pinte um grande olho na parede do salão.
Parece ridículo, mas é um conselho apoiado por fortes evidências experimentais. Quando voluntários que participam de jogos nos quais há a possibilidade de trapacear são expostos a fotografias de olhos, desenhos de olhos ou mesmo representações totalmente esquemáticas de olhos (dois círculos, por exemplo), a chance de que alguém burle as regras cai consideravelmente.
"Gente vigiada é gente bem comportada", resume Ara Norenzayan, pesquisador da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, e autor do livro "Big Gods" ("Deuses Grandes"). Na obra, ainda sem versão no Brasil, Norenzayan argumenta que essa é a principal razão pela qual a maioria dos seres humanos de hoje acredita em divindades poderosas e preocupadas com o comportamento ético: independentemente de serem reais ou não, tais figuras ajudam a controlar a tentação de passar a perna nos outros em sociedades complexas, nas quais interações entre estranhos são comuns.
Daí outra máxima cunhada por Norenzayan para explicar sua tese: "Para grupos grandes, deuses grandes". Com "grandes" o psicólogo social quer dizer deuses que sabem tudo (ou quase tudo) e usam esse acesso a informações privilegiadas para punir malfeitores, e sociedades com dezenas de milhares de indivíduos ou mais.
CAÇADORES-COLETORES
Isso porque, curiosamente, embora a crença em seres sobrenaturais esteja presente em todas as sociedades humanas, são muito raros os grupos de caçadores-coletores (formados por dezenas ou, no máximo, algumas centenas de indivíduos) que creem em "deuses grandes".
Outro fato curioso é que, ao analisar dados antropológicos padronizados de centenas de povos mundo afora, os pesquisadores também verificaram que, quanto maior o tamanho (em número de pessoas) de uma sociedade, maior também é a chance de seus membros adorarem "deuses grandes".
Esse foi um dos fatores que motivou o pesquisador de origem libanesa a propor a ideia de que esse tipo de divindade só "evolui" em sociedades que alcançam determinada massa crítica de tamanho.
Em grupos pequenos, coisas como a proximidade de parentesco, o contato diário entre todos os membros e a falta de hierarquias rígidas seriam suficientes para manter quase todo mundo mais ou menos na linha. Quando grande parte das interações sociais passam a ser anônimas (como numa cidade de milhares de habitantes), entretanto, só o "monitoramento divino" teria sido suficiente para impedir o colapso dos grandes grupos.
Além da influência um tanto bizarra dos olhos sobre o comportamento de voluntários em laboratório, também há indícios de que, quando as pessoas são sutilmente influenciadas ao verem palavras com significado religioso numa tela de computador, seu comportamento em jogos que pagam pequenas quantias em dinheiro como recompensa melhora consideravelmente.
Além de trapacear menos, também tendem a punir trapaceiros com mais rigor e a dividir mais os recursos que recebem com outros jogadores.
Detalhe importante: tais palavras ("Deus", "espírito", "oração" etc.) aparecem na tela por frações de segundo, de modo que não são conscientemente percebidas pelos participantes.
LADO NEGRO DA FORÇA
Tudo isso parece muito bom, mas as pesquisas de Norenzayan e outros cientistas da área deixam muito claro que há um lado negro na maneira como os grupos que adoram "deuses grandes" se comportam.
A tendência a ser mais cooperativo costuma ser mais forte quando ela gera dividendos de reputação para a pessoa religiosa, indicam experimentos. E o comportamento mais ético em relação a quem pertence ao mesmo grupo religioso tende a ser compensado por uma competição mais feroz com quem está fora desse grupo.
Também está longe de ser verdade a ideia de que não é possível ser ético sem crer em Deus, claro. Algumas das sociedades mais pacíficas, prósperas e igualitárias do mundo, como as da Escandinávia, hoje têm predominância de ateus.
Norenzayan argumenta que isso se deve à força e ao bom funcionamento das instituições seculares nesses países.
De fato, em nações desenvolvidas, o mesmo efeito de bom comportamento trazido pelas mensagens subliminares com palavras religiosas pode ser conseguido, em laboratório, usando termos seculares, como "tribunal", "polícia" e "juiz". Essas sociedades com instituições seculares confiáveis teriam "subido a escada da religião e, depois, chutaram-na para longe", diz o pesquisador. 
Editoria de Arte/Folhapress

Quo Vadis, PT? - Elio Gaspari

folha de são paulo
Para onde vai o PT?
Os comissários buscam um novo rumo e oferecem dois: num, há ameaça, no outro, pergunta sem resposta
Nas Últimas semanas o comissariado petista lançou duas pontes para o futuro. A primeira veio de Tarso Genro. Num artigo intitulado "Uma Perspectiva de Esquerda para o Quinto Lugar", defendeu uma ofensiva política para colocar o Brasil no seu devido lugar, admitindo que em 2023 ele se torne a quinta economia do mundo. Com uma mistureba da China de Deng Xiaoping e a reforma econômica leninista de 1921, o comissário propõe um "levantar âncoras" com "uma nova Assembleia Nacional Constituinte" amparada na voz das ruas, "sem aceitar a manipulação dos cronistas do neoliberalismo amparados na grande mídia". É um caminho essencialmente político: muda-se a ordem constitucional e faz-se o que é preciso. Desde a chegada de Tarso Genro ao mundo, em 1947, o Brasil já foi regido por duas Constituições saídas da vontade popular. Nenhuma das duas resolveu o problema dos presídios gaúchos. Muito menos os 18 governadores do Estado que governa. (Dois deles vieram do PT.)
A outra ponte foi lançada pelo secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Ele admite que os progressos sociais dos últimos dez anos mostraram-se "insuficientes". O país quer "serviços de qualidade". Educação de qualidade, saúde de qualidade, polícia de qualidade.
As duas propostas parecem complementares, mas são divergentes e refletem a ansiedade da nação petista. Não há garantia de que com a Constituição de Tarso Genro consiga-se o que as outras não conseguiram. (Noves fora outras duas, dos generais.) Invertendo o raciocínio, pode-se dar qualidade aos serviços sem Constituinte. Por exemplo: como ministro da Educação, ele criou o Prouni sem grandes mudanças legais. (Esse programa pode ser comparado à GI Bill de Franklin Roosevelt, berço da nova classe média americana.) O MEC dos companheiros preservou a promiscuidade dos educatecas com a rede de ensino superior privada e manteve Pindorama no mesmo patamar medíocre no ensino médio e fundamental. Prometeram dois Enem a cada ano e patinam na lorota. O programa Ciência sem Fronteiras, da doutora Dilma, chega ao último ano de sua meta tendo cumprido apenas 35% da promessa.
Na segurança (que não é atribuição do governo federal) os companheiros esbanjaram marquetagem, até caírem no atoleiro maranhense. Na Saúde, ajudados pela oposição e pelos interesses corporativos da elite médica, o programa Mais Médicos virou panaceia. Trata-se de um curativo, mas em cidade sem médico, curativo já é muita coisa. Levaram dez anos para começar a desinfetar o mercado de planos de saúde e para começar a cobrar das operadoras a devida compensação do SUS nos casos de atendimento de seus clientes.
A doutora Dilma vai buscar nas urnas um mandato que dará ao PT o predomínio de um bloco partidário por 16 anos, coisa jamais vista no país. Buscando-se o desempenho na direção dos "serviços de qualidade" mencionados por Gilberto Carvalho, acha-se pouco num balanço dos últimos anos. Falta botar mercadoria na mesa. O caminho oferecido por Tarso Genro vem da família do "começar tudo de novo". Ela já apareceu, sem sucesso no Brasil e com êxito na Venezuela, onde o presidente Maduro viu-se obrigado a lidar com a falta de papel, quer os rolos higiênicos, quer os que imprimem jornais.

    Impressões sobre a Lei Anticorrupção - Bottini e Tamasauskas

    folha de são paulo
    PIERPAOLO CRUZ BOTTINI E IGOR TAMASAUSKAS
    Impressões sobre a Lei Anticorrupção
    Criar dispositivos que incentivem a cooperação de agentes privados parece mais eficiente do que a fracassada política de aumentar penas
    Entra em vigor hoje a Lei de Combate à Corrupção (nº 12.846/13), uma das iniciativas mais importantes do Legislativo nos últimos tempos.
    Os menos avisados podem se perguntar sobre o que há de novo, uma vez que a corrupção já era proibida em nosso ordenamento. Mas há uma diferença: em geral, as normas anteriores puniam apenas as pessoas físicas que cometiam a corrupção, deixando de lado a empresa, em regra a mais favorecida com o ato.
    Agora, as empresas também serão responsabilizadas por atos de corrupção e outros similares praticados em seu benefício. A lei prevê penas duras, como multas de 0,1% a 20% do faturamento bruto, vedação de contratar com o poder público e até a dissolução compulsória, uma "pena de morte empresarial".
    Talvez a inovação mais significativa --e polêmica-- seja a previsão da responsabilidade objetiva da empresa. Com isso, a corporação será punida mesmo que seus dirigentes não tenham autorizado o ato ilícito. Basta que um funcionário parceiro, contratado ou consorciado tenha oferecido ou pago vantagem indevida a funcionário público, e as penas serão aplicadas. Desde que a empresa seja beneficiada pelo ato, claro. Assim, se uma corporação contrata um serviço de terceiro para obter licença ambiental, e este pague propina, ambos serão punidos.
    A ideia do legislador é que a empresa cuide não apenas de sua probidade, mas também se assegure do comportamento ético daqueles com os quais trabalha. Claro que isso tem o limite do bom senso, dada a impossibilidade de se conhecer integralmente o caráter de seus parceiros ou empregados. Mas a ideia é incentivar a corporação a desenvolver sistemas de controle internos que façam checagens periódicas sobre seus colaboradores, assegurando-se de que todos mantêm uma postura correta em relação ao poder público.
    Nessa linha, a lei prevê a redução da sanção para a empresa que mantiver mecanismos internos de prevenção a atos ilícitos, códigos de ética, auditorias regulares e canais para denúncias. Busca-se, com isso, estimular o compromisso empresarial com uma cultura ética.
    Os impactos da lei já foram sentidos. É notável como boa parte das corporações revisaram ou criaram regras de boas condutas, estabeleceram padrões rígidos de comportamento e passaram a colaborar com investigações em suas dependências. Ao contrário de tantas leis que "não pegam", essa surtiu efeitos mesmo antes de entrar em vigor.
    É claro que existem problemas. A falta de critérios claros para a fixação das penas e a possibilidade de que a União, Estados e municípios apurem os fatos e apliquem sanções autonomamente podem gerar excessos e conflitos. Mas espera-se que os entes federados estabeleçam diretrizes para uma atuação harmônica. Do contrário, o Judiciário será acionado para garantir a razoabilidade na incidência da lei.
    Criticas à parte, a lei é boa. Vale sempre lembrar que não se trata de norma penal. Não tem a contundência inútil da ameaça de prisão, mas a racionalidade de identificar os reais beneficiários do ato de corrupção e puni-los, afetando seu setor mais sensível: o faturamento. Ademais, ao prever a colaboração das empresas na identificação ou repressão aos ilícitos que possam ser praticados em seu benefício, o poder público faz uma espécie de prevenção geral positiva, forçando a incorporação de novos valores na organização corporativa.
    Se tal estratégia é adequada, o tempo dirá. Mas criar dispositivos que incentivem a cooperação dos agentes privados parece mais eficiente do que a velha e fracassada política de aumentar penas ou transformar tudo o que incomoda em crime hediondo, como se isso, num passe de mágica, reduzisse o crime organizado a pó.

    Opacidade - Igor Gielow

    folha de são paulo
    Opacidade
    BRASÍLIA - Enquanto os "rolezinhos" se encaminhavam ao previsível oblívio midiático, cortesia de ressurgentes "black blocs" paulistanos, Dilma Rousseff dava o seu rolé pela terrinha no sábado passado.
    O moralismo barato apresenta-se tentador. Ora, Dilma deve ficar em um bom hotel. É preciso hospedar a comitiva que transitava entre encontros internacionais. E todos podem comer num restaurante estrelado se decidirem pagar por isso.
    O problema é outro: falta de transparência. É a visão distorcida de um valor absoluto conferido à privacidade na agenda presidencial. De que explicações não são devidas quando quem paga a conta somos nós.
    Sob Dilma, no ano passado a Presidência passou a esconder seus variados gastos de viagem, com a duvidosa alegação de risco à segurança.
    Sobram perguntas legítimas. A escala do Airbus presidencial é obrigatória, sim, mas por que não encher o tanque e seguir viagem para Havana? É também cabível perguntar se não haveria opção mais barata para acomodar o resto da comitiva.
    São meras perguntas, para as quais provavelmente há respostas razoáveis, mas a menção a elas gera indignação, versões e enrolação generalizada. Dilma ontem propagandeou que não usa cartão corporativo; por que não aproveita e acaba com o meio nos gastos da Presidência?
    No fundo, está o DNA dos nossos políticos. Basta ver a primeira reação de qualquer uma das tantas autoridades flagradas fazendo uso pouco republicano de aviões da FAB.
    O que parece escapar à presidente é que há muitos fios desencapados na confusa malha social brasileira. Coisas assim, que antes passariam por "bobagem" ainda que não o fossem, geram curtos-circuitos.
    É curioso o enfado, já que a própria reação hiperbólica do governo aos "rolezinhos" mostrava uma ansiedade quanto a esses detalhes. Afinal de contas, a reeleição está longe de ser uma realidade garantida.
    igor.gielow@uol.com.br

      Helio Schwartsman

      folha de são paulo
      Escolhas necessárias
      SÃO PAULO - Pensar dá trabalho e, por isso, preferimos nos apoiar na heurística, isto é, naquele conjunto de regras, que podem ser culturalmente transmitidas ou basear-se em impulsos biológicos, que nos faz tomar decisões rapidamente.
      O problema com essas regras é que elas não precisam estar sempre corretas. Basta que funcionem mais do que não funcionem para que sejam preservadas pela cultura e pela evolução. Nas situações em que não dão tão certo, as chamamos de vieses.
      Um bom caso é o do exame do Cremesp, que reprovou quase 60% dos 2.843 recém-formados no Estado. Por razões legais, o teste não é eliminatório. O futuro médico tem de fazê-lo, mas não precisa ser aprovado.
      A maioria das pessoas, apoiada em vieses, se revolta com essa situação. A ideia de credenciar médicos que se mostraram despreparados para a função faz nossos alarmes internos dispararem. Esse, porém, não é o único viés em jogo aqui. Também ficamos indignados com hospitais públicos sem médicos e pacientes sofrendo na fila. Essas imagens têm forte apelo para nosso senso de justiça.
      A dificuldade é que ambas as intuições, embora justificáveis, são difíceis de conciliar. Se queremos mais médicos, a ponto de importá-los de Cuba e dispensá-los de provas técnicas, não faz muito sentido dificultar o processo de licenciamento dos profissionais aqui formados.
      Em situações complexas, não dá para nos fiarmos na heurística. É preciso definir racionalmente se a prioridade será completar as escalas dos hospitais ou selecionar com rigor quem poderá exercer a medicina.
      O governo e a população, a julgar pelas pesquisas de aprovação ao Mais Médicos, já tomaram sua decisão. Diante do fato consumado, para que a prova do Cremesp não seja uma completa inutilidade, o Conselho deveria ao menos abrir os resultados por escola, a fim de que o teste ajude os futuros alunos de medicina a fazer melhores escolhas.

      Jairo Marques

      folha de são paulo
      Quando ele vai ficar bom?
      O fracasso reside em deixar de reinventar-se na adversidade, leve o tempo que levar, do jeito que for
      Médicos que tratam de pessoas que passaram por situações-limite, como acidentes graves ou piripaques do cérebro, estão sempre às voltas com questionamentos sobre o futuro de seus pacientes.
      "Seu doutor, quando ele vai ficar bom?", "Ele volta a andar em quantos dias?" "Ela vai conseguir patinar novamente, mesmo sem as duas pernas e os dois braços?"
      Muitas vezes, o porvir do piloto alemão Michael Schumacher, que teve traumas severos no crânio, do lutador Anderson Silva, que quebrou assustadoramente um osso da perna, e da apresentadora Xuxa, que está com o pé em frangalhos, faz-se mais importante que saber como o organismo deles reagiu hoje.
      Tem-se a necessidade urgente de recolocar --ou prever uma recolocação-- reis e rainhas de volta a seus tronos sem que o reino se despedace ou que os súditos se incomodem demais e o substituam.
      Acontece que pessoas em recu- peração depois de enfrentarem situações de extrema proximi- dade com a morte ou com limites físicos precisam de incentivo para atuar no agora, precisam de fôlego para vencer os desafios que se apresentam hoje.
      Querer ficar bom logo é remédio poderoso, mas respeitar o tempo justo do organismo humano para se refazer, para se rearranjar e para renascer é fundamental. Às vezes, a pressão pelo "melhorar" é tão grande que a mente atropela o corpo, que seguirá debilitado, frágil.
      Parece absurdo pensar que Schumacher, o homem que dominou por anos as altíssimas velocidades nas pistas da Fórmula 1, vai sucumbir diante de um tombinho besta na neve. Então, toca fazer pressão para saber quando e como ele irá sair do hospital e dançar uma lambada bem ritmada em Mônaco.
      Ora, o que importa, de fato, não é ver o piloto alcançando os 330 km/h em uma Ferrari novamente, o que importa é um grande ídolo --ou ente querido-- estar vivo e nutrindo, aos poucos, sua energia para seguir adiante.
      Para que essa bobagem de pressionar para saber se Anderson Silva irá voltar aos ringues e lavar a honra tropical em sua "décima" revanche e pouco se importar se os ossos e músculos do campeão irão se reapresentar para que ele mime os filhos e saia para passear com o cachorro?
      Não raro, pessoas que padeceram um coma ou que lesionaram a medula tornando-se deficientes passam meses em luto porque não poderão ser mais aquilo que os outros esperavam dela.
      Ainda se vê com pouquíssima delicadeza a sensibilidade da existência. E há delicadeza inclusive naqueles que são supostamente muito fortes e que saem de naves espaciais ou que dão golpes que derrubam trogloditas.
      O fracasso humano não reside no deixar de conseguir fazer tudo igual amanhã. O fracasso é deixar de reinventar-se diante da adversidade, leve o tempo que levar, seja do jeito que for.
      Não há mal em querer saber se fulano irá se recuperar em breve de um solavanco, mas a corrente de pensamento tem mais utilidade quando se incentiva a criar condições reais de se levantar novamente ou se ajuda a pensar soluções para enfrentar a realidade que se coloca no momento de dor, de sofrimento e de perdas.
      jairo.marques@grupofolha.com.br

        'Rolezinho' é a sociedade se mexendo, diz Caetano Veloso

        folha de são paulo

        'Rolezinho' é a sociedade se mexendo, diz Caetano Veloso

        "Rolezinho" é uma palavra linda. "É a sociedade brasileira se mexendo."
        Assim vê Caetano Veloso, 71, os encontros dos jovens da periferia nos shoppings. Obviamente, não sem também alfinetar a mídia, que considera ter tentado passar a imagem de que "rolezinhos" eram "invasões".
        O cantor baiano, que lança o CD e o DVD do show "Abraçaço", conversou com a Folha por e-mail. Caetano falou sobre a polêmica das biografias e defendeu-se de quem o acusou de censura e demagogia. Leia os principais trechos da entrevista.
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        Marcos Hermes/Divulgação
        Caetano Veloso em show da gravação de CD e DVD ao vivo de 'Abraçaço
        Caetano Veloso em show da gravação de CD e DVD ao vivo de 'Abraçaço'
        Folha - Qual sua opinião sobre os "rolezinhos"? Em sua opinião, há uma relação direta entre eles e os protestos de junho do ano passado?
        Caetano Veloso - Só a palavra "rolezinho" (tanto pronunciada à paulista, com o "e" fechado, quanto à baiana, e mesmo carioca, com o "e" aberto) é já uma grande beleza. A pior coisa escrita num jornal sobre o assunto foi que a palavra é feia e cafona.
        Essa opinião, de um colunista conservador, é que era exibição de mau gosto. Claro que rolezinhos são a sociedade brasileira se mexendo. Tudo de que ela mais precisa. Essa é a característica que esse fenômeno comparte com as manifestações de junho.
        Mas acho que a imprensa deixou que se pensasse tratar-se de exibição ostensiva de garotada da periferia em shoppings de alta classe média, dando uma impressão de invasão, quando na verdade são encontros que se dão em shoppings da periferia.
        Você viu o vídeo das decapitações no presídio de Pedrinhas, no Maranhão? Qual sua opinião sobre a situação do sistema carcerário brasileiro?
        Já em meu livro "Verdade Tropical" [1997] eu conto a ideia da sociedade brasileira que se formou em mim quando, preso na Vila Militar, ouvi gritos de torturados durante a noite: me disseram que não eram presos políticos e sim ladrõezinhos da zona norte do Rio. Pois bem, décadas se passaram e não vi nada que parecesse sequer querer desmentir a ideia que tenho de nossa sociedade: brutal, injusta, cruel.
        O que se revelou em Pedrinhas diz muito sobre o que é a realidade das prisões (e não só das prisões) brasileiras. Temos muito, muito a fazer. E, claro, não pode ser indolor.
        Como vê o movimento black bloc? Acha que o Rio será palco de nova onda de protestos?
        Não gosto de violência nem desejo insuflar o entusiasmo de jovens narcisistas que adoram se sentir salvadores da humanidade. Mas, como disse, os nós de nossa estrutura social brutal não podem se desfazer sem dor. Black blocs têm a ingenuidade de rebeldes sessentistas (com os quais me identifiquei no ato na segunda metade dos anos 1960), por isso, tendo a simpatizar com eles, mesmo sendo capaz de criticá-los sem dó, como fiz no começo desta resposta.
        É provável que haja manifestações neste ano, com Copa e eleições e tudo o mais. Vejo que o todo da população está vacinado contra o que há de desestabilizador nessas movimentações e, portanto, irá neutralizar os protestos. O povo é conservador. Ao menos o brasileiro é.
        Mas, do jeito que anda o mundo, é sempre possível que um fato pequeno, corriqueiro, desencadeie uma nova onda, talvez muito mais forte e incontrolável.
        Não digo isso porque o deseje: sou classe-média e gosto de paz e sossego. Além disso não creio muito nas belezas que se atribuem às revoluções. Jamais utilizaria a palavra "terror" como algo desejável, como [o filósofo esloveno Slavoj] Zizek faz. Mas percebo a possibilidade de algo assim acontecer.
        E não sou contra, já que a injustiça, a brutalidade e a crueldade merecem reação enérgica.
        No caso das biografias, você declarou que a imprensa atacou-os de modo unilateral. Como analisa a imprensa cultural brasileira? Está reproduzindo o linguajar e a combatividade das mídias sociais?
        As mídias sociais influem em tudo. Mas muitos dos vícios da imprensa vêm de longe no tempo. Sou contra os artigos 20 e 21 do Código Civil e o disse por escrito em minha coluna [no jornal "O Globo"].
        Sempre fui, também, contra o desejo de controlar as biografias por parte dos biografados. Detesto a ideia de que meus filhos e netos venham a tomar conta do que se publicar sobre mim depois que eu morrer.
        Não tenho vontade de esconder ou maquiar nada. Apenas ouvi meus amigos mais queridos, que pensam diferente de mim, e achei que, explicando a quem me lesse o quanto os argumentos deles me tocaram, podia contribuir para enriquecer a discussão. Mas vocês dos jornais, que têm emissoras de TV, revistas (ou colunas) de fofoca, editoras de livros etc., preferiram me caracterizar como "censor". Danem-se.
        Acho que a mudança no Código Civil a respeito das biografias deveria ser vista com mais finura. Espero que os juristas e o que há de saudável na sociedade (sim, porque isso também existe!) cheguem a uma solução equilibrada. Claro que livros não enriquecem escritores às centenas no Brasil.
        Quem escreve biografias não deve ficar sujeito a ver seu trabalho de pesquisa jogado fora. Quem tem influência na vida pública deve poder ser retratado com coragem e independência.
        Mas não apenas prefiro a amizade de Chico [Buarque] ou de Roberto Carlos aos afagos da imprensa: também respeito as questões que esses amigos levantam. Não há nada mais baixo do que jornalistas que, sabendo que é assim que eu penso, deixam prevalecer uma versão demagógica que se parece com os posts débeis mentais que são feitos agredindo Gil ou Paula Lavigne. Me eriço como as cerdas bravas do javali.
        Que resultado você espera do julgamento da ação que discute a publicação de biografias não autorizadas, que deve acontecer ainda neste semestre?
        Que concorde com quem defende a liberdade de expressão e o direito à informação histórica, mas que não fale como os malucos da internet e os jornalistas de má-fé.
        Como está sua relação com Roberto Carlos?
        Para mim, como sempre. Sempre o vi pouquíssimo. Eu o adoro como aprendi a fazer em 1966, instado por Bethânia, mas não me impeço de dizer de público que discordo dele. Se discordar, como fiz quando ele mandou telegrama ao presidente Sarney apoiando a censura [ao filme] "Je Vous Salue, Marie" (nos anos 80). No caso das biografias, sempre estive na posição oposta à dele. Disse isso a ele, a Chico, a Gil, a Milton, a todos —e prometi não atrapalhar o que eles fizessem, além de me esforçar para entender seus argumentos.
        Quando o grupo de advogados dele e seu empresário disseram que estavam recuando de uma suposta posição intransigente, eu mostrei que não era o que estava acontecendo. Dizer que era [isso] dava a impressão de que Paulinha Lavigne, que presidia o grupo Procure Saber, tinha agido despropositadamente em sua aparição no programa "Saia Justa", o que levava os malucos da internet, a imprensa histérica e os autores de cartas à redação a nos xingarem mais, sobretudo a Paulinha, que não é artista, o que parece dar licença à imaginação raivosa dessa gente.
        Ora, eu sou um homem livre, maluco, sozinho, mas adoro Paulinha, com quem tenho dois filhos lindos e uma história de décadas.
        Respondi a certas baixezas com veemência —e sobrou uma frase impaciente para Roberto. Sei que ele entendeu meu pedido de perdão porque sei que ele entende de sentimentos.
        "Abraçaço" ao vivo estabelece um diálogo entre seu novo disco e sua obra dos anos 70. Como vê o resultado desse entrelaçamento?
        O retorno às canções de "Transa" começou no "Cê", passou pelo "Zii e Zie" e agora chega ao "Abraçaço". Neste só está "Triste Bahia". Nos outros dois estavam canções feitas em inglês, que o público jovem identifica mais com aquele álbum.
        "Abraçaço" encerrou a trilogia que se completa com "Cê" e "Zii e Zie". Qual será seu próximo projeto?
        Ainda não esbocei nem um gesto nessa direção. Nem mesmo dentro de mim. Estou na Bahia e, depois das apresentações para saudar o lançamento do DVD, devo viajar para fora do Brasil (já fui à Argentina, ao Uruguai e à Colômbia, agora devo ir para o hemisfério Norte)
        BIOGRAFIAS
        Questão deve ser julgada neste semestre
        O julgamento, no Supremo Tribunal Federal, da ação que discute a publicação de biografias não autorizadas deve ocorrer neste semestre, segundo declaração de dezembro do presidente da corte, o ministro Joaquim Barbosa. A questão também é objeto de um projeto de lei na Câmara. O Congresso e o Supremo voltam do recesso no próximo dia 3.

        José Simão

        folha de são paulo
        Vai Ter Copa! E Argentina ganha!
        E o Fidel, El Coma Andante, com o agasalho Adidas! Devia mudar o nome pra Fadigas! Agasalho Fadigas!
        Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Hoje eu tenho duas notícias, uma boa e uma ruim. Ou duas boas, ou duas ruins: Vai ter Copa e a Argentina vai ganhar! Rarará!
        Atenção, black brócolis! Vai ter Copa e a Argentina ganha!
        Pensamento de black brócolis: não vai ter Copa. Não vai ter Carnaval. Não vai ter verão. Não vai ter praia! Não vai ter pipoca! E não vai ter mais Brasil!
        E sabe como se chama o dono do fusquinha queimado nos protestos? ITAMAR! Até em protesto tem predestinado!
        E a oposição revoltada porque a Dilma parou pra dormir em Lisboa? Eu apoio a escala da Dilma em Lisboa por razões humanitárias: direto do Blatter pro Raúl Castro, sem escala? Sem tomar fôlego?! "Posso dormir antes?". Rarará!
        Quando denúncia vira implicância, perde a credibilidade!
        E Dilma e Cristina Kirchner! A Dilma tá parecendo o Bob Esponja, quadrado e com dois dentinhos.
        A Cristina Kirchner tá parecendo a Gretchen. Com aquela boca de bico de tênis Conga. Com aquela boca de "VOU TE BEIJAR!". Rarará.
        E a Dilma tuitou lá de Cuba: "Estou numa ilha aqui em cima, governada pela mesma família há 50 anos".
        "São Luís!", gritou o Sarney. Ela estava em São Luís! Rarará!
        E avisaram pra Dilma que tomara que caia em Cuba se chama "Abaja e Chupa"?
        E eu sempre repito a definição de Cuba, dada por um repórter da "Newsweek". Três são as causas da vitória da revolução cubana: saúde, educação e habitação.
        E três são as causas do fracasso: café da manhã, almoço e jantar! Rarará!
        E o Fidel, El Coma Andante, com o agasalho Adidas! Devia mudar o nome pra Fadigas! Agasalho Fadigas!
        E diz que o Fidel confundiu a Dilma com o Lula. "Lula, você tirou a barba?". "Não, comandante, yo soy Dilma". Rarará.
        É mole? É mole, mas sobe!
        O Brasil é Lúdico! Olha o nome desse prédio em Piuma, Espírito Santo: "Edifício EU". Rarará. Cúmulo do egocêntrico!
        E a crise na Argentina? O site Twitteiro mostra o cartaz na loja de um argentino: "Vendo todo e me voy a la mierda". Rarará.
        Nóis sofre, mas nóis goza!
        Hoje, só amanhã!
        Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

          Marcelo Coelho

          folha de são paulo
          Melhor um tango argentino
          No filme de Frédéric Fonteyne, a masculinidade pode ser, quando estereotipada, uma prisão
          O menino tem 15 anos, mas, como é comum nos países europeus, ainda parece estar na pré-adolescência. Volta machucado da escola; tinha entrado numa briga.
          A mãe, que é enfermeira num hospital, está atrasada para o trabalho; dá um afago no garoto e se despede, recomendando que ele faça o curativo sozinho. Você sabe onde fica o estojo de primeiros socorros, diz ela, e bate a porta.
          A cena poderia ter se encerrado aí. Mas "Tango Livre", filme que entra em cartaz nos próximos dias, prolonga um pouco a situação. A câmera chega até o rosto do menino, que aproveita o ventilador ligado para refrescar a pele em carne viva.
          Masculinidade e desamparo são sentimentos que dançam o tempo todo em volta dos personagens desse drama bonito, dolorido e otimista. Ainda que o diretor seja homem, muitas vezes um olhar feminino pousa sobre os personagens.
          Quase tão frágil quanto o filho da enfermeira, Jean-Christophe (François Damiens) é guarda numa prisão, e leva uma vida solitária. Sua maior companhia é o peixinho vermelho do aquário, que no filme surge quase como outro detento, no cotidiano obscuro da classe baixa belga.
          Jean-Christophe aprende tango nas horas vagas, e nessas aulas acaba conhecendo a enfermeira, que lhe vira a cabeça.
          Na "Carmen", de Bizet, o pobre soldado José acaba seduzido pela cigana linda e magnética que dá seu nome à ópera. Liberta-a da prisão, foge com ela para o esconderijo dos criminosos, e termina preterido no coração de Carmen, que já se inclina para o toureiro Escamillo.
          Alice, a enfermeira do filme, não é especialmente bonita, nem perigosa como Carmen. Simplesmente as coisas acontecem à sua volta. De todo modo, seu mistério e seu charme latino são capazes de perturbar mais marmanjos do que o pobre carcereiro. Ela tem dois maridos, e ambos estão presos, sob a guarda de Jean-Christophe.
          Contando o filho, são quatro homens em torno da personagem, vivida pela atriz Anne Paulicevich, que também escreveu o roteiro do filme.
          Alguns escritores homens são elogiados por "entender a alma feminina". No caso de "Tango Livre", a autora do roteiro entende admiravelmente a "alma masculina", e seu diretor, Frédéric Fonteyne, parece ter pleno domínio do "olhar feminino" sobre as coisas.
          Como se sabe, o tango originalmente era dançado apenas entre homens. A situação se reproduz no filme, do modo mais insólito: são os presos que resolvem aprender o tango, com alguns condenados argentinos que formam um grupinho à parte na cadeia.
          Trata-se de um recurso dos dois maridos para não dar ao carcereiro Jean-Christophe, razoável dançarino, uma vantagem no coração de Alice.
          Muita coisa ainda vai acontecer em "Tango Livre", mas as cenas de dança na prisão, com as autoridades penitenciárias belgas sem saber muito como reagir ao fenômeno, já valem o filme inteiro.
          A agressividade e a confiança, o machismo e a ternura, o feminino e o masculino se concentram e harmonizam no rosto de cada personagem. A extrema tensão de um presídio, aliada à outra tensão de uma múltipla rivalidade amorosa, parecem se formalizar numa dança que se faz sem música, só acompanhada pelo bater de palmas dos detentos.
          Quem está livre, quem está preso numa situação dessas? Alice vive cercada, vigiada por seus homens. Ao mesmo tempo, exerce um calmo domínio sobre todos eles. São meninos, no fundo: com vários crimes nas costas, ou carregando apenas uma mochila de colegial, sofrem de uma insegurança permanente, engalfinham-se, xingam, fazem as pazes e querem colo.
          Será que é isso, o "masculino"? Penso numa dificuldade extrema para amadurecer. Ao mesmo tempo, veremos no filme de que modo o filho de Alice se defronta, da noite para o dia, com o mundo real.
          Saber que o mundo real não corresponde aos nossos sonhos é uma coisa. Outra coisa é conduzir a vida de acordo com essa percepção. Masculinidade e amadurecimento se confundem nesse processo.
          Talvez o segredo, para os autores de "Tango Livre", possa ser dominado como os passos dessa dança argentina. Nela, os homens por vezes se feminizam, sem deixar de ser homens o tempo todo; as mulheres seduzem, dominando, e cedem quando menos se espera.
          Os papéis sexuais não deixam, quando estereotipados, de constituir uma prisão; nada menos maduro do que o menino assombrado pelas próprias dúvidas sexuais, tentando uma macheza que sua sensibilidade não permite.
          Guardas, criminosos, meninos, mulheres, se entendem melhor com um pouco de jogo de cintura. Dentro de uma prisão belga talvez seja mais fácil; quanto aos cárceres brasileiros, talvez seja mesmo o caso de tocar um tango argentino.

          Ruy Castro

          folha de são paulo
          Por fim, se os "black blocs"
          RIO DE JANEIRO - Estou preocupado com os "black blocs". Eles garantem que "Não vai ter Copa!", mas temo que o aparato que usam hoje nas manifestações --capacete, viseira, máscara contra gases, jaqueta preta, calças de combate, joelheira, botas, porrete, estilete e estilingue, perfeitos para enfrentar a PM-- seja insuficiente para os novos inimigos que eles terão de encarar. E, contra esses inimigos, as lixeiras incendiárias, os postes à guisa de aríetes e a plêiade de advogados a seu fa-vor serão inúteis.
          Os "black blocs" já não contam com as centenas de milhares de pessoas de junho passado, com as quais podiam misturar-se. Aliás, foi por causa deles que elas preferiram ficar em casa. Com isso, os "black blocs" reduziram-se a uns 100 militantes no RJ e em SP e nem isso nas outras cidades. Até o América tem mais torcedores.
          Contra si, eles terão os milhões de interessados em que haja Copa. Entre estes, estão os camelôs, já preparados para vender exclusivos produtos Fifa fabricados na China ou em Nova Iguaçu, e os ambulantes, com seus monumentais estoques de cerveja e de camisas falsificadas do Brasil e das outras seleções.
          Os "black blocs" precisarão também se explicar para a mais terrível das máfias, a das vans, que não gostará de se ver prejudicada pela não vinda ou pela partida às pressas dos, idem, milhões de turistas, de fora ou domésticos, que são esperados nas cidades-sede. Se eu fosse "black bloc", evitaria desagradar esses profissionais do transporte.
          Por fim, se os "black blocs" conseguirem chegar vivos às imediações dos estádios, arriscam-se a ser exterminados pelas torcidas organizadas, como as do Corinthians, Vasco, Atlético Paranaense, Cruzeiro e outras --que não abrem mão da Copa e dispõem de rojões, soco-inglês e paus com pregos na ponta para mostrar que não se submetem a amadores.