sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

HIV provoca 'suicídio em massa' de células de defesa

folha de são paulo

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DÉBORA MISMETTI
EDITORA DE "CIÊNCIA+SAÚDE"

Um processo inflamatório seguido por uma forma "explosiva" de morte celular está por trás da destruição do sistema de defesa de quem tem HIV, de acordo com duas pesquisas publicadas hoje nas revistas "Nature" e "Science".
Os estudos vão além, ao propor que um anti-inflamatório que já está em testes com humanos para tratar psoríase (doença inflamatória que se manifesta na pele) e epilepsia seja avaliado em pessoas com HIV, para evitar que suas células de defesa CD4 morram.
Os trabalhos, feitos pelo laboratório liderado pelo pesquisador Warner Greene, dos Institutos Gladstone, nos EUA, afirmam ter desvendando pela primeira vez os caminhos químicos exatos que levam a essas reações responsáveis pela morte da maior parte das células de defesa CD4, linfócitos que são o alvo do HIV.
Diferentemente do que se possa pensar, só uma minoria das células CD4 morre por causa da infecção pelo HIV propriamente dita.
Cerca de 95% das células que morrem acabam se "suicidando" após tentativas frustradas do vírus de completar seu ciclo.
O "ideal" para o HIV é se ligar ao linfócito CD4 e escravizá-lo para produzir novas partículas virais. Mas na maioria dos casos o processo de replicação não se completa, deixando só restos de DNA viral na célula.
Os restos causam uma reação inflamatória que leva à morte da célula. Esse processo "explosivo" espalha o conteúdo do citoplasma da célula morta, que contém substâncias pró-inflamatórias. Elas atraem novas CD4 e o ciclo começa de novo.
"Sempre se discutiu qual é o mecanismo que leva pessoas com HIV a ter essa grande deficiência imunológica, porque o número de células infectadas no corpo é relativamente pequeno, e o HIV não mata a célula de imediato, ele a usa para se multiplicar", afirma o infectologista Artur Timerman, do Hospital Edmundo Vasconcelos, em São Paulo.
Como o nome já diz, a Aids (síndrome da imunodeficiência adquirida) é caracterizada pela redução da capacidade do corpo de manter duas defesas. Hoje, as drogas do coquetel anti-HIV conseguem interferir no processo de replicação do vírus, reduzindo sua presença no corpo, mas não acabam com ela completamente.
Se fosse possível evitar a destruição do sistema imune, a pessoa ficaria só com o vírus em circulação, mas sem sofrer seus efeitos.
Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress
NOVA DROGA
O novo estudo avaliou a capacidade de um anti-inflamatório evitar a morte de linfócitos. Os pesquisadores usaram tecido linfático retirado das amígdalas e do baço de pessoas com HIV e testaram a ação do medicamento em comparação com um antirretroviral. A ação de ambos em reduzir a morte das células foi similar.
A inflamação já é uma característica conhecida dos pacientes com HIV. Segundo Timerman, em exames clínicos e laboratoriais, percebem-se os sinais da inflamação. "Por isso os infectados envelhecem mais rápido, têm mais aterosclerose e até câncer. Há uma inflamação crônica."
Uma das ideias dos autores do novo estudo é aliar o anti-inflamatório aos antirretrovirais para combater esse processo inflamatório, que também pode ser uma via responsável pela permanência do HIV latente nos tecidos do corpo mesmo em pessoas com carga viral indetectável por conta do tratamento com antirretrovirais.
"Os dados mostrados no estudo são bastante convincentes, mas ainda precisam ser comprovados na prática clínica", diz Timerman.

Ruy Castro

folha de são paulo
A causa da liberdade
RIO DE JANEIRO - Há um mês, a convite do Instituto de Referência da Imagem e do Som, de Fortaleza, doze biógrafos foram falar de seu ofício na capital cearense. Durante quatro dias, em lonas lotadas por um público atilado e vibrante, discutimos métodos de trabalho, a análise de cada partícula de informação, o que usar e o que deixar de fora, o respeito ao anonimato das fontes e outros prazeres e agruras do gênero.
Pela expressão dos rostos, via-se que a plateia se admirava com a complexidade da preparação de uma biografia e com a descoberta de que nenhum biografado existe no vazio. Está cercado de pessoas próximas, estas, por sua vez, remetendo a outras, e todas, compondo o mosaico de uma cidade, um país, uma época. A fazer da biografia --o levantamento de uma vida-- um ramal personalizado da ciência maior, que é a história.
Por ter sido planejado em julho, foi por acaso --um feliz acaso-- que o congresso se deu simultaneamente à luta em defesa das biografias não autorizadas e contra a sanha censória desencadeada por alguns artistas comandados por Roberto Carlos. Falou-se muito do assunto nos debates. E, pela amostra da plateia cearense, pode-se dizer que a opinião pública optou esmagadoramente pela liberdade de expressão.
Ao fim dos trabalhos, produziu-se um documento, a "Carta de Fortaleza", alertando para o fato de que essa luta não é só dos biógrafos. Interessa também aos historiadores, documentaristas, ensaístas, pesquisadores, jornalistas --e aos brasileiros em geral, cujo acesso à história precisa ser sagrado.
Um dos nossos sugeriu brincando que, se os inimigos das biografias independentes --Roberto Carlos, Chico Buarque, Gilberto Gil, José Sarney, Paulo Maluf e outros-- fizessem um congresso próprio para defender suas ideias, a causa da liberdade venceria mais depressa.

    Dupla de artistas espalha fotos em árvores e postes de SP

    folha de são paulo

    Dupla de artistas espalha fotos em árvores e postes de SP


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    DE SÃO PAULO

    Há quanto tempo você não revela um filme fotográfico?
    A arquiteta Adriana Iura, 38, e a fotógrafa Tatiana Giustino, 38, fazem isso quase todos os dias. Cansadas de ver imagens escondidas em HDs e celulares, elas radicalizaram e começaram a pendurar suas fotos em postes e árvores de São Paulo.
    Há um recado simples junto a todas as imagens: "Pegue a foto". O conselho é literal: todas imagens estão ali para serem levadas –assim, de graça.
    Mas por que transformar a cidade num grande álbum?

    Pegue a foto

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    Divulgação
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    No projeto "Pegue a foto", artistas penduram fotos em árvores e postes de São Paulo
    Adriana explica: "Lembra como era gostoso esperar revelar o filme para ver se a foto ficou boa? Ninguém mais faz isso. O trabalho brinca com essa nostalgia. E também ajuda a embelezar São Paulo", diz.
    Do fim de setembro até hoje, 350 fotos foram distribuídas na Vila Madalena (zona oeste) e Moema (zona sul). A dupla reconhece que ambos não são exatamente os melhores exemplos de bairros feios.
    "Estamos bem no começo, esses são bairros onde costumamos caminhar. Mas queremos também espalhar em outros lugares, como centro e periferia", diz Adriana.
    Não há um tema específico ou uma narrativa nas fotos penduradas nas ruas. "Conjugamos nossos gostos: tem arquitetura, flores, fotos coloridas, preto e branco também."
    O tipo de foto também varia –de filmes de 35 mm e 120 mm a Polaroids e câmeras digitais.
    "Já vimos gente levando para casa e gente pegando e jogando fora na hora. Faz parte, a ideia é ajudar as pessoas a perceberem a cidade no 'micro', não no 'macro'".
    Ambas bancam as impressões do próprio bolso. "Há sim um investimento, mas é um projeto de coração. Não temos intenção de ganhar nada com isso, fazemos com carinho", diz a arquiteta.

    José Simão

    folha de são paulo
    Marrocos! Galo vira Marrecos!
    Clube Atlético Mineiro: o CAM! CAM quer dizer Coitado do Atlético em Marrakech! Rarará!
    Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E adoro essas manchetes de Pernambuco: "Velhinho preso por mamar na jumenta". Tadinho do velhinho, vai pra Papuda também? Rarará!
    "Dilma compra 36 caças suecos Gripen." Então a Dilma não comprou um caça, comprou um resfriado: GRIPEN! Então Saúden! O sueco já vem espirrando!
    E atenção! Marrocos Urgente! O Galo virou Marrecos! Os marroquinos e os marrequinhos! O Atlético perdeu pro Raja Casablanca! Todo galo tem seu dia de canja! Foi Galo e voltou Canja!
    E como gritaria o Galvão: "Raja Coração, Amigos". Rarará.
    Clube Atlético Mineiro: o CAM! CAM quer dizer Coitado do Atlético em Marrakech! E diz que eles voltaram de CAMelo! Rarará! Esculhambação, viu! E o tuiteiro Miltoshiba lembra a clássica cena do clássico Casablanca: "Play it again, CAM!". Rarará! E confundiram o Ronaldinho Gaúcho com um camelo. Aqueles dentões de camelo! Rarará!
    E lá no Marrocos todos têm a cara do Romário! Que foi flagrado no show do Luan Santana com uma trans. Pra pagar a língua pelas indiretas ridículas que ele dava pro Ronalducho Fofômeno!
    O problema não é a trans, é o show do Luan Santana! Rarará! O Romário é gordura trans! Rarará!
    E o versinho do dia: "Enquanto o mineiro xingava/ mais um gol do Raja". E a piada pronta: a maior e mais tradicional churrascaria em BH se chama: RAJA GRILL! Na avenida Raja Gabaglia! Haja Raja! Churrascaria Raja Grill! Tradução: O Raja Riu! O Raja Grill vai servir galeto no espeto!
    E diz que os atleticanos foram conhecer o deserto e gritaram: "Nossa, quanto polvilho, dá pra fazer uma tonelada de pão de queijo!". E eu tô zoando com os mineiros, mas eu adoro Minas. Já viajei muito por Minas. Um monte de montanhas com gente dando adeus! A coisa mais fofa!
    E tem aquela minha amiga perua que é tão chique que chama o Aleijadinho de Aleijadérrimo. "Vou pra Minas comprar obras do Aleijadérrimo". Rarará.
    E sabe como mineira chama sexo oral? Chupar um queijo! Rarará! Tô esculhambando de novo. Como diz um amigo mineiro: "Por que, Jesus?". E o Galo tá cantando A Galinha Pintadinha! Rarará.
    Nóis sofre, mas nóis goza! Hoje, só amanhã! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

    Michel Laub

    folha de são paulo
    Um pouco de silêncio
    O pior pecado de um colunista é ser previsível. O segundo é se apaixonar pela própria retórica
    Para um cronista de meio século atrás, digamos, o maior temor era a falta de assunto. Hoje é o contrário.
    Desde o surgimento da internet, é difícil ler um texto como "A Boa Manhã", de Rubem Braga, que identifica a felicidade com a ausência do que dizer. Em qual dia de 2013, ano em que houve o julgamento do mensalão, os protestos de junho, o intérprete falso no funeral de Mandela e a glória do rei do camarote, foi possível resistir à compulsão de se expressar?
    Não que o mundo seja mais movimentado hoje. O que aumentou foram os veículos para que corram versões dos fatos. O modernismo errou ao decretar a morte da narrativa. Idem quem segue falando da morte da ficção. Pois o que mais há agora são narrativas ficcionais: o tipo de relato sobre nós mesmos, mediado pela idealização --tudo falso, portanto-- que fazemos de nossa inteligência, cultura, humor e experiência social.
    O pior pecado de um colunista é ser previsível. Caio nele com frequência, como o leitor deve perceber, mas tento fugir do figurino tradicional dos que agem assim: blocos monolíticos de opinião, que alinham qualquer controvérsia --do casamento gay ao modelo de exploração do campo de Libra-- segundo um sistema que parece coerente.
    Só parece: muita gente defende a liberação das drogas e é a favor de restrições policialescas para o tabaco. Parte dos que condenam o aborto baseados no princípio de proteção à vida apoiam a pena de morte. Parte dos que advogam a separação entre religião e Estado no Ocidente se enchem de tolerância multiculturalista ao analisar teocracias. O paradoxo não impede, claro, que se aponte o dedo para a desonestidade, agressividade e ignorância dos adversários.
    (Para não deixar dúvida: sou a favor do casamento gay e da adoção de crianças por pessoas do mesmo sexo. A favor da separação entre Estado e religião sempre. A favor do tratamento de drogas e aborto como questões de saúde pública, e não de polícia. Contra a propaganda de cigarro e a pena de morte. Nada tenho a dizer sobre o campo de Libra.)
    O segundo pior pecado de um colunista é se apaixonar pela própria retórica. Como a frase melhora quando tiramos dela as adversativas, não é mesmo? Tudo fica mais irônico e viril. O ritmo do parágrafo anterior, que já não é lá muito harmonioso, ficaria pior se eu incluísse a construção "não acho, todavia, que religiosos são obscurantistas por definição".
    Ou "no debate do aborto, estou mais do lado pragmático --que tenta evitar mortes de mães em partos sem cuidados e desestruturação familiar por gravidezes não desejadas-- que no de princípios, pois tenho dificuldade em lidar com o conceito político' de vida".
    Ou "no das drogas, ao contrário, penso mais na liberdade de cada um usar o que quiser, fazendo mal a si mesmo inclusive, que nas consequências. Tenho dúvidas se o consumo diminuiria com uma flexibilização da lei. E se o crime organizado não mudaria apenas de droga ou de ramo, caso perdesse os atuais lucros com a maconha".
    Ocorre que é nas adversativas que pode estar a precisão. O estilo piora, mas é difícil pensar sobre um tema sem ao menos testar --com a empatia que estiver ao alcance-- a viabilidade lógica e moral do argumento contrário.
    Algumas coisas são inegociáveis, claro, mas nem toda ponderação é sinônimo de relativismo covarde. Assim como nem toda omissão. Pierre Bayard escreveu um ensaio divertido chamado "Como Falar dos Livros que Não Lemos" (Objetiva).
    Gostaria que alguém escrevesse um com a tese oposta: como resistir em falar dos livros que lemos, dos filmes que vimos, do que aparece na TV ou do que comemos no almoço, e do trânsito e da poluição e da péssima qualidade dos serviços na cidade e assim por diante.
    Seria um bom final para este longo 2013: um pouco de vazio e tédio em vez do fetiche do registro e do movimento. Uma paisagem à beira da praia sem o filtro de um aplicativo. Nenhuma hashtag comentando o desempenho sexual de ninguém. A experiência fora do alcance do relato, a vida que não precisa ser classificada e explicada nos limites --sempre mais estreitos-- da linguagem.
    Um pouco de silêncio, portanto.
    Feliz Natal. Feliz Ano-Novo. E boas férias para mim (deve dar para perceber que estou precisando).

      Petista mostra coragem para peitar as máfias de 'Gotham City' - Barbara Gancia

      folha de são paulo
      Coxinha lembra Erundina
      Alô, paulistada chorona! Sem tomar riscos e demonstrar resiliência não anda. Manda a brasa, coxinha!
      Explique-me se puder, você que faz parte dessa gente bron­zeada e saiu às ruas para pro­testar contra "tudo isso que está aí". Alguém consegue conceber a re­forma de uma quitinete, que seja, sem causar incômodo?
      Estou curiosa: como se pretende romper o muro (rodoanel?) da de­sigualdade que insiste em embru­tecer nossa cidade sem passar por alguns percalços?
      Tudo bem, a imagem é pretensio­sa e talvez exija recursos mentais dos quais, por ora, não dispomos. A visão de uma São Paulo inclusiva, em que uma Paraisópolis possa conviver harmoniosamente com um Morumbi ainda não aterrissou em Congonhas ou desembarcou na rodoviária do Tietê.
      Mas por que saímos às ruas então? Não foi por mudanças? Se existis­sem pesquisas de opinião na época da construção dos aquedutos ro­manos, será que a turma acusaria algum desconforto quanto às obras? "Aumentou o tráfego de bi­gas perto de casa, aquilo está um fe­dor de estrume que só vendo".
      Não é preciso ir tão longe. Basta lembrar da revolta ocorrida quan­do Oswaldo Cruz iniciou o mutirão da vacinação.
      Tudo isto para dizer que o paulis­tano é um desorientado que fala uma coisa e faz outra. Saiu às ruas pedindo melhores serviços, mas quer que isso aconteça num piscar de olhos, como se fosse possível dormir em Perdizes e acordar em Bel Air, só porque quis assim.
      O Minhocão é o monumento maior ao modelo "recauchutagem rápida", dá-lhe um tapa e não se fala mais nisso, de uma cidade sem pla­nejamento de longo prazo e sem modelo do que quis ser quando crescesse, que não ousou passar por mudanças algo dolorosas para endireitar e deu nisto.
      Está na hora de amadurecer. An­dei pensando e estudando o nosso prefeito. E cheguei a algumas con­clusões. Para começar, alguém que consegue desagradar Lula, Paulo Skaf, Serra, Kassab e Geraldo Alck­min ao mesmo tempo deveria rece­ber, o quanto antes, a medalha da Ordem do Rio Branco.
      Ué? O sapo barbudo não disse que seria melhor se Haddad tivesse perdido? Pronto. Sinal que deve ser o cara certo para a missão. E, olha só: o sujeito foi adjunto do Sayad (ponto) inventou os CEUs (fre­quento e sei da importância --mais um ponto), inventou também o Prouni a custo zero para o governo (golaço) e está indo lá enfrentar so­zinho o STF. Quem o chama de bur­raldo e ingênuo só pode estar mal informado, né não?
      Lembro do Brasil intei­ro xingando o Parreira de burro na Copa de 1994. Da classificação até a final. Pois é. Fernando Haddad criou uma controladoria que co­meçou detonando --veja só-- a máfia da construção e do mercado imobi­liário. E carro, numa visão de admi­nistrador que trabalha pensando nos próximos 50 anos, é para ficar na garagem e servir só para fim de semana. Então cada um que segure sua onda por enquanto. Sem o sa­crifício voluntário de cada britâni­co, os aliados não teriam vencido a 2ª Guerra, sabia não?
      São Paulo sofre as consequências de décadas de soluções levianas e pilhagem. E ainda tem de arcar com uma população de bebês chorões, comodistas e hipócritas. Pois eu folgo em saber que alguém tem co­ragem de peitar as máfias que do­minam Gotham City, a despeito da chiadeira, das pesquisas de opinião e de estarmos em véspera de elei­ção. Admiro quem toma riscos e de­monstra resiliência. Manda a bra­sa, coxinha!