quinta-feira, 6 de março de 2014

Drogas anulam HIV em 2º bebê

folha de são paulo
POSSÍVEL CURA
Drogas anulam HIV em 2º bebê
DO "NEW YORK TIMES"
Quando cientistas anunciaram no ano passado que um bebê nascido com HIV tinha sido curado por meio de um tratamento agressivo com drogas iniciado só 30 horas depois do parto, houve um ceticismo. Ontem, porém, com a revelação de um segundo caso similar, resta pouco espaço para dúvida de que o tratamento funcionou.
O novo registro de sucesso foi anunciado ontem numa conferência sobre HIV que ocorre agora em Boston. Deborah Persaud,virologista do Centro Infantil Johns Hopkins envolvida no teste, afirma que é possível que haja mais cinco casos similares no Canadá e três na África do Sul. No primeiro registro de uma eventual cura, cientistas ainda questionavam se a criança teria sido realmente infectada antes do tratamento.
Um teste clínico com outros 50 bebês nascidos infectados será iniciado daqui a três meses, administrando o tratamento em até 48 horas depois do parto.
Se o teste der certo - os bebês precisarão ser acompanhados por vários anos para atestar o sucesso.
O segundo bebê a ter sido possivelmente curado --uma menina nascida em Long Beach, na Califórnia-- já está há nove meses sem dar sinal de infecção pelo HIV.
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Crimeia - Kenneth Maxwell

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Crimeia
A Crimeia já viu conflitos internacionais no passado. A Guerra da Crimeia, de 1853 a 1856, foi um desastre para todas as partes envolvidas, tendo causado mais de 300 mil mortes --80 mil em combate, 40 mil por ferimentos e mais de 100 mil por doença. O Exército britânico, por exemplo, perdeu 2.755 homens em ação, 2.019 por ferimentos e mais de 16 mil por doença.
A Guerra da Crimeia envolveu uma aliança entre o Império Otomano, a Grã-Bretanha, a França e a Sardenha contra uma Rússia expansionista. Resultou de erros fatais de líderes ineptos, que também respondiam a uma opinião pública ativa, alimentada por notícias rapidamente distribuídas pelos novos cabos telegráficos, instalados inicialmente no mar Negro por franceses, em 1854, e, em seguida, por britânicos, em 1855. Depois disso, as notícias chegavam a Londres em um dia. A Guerra da Crimeia foi o primeiro conflito a ser registrado pela fotografia, então uma nova invenção. Mas o conflito foi mais notável pelos múltiplos erros logísticos, táticos e médicos de todos os envolvidos.
A Rússia desejava um porto de águas quentes no mar Negro e avançavam rumo ao sul, sobre território governado havia muito pelos turcos otomanos. Os russos alegavam defender os cristãos ortodoxos contra o domínio muçulmano; a França reivindicava o direito de proteger os católicos da região. Isso, porém, eram desculpas para camuflar objetivos geoestratégicos e financeiros conflitantes no mar Negro e no leste do Mediterrâneo.
A Rússia perdeu no médio prazo, e também os otomanos. O conflito produziu momentos memoráveis. Os russos resistiram por mais de um ano na fortaleza de Sebastopol. A batalha de Balaclava entrou para a história pelo desastroso avanço da brigada leve da cavalaria britânica contra os canhões russos, celebrada em famoso poema de lorde Tennyson.
As consequências da guerra foram múltiplas. No Báltico, Immanuel Nobel, pai de Alfred, o criador do Prêmio Nobel, ajudou a Rússia ao adaptar explosivos industriais, nitroglicerina e pólvora para o uso em minas navais. Nos campos de batalha da Crimeia, Florence Nightingale e a enfermeira jamaicana May Seacole revolucionaram o tratamento de soldados feridos.
A Rússia terminou por se expandir e incorporar a península da Crimeia, estabelecendo sua frota no mar Negro. Em 1954, o líder soviético Nikita Khruschov decidiu que a Crimeia seria parte da Ucrânia, claramente não prevendo a cisão da União Soviética.
Mas duvido de que o presidente Putin e o presidente Obama saibam muito sobre tudo isso, enquanto tropeçam rumo a uma nova batalha de vontades sobre um território onde ecoam precedentes muito antigos e muito infelizes.

Beijo na orelha - Paula Cesarino Costa

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PAULA CESARINO COSTA
Beijo na orelha
RIO DE JANEIRO - Acabou mais um Carnaval. Quer dizer, no Rio, só acaba mesmo no próximo domingo. Mas a maior parte dos turistas foi embora, com lembranças que provavelmente misturam diversão e sofrimento.
A chegada à cidade para quem veio de ônibus, carro ou avião foi caótica. É injustificável que o Rio não consiga resolver o problema de táxi e ônibus suficientes para a demanda em seu aeroporto internacional.
A prefeitura tem de exigir que os táxis dos pontos do Galeão e do Santos Dumont trabalhem com o máximo de operadores. Quem chegou de ônibus ou carro sofreu com o trânsito desorganizado nas entradas da cidade. A falta de orientação sobre como sair da rodoviária transformou as redondezas em área fértil para malandros.
Os roubos e furtos se diversificaram. Assaltantes se disfarçaram de foliões e muita gente foi furtada no meio dos blocos ou no metrô. Outro aproveitou a ciclovia e, armado, roubava quem caminhava pela Lagoa.
O desfile das escolas de samba há muito é mais frequentado por quem vem de fora do que por cariocas. Se as escolas desfilam organização, é constrangedor ver senhoras alemãs, grupos de japoneses, famílias espanholas --que pagaram caro-- terem de sair do sambódromo desorganizadamente, sufocadas na multidão e andando perigosamente entre os ônibus para voltar a seus hotéis.
Ainda assim centenas de milhares dançaram e cantaram felizes por ruas, salões, camarotes e arquibancadas. Trouxeram dinheiro e estimularam a economia da cidade.
Fica a dúvida: por que é tão difícil uma cidade com vocação turística se organizar e se preparar para eventos que acontecem todos os anos praticamente da mesma forma?
Foi extasiante ver o beijo do governador na orelha do prefeito, símbolo de uma relação carnavalesca. Mas a qualidade dos serviços que os dois gestores lideram mandou um beijinho no ombro para quem os sustenta.

Lepo Lepo paulistano - Alan Gripp

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ALAN GRIPP
Lepo Lepo paulistano
SÃO PAULO - Parte expressiva dos paulistanos prefere passar as férias no Turcomenistão a encarar quatro dias de folia. A esses, sinto dizer, o Carnaval de rua de São Paulo pegou no tranco, confirmando os prognósticos pré-momescos.
O ziriguidum por aqui foi barulhento: mais de 200 blocos, pelo menos o triplo do ano passado, desfilaram pela cidade, contrariando a alcunha de "túmulo do samba", provocação eternizada pelo carioca Vinicius de Moraes.
O fato é que a metade de São Paulo afeita à batucada parece cada vez menos disposta a enfrentar os Carnavais saturados de Salvador e Rio, que neste ano brindou os foliões com alegorias de lixo pelas ruas --de fazer inveja ao desfile histórico de Joãozinho Trinta na Beija-Flor.
Um ponto importante a ser exaltado é que o renascimento paulistano está cada vez mais descolado do monótono e repetitivo espetáculo das escolas de samba.
O Carnaval do Anhembi teve um ano daqueles. Arquibancadas vazias, pouquíssima imaginação e a sombra das torcidas organizadas de futebol parecem condenar os desfiles ao interesse de um grupo cada vez mais restrito.
Nas ruas, ao contrário, o Carnaval paulistano foi espontâneo e gratuito. Mais inspirado na retomada carioca do que na folia baiana. Com um empurrão oficial: neste ano, a prefeitura decidiu proibir cordões e a cobrança por abadás. Melhor assim, convenhamos, do que pagar R$ 3 mil para pôr o Lepo Lepo no bloco.
O lado ruim dessa história é que ainda está para surgir a cidade brasileira capaz de reunir um grupo significativo de pessoas sem que isso resulte num pequeno caos.
Organizar o trânsito, evitar a concentração de blocos numa região (como aconteceu na Vila Madalena), limpar as ruas depois do batuque e oferecer banheiros públicos em número razoável são um bom começo. Do contrário, a turma do Turcomenistão vai chiar. E com razão.

    Minha carroça, minha vida - Roberto de Oliveira

    folha de são paulo
    Minha carroça, minha vida
    Casal de catadores de material reciclável transforma veículo em morada nosJardins, a uma quadra e meia da avenida Paulista, ao lado do parque Trianon
    ROBERTO DE OLIVEIRADE SÃO PAULO
    Latinhas, latões, madeiras, cabos, fios e outras bugigangas compõem uma espécie de ferro-velho estacionado numa área nobre de São Paulo. Uma lona preta esconde a parte interna da carroça. Difícil acreditar, mas latidos denunciam: há vida ali dentro.
    Nega, Negão e Pretinha, três cães sem raça definida, vivem na carroça --e eles não estão sozinhos. Os catadores de material reciclável Cacilda do Carmo, 57, e Marcos Gonzales, 46, são donos dos bichos e do carrinho "turbinado", este bem diferente dos que paulistanos estão acostumados a ver trafegar pela região do parque Trianon.
    Na "casa" montada sobre rodas, guardam roupas, colchões, cobertores, escassos documentos, ferramentas e outras quinquilharias. Dormem e tomam banho (de balde) dentro dela.
    Ainda na parte interna, o "banheiro" é improvisado à noite em saquinhos plásticos, depois dispensados no lixo.
    O veículo está estacionado na rua, à esquerda de quem desce a Peixoto Gomide, ao lado do parque Trianon, a uma quadra e meia da Paulista, nos Jardins. Divide o espaço com carros e motos.
    "Por aqui, todo mundo me conhece. Essa região é boa demais", diz Gonzales.
    Às vezes, Cacilda organiza às pressas uma cozinha ali ao lado, mas, geralmente, os dois dividem uma marmitex.
    MATRIZ E FILIAIS
    Além da "carroça matriz", Gonzales mantém outros cinco carrinhos parados nos arredores da "casa-sede". Esses, sim, são utilizados para recolher a vasta oferta de material reciclável na região.
    Antes das 5h, o casal está de pé. Os dois tomam um copo de café num boteco perto dali e saem para o trabalho.
    Os três cães permanecem dentro da carroça, acorrentados. Há água e ração, doada por uma moradora da região.
    "Eles precisam ficar amarrados, senão correm para rua e podem ser atropelados", justifica Cacilda. "Esse bichinhos são bem tratados. Não dou e não vendo por dinheiro algum", afirma Gonzales.
    A rotina deles é incerta. Depende do que encontram pelo caminho. A venda de papelão e latinhas, por exemplo, é feita na região da rua 25 de Março, no centro. No fim da tarde, geralmente, o casal está de volta ao "lar".
    Na madrugada da última terça, por volta das 2h, os dois iam dormir de estômago vazio. "Agora, não tem nada perto para comprar", disse Cacilda, enquanto Gonzales complementou: "Fazer o quê? Engole a fome e dorme".
    O catador afirma que, além da venda de latinhas, fios, ferros e afins, ele e a mulher ajudam na montagem e desmontagem da feira de artesanato que ocorre nos fins de semana em frente ao Trianon.
    Ao todo, calcula ganhar cerca de R$ 500 por mês --ele e a mulher são analfabetos. Cacilda diz não ter parentes; Gonzales afirma que ainda lhe restam três irmãos, que vivem no extremo da zona sul paulistana. Lembra que quase não tem contato com eles.
    Marido e mulher nasceram e viveram parte da infância na periferia de São Paulo.
    Nenhum dos dois sabe ao certo há quanto tempo vive nas ruas. Cacilda se recorda de pelo menos 20 anos. Gonzales lembra-se de que há ao menos 15 anos circula pela região da avenida Paulista.
    A "casa-carroça" foi montada na Peixoto Gomide há ao menos dois meses, dizem.
    "Eles tomaram o lugar como a casa deles", afirma a empresária Marta Cintra Leite, 70, que mora no prédio em frente. "E vão acumulando na calçada e na rua todo o material de refugo que eles encontram pelo bairro", diz.
    Moradores, segundo ela, já acionaram a prefeitura, mas nenhuma ação foi tomada. "É uma questão séria de responsabilidade do poder público."
    Em nota, a Subprefeitura Sé passou a bola para a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social. Esta, por sua vez, diz que Gonzales já foi abordado pela equipe da pasta nos últimos meses, mas sempre se nega a deixar seu "puxadinho" e ir para um abrigo público.
    Ele próprio admite: "Não saio daqui por nada".
    Para Antonio Carlos Franchini, presidente da Associação Paulista Viva, "situações degradantes perturbam o convívio social, e enfrentar os problemas urbanos é dever de uma sociedade que pretende ser justa".
    Segundo a professora de inglês Ligia Iague, 57, que vive na região dos Jardins desde 1997, o prédio oferece água aos dois "vizinhos do Trianon". "Eles não incomodam ninguém, mas é claro que é muito desagradável essa situação na porta da sua casa."

    USP cai em ranking britânico de reputação entre cientistas

    folha de são paulo
    USP cai em ranking britânico de reputação entre cientistas
    Mesmo com queda, escola é a única latino-americana no top 100
    DE SÃO PAULO
    A USP caiu no ranking internacional de reputação entre cientistas, segundo a lista britânica Times Higher Education, uma das principais do mundo.
    Na relação divulgada ontem, a universidade paulista aparece no grupo que vai da 81ª à 90ª colocação. No ano passado, havia ficado no bloco entre a 61ª e a 70ª posição.
    A primeira colocação neste ano seguiu com a Universidade Harvard (EUA).
    Mesmo com a queda, a USP é a única universidade latino-americana a aparecer entre as cem melhores da lista.
    O ranking de reputação considera a opinião de 10,5 mil cientistas internacionais.
    É uma subdivisão da lista principal, que considera também dados objetivos como a produção científica das escolas. O estudo mais completo foi divulgado em outubro e também apontou queda da USP, que saiu do top 200.
    Segundo o editor do ranking, Phil Baty, mesmo em áreas que possui excelência, a USP é pouco conhecida em algumas regiões do mundo, como na Ásia, que ganha espaço na ciência mundial.
    O editor diz que sem "ação significativa", a escola pode entrar em um ciclo de queda.
    Segundo os organizadores do ranking, uma boa reputação internacional "é essencial" para que a universidade consiga atrair bons profissionais, estudantes, investidores e parceiros científicos.
    A assessoria de imprensa da USP afirmou ontem que a instituição criou na semana passada uma agência para cooperação acadêmica nacional e internacional, que buscará melhorias em ensino, pesquisa e extensão.
    Em entrevista à Folha em janeiro, o novo reitor da instituição, Marco Antonio Zago, disse que rankings internacionais são importantes para se verificar a situação geral da universidade, mas variações no curto prazo dizem pouco sobre qualidade.
    "Há erros estatísticos. Queda de um ano para outro não significa necessariamente piora", disse à época.
    "A colocação da USP é sempre boa. São cerca de 10 mil avaliadas. Estar entre as 100, 150, está muito bem", disse o reitor.

    Bancada ruralista já tenta flexibilizar o Código Florestal - Aguirre Talento

    folha de são paulo
    Bancada ruralista já tenta flexibilizar o Código Florestal
    Caso haja concordância do governo, medidas podem favorecer os grandes proprietários que desmataram
    Integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária querem encontro com o ministro da Casa Civil
    AGUIRRE TALENTODE BRASÍLIARepresentantes do Ministério da Agricultura e do setor ruralista têm pressionado o governo federal a flexibilizar as regras de implantação do novo Código Florestal, que estão sendo finalizadas pela Casa Civil da Presidência.
    Caso tenham a concordância do governo, as medidas sugeridas podem favorecer grandes proprietários rurais que desmataram.
    Um dos pontos se refere ao Programa de Regularização Ambiental, que prevê a conversão de multas aplicadas até 2008 em serviços de recuperação ambiental.
    O Ministério da Agricultura propôs à Casa Civil que a conversão das multas inclua a aplicação de uma advertência aos desmatadores.
    Folha apurou que a ideia desagradou ao Ministério do Meio Ambiente.
    Outro ponto, defendido pelos integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária e pelo Ministério da Agricultura, refere-se ao cadastramento de imóveis no Sicar (Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural).
    A bancada ruralista quer permitir que seja feito um cadastro para cada matrícula de um imóvel rural, em vez de um cadastro pela área total do imóvel.
    Isso porque é comum que imóveis rurais grandes estejam divididos em áreas menores com diferentes registros. Se o Sicar aceitar o cadastro por matrícula, é possível que o proprietário se beneficie com regras para pequenas propriedades, apesar de o imóvel rural ser um só.
    Por exemplo: os imóveis de até quatro módulos fiscais (unidade usada para medidas agrárias) têm obrigação menor em relação à recuperação florestal.
    O novo Código Florestal foi sancionado em 2012 com apoio dos ruralistas.
    Um conjunto de regras ainda está sendo finalizado para pôr em prática as medidas previstas na legislação.
    Falta a publicação de uma instrução normativa sobre o Sicar, no qual todos terão que se cadastrar, e de um decreto sobre o Programa de Regularização Ambiental, pelo qual produtores vão restaurar áreas já desmatadas.
    A implantação dessas medidas já está atrasada.
    Integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária se reuniram na semana passada com a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e abordaram o assunto.
    Eles também querem se encontrar com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
    "Você pode ter cem hectares, mas com quatro matrículas distintas, aí cai para 25 hectares cada. As condições de reserva legal e de APP (Área de Proteção Permanente) são diferentes. Diminuem as exigências para o produtor", disse o deputado federal Luis Carlos Heinze (PP-RS), o presidente da frente.
    O setor ambientalista, porém, é contra esse novo critério para os cadastros.
    "Com isso, as concessões dadas para os pequenos produtores poderão se estender aos médios e grandes", disse Raul do Valle, advogado do Instituto Socioambiental.

    DIVERGÊNCIAS NO CÓDIGO FLORESTAL
    Sicar (Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural)
    Proprietários rurais terão que se cadastrar, mas o início de funcionamento do sistema depende ainda da publicação de uma instrução normativa
    O QUE QUER O MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE
    1 Uma propriedade rural grande dividida em várias matrículas deve ter só um cadastro por área total no Sicar
    2 As multas anteriores devem ser transformadas em recuperação ambiental
    O QUE QUER A BANCADA RURALISTA
    1 Se a propriedade tem várias matrículas, o produtor deve ter a opção de fazer um cadastro por matrícula
    2 Reunião deve ser feita entre os governos federal e estaduais para definir como ficaria a conversão de multas
    Programa de Regulari-zação Ambiental
    Proprietários que desmataram devem aderir para recuperar áreas. Quem foi multado terá penalidade convertida em recuperação ambiental
    O QUE QUER O MINISTÉRIO DA AGRICULTURA
    1 Se a propriedade tem várias matrículas, o produtor deve ter a opção de fazer um cadastro por matrícula
    2 As multas anteriores devem ser transformadas em recuperação e advertência
    POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS
    - Se o Sicar aceitar cadastro por matrícula, grandes proprie-tários podem se beneficiar de regras para pequenos e médios
    - Sugestão de advertência pode abrir brecha para anistia das multas, na avaliação do Ministério do Meio Ambiente

    Processo de Alckmin, só contra empresas, é 'açodado e incorreto', diz órgão

    folha de são paulo
    Promotoria quer servidores como réus em ação de cartel
    Processo de Alckmin, só contra empresas, é 'açodado e incorreto', diz órgão
    Para os promotores, inclusão de funcionários suspeitos deve ser feita em novo processo, após o fim das investigações
    FLÁVIO FERREIRAMARIO CESAR CARVALHODE SÃO PAULO
    O Ministério Público Estadual afirmou à Justiça que a ação judicial do governo paulista contra as empresas acusadas de formação de cartel em licitações de trens tem que incluir funcionários públicos e ex-servidores suspeitos de receberem propinas para favorecer as companhias.
    Como o processo já iniciado pela administração de Geraldo Alckmin (PSDB) não indicou os acusados da prática de corrupção, o Judiciário deve arquivar a causa, de acordo com a Promotoria.
    Os promotores José Carlos Blat e Silvio Marques afirmam em petição à 4ª Vara da Fazenda Pública da capital que a ação de Alckmin para pedir indenização pelos prejuízos causados pelo cartel é "açodada e incorreta", pois não aguardou a conclusão das investigações do caso.
    De acordo com os promotores, apurações do Ministério Público e reportagens indicam que funcionários públicos, servidores e lobistas participaram das fraudes.
    Para a Promotoria, esses suspeitos também devem ser processados e condenados a ressarcir os cofres públicos.
    "Os fatos deveriam ser melhor investigados pelos autores [governo estadual] para que, após a oitiva de pessoas, juntada de documentos e elaboração de perícias, houvesse a delimitação da responsabilidade de cada um dos envolvidos no esquema ilegal", segundo os promotores.
    A petição do Ministério Público também aponta que a ação de Alckmin não delimitou com clareza as práticas ilegais das empresas acusadas de formação de cartel.
    Segundo a manifestação, o processo só contém conclusões do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) em investigação na qual a empresa Siemens delatou a atuação do cartel em licitações de trens entre 1998 e 2008, nos governos de Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, todos do PSDB.
    Apurações da própria gestão Alckmin já levantaram suspeitas sobre o patrimônio de 11 funcionários do Metrô e da CPTM. O governo recomendou o afastamento deles de cargos de confiança.
    A Polícia Federal também já indiciou dois ex-diretores da CPTM sob a acusação de corrupção no caso.
    BATALHA JURÍDICA
    É a terceira vez que o Ministério Público ataca a ação judicial iniciada pela PGE (Procuradoria-Geral do Estado), órgão responsável pela defesa do Executivo paulista.
    Em petições anteriores, no ano passado, a Promotoria afirmou que a ação deveria ser encerrada, pois a PGE só havia indicado a Siemens como ré e não havia apontado o valor da indenização a ser paga em razão do cartel.
    Em sua defesa, o governo afirmou à época que só a Siemens era "ré confessa".
    Em novembro, a Justiça determinou que a PGE alterasse a causa incluindo as outras empresas suspeitas e indicasse o valor do ressarcimento aos cofres públicos, sob pena de arquivar o processo.
    Em janeiro, a PGE atendeu parcialmente ao despacho. O órgão incluiu mais 13 empresas na causa, mas não indicou o valor da indenização.
    No dia 10 de fevereiro, a Promotoria manifestou-se apresentando o argumento de que a falta da indicação dos funcionários públicos, ex-servidores e lobistas na ação também deveria levar ao arquivamento da causa.
    A 4ª Vara agora vai decidir se o processo terá prosseguimento ou será arquivado.
    A PGE afirmou que a causa busca indenização em razão do "conluio, do qual a Siemens é ré confessa" e "esclarecerá ao Judiciário todas as dúvidas em relação a referida ação".

    José Simão

    folha de são paulo
    Ueba! Acabou o Lepo Lepo!
    As peladas do sambódromo estão mais costuradas que o Frankenstein. Se um peito explodisse, ia ter luta de gel
    Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! ACAAAABÔ! Acabou a Grande Festa da Esculhambação Nacional! Chega de bunda! Agora tem que encarar o Brasil de frente! Com ou sem tapa-sexo? Rarará!
    E como eu digo todo ano: agora é rebolar pra pagar o cartão. Passa cinco dias rebolando nos blocos e um ano rebolando pra pagar o cartão! E hoje cedo um pernambucano levantou a placa: "Faltam 364 dias pro Carnaval!".
    E adorei os blocos de Quarta-Feira de Cinzas. Direto do Rio: Bate Pra Mim Que Eu Tô Cansado. Cansado, nada. Exausto. Bate pra mim que eu tô exausto!
    E direto de Jacarepaguá: Pau Com Cãibra. Efeito colateral do Carnaval: pau com cãibra! E este de Osasco: Dei Tanto Que Tô Até Rouco. E Quarta-Feira de Cinzas se chama Quarta-Feira de Cinzas porque o seu dinheiro virou cinzas.
    E em São Paulo teve um bloco sem música: Bloco Sem Música! Bloco mudo! E em outro bloco apareceu um grupo de Fridas Kahlos. Todos fantasiados de Frida Kahlo. Só paulista se fantasia de Frida Kahlo no Carnaval!
    E o Aécio Neves foi vaiado em Maceió e foi vaiado em Salvador. Carnavaia! E eu passei dois dias ouvindo a Valesca Popozuda cantando "Mamãe, Eu Quero". Carnatrash!
    E as peladas apeladas? As peladas do sambódromo estão mais costuradas que o Frankenstein. E se um peito daquele explodisse, ia ter luta de gel na avenida! E aquela que saiu com um paetê na perereca e ainda elogiou o estilista. Estilista de perereca!
    E o site "OCocoTaSeco" fez uma lista das coisas que se precisa recuperar depois do Carnaval: os pés, a carteira, o fígado, o juízo, o caráter e o bom gosto musical!
    E esse bloco de psiquiatras: Quem Ri Por Último, RIVOTRIL! Como disse uma amiga: "Finalmente um bloco pra chamar de meu!". E em Pernambuco saiu o bloco Chupa e Faz Tudo. Deve ser o bloco do PMDB! Rarará!
    E acabou o Lepo Lepo! Lepo Lepo agora só na Copa!
    E adorei o Oscar. Só teve pizza e "selfie"! No próximo ano vai ter Oscar pra Melhor Pizza e Melhor "Selfie"! E o Oscar de Melhores Defeitos Especiais: os estádios da Copa! Oscar de Melhor Defeito Especial: Itaquerão. Rarará!
    Nóis sofre, mas nóis goza!
    Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

    Rodrigo Salem

    folha de são paulo
    Aaron Paul tenta a vida no cinema, em versão do game 'Need for Speed'
    RODRIGO SALEMCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES
    Aaron Paul foi visto pela última vez dirigindo em alta velocidade, no papel do viciado e traficante Jesse Pinkman, um dos principais personagens de "Breaking Bad".
    E é dirigindo em alta velocidade que Paul estreia como protagonista no cinema, em "Need for Speed", adaptação do jogo que já vendeu cerca de 150 milhões de unidades.
    "Acho que fiz isso para manter o sonho de estar em Breaking Bad' por mais tempo", diz à Folha o ator de 34 anos, cinco deles dedicados à série, que terminou no ano passado. "Foi difícil o fim."
    Depois do recorde de 10 milhões de espectadores do último capítulo de "Breaking Bad", Aaron Paul vive desafios típicos do mundo do cinema --em que o tempo para desenvolver personagens é mais curto e os roteiros arriscam menos que os da TV.
    "Não mudou muito para mim, mas agora tenho mais dinheiro. No cinema, somos mais mimados", brinca Paul.
    "Sinto o mesmo de quando comecei a fazer a série: eu não tinha muitos diálogos, não sabia se ia sobreviver à primeira temporada e só estava feliz por ter trabalho."
    Em "Need For Speed", que deve estrear na próxima quinta (13), Paul interpreta Tobey Marshall, dono de uma oficina que é condenado a dois anos de prisão por se envolver num acidente que mata um de seus funcionários --na verdade, provocado por um piloto rival (Dominic Cooper).
    Após cumprir a pena, Marshall parte para a vingança num racha disputado nas estradas da Califórnia.
    "Eu gosto de velocidade desde que vi o Mustang 67 do meu tio, que eu achava a pessoa mais cool' do mundo", diz Aaron Paul, que dirige nos fins de semana por Los Angeles num Shelby Cobra 65.
    "Mas não vou disputar racha ilegal. Se quiser sentir a adrenalina, vou para uma pista segura. Faz anos que não sou parado pela polícia."
    Se vai funcionar e virar uma nova série cinematográfica, Aaron Paul não sabe. Mas ele já garante um investimento alternativo: negocia participar de "Better Call Saul" --derivado de "Breaking Bad" que se passa anos antes da formação da dupla Walter White e Jesse. "Será divertido voltar aos dias mais felizes de Jesse Pinkman."

    Quanto vale uma obra de arte? - Contardo Calligaris

    folha de são paulo
    Quanto vale uma obra de arte?
    Você acharia certo colocar vidas humanas em perigo para salvar tesouros culturais e artísticos?
    Um jornalista perguntou a Marcel Duchamp: se você estivesse no museu do Louvre no meio de um incêndio e pudesse salvar só um quadro, qual obra você salvaria?
    Duchamp tinha a (merecida) reputação de ser um provocador, e o jornalista talvez esperasse levá-lo a confessar algum amor envergonhado por uma obra clássica. Mas Duchamp respondeu à altura de sua reputação; ele disse, sem hesitar: "Salvaria o quadro que está mais próximo da saída".
    Era também um jeito de dizer que nenhuma obra, para ele, justificaria que alguém se expusesse ao risco de perder a vida. Não é surpreendente, vindo de um artista que passou a segunda e maior parte de sua existência sem produzir obra alguma e tentando transformar sua própria vida numa obra de arte.
    De qualquer forma, será que eu, se estivesse num hipotético incêndio, tentaria salvar um Duchamp? Pensei em duas obras que talvez valessem o esforço, "O Grande Vidro" e o "Nu Descendo a Escada". O "Nu", de 1912, é um quadro cubista, e eu não sou muito fã do cubismo (se fosse um Cézanne pré-cubista, já seria outra história).
    "O Grande Vidro" tem o problema de ser, justamente, grande e de vidro --péssimo para transporte apressado em caso de incêndio. Os quadros que Duchamp pintou antes de 1912 são respeitáveis, mas só isso. E, quanto aos "ready-mades" (a roda de bicicleta, o urinol etc., que ele genialmente assinou e transformou em arte), o que importa é o ato, o conceito. Será que vou arriscar a vida por um urinol industrial, só porque ele foi assinado por Duchamp? Mesmo se o urinol fosse destruído, o ato de Duchamp não seria perdido; bastaria que alguém o relatasse e o interpretasse direito.
    Nessa perspectiva, obras de arte conceitual ou de arte póvera, por exemplo, não valeriam o sacrifício de ninguém, nunca. Mas melhor não generalizar. (Nota. A pergunta é muito útil como quiz na hora de selecionar um casal: você encararia o incêndio para um Jackson Pollock? E para um Carpaccio?)
    O filme "Caçadores de Obras-Primas", de George Clooney, é baseado em três livros de Robert M. Edsel, "Caçadores de Obras-Primas, Salvando a Arte Ocidental da Pilhagem Nazista" (Rocco) e também "Saving Italy" e "Rescuing Da Vinci" (com uma copiosa documentação fotográfica).
    Edsel conta a história dos "Monuments Men", mais de 300 homens e mulheres de diferentes países que, durante a Segunda Guerra Mundial, no teatro de operações europeu, foram encarregados de salvar o patrimônio cultural da destruição e do saque. Eram diretores de museus, curadores, historiadores da arte etc.
    A questão levantada pelo filme de Clooney não sai facilmente da cabeça: faz sentido colocar vidas humanas em perigo para salvar obras-primas?
    Engraçado. Em geral, achamos aceitável morrer por dinheiro (muitos topariam correr riscos extremos numa grande caça ao tesouro). Também entendemos que alguém se sacrifique pelos princípios fundamentais nos quais ele acredita. E consideramos meritório morrer para salvar outras vidas. Mas para salvar uma obra de arte?
    O filme de Clooney, que apresenta um verdadeiro dilema moral, responde mais ou menos assim: as obras de arte do passado (longínquo ou não) nos representam e nos definem. Sobreviver não é suficiente, é preciso preservar o patrimônio que nos lembra quem somos.
    Concordo, mas a questão é complexa. As grandes obras do nosso passado, o políptico dos Van Eyck em Ghent ou a madona de Michelangelo em Bruges, são patrimônio de nossa cultura. Ora, somos todos filhos dessa mesma cultura, tanto nós, que nos identificamos com a cavalaria dos aliados, quanto os outros, que tentaram destinar a Europa à barbárie totalitária.
    Os Van Eyck e Michelangelo são, em suma, antepassados de todos, de quem inventou os campos e de quem morreu neles: as obras são o passado de nossa civilização --e nossa civilização inclui nossa barbárie.
    Outra complexidade vem do fato de que a ideia do valor insubstituível de cada vida humana é um achado recente. Até 200 anos atrás, havia pletora de coisas que pareciam valer mais do que a vida: a honra, a palavra dada, a fé... Por que não uma obra de arte?
    Antes de negar com indignação, um teste. Você acha intolerável a troca de uma obra pela vida de um homem? Entendo. Mas imagine o pacto mágico seguinte: você poderia salvar da destruição "O Beijo", de Klimt, à condição de desejar que o pastor Feliciano contraia uma pneumonia grave. Sem hipocrisia, ok?