terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Rosely Sayão

Profusão de estímulos
Se está difícil para nós, adultos, focar a atenção, imagine para as crianças que já nascem neste mundo
Aumenta o número de adultos que não consegue focar sua atenção em uma única coisa por muito tempo. São tantos os estímulos e tanta a pressão para que o entorno seja completamente desvendado que aprendemos a ver e/ou fazer várias coisas ao mesmo tempo. Nós nos tornamos, à semelhança dos computadores, pessoas multitarefa, não é verdade?
Vamos tomar como exemplo uma pessoa dirigindo. Ela precisa estar atenta aos veículos que vêm atrás, ao lado e à frente, à velocidade média dos carros por onde trafega, às orientações do GPS ou de programas que sinalizam o trânsito em tempo real, às informações de alguma emissora de rádio que comenta o trânsito, ao planejamento mental feito e refeito várias vezes do trajeto que deve fazer para chegar ao seu destino, aos semáforos, faixas de pedestres etc.
Quando me vejo em tal situação, eu me lembro que dirigir, após um dia de intenso trabalho no retorno para casa, já foi uma atividade prazerosa e desestressante.
O uso da internet ajudou a transformar nossa maneira de olhar para o mundo. Não mais observamos os detalhes, por causa de nossa ganância em relação a novas e diferentes informações. Quantas vezes sentei em frente ao computador para buscar textos sobre um tema e, de repente, me dei conta de que estava em temas que em nada se relacionavam com meu tema primeiro.
Aliás, a leitura também sofreu transformações pelo nosso costume de ler na internet. Sofremos de uma tentação permanente de pular palavras e frases inteiras, apenas para irmos direto ao ponto. O problema é que alguns textos exigem a leitura atenta de palavra por palavra, de frase por frase, para que faça sentido. Aliás, não é a combinação e a sucessão das palavras que dá sentido e beleza a um texto?
Se está difícil para nós, adultos, focar nossa atenção, imagine, caro leitor, para as crianças. Elas já nasceram neste mundo de profusão de estímulos de todos os tipos; elas são exigidas, desde o início da vida, a dar conta de várias coisas ao mesmo tempo; elas são estimuladas com diferentes objetos, sons, imagens etc.
Aí, um belo dia elas vão para a escola. Professores e pais, a partir de então, querem que as crianças prestem atenção em uma única coisa por muito tempo. E quando elas não conseguem, reclamamos, levamos ao médico, arriscamos hipóteses de que sejam portadoras de síndromes que exigem tratamento etc.
A maioria dessas crianças sabe focar sua atenção, sim. Elas já sabem usar programas complexos em seus aparelhos eletrônicos, brincam com jogos desafiantes que exigem atenção constante aos detalhes e, se deixarmos, passam horas em uma única atividade de que gostam.
Mas, nos estudos, queremos que elas prestem atenção no que é preciso, e não no que gostam. E isso, caro leitor, exige a árdua aprendizagem da autodisciplina. Que leva tempo, é bom lembrar.
As crianças precisam de nós, pais e professores, para começar a aprender isso. Aliás, boa parte desse trabalho é nosso, e não delas.
Não basta mandarmos que elas prestem atenção: isso de nada as ajuda. O que pode ajudar, por exemplo, é analisarmos o contexto em que estão quando precisam focar a atenção e organizá-lo para que seja favorável a tal exigência. E é preciso lembrar que não se pode esperar toda a atenção delas por muito tempo: o ensino desse quesito no mundo de hoje é um processo lento e gradual.

    Estudo mostra quais regiões do corpo são 'ativadas' por sentimentos como raiva e felicidade

    folha de são paulo
    Emoções mapeadas
    Estudo mostra quais regiões do corpo são 'ativadas' por sentimentos como raiva e felicidade e conclui que sensações têm caráter universal
    MONIQUE OLIVEIRADE SÃO PAULO
    Aperto no peito, frio na barriga, cabeça quente. Quem nunca usou essas expressões para traduzir uma emoção?
    A sabedoria popular já sabe que emoções causam alterações físicas. Os cientistas também: a rigor, emoção é o estímulo que afeta o sistema límbico [região do cérebro que a processa] e é capaz de mudar o sistema periférico.
    Faltava saber exatamente onde essas mudanças físicas ocorrem, o que pode ajudar a melhor definir as emoções e entender os transtornos afetados por elas.
    No intuito de responder a essa questão, cientistas da Universidade de Aalto em parceria com a Universidade de Turku, ambas na Finlândia, pediram a 700 voluntários que indicassem quais áreas do corpo sofriam alterações quando sentiam uma determinada emoção.
    Para incitar cada estado emocional, foram usadas palavras, músicas e filmes. As alterações sentidas podiam ser de qualquer ordem --dor e calor, por exemplo.
    Com os dados, um software montou um único circuito para cada emoção --raiva, medo, desgosto, felicidade, tristeza e surpresa (chamadas de básicas) e ansiedade, amor, depressão, desprezo e orgulho (tidas como correlatas).
    "Tanto o computador como outras pessoas reconheceram as emoções descritas, o que denota o seu aspecto universal", disse à Folha Riita Hari, professora da Universidade Aalto e uma das autoras do estudo, publicado na revista da Academia de Ciências dos EUA, "PNAS".



    Assim, emoções ligadas à excitação, como raiva e felicidade, foram associadas com ativações e calor dos membros superiores.
    Já as emoções que indicam estado depressivo ou de tristeza foram relacionadas a menor atividade nos membros inferiores, como adormecimento das pernas e pés.
    Sensações no sistema digestório e ao redor da garganta foram relacionadas a desgosto. Felicidade foi a única emoção associada com calor e ativações no corpo inteiro.
    O estudo pode ajudar a identificar emoções nem sempre distinguíveis, como tristeza e desgosto.
    "As emoções têm vias autônomas só interpretadas depois", explica Aílton Amélio, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. "Saber quais são elas promove o entendimento de processos emocionais e é um recurso terapêutico."
    Doenças caracterizadas por desordens emocionais como depressão e transtorno bipolar também podem se beneficiar dos achados. "É uma ferramenta diagnóstica", afirma Riita Hari. "Os mapas podem estar alterados nesses pacientes."
    Estudos de neuroimagem já mostraram que esses indivíduos, quando estimulados por emoções negativas, exibem maior atividade cerebral. Essa dinâmica é inversa à obtida em pessoas saudáveis.
    "Mas é preciso ter cuidado para não limitar tudo em uma caixa", afirma a psiquiatra Alexandrina Meleiro.
    José Bombana, psiquiatra e professor da Universidade Federal de São Paulo, lembra ainda que diferenças culturais precisam ser consideradas.
    As emoções também provocam alterações hormonais, como o aumento do cortisol, hormônio associado ao estresse. "Quando prolongadas, são responsáveis por outras doenças, como transtornos mentais e diabetes", explica Alexandrina.
    Emoções podem ainda mudar a expressão de genes. Estudo da Universidade da Califórnia, publicado na "PNAS" em fevereiro, mostrou que pessoas felizes apresentam menos genes da inflamação que depressivos, o que os protege contra doenças.

      Mirian Goldenberg

      folha de são paulo
      MIRIAN GOLDENBERG
      Há sexo casual para as mulheres?
      As mulheres estão mais livres sexualmente, mas sofrem quando suas expectativas românticas são frustradas
      Uma pesquisa publicada na Folha revelou que 51% dos homens e 56% das mulheres brasileiras estão infelizes com a vida sexual. A pesquisa mostrou ainda que 24% dos homens e 40% das mulheres são contra o sexo casual.
      Outra pesquisa, realizada nos EUA, mostrou que as mulheres são menos propensas a ter orgasmos no sexo casual: 74% afirmaram ter orgasmos em um relacionamento sério, mas apenas 42% disseram chegar ao orgasmo no sexo casual. Já 80% dos homens afirmaram ter orgasmo no sexo casual.
      Uma das explicações para esta disparidade seria o fato de os homens se preocuparem muito menos em satisfazer os desejos femininos quando o sexo é casual.
      Outra razão seria a dificuldade feminina de falar sobre seus desejos sexuais. Elas se sentiriam inseguras para revelar suas vontades em uma relação sem compromisso.
      Acredito que a principal razão é a diferença de expectativas entre os gêneros. Muitas mulheres, mesmo as mais modernas, continuam esperando o telefonema deles no dia seguinte, mostrando que o sexo, para elas, não é tão casual assim.
      Uma professora de 32 anos contou: "Conheci um rapaz em uma festa e tivemos uma noite deliciosa. Ele não ligou no dia seguinte nem na semana seguinte nem no mês seguinte. Até hoje sofro, sem saber por que ele sumiu. Como pode ter sido tão importante para mim e não ter tido significado para ele? Não consigo entender a lógica masculina".
      É um verdadeiro paradoxo: as mulheres estão mais livres sexualmente, tendo mais parceiros, buscando o próprio prazer. No entanto, elas continuam sofrendo e se sentindo rejeitadas quando suas expectativas românticas são frustradas. O fato de serem mais livres não significa que elas perderam o desejo de serem especiais.
      Uma jornalista de 45 anos disse: "Já transei com muitos homens, mas não consigo entender quando um cara some sem explicação. Me sinto rejeitada, sem saber onde errei. Por mais livre que eu seja, fico com a expectativa de que ele perceba que não foi só uma transa como outra qualquer, que foi algo diferente".
      Será que o sexo casual só funciona para os homens?

      Helio Schwartsman

      Tolerar a intolerância
      FOLHA DE SÃO PAULO - Hoje vou discordar de meu amigo e mestre Janio de Freitas. Até admito que a liberdade de expressão não seja absoluta. Penso que gritar "fogo!" num teatro lotado quando não há incêndio deve constituir ilícito, mas, tirando essas situações em que uma declaração objetivamente falsa representa perigo real e imediato, tudo o mais deve ser tolerado. Isso inclui os discursos falsos que não trazem ameaça premente e os verdadeiros, ainda que concretamente danosos.
      Se não for assim, a liberdade de expressão não faz sentido. Ninguém precisa de garantias para falar mal do câncer ou pedir a paz mundial. Como afirmou o linguista e ativista de esquerda Noam Chomsky, "se você é a favor da liberdade de expressão, isso significa que você é a favor da liberdade de exprimir precisamente as opiniões que você despreza".
      Daí decorre, creio, que a democracia, ao contrário do que se apregoa, deve, sim, admitir pregações nazistas, racistas e antidemocráticas. No instante em que o sujeito tenta colocar essas ideias em prática, aí é hora de chamar a polícia. Existe, afinal, uma fronteira mais ou menos natural entre o discurso e a prática. É melhor aproveitá-la do que atribuir a alguém o poder de arbitrar entre o que é ou não uma declaração aceitável.
      E por que dar tanto espaço para gente que no fundo quer acabar com a tolerância? A liberdade de expressão, ao assegurar que todos os temas possam ser debatidos sob todos os ângulos, catalisa a necessária reciclagem dos consensos sociais. Num passado não muito remoto, queimar infiéis, prender adúlteros e manter escravos eram ideias respeitáveis que tinham o amparo da opinião pública.
      Se você acredita que, no longo prazo, a razão tende a prevalecer e acha isso bom, não há como não defender uma versão forte da liberdade de expressão. O preço a pagar, que é ouvir tolices como as proferidas pela apresentadora de TV Rachel Sheherazade, é quase uma pechincha.

        Luto - Eliane Cantanhêde

        folha de são paulo
        ELIANE CANTANHÊDE
        Luto
        BRASÍLIA - A semana passada pegou fogo e esta abre com a morte cerebral do colega Santiago Andrade, cinegrafista de TV, num episódio cheio de significados e alertas.
        Jogar um rojão em pessoas, sejam jornalistas, transeuntes ou policiais, contrapõe o legítimo e saudável direito de manifestação à ilegal e doentia ação de vândalos.
        Os que saem de casa com um artefato desses e os que o jogam sobre uma multidão não podem se dizer inocentes. Se não premeditaram, sabiam perfeitamente que poderiam matar. É como quem toma um porre, pega um carro e causa uma tragédia.
        O outro significado, ou alerta, é que o rojão que explodiu na cabeça de Santiago (as imagens são chocantes) caiu justamente num cinegrafista que estava ali trabalhando. Escancara, assim, o caráter antidemocrático dos "black blocs", que atingiram simbólica e objetivamente o dever da mídia de informar e o direito de todos à informação.
        Por último, a morte cerebral de Santiago não é um episódio aleatório, isolado. Ao contrário, ocorre num momento de grande agitação, incômodo, dúvidas e apreensões em diferentes esferas de poder e, principalmente, na sociedade.
        Ele foi mortalmente atingido a meses da Copa, ainda sob o horror do complexo de Pedrinhas e dias depois de dois crimes bárbaros. Um "justiceiro" matou um rapaz de 20 anos com um tiro no rosto, a queima roupa e à luz do dia. E uma turba amarrou um menor infrator a um poste, nu, exposto à execração pública.
        A sociedade está, de fato, exausta com incontáveis erros e, particularmente, com a violência sem controle. Mas, se cidadãos e cidadãs se tornam mais cruéis e mais desafiadores do que os piores bandidos, onde nós vamos parar?
        Que se criem e se formem menos bandidos e justiceiros --hoje embolados num único ente-- e mais Yvonnes Bezerra de Mello, que embalou o menino do poste e mantém a crença na humanidade. Não é sonhar tão alto.

          Fim da matéria - Carlos Heitor Cony

          folha de são paulo
          CARLOS HEITOR CONY
          Fim da matéria
          RIO DE JANEIRO - Um momento de indecisão ao subir a escada. Irá esbarrar com o quadro. É sua melhor obra em quase 20 anos de pesquisa e trabalho. A única que realmente valeu alguma coisa, que fugiu aos padrões convencionais, às repetições. E agora está abandonada e imersa no bar onde só se pensa em trepadas, negócios, piadas. Talvez tivessem substituído o quadro, muitos pintores gostariam de ter obra pendurada ali. Embora de costas, ele sente que o quadro é o seu.
          O garçom traz nova dose. Ele tem repugnância em continuar bebendo, o estômago recebeu mal a dose anterior e a cabeça está vazia, começa a falar, com mais fúria do que som, as palavras saem de uma caixa oca, não fazem sentido, mas significam tudo.
          Ele recua e desce. Agora, está em frente ao quadro. Por um instante se surpreende de ter feito um trabalho aproveitável. Havia muito não pensava nele, mas, apesar da bebedeira e da escuridão, percebe que ali há movimento, o ritmo é excelente. Pode dizer para si mesmo: "Eu me perdi por nada!"
          Levanta o pé, o mais alto que pode. Quer atingir o meio do quadro, mas não consegue. O pontapé pega na moldura, apenas um pequeno canto fica rasgado. O quadro entorta na parede.
          E antes que alguém o contenha, agride e urra. As mãos que deram ritmo àquelas linhas, cores àqueles espaços, são as mesmas que entram pela tela e a mutilam. E rasga, puxa e fura. O pó branco, remanescente das tintas que então usara, arde em suas narinas. Finalmente o quadro cai: é pisado com raiva.
          Desce o restante da escada e percebe que todos estão de pé, olhando-o. Abre a porta. A pele se encrespa ao receber o mormaço da rua. O ar refrigerado fica para trás. Fica para trás o Movimento em Três Tempos. Para ele, não haveria três tempos, não haveria tempo algum nem movimento. Não haveria matéria daquela memória.

          A barbárie de sempre - Vladimir Safatle

          folha de são paulo
          VLADIMIR SAFATLE
          A barbárie de sempre
          A esta altura, todos conhecem a história do rapaz negro amarrado nu em um poste e espancado por populares no Rio de Janeiro por pretensamente ser um assaltante e ter supostamente roubado uma bicicleta. Todos devem conhecer também o teor dos comentários de certos apresentadores do noticiário televisivo que resolveram surfar na onda da mais nova modalidade de "indignação popular contra a insegurança e a ausência de mão forte do poder público".
          Mas, ainda mais surpreendente do que os dois acontecimentos, é o teor da reação monitorada na internet, em sua ampla maioria favorável ao velho "justiça feita com as próprias mãos" ou ao "chegou o momento da revolta do homem comum".
          Quem já estudou a ascensão do regime nazista sabe como esse era o tema central de sua retórica política: "os homens comuns e cidadãos de bem estão cansados da insegurança. Está na hora de atitudes enérgicas".
          E então apareciam dois tipos de personagens: os que saiam vociferando sua raiva canina e os que diziam que não concordavam exatamente com tais métodos, mas que deveríamos dar uma reposta sem angelismos ao problema. São aqueles que dizem, atualmente, que a sociedade brasileira sofre com tanta violência e merece parar de ser importunada com essa conversa de direitos humanos de bandido. Ou seja, o velho truque do policial mau e do policial bom.
          As pessoas que amarraram o jovem negro no Rio de Janeiro não apareceram do nada. Seus pais já apoiavam, com lágrimas de felicidade nos olhos, os assassinatos perpetrados pelo esquadrão da morte. Seus avós louvaram as virtudes do golpe militar de 1964, que colocaria de vez a ordem no lugar da baderna. Seus bisavós gostavam de ver a polícia da República Velha atirando contra grevistas com aquele horrível sotaque italiano. Seus tataravós costumavam ver cenas de negros amarrados a postes com um certo prazer incontido. Afinal, já se dizia à época, alguém tinha que pôr ordem em um país tão violento.
          Sim, tais pessoas sempre estiveram no mesmo lugar. Só mudaram as gerações. Não há como compreendê-las nem nunca haverá acordo possível com elas. Que acordo haveria com alguém que nem sequer é capaz de estranhar seus próprios gestos no momento em que espanca, arranca a roupa e amarra alguém em um poste? Ou com alguém que não teme em justificar ação tão nobre e edificante?
          Contra pessoas desse tipo, não se procura um acordo nem se deve esperar que elas mudem. Luta-se contra elas, sem trégua, até que tenham medo de mostrar sua barbárie na rua e a escondam dentro de suas próprias casas.

          O assunto é: Violência e Direitos Humanos [Sheherazade e Ivan Valente]

          folha de são paulo
          RACHEL SHEHERAZADE
          O ASSUNTO DE HOJE: VIOLÊNCIA E DIREITOS HUMANOS
          Ordem ou barbárie?
          O menor infrator é sempre protegido por legiões de ONGs piedosas. O bandido é sempre vítima e nós somos cruéis algozes desses infelizes
          O fenômeno da violência é tão antigo quanto o ser humano. Desde sua criação (ou surgimento, dependendo do ponto de vista), o homem sempre esteve dividido entre razão e instinto, paz e guerra, bem e mal.
          Há quem tente explicar a violência, a opção pela criminalidade, como consequência da pobreza, da falta de oportunidades: o homem fruto de seu meio. Sem poder fazer as próprias escolhas, destituído de livre-arbítrio, o indivíduo seria condenado por sua origem humilde à condição de bandido. Mas acaso a virtude é monopólio de ricos e remediados? Creio que não.
          Na propaganda institucional, a pobreza no Brasil diminuiu, o poder de compra está em alta, o desemprego praticamente desapareceu... Mas, se a violência tem relação direta com a pobreza, como explicar que a criminalidade tenha crescido em igual ou maior proporção que a renda do brasileiro? Criminalidade e pobreza não andam necessariamente de mãos dadas.
          Na semana passada, a violência (ou a falta de segurança) voltou ao centro dos debates. O flagrante de um jovem criminoso nu, preso a um poste por um grupo de justiceiros deu início a um turbilhão de comentários polêmicos. Em meu espaço de opinião no jornal "SBT Brasil", afirmei compreender (e não aceitar, que fique bem claro!) a atitude desesperada dos justiceiros do Rio.
          Embora não respalde a violência, a legislação brasileira autoriza qualquer cidadão a prender outro em flagrante delito. Trata-se do artigo 301 do Código de Processo Penal. Além disso, o Direito ratifica a legítima defesa no artigo 23 do Código Penal.
          Não é de hoje que o cidadão se sente desassistido pelo Estado e vulnerável à ação de bandidos. Sobra dinheiro para Cuba, para a Copa, mas faltam recursos para a saúde, a educação e, principalmente, para a segurança. Nos últimos anos, disparou o número de homicídios, roubos, sequestros, estupros... Estamos entre os 20 países mais violentos do planeta. E, apesar das estatísticas, em matéria de ações de segurança pública, estamos praticamente inertes e, pior: na contramão do bom senso!
          Depois de desarmar os cidadãos (contrariando o plebiscito do desarmamento) e deixá-los à mercê dos criminosos, a nova estratégia do governo, por meio do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, é neutralizar a polícia, abolindo os autos de resistência.
          Na prática, o policial terá que responder criminalmente por toda morte ocorrida em confronto com bandidos. Em outras palavras, é desestimular qualquer reação contra o crime. Ou será que a polícia ousará enfrentar o poder de fogo do PCC (Primeiro Comando da Capital) ou do CV (Comando Vermelho) munida apenas de apitos e cassetetes?
          Outra aliada da violência nossa de cada dia é a legislação penal: filha do "coitadismo" e mãe permissiva para toda sorte de criminosos. Presos em flagrante ou criminosos confessos saem da delegacia pela porta da frente e respondem em liberdade até a última instância.
          No Brasil de valores esquizofrênicos, pode-se matar um cidadão e sair impune. Mas a lei não perdoa quem destrói um ninho de papagaio. É cadeia na certa!
          O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), o Estatuto da Impunidade, está sempre à serviço do menor infrator, que também encontra guarida nas asas dos direitos humanos e suas legiões de ONGs piedosas. No Brasil às avessas, o bandido é sempre vítima da sociedade. E nós não passamos de cruéis algozes desses infelizes.
          Quando falta sensatez ao Estado é que ganham força outros paradoxos. Como jovens acuados pela violência que tomam para si o papel da polícia e o dever da Justiça. Um péssimo sinal de descontrole social. É na ausência de ordem que a barbárie se torna lei.
          IVAN VALENTE

          O ASSUNTO DE HOJE: VIOLÊNCIA E DIREITOS HUMANOS
          A volta do Pelourinho
          Nosso país não precisa de milícias ou grupos de extermínio, mas de educação, segurança, distribuição de renda e igualdade de direitos
          A foto de um adolescente negro, deixado nu, sangrando após golpes de capacete e amarrado a um poste por uma trava de bicicleta correu o mundo. Ressuscitou-se o Pelourinho 125 anos após "o fim da escravidão", para regozijo de quem sempre está pronto para empinar o chicote e fazer justiça com as próprias mãos. Como se essa violência não gerasse mais violência e insegurança, em nome da segurança. Querem substituir o Estado pela barbárie.
          Diante da gravidade do fato, em vez de negar a barbárie, a jornalista Rachel Sheherazade, no jornal do SBT, em horário nobre, não só achou justificável a ação dos 30 justiceiros, como estimulou a atitude do que ela chamou de "vingadores". Ou seja, milícias, gangues e bandos que operam à margem da lei.
          O que é isso senão apologia ao crime, à tortura, ao linchamento, ao justiçamento? Em seu editorial, em busca de audiência e navegando no senso comum e no desespero da população com a violência, a âncora conseguiu violar a Constituição, o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), todas as convenções de defesa dos direitos humanos, o código de ética dos jornalistas brasileiros, o Código Penal e o Código Brasileiro de Telecomunicações e ainda debochou: quem se apiedou do "marginalzinho" que adote um "bandido".
          Por isso representamos a jornalista e o SBT junto ao Ministério Público Federal e Estadual (SP). O SBT afirmou que não se responsabiliza pelas declarações de seus âncoras, já de olho nas consequências legais. A jornalista afirmou que as críticas representavam censura. Refugiam-se covardemente na liberdade de imprensa e de opinião, mas sabem que as leis não amparam apologia ao crime, à tortura e ao linchamento.
          Por outro lado, o SBT sabe que rádio e TV operam por meio de outorgas concedidas pelo Ministério das Comunicações e aval do Congresso Nacional. Não é mera propriedade privada, como querem que acreditemos. A emissora tem sim responsabilidade sobre o que apresenta e o Ministério das Comunicações e o Congresso Nacional não podem se omitir em exercer sua prerrogativa de fiscalizar as concessionárias.
          Na Alemanha de Hitler, muito antes da guerra, os nazistas formaram grupos paramilitares, milícias aterrorizadoras (os Freikorps) que massacravam "inimigos" (judeus, comunistas, minorias), detonaram o monopólio da força pelo Estado e levaram o ditador ao poder. E deu no que deu. Aqui, o inimigo dos Freikorps do bairro do Flamengo são os jovens, negros e pobres, infratores ou não. Negam o Estado democrático de Direito e pretendem, com a criação de força paralela, com tortura e eliminação física, enfrentar a delinquência esquecendo o sistema que a gera. As históricas desigualdades e injustiças não podem ser resolvidas pela barbárie, mas pelo acolhimento do Estado.
          Defendemos a total liberdade de opinião. Mas, é um retrocesso entender que incitação ao crime está resguardada pela liberdade de expressão. O compromisso constitucional brasileiro é com a construção de uma sociedade fraterna, justa e solidária. Nosso país não precisa de milícias ou grupos de extermínio. O que precisamos é de mais educação, política social, segurança pública, distribuição de renda e igualdade de direitos. Única maneira de se conseguir a paz.

          De volta à Amazônia [Cláudia Andujar] - Silas Martí

          folha de são paulo
          De volta à Amazônia
          Famosa por documentar a vida dos índios nos anos 1970 e 1980, Claudia Andujar volta à floresta para criar série que será exposta em novo pavilhão no Inhotim
          SILAS MARTÍDE SÃO PAULOQuando Claudia Andujar primeiro teve contato com uma tribo de índios na Amazônia, a fotógrafa conta que nunca tinham visto uma mulher branca. "Eles não sabiam se eu era homem ou mulher, queriam me apalpar", lembra. "Mas não eram desconfiados. Isso era espontâneo, acontecia com gentileza."
          Mais de quatro décadas depois da primeira visita à selva, Andujar, 82, acaba de voltar à reserva dos ianomâmi, um território que se estende por Roraima e Amazonas na fronteira com a Venezuela.
          Nas terras que ajudou a demarcar, deu de cara com índios hiperorganizados, que viajam de táxi aéreo e armam enormes assembleias para defender seus interesses.
          "Fiquei muito surpresa com isso", conta Andujar, que não voltava à Amazônia havia dez anos. "Nunca vi tantos ianomâmis juntos."
          Nem havia fotografado a face moderna da tribo. Andujar agora pretende mostrar suas novas imagens, em cores, ao lado dos já clássicos retratos em preto e branco da tribo, num novo pavilhão dedicado à sua obra, que o Instituto Inhotim, no interior mineiro, inaugura em setembro.
          Será o maior conjunto de sua obra já exibido, com mais de cem imagens de "Marcados", sua série mais célebre, em que retratou os ianomâmi com números de identificação para uma campanha de vacinação nos anos 1980.
          "Naquela época, eu nem pensava em mostrar isso como arte", diz Andujar. "Esse projeto começou porque tínhamos de ir de aldeia em aldeia para para pegar os dados das pessoas, e eu fui fazendo os retratos delas."
          HOLOCAUSTO DOS ÍNDIOS
          Só mais de 20 anos depois é que os "Marcados" ganharam a relevância atual, quando a série foi exposta na Bienal de São Paulo em 2006. Foi então que Andujar, suíça de família judia que fugiu do Holocausto e se radicou no Brasil em 1955, fez a leitura mais contundente desses retratos.
          "Quando mandavam os judeus para os guetos, também marcavam todos eles com números. Minha família paterna, que era toda de judeus, foi parar nos campos de concentração", lembra. "Não sobrou ninguém. Só eu, porque minha mãe não era judia."
          No caso dos índios, o horror era outro, mas tão assombroso para ela quanto o genocídio comandado pelos nazistas. Andujar estava na Amazônia quando a construção da Perimetral Norte, estrada iniciada em 1971 e nunca concluída, levou brancos e suas enfermidades a tribos antes intocadas, sem imunidade a doenças comuns.
          "Aldeias inteiras foram dizimadas", diz Andujar. "Fiquei chocada. Isso me atingiu de um jeito tão profundo que decidi lutar para defender os índios dessa agressão."
          Mas três anos antes de fotografar os "Marcados" ao mesmo tempo em que vacinavam os índios, Andujar sofreu uma das maiores derrotas nessa briga. "Numa dessas viagens, depois de andar cinco dias a pé em Roirama, encontramos um desastre, uma aldeia onde a maioria dos índios já estava morta."
          Logo depois, Andujar conta que os militares no poder deram ordens para que ela fosse expulsa da Amazônia. Segundo a artista, tinham medo que uma "gringa" denunciasse o país por violações de direitos humanos.
          "Fui muito perseguida. Deixei de lado meu trabalho porque estava fora de mim", conta. "Não sabia mais o que fazer com a minha vida."
          Nesse tempo longe da selva, Andujar conseguiu mobilizar a opinião pública a favor da causa dos índios, um esforço que culminou na demarcação da reserva ianomâmi em 1992, que só foi possível pelos mapas da região que ela havia feito nas viagens.
          "Ninguém na época conhecia esse território. Foi às escondidas que elaborei esse projeto", diz Andujar. "Então o governo me pediu os dados para que pudessem estabelecer os limites do território."
          Seu retorno à Amazônia agora parece fechar um ciclo que começou com o encanto de uma estrangeira diante de um território virgem e terminou com uma história de ativismo que durou uma vida.
            Museu terá novo espaço de Olafur Eliasson
            DE SÃO PAULO
            Mesmo já tendo transformado a pacata Brumadinho, nos arredores de Belo Horizonte, em destino obrigatório na cartografia da arte, o Instituto Inhotim, do empresário do ramo de minério Bernardo Paz, não para de crescer e abrirá dois novos pavilhões em setembro deste ano.
            Um deles será uma grande galeria dedicada a toda a obra que Claudia Andujar fez na Amazônia, de seus primeiros contatos com os índios, passando pela série "Marcados" e concluindo com seu trabalho mais recente, que ela acaba de fotografar na floresta.
            Embora o Inhotim tenha outras obras da artista no acervo, a galeria projetada pela firma Arquitetos Associados, a mesma que fez os pavilhões de Miguel Rio Branco e Doris Salcedo no museu, será voltada só para seus trabalhos envolvendo os índios.
            Também será aberto em setembro um pavilhão para um trabalho do artista dinamarquês Olafur Eliasson, que já tem outras peças no museu.
            Seu novo pavilhão será, na verdade, um prédio-obra, desenhado pelo próprio artista. É uma estrutura circular que capta a luz natural do lado de fora e a projeta ao longo de uma linha na altura dos olhos do lado de dentro, concentrando raios coloridos num horizonte denso e artificial.
            "É uma escultura que é também arquitetura", diz Rodrigo Moura, diretor do Inhotim. "Haverá um corte ao longo da parede, uma faixa luminosa. É um projeto com uma presença arquitetônica."
            Também sinaliza o crescimento consistente do número de pavilhões no museu.
            Depois de abrir os espaços de Tunga, Lygia Pape e Cristina Iglesias há dois anos, o Inhotim inaugura dois pavilhões em setembro e outros ainda podem sair do papel nos próximos anos --já estão nos planos construções para Ernesto Neto e Anish Kapoor.
            Todas essas inaugurações, de dois em dois anos, pegam carona na semana de abertura da Bienal de São Paulo --quando o "jet-set" da arte global dá as caras no Brasil-- e já viraram uma tradição no calendário das artes no país.
            Em breve, fanáticos do mundinho também terão mais um motivo para visitar o Instituto Inhotim. Até o fim deste ano, deve ser aberto um hotel com 44 bangalôs, um novo restaurante e um spa completo em pleno museu.
            Nos planos de expansão, há conversas sobre uma nova estrada até o Inhotim e um aeroporto privado.

            José Simão

            folha de são paulo
            Ueba! Pizzolato vira Prezolato!
            E como diz uma amiga minha: 'Vou ligar a TV na Olimpíada de Inverno pra dar uma refrescada'
            Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
            Olimpíada de Inverno de Sochi! Liga a televisão e deixa refrescar a sala!
            Como diz uma amiga minha: "Vou ligar na Olimpíada de Inverno pra dar uma refrescada". Boa sugestão pra TV Minuto colocar no metrô de São Paulo!
            Uma amiga diz que pegou até resfriado! Se a TV for em 3D, neve a 48 graus!
            Sochi, a capital da homofobia: Sochi bem, Sochi tudo! Sochi o alho! Rarará!
            E adorei porque a Rússia é toda homofóbica! E na abertura da Olimpíada, um dos anéis queimou!
            Queimaram uma das rosquinhas do Putin! O Putin tem cinco rosquinhas! Rarará!
            E adorei a charge do San Salvador: "Presidenta Dilma, o Blatter tá perguntando se precisa trazer velas". Precisa! Jogo à luz de velas é super romântico!
            E corre na internet a foto do Alckmin enxugando o suor da testa e falando: "Ufa, que calor! Temos que aumentar o policiamento". Rarará! Que calor! Chama a PM!
            E diz que o Pizzolato mudou de nome pra Prezolato! Rarará!
            E atenção! Disney Urgente! Reviravolta no mundo animal: as macacas comeram os bambis!
            Ceni fez um gol, mas São Paulo perde pra Ponte Preta! Ninguém consegue passar por essa ponte!
            O Ceni fez um golseta/ enquanto você via isso/ Mais um gol da Ponte Preta!
            E a nova camisa do Timão? AMARELA! Cor de camiseta de juiz! Diz que é em homenagem aos amigos deles: os juízes.
            Homenagem ao 12º jogador do Corinthians. Rarará! Os amarelos amarelaram!
            E o Azeredo? Os mineiros estão danados com a mídia chamando o "mensalão tucano" de "mensalão mineiro".
            Se sentem ofendidos. E com toda razão! Rarará!
            É mole? É mole, mas sobe!
            O Brasileiro é Cordial!
            Olha o cartaz num pomar em Minas: "Roubar é crime/ Pedir é educado/ Estar sem as mãos é aleijado/ E se morrer é finado". Medo! Rarará!
            E essa outra na reserva ecológica de Tinguá: "Não pode jogar lixo nem bicho morto". Nem um ratão? Rarará.
            Nóis sofre, mas nóis goza!
            Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

              Instituto de direitos humanos entra com novas ações contra Estado do Rio

              folha de são paulo
              MÔNICA BERGAMO
              LUZ E SOMBRA
              O Instituto dos Defensores de Direitos Humanos do Rio entra hoje com quatro novas ações contra o Estado do Rio de Janeiro em nome de famílias de vítimas da polícia. A organização defendeu parentes do pedreiro Amarildo, que desapareceu depois de ser abordado por agentes de segurança.
              SOMBRA 2
              Um dos processos é da família do dançarino Gualter Damasceno Rocha, 22, o Rei do Passinho, que participava de programas como o de Regina Casé e Xuxa e cuja morte foi amplamente noticiada em 2012. Policiais são suspeitos de asfixiar o jovem depois de espancá-lo.
              SOMBRA 3
              Outro caso é o de Jackson Lessa dos Santos, 20, considerado o primeiro de violência policial numa UPP. Ele trabalhava com o pai como pedreiro. Foi morto por policiais com um tiro na nuca. "Desfiguraram o meu irmão", denunciou uma familiar à época. Outra ação se refere a um garoto de nove anos morto em um tiroteio. E a última, a um jovem de 22 anos levou um tiro fatal numa abordagem policial.
              BEM-VINDOS
              O governo de Minas Gerais espera receber pelo menos 20 mil argentinos na Copa de 2014. A seleção daquele país vai ficar hospedada no centro de treinamento do Atlético Mineiro, na região metropolitana de Belo Horizonte.
              ENVIADO ESPECIAL
              "É até pouco", diz o governador Antonio Anastasia, de Minas. Em dezembro, segundo ele, 20 mil mineiros foram ao Marrocos ver o jogo do Galo contra o Raja Casablanca pelo Mundial de Clubes. O time brasileiro foi eliminado.
              LÍDER
              E o governo Dilma Rousseff está enviando a cúpula do Exército para conversar com governadores que vão sediar a Copa 2014.
              TERRA DE VALOR
              O vídeo de um discurso em que o maestro Júlio Medaglia exalta São Paulo provoca discussões na internet. Num concerto no aniversário da capital, ele diz que a cidade tem "a maior frota de jatos particulares do mundo", "a maior revendedora da Ferrari", "a filial da Louis Vuitton que dá mais lucro" e "60% dos bilionários do Brasil". E ainda "é a cidade que mais bebe Romanée-Conti, o melhor vinho do mundo".
              TERRA DE VALOR 2
              Um internauta escreveu que o maestro se esqueceu de dizer que a cidade tem "um dos maiores índices de reacionários do mundo" e de "desigualdade social". O discurso foi ainda classificado como "patético".
              TERRA DE VALOR 3
              Medaglia diz que falou da SP da qual "a gente deve se orgulhar". Como "era hora de festa", não iria falar em mazelas, como "gente na favela". E conclui: "Abaixo desse grande apogeu deve ter coisas a serem resolvidas, mas aí já é com o prefeito".
              BEBÊ TOP
              Ana Hickmann e o marido, Alexandre Corrêa, posaram para a revista "Contigo!" na reta final da gestação do primeiro filho, esperado entre 15 de fevereiro e 15 de março: "Nunca me senti tão linda", diz ela
              BLINDADA
              Paris Hilton exigiu ver fotos do avião que a trará ao Brasil para a comemoração de seu aniversário na casa noturna Posh Club, em Jurerê Internacional (SC), no dia 28. Também pediu que seguranças a esperassem na chegada no aeroporto.
              ETERNAMENTE JOVENS
              Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli fizeram tratamento de nutrição celular para rejuvenescimento do rosto. O casal se submeteu a cinco sessões de "reestruturação dérmica": injeção com microagulhas, contendo fatores de crescimento produzidos em laboratório associados a 50 tipos de vitamina. "O produto vem da França e melhora viço, rugas e firmeza da pele", explica o dermatologista Jardis Volpe. Cada aplicação custa R$ 1.000.
              CURTO-CIRCUITO
              O restaurante Piselli fecha no próximo dia 24 para reforma e reabre no dia 14 de março, no jantar.
              O guitarrista Fernando Vidal apresenta tributo a Jimi Hendrix hoje no Na Mata Café, no Itaim, a partir das 22h. 18 anos.
              ALEGRIA DISPARADA
              O cantor e compositor Jair Rodrigues comemorou o aniversário de 75 anos com amigos, no restaurante Escondidinho, na Granja Viana. Além do apresentador Raul Gil e da cantora Wanderléa, o evento também contou com a participação de sua nora, a atriz Tania Khalill, da cantora Camilla Castro e do músico Wilson Simoninha, que foi acompanhado da mulher, a diretora de arte Camilla Sola.
              CONEXÃO NOVA YORK-SP
              Sussu Vidigal Ramos abriu sua casa anteontem, no Jardim Guedala, para convidados assistirem à transmissão do desfile da grife Diane von Furstenberg, em Nova York. Além da coordenadora de marketing da marca, Daniela Pizetta, também compareceram ao evento a estilista Patricia Bonaldi, a empresária Renata Queiroz de Moraes e o arquiteto Fabrizio Rollo.

                João Pereira Coutinho

                folha de são paulo
                Seymour Hoffman em Lisboa
                Os governos não salvam almas. Podem é salvar corpos --se houver oportunidade e vontade
                Se o ator Philip Seymour Hoffman morasse em Portugal, ele teria morrido com uma overdose de heroína? A pergunta pode parecer absurda. Mas ela foi formulada por um colega do "métier", Russell Brand, em artigo para o "Guardian".
                Tese de Russell Brand: o grandioso Seymour Hoffman morreu como normalmente morrem os viciados no produto. Só. Escondido. Longe de amigos e familiares. Isso se deve ao fato de os Estados Unidos continuarem a criminalizar a posse e o consumo de drogas, fazendo do viciado um pária.
                Exatamente o contrário do que acontece em Portugal, onde só o tráfico é punido criminalmente. A posse e o consumo deixaram de habitar o planeta criminal e são hoje uma infração administrativa, que termina muitas vezes com o tratamento do viciado.
                Russell Brand tem razão e não tem razão. Mas, primeiro, convém ir aos fatos. O jurista norte-americano Glenn Greenwald, em estudo intitulado "Drug Decriminalization in Portugal" para o Cato Institute (um "think tank" conservador), olhou para o caso português. E gostou do que viu.
                Em 2001, Portugal tornou-se o primeiro país da União Europeia a "descriminalizar" todas as drogas (heroína inclusa). Por outras palavras: recusando os extremismos que existem sobre a matéria --proibição absoluta ou liberalização absoluta-- os lusos optaram pela "via media".
                O consumo deixou de ser crime; passou a sofrer uma sanção administrativa (através de coimas, por exemplo). E o consumidor deixou de lotar os presídios; começou a ser encaminhado para o tratamento respectivo.
                Isso permitiu aos governos poupar recursos na punição judicial do viciado, reforçando os mecanismos terapêuticos. Ao mesmo tempo, os viciados que temiam as consequências criminais começaram a olhar para o tratamento do vício com outra atitude. Resultados?
                O consumo de drogas baixou na generalidade do país, ao contrário do que sucedeu nos outros parceiros da União Europeia. Doenças associadas ao vício --Aids, hepatite etc.-- também baixaram. E, claro, o número de mortes por consumo de drogas seguiu a mesma tendência.
                Último pormenor: Portugal não se transformou na Disneylândia do consumo europeu, desmentindo os cenários mais catastrofistas. A vida corre normalmente por aquelas bandas e ninguém pensa em reverter a legislação sobre a matéria.
                O estudo de Glenn Greenwald sobre o sucesso português, disponível na internet (http://bit.ly/1gDkMgD), merece ser lido por qualquer governo interessado em enfrentar o problema das drogas no seu país.
                Mas é preciso uma dose homérica de ingenuidade para restituir a vida a Philip Seymour Hoffman, imaginando o ator em Lisboa.
                A legislação portuguesa tem limites. E esses limites começam quando existe uma vontade irreprimível do sujeito em promover a sua própria destruição. Os governos não salvam almas. Podem é salvar corpos, se houver oportunidade e vontade de os encontrar.
                Porque, no fundo, o problema das drogas é anterior a qualquer lei. Ele começa, e às vezes acaba, nesse vazio imenso por onde se perdeu agora um dos maiores criadores do cinema do nosso tempo.
                P.S. - O meu texto da semana passada, "Profissionais e amadores", animou diálogos hilariantes com alguns leitores. Leitores, vírgula: "cibercondríacos" que usam a internet para diagnosticar doenças próprias ou alheias.
                Alguns partilharam relatos pessoais de como corrigiram os médicos, sugerindo diagnósticos alternativos (e de sucesso) com base em informação dispersa na rede.
                E todos, ou quase, confessaram interesse em comprar os "gadgets" que prometem medir os comportamentos do corpo no futuro próximo. "É como usar a balança para vigiar os quilinhos em excesso", disse-me uma leitora paulistana.
                Talvez seja, talvez não seja. Mas, aqui entre nós, não deixa de ser horripilante imaginar um mundo onde existirão dez ou 20 "balanças" em casa. E que serão depois experimentadas por milhares ou milhões de seres humanos, diariamente, como um ritual obsessivo-compulsivo, antes de saírem para o trabalho.
                Mantenho a minha tese: às vezes, ignorância é felicidade.

                  Janio de Freitas

                  folha de são paulo
                  Um Amarildo sem polícia
                  O disparo do rojão foi muito esclarecedor da índole criminosa que muitos ainda negam ao 'black bloc'
                  Um fato, dois aspectos: a agressão homicida a uma pessoa e o ataque a um repórter por sua atividade. Misturar os dois aspectos é ruim para ambos e péssimo para a sociedade.
                  A razão que levou Fábio Raposo Barbosa a se apresentar à polícia, por conselho de um advogado, é perceptível: está no seu braço. Ao usar manga comprida em sua apresentação à polícia, ele quis, e conseguiu, que ninguém prestasse atenção no seu braço, ali ou depois. O braço já dizia tudo a seu respeito. Sua agressividade já se expõe no tipo de imagem escolhido para tatuar-se: arma, punhal e lâmina de ataque. Estavam à vista no dia da baderna e terminariam por ser observadas para a busca de identificá-lo. Melhor apresentar-se com uma ficção e tatuagens à vista.
                  O disparo do rojão foi muito esclarecedor da índole criminosa que muitos ainda negam ao "black bloc", use ou não esse nome. As imagens móveis mostram que Fábio e seu comparsa caminham em direção determinada, não ao acaso. O segundo avança para depositar o rojão em certo lugar do solo. E, é nítido, ajeita-o para ficar precisamente assim: em direção a uma pessoa de pé, sozinha, tão desprevenida que nem percebe o que se passa ali --está de costas, e é para suas costas que aponta o artefato conduzido por Fábio Raposo e apontado por seu comparsa.
                  Uma poderosa bomba de fogo e som em velocidade fulminante, dirigida, deliberadamente, contra uma pessoa indefesa. "Não havia a intenção de matar". E precisaria haver? O que foi decidido fazer, o que foi feito, como foi feito e por que foi feito dispensava qualquer consideração sobre consequências.
                  Um Amarildo sem a PM. Foi esse o primeiro aspecto.
                  Passa-se com a minoria, mas faz parte da profissão de jornalista estar onde, por segurança, não deveria; meter-se com assunto que atrai problemas não controláveis; escrever na contramão da conveniência. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo registra 117 incidentes sofridos por repórteres, fotógrafos e cinegrafistas desde que manifestações degeneraram sob a ação de arruaceiros violentos. O número é alto demais. Mas não haveria muito o que fazer para que fosse significativamente menor.
                  A violência que coube nas telas das pouquíssimas TVs que a mostraram foi muito menor do que a violência real (o mesmo ocorre com a bandidagem das "torcidas" de futebol). Capacete, colete protetor, a indumentária individual atenua um ou outro incidente, e só. Entidades de jornalistas ontem procuravam encontro com o ministro da Justiça, para pedir proteção ao trabalho de jornalistas. A proteção que governos podem dar é cerceadora do jornalismo, com espaços designados para estarem, ou policiais a acompanhar grupos limitando-lhes a escolha de direções e movimentos, nada que combine maior segurança e bom jornalismo. Onde e quando foi tentado, deu errado.
                  O número anotado pela Abraji vem, no entanto, de mais que da vulnerabilidade dos jornalistas. Vem de uma intenção que agora eliminou qualquer dúvida a respeito. Santiago Andrade não se tornou vítima por acaso. O escolhido da dupla de marginais foi o repórter, cinegrafista, jornalista. Que oferecia, sozinho, de costas, o momento perfeito para os dois tipos facinorosos. Nem sabiam quem era, para quem trabalhava, o que pensava. Era um repórter-cinegrafista, e então devia ser a vítima do explosivo levado exatamente para um ato facinoroso, qualquer ato facinoroso com qualquer consequência.
                  Uma pessoa, não importa quem, foi assassinada por arruaceiros que se valem de manifestações a serem pacíficas. Violência tão claramente deliberada, que apaga toda dúvida remanescente sobre a necessidade de providências contra crimes a título de manifestações democráticas.
                  Um repórter foi assassinado na ação profissional de registrar uma arruaça que tende a reproduzir-se, como anunciado em vários Estados. Uma tragédia anterior levou à melhoria de condutas e possíveis proteções para as coberturas de risco. É ocasião de avançar nessa linha, de jornalistas para jornalistas.
                  Misturar os dois aspectos cria muita emoção e pouco resultado para o que a sociedade precisa.