sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Salvador Nogueira

folha de são paulo
O Brasil que treme
Sismólogo conta em livro a história dos abalos que atingiram o Rio Grande do Norte nos anos 80 e resgata a trajetória das pesquisas sobre terremotos no país
SALVADOR NOGUEIRACOLABORAÇÃO PARA A FOLHAToda vez que se ouve falar de tremor de terra no Brasil, as pessoas estranham. Afinal, faz parte do senso comum dizer que o país é livre de terremotos. Mas nada poderia estar mais longe da verdade.
Para acabar de uma vez com esse mito, o sismólogo José Alberto Vivas Veloso escreveu o livro "O Terremoto Que Mexeu com o Brasil".
Centrada principalmente na série de abalos que atingiu a cidade de João Câmara, no Rio Grande do Norte, sobretudo o grande tremor de 30 de novembro de 1986, a obra vai muito além disso.
Ela resgata uma longa história do estudo dos terremotos brasileiros, que remonta ao tempo do Império. Coube a Dom Pedro 2º ordenar a realização da primeira pesquisa sismológica nacional.
O imperador, sempre interessado em assuntos de ciência, passou da curiosidade à preocupação no dia 9 de maio de 1886. Em seu palácio em Petrópolis, às 15h, ele sentiu a terra tremer.
O soberano julgou importante reportar o caso em detalhes e, com isso, tornou-se o primeiro brasileiro a publicar na prestigiosa revista científica britânica "Nature".
DE LÁ PARA CÁ
Com uma prosa envolvente, Veloso, pesquisador aposentado pela UnB (Universidade de Brasília), conduz o leitor pela história dos primeiros estudos brasileiros de terremotos antes de mergulhar na sismologia do Nordeste e então esmiuçar o caso de João Câmara.
"Meu livro mostra que não só existem terremotos no Brasil, como eles podem trazer problemas às pessoas e às cidades", afirma o autor. "O principal tremor de João Câmara, com magnitude 5,1, danificou mais de 4.000 construções e criou um contingente de 26 mil desabrigados."
Veloso tem autoridade para relatar o caso, tendo sido um dos membros da equipe científica despachada para a região na época dos abalos.
É uma experiência pessoal impactante chegar a uma região remota e explicar que aqueles abalos não são castigos de Deus ou coisa que o valha, conta.
"Não dá para ser um cientista de sangue frio o tempo todo", diz Veloso. "Na experiência de acompanhar sequências sísmicas com duração de dias e semanas no Rio Grande do Norte, no Ceará, em Pernambuco e em Minas Gerais, particularmente em cidades pequenas, percebi que logo surge uma afetividade entre o sismólogo e os habitantes locais."
O pesquisador passa a ser uma referência para orientar a população. "Aí a responsabilidade aumenta, porque você não está apenas registrando abalos de terra, mas lidando com a segurança e o bem-estar das pessoas."
A mais importante mensagem do livro, contudo, é mostrar que o episódio de João Câmara não se trata de um caso isolado.
"Abalos desse tamanho acontecem a cada cinco anos em algum lugar do Brasil. Onde, ninguém sabe", afirma Veloso. "O que temos de fazer é continuar monitorando e estudando os nossos tremores, porque eles continuarão acontecendo."
Exemplos claros disso podem ser resgatados do ano que passou. Em 2013, o Brasil viu vários tremores em Montes Claros, no norte de Minas Gerais. Casas racharam, outras foram destelhadas e algumas chegaram a ser interditadas pela Defesa Civil. "A população ficou sobressaltada com tais tremores", lembra Veloso.
Nos últimos meses do ano, foi a vez de Pedra Preta (RN) sentir a terra tremer. É uma região bem próxima de João Câmara. "Surgiram rachaduras nas casas e a população entrou em pânico", diz o sismólogo.
O livro traz, além de relatos pormenorizados dos tremores históricos brasileiros, apêndices que explicam a ciência por trás dos terremotos, das placas tectônicas às formas de medir os abalos. Há também um vídeo em DVD com imagens captadas em João Câmara nos anos 1980.

    Mônica Bergamo

    folha de são paulo

    Prefeitura de Salvador levantou R$ 5,3 milhões para quatro dias de Réveillon

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    Com a intenção de tornar o Réveillon da capital baiana o segundo maior do país, a Prefeitura de Salvador levantou R$ 5,3 milhões, com patrocinadores e uma inédita parceria com o governo do Estado (responsável por uma cota de R$ 1,2 milhão), para realizar quatro dias de festa. Gilberto Gil e Caetano Veloso, estrelas da virada, receberam de cachê R$ 600 mil cada um. Claudia Leitte, que se apresentou no dia 30, levou R$ 250 mil.
    ANO-NOVO
    Os cachês das 19 atrações começaram em R$ 80 mil. Os Paralamas do Sucesso, que fizeram show dia 29, receberam R$ 150 mil, enquanto Nando Reis ganhou R$ 100 mil pela apresentação do dia 30. A produtora Flora Gil foi contratada para montar a grade artística. "A Bahia finalmente deu um clique para se consolidar como segundo Réveillon do país, atrás apenas do Rio", diz a mulher de Gilberto Gil.
    ANO-NOVO 2
    Os investimentos da festa de Ano-Novo foram garantidos em uma dobradinha com o Carnaval. O secretário de Desenvolvimento, Cultura e Turismo de Salvador, Guilherme Bellintani, explica que conseguiu atrair a cerveja Schin, tradicional patrocinador da folia carnavalesca, para o Réveillon, e também novos patrocinadores, como a Coca-Cola. "Cerca de 90% dos recursos foram captados com a iniciativa privada", afirma ele.
    ASSINATURA
    Um ex-diretor da TV Globo perdeu ação judicial que movia contra a gravadora Biscoito Fino por ter colocado o nome dele na contracapa de um DVD de Jorge Ben Jor. Maurício Alex Nunes afirmava, no processo, não ter autorizado o uso da assinatura no produto, lançado em 2007. O show, que Nunes dirigiu com Alexandre Braz em 1982, era um especial da emissora. O Superior Tribunal de Justiça decidiu com base na Lei de Direitos Autorais.
    ASSINATURA 2
    "Se o nome do autor não tivesse sido incluído, ele poderia ter entrado com ação questionando a ausência", diz Marcelo Mazzola, do escritório Dannemann Siemsen, que representou a Biscoito Fino. A defesa de Nunes espera ter acesso ao acórdão para decidir o que fazer. "A violação de dispositivos da lei federal é inequívoca", diz o advogado Sylvio Guerra.
    BEIJINHOS E CARINHOS
    Caetano Veloso e Gilberto Gil fizeram show juntos, por duas horas, no Réveillon de Salvador. Gal Costa, que levou o filho, Gabriel, também se apresentou no evento, na praça Cairu. Flora, mulher de Gilberto Gil, puxou o brinde. Regina Casé, mestre de cerimônias da noite, estava com o marido, o diretor Estevão Ciavatta. A apresentadora deu selinho em Caetano nos bastidores. Realizadores da festa, o prefeito ACM Neto (DEM-BA) e o governador Jaques Wagner (PT-BA) viram os shows na companhia do ex-senador ACM Júnior (DEM-BA).

    Gil e Caetano cantam no Réveillon em Salvador

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    Lucio Távora / Folhapress
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    Os cantores Gilberto Gil e Caetano Veloso fizeram show de duas horas no Réveillon de Salvador, na praça Cairu
    CURTIDA DUPLA
    Cameron e Tyler Winklevoss, os gêmeos americanos que fundaram o Facebook com Mark Zuckerberg, passaram a virada do ano em Trancoso (BA). Eles foram à nova unidade do Café de La Musique, do empresário e apresentador Alvaro Garnero. A cantora Vanessa da Mata, a estilista Lenny Niemeyer e o cabeleireiro Wanderley Nunes também estavam entre os convidados.

    Gêmeos do Facebook viram ano na BA

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    Guilherme Urban/Divulgação
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    Cameron e Tyler Winklevoss, os gêmeos que fundaram o Facebook com Mark Zuckerberg, passaram o Réveillon com o empresário e apresentador Alvaro Garnero, no Café de La Musique em Trancoso (BA)
    *ECOLÓGICO*
    Nascido em 19 de abril, Dia do Índio, Roberto Carlos está programando um show especial na Amazônia na data em 2015. "Roberto vai comemorar o aniversário no meio da floresta e cercado de índios com espetáculo transmitido para o mundo todo", diz Dody Sirena, empresário do cantor.
    APELO
    A Apae de São Paulo está buscando voluntários para doar cestas básicas com alimentos próprios para crianças com doenças metabólicas. Dos 320 pacientes com fenilcetonúria — que não podem ingerir proteína animal— atendidos pela entidade, 140 são de famílias de baixa renda e, até agora, só 53 têm padrinhos. Cada cesta custa R$ 150.
    CURTO-CIRCUITO
    A peça "À Queima-Roupa", com Mário Bortolotto no elenco, estreia hoje, às 21h30, no Teatro Cemitério de Automóveis, na rua Frei Caneca. 16 anos.
    Ana Cañas faz show de lançamento de "Coração Inevitável", no Sesc Belenzinho. Hoje e amanhã, às 21h30. 18 anos.
    com ELIANE TRINDADE (interina), JOELMIR TAVARES, ANA KREPP e MARCELA PAES

    Helio Schwartsman

    folha de são paulo
    Cigarros genéricos
    SÃO PAULO - Merece apoio a proposta da Anvisa de que cigarros sejam vendidos em embalagens genéricas, dos quais conste só o nome do produto e o fabricante --além, é claro, dos já tradicionais alertas do Ministério da Saúde--, sem espaço para cores e outros elementos gráficos que possam caracterizar-se como mensagens publicitárias.
    Calma, não me converti à causa dos que acham que, no embate entre saúde e liberdades individuais, a primeira deve sempre prevalecer. Continuo defendendo a legalização das drogas e da eutanásia, mesmo reconhecendo que utilizá-las não é a coisa mais saudável que você pode fazer.
    O ponto é que a vida não se mede só em comprimento. Se um determinado indivíduo acha que o tabaco lhe proporciona prazer e pensa que vale a pena trocar alguns anos de existência terrena para conservar essas doses de bem-estar, quem somos nós para contestar-lhe esse direito?
    Se há um papel legítimo para o Estado aqui é assegurar que as pessoas tenham acesso às informações relevantes para a tomada de decisões, que incluem as estatísticas sobre os óbitos e moléstias provocados pelo fumo e até quantidades módicas de contrapropaganda, que podem mobilizar aspectos emocionais.
    Voltando à regulação dos maços de cigarros, a questão aqui é que o cérebro humano já é por natureza mais vulnerável do que deveria aos charmes de substâncias psicoativas, sendo, portanto, uma covardia colocar a indústria da publicidade para reforçar essa tendência.
    Se ainda não se convenceu, façamos um experimento mental. Imaginemos que estamos num imenso Uruguai onde todas as drogas acabaram de ser legalizadas. Você gostaria de ligar a TV e ver modelos em trajes sumários anunciando as virtudes de uma nova marca de cocaína? Por mais libertários que sejamos, não me parece moralmente aceitável estimular as pessoas a adotarem comportamentos de risco.

      Eliane Cantanhêde

      folha de são paulo
      A tentação hegemônica
      BRASÍLIA - Ao pressionar Eduardo Campos para se descolar da reeleição de Alckmin em São Paulo, Marina Silva favorece diretamente o PT no principal Estado do país.
      Alckmin não terá vida fácil na campanha, porque pode ter a máquina, a caneta e a exibição de quem concorre no cargo, mas neutraliza parte dessa vantagem com o desgaste natural de quase 20 anos dos tucanos no poder e de sucessivas trombadas: Alstom, Siemens e a onda de violência que assola o país e ganha particular visibilidade em São Paulo.
      Caso confirmado o fim da aliança com o PSB, Alckmin não só perde uma legenda como ganha um adversário a mais --e alavancado pela candidatura de Campos à Presidência. Estão na mesa os nomes da deputada e ex-prefeira Luiza Erundina, do PSB, e do vereador Ricardo Young, filiado ao PPS e militante da Rede.
      A eles se somam Paulo Skaf, do PMDB e do "partido Fiesp", e talvez Eduardo Jorge, do PV, diluindo as candidaturas e facilitando o segundo turno, muito provavelmente entre Alckmin e o atual ministro da Saúde, Alexandre Padilha, do PT.
      Depois das eleições de Dilma a presidente e de Fernando Haddad a prefeito paulistano, não resta muita dúvida quanto à força natural de Padilha em outubro. Ele tem o mito Lula, o palanque de Dilma, a estrutura e o caixa poderoso do PT. Além de ter a boa bandeira do "Mais Médicos" e ser, em si, um bom candidato.
      É assim que o PT entra 2014 com Dilma favorita e o partido a caminho de 16 anos na Presidência; já dominando a principal capital; com reais chances no Estado mais importante; e com candidatos competitivos em Minas e no Rio, fechando o "triângulo das Bermudas" da política nacional. Sem contar que tende a aumentar as bancadas no Congresso, espremendo a maioria do até agora aliado PMDB.
      Isso tudo com a economia devagar e Haddad quase parando. Imagine se a economia e o prefeito deslancham? Antes, ninguém segurava este país. Agora, ninguém segura o PT?

        Ruy Castro

        folha de são paulo
        País das libações
        RIO DE JANEIRO - Somos bons para fabricar bebida --o que o Brasil produz anualmente de cerveja e cachaça daria para fazer do Saara um oceano-- e para consumi-la. A todo dia e hora, a TV martela a mensagem de que tomar cerveja nos garante a eterna juventude e uma eufórica vida à beira-mar, rodeados de amigos e mulheres. Nesses comerciais, ninguém fica de porre ou de ressaca e, muito menos, vomita.
        Neles, ninguém sai do botequim ou do quiosque com dez garrafas de cerveja no tanque, pega o carro, dribla a blitz da Lei Seca e manda para o céu os incautos que se puseram na rota do bólido. Ninguém volta para casa trocando as pernas e, ao ser repreendido pela mulher, acerta-lhe uma bolacha ou tenta esganá-la para restabelecer a moral no lar. E ninguém é de menor, nem conta com garçons que lhe servem bebida na calçada. Ninguém sequer urina na árvore.
        Somos bons para fabricar e consumir, mas péssimos para tomar medidas que compensem os efeitos dessa interminável libação. Responsáveis por acidentes de trânsito com mortos e feridos podem ser condenados, mas continuam à solta e ao volante. Somos ineficientes para calcular a incidência do álcool nos casos de violência doméstica, embora se suspeite que chegue a 99%. E quantos de nós sabemos a quem encaminhar um amigo ou parente com um nítido problema alcoólico?
        Assim como o poder público conseguiu convencer os fabricantes de cerveja a bancar parte dos gastos com banheiros químicos no Réveillon e no Carnaval, poder-se-ia exigir deles algo semelhante quanto à prevenção.
        Digamos: uma taxa --paga por eles-- sobre cada garrafa, para a produção de comerciais em que seus clientes viveriam as situações descritas acima: urinando na rua, vomitando os bofes, batendo com o carro, espancando a mulher ou sofrendo com dor de cabeça. O Brasil se reconheceria nesses filmetes.