sábado, 1 de fevereiro de 2014

'Amor à Vida' termina com 1º beijo entre homens em novela

folha de são paulo
'Amor à Vida' termina com 1º beijo entre homens em novela
Último capítulo da trama do horário nobre da Globo marcou 44 pontos, segundo prévia do Ibope
Público comemorou em bares de São Paulo; em nota, emissora diz que a cena 'reflete o momento da sociedade'
DE SÃO PAULOCom clima de fim de Copa do Mundo, a novela "Amor à Vida", da Globo, mostrou o primeiro beijo entre homens em novelas. A trama de Walcyr Carrasco conseguiu emplacar o beijo entre o ex-vilão Félix (Mateus Solano) e o mocinho Niko (Thiago Fragoso).
A cena foi ao ar às 23h08. O capítulo marcou 44 pontos de audiência, segundo prévia do Ibope (cada ponto corresponde a 65 mil residências na Grande São Paulo), e 71% de share (televisores ligados no horário). A média era de 35 pontos. As antecessoras "Salve Jorge" e "Avenida Brasil" tiveram, em seus últimos capítulos, 46 e 51 pontos, respectivamente.
Em nota emitida ao fim do capítulo, a Globo afirmou que "toda cena de novela é consequência da história, responde a uma necessidade dramatúrgica e reflete o momento da sociedade".
"O beijo entre Felix e Niko selou uma relação que foi construída com muito carinho pelos dois personagens. Foi, portanto, o desdobramento dramatúrgico natural dessa trama", afirma o texto.
Em outra ocasião, o beijo gravado entre Bruno Gagliasso e Erom Cordeiro para a novela "América", em 2005, não foi ao ar por decisão da cúpula da emissora.
APROVAÇÃO POPULAR
Quando Felix e Niko, apareceram juntos pela primeira vez no capítulo, o coro tomou conta do bar Soda Pop, no largo do Arouche, região central de São Paulo: "Beija! Beija!"
Seguiu-se um suspiro de decepção quando o ex-vilão deu só uma leve acariciada no ombro do pretendente.
Mais adiante, com o beijo, o bar veio abaixo com gritos. Os fregueses aplaudiam de pé. "Foi ótimo", disse o comerciante Leandro Cardoso, 33, aos beijos com o namorado. "Achei que não fosse rolar, que eles fossem ficar só se olhando. Foi bonito", disse o vendedor Jair Silva, 28, namorado de Leandro.
No Public Bar e After Bar, na avenida Brigadeiro Faria Lima, zona sul da capital, cerca de 60 pessoas acompanharam o capítulo num telão.
Diante do beijo, houve comemoração, com gritos e aplausos. Muita gente apanhou o telefone para postar nas redes sociais. "Já era hora. Não... Já tinha passado muito da hora", disse a radialista Marina Felipe, 30.

NAS REDES SOCIAIS
William Bonner, jornalista:
"A cena final valeu a novela inteira."
Luciano Huck, apresentador:
"Lindo final. Parabéns."
Carlos Tufvesson, estilista:
"Impossível no dia de hoje não lembrar de Bruno Gagliasso, você é parte dessa construção!"
Bruno Gagliasso, ator que gravou beijo gay para "América" (2005) --a cena não foi ao ar:
"A arte venceu!!!!! Muito feliz."
Jean Wyllys, deputado federal:
"Estou em prantos! Amor à vida! Que emocionante essa cena! Que redenção linda!"
Preta Gil, cantora:
"Foi lindo!!! Parabéns Mateus e Thiago pela excelente, doce e amorosa cena, o beijo foi tão natural."
    ANÁLISE
    Emissora retoma tradição de forçar limites morais com telenovelas
    NELSON DE SÁDE SÃO PAULOUm centro europeu de pesquisa levantou há cinco anos que "as mulheres que vivem em áreas cobertas pelo sinal da Globo apresentaram taxa de natalidade muito menor". O motivo: por mais de três décadas, em 115 novelas, 72% das personagens femininas não tinham filhos.
    O Banco Interamericano de Desenvolvimento apontou depois que "a parcela de mulheres que se divorciaram aumenta significativamente depois que o sinal da Globo se torna disponível". A própria Globo acha que "Escalada", de 1975, abriu um debate que levou à aprovação do divórcio no país, em 1977.
    A protagonista de "Escalada" era a atriz Susana Vieira. Ela também foi protagonista agora de "Amor à Vida" e, no lançamento da novela em maio de 2013, já tratava de avisar que "é para dar uma resposta aos desaforos que aquele homem lá dos Direitos Humanos diz".
    Referia-se ao deputado Marco Feliciano, que transformou a Comissão de Direitos Humanos em plataforma de defesa da homofobia. Nada do que ele tentou, como liberar "cura gay" ou reverter decisão do Supremo em favor da união homossexual, foi além da comissão.
    Parte de seu fracasso pode ser creditado aos oito meses de "Amor à Vida", a ponto de provocar questionamentos seguidos de Feliciano à Globo, no período. O beijo de Félix e Niko, ontem, serviu para marcar a vitória.
      OPINIÃO
      Identificação com o personagem Félix pode representar desejo por renovação
      BARBARA GANCIACOLUNISTA DA FOLHAPegar pela frente uma novela que nunca se viu mais gorda no último capítulo é capaz de dar problema.
      A barata tonta aqui ficou girando no meio da sala e incomodando os profissionais de assistir novela: "Mas na novela an­terior também não tacaram uma menina na caçamba?", perguntei. "Você está confundindo caçamba com lixão, Barbara."
      "E, vem cá: lembro da Zizi Possi cantando Per Amore'. Já não teve isso?" "Sssh! Cala boca, Barbara!" Por amor, muitos pecados são cometidos. Não vem ao caso, eu sei.
      Neste último capítulo da novela das nove, nós estávamos reunidos na frente da TV aguardando o primei­ro beijo gay da TV Tapuia. Estávamos? Que sentido faz, no ano do Senhor de 2014, esse tipo de comoção? É para marcar a data em que os gays receberão uma caixa de bombons da Dilma? Não entendo.
      Porque, veja bem, o papa já disse que deixa quieto e, por conta, tor­nou-se "homem do ano" da "Advo­cate", principal revista de direitos homossexuais do mundo; no calen­dário de nossas cidades a Parada Gay é data oficial; o casamento gay já foi capa até da "Veja" e a lei hoje abraça gays em par de igualdade com todas as famílias tapuias.
      Por essas e tantas outras, o beijo gay, desconfio, estava mais na ponta da língua das revistas e sites de ameni­dades do que nos lábios do público. Embora, confesso, aqui em casa tenha sido tão comemorado quan­to gol do Neymar. Viva o amor! Mas o sucesso do Félix está em outro canto que não no seu carisma retumbante. Nós nos vemos em Félix.
      Vítima do machismo, autoritarismo, atraso e da onipotência de um pai que não admite ser questio­nado, ele replica a impotência que sentimos. Mas como esta é a era da crise da autoridade paterna, nós só podemos estar sangrando por conta de outro tipo de "dominador".
      Quem sabe não seja ele um Estado inflexível aos nossos apelos de mudança e renovação, em que os mesmos bigodes e a mesma turma se reveza no poder desde sempre?

        O Brasil deveria descriminalizar a maconha?

        folha de são paulo
        ELISALDO CARLINI
        O Brasil deveria descriminalizar a maconha?
        O novo status da maconha
        SIM
        No século 19, medicamentos à base da maconha (Cannabis sativa L) eram disponíveis aos pacientes.
        Assim dizia o doutor J. R. Reynolds, médico da rainha Vitória da Inglaterra: "Em quase todas as moléstias dolorosas, eu achei a maconha ("indian hemp") a mais útil das drogas". Está escrito em famoso livro da terapêutica americana: "Cannabis é muito valiosa para o alívio da dor, particularmente aquela dependente de distúrbios nervosos..."
        E a maconha usada como medicamento naqueles tempos não causava "graves" intoxicações. D. S. Snyder, ao examinar a literatura médica do século 19, diz: "É marcante que muitos relatórios médicos não mencionam qualquer propriedade intoxicante da droga".
        Raramente existia (se é que houve alguma) indicação de que pacientes --e centenas de milhares devem ter recebido Cannabis na Europa no século 19-- estivessem "chapados" ou mudassem sua atitude em relação ao trabalho, seus semelhantes, ou sua pátria.
        Mas, na metade do século 20, a situação muda totalmente. "A maconha é uma droga totalmente viciante, merecendo o ódio dos povos civilizados", declarou o governo egípcio, em 1944. Na convenção de 1961, a ONU coloca a maconha, junto com a heroína, na classe das drogas com "propriedades particularmente perigosas". E a maconha passou a ser considerada "erva do diabo", satanizada que foi. Não importa discutir quais as razões, certamente pouco científicas, que levaram a tão esdrúxula situação.
        Mas, a partir da segunda metade do século 20, o quadro começa a modificar-se, e a maconha renasce como poderoso medicamento para certas patologias médicas.
        A identificação dos princípios químicos ativos da maconha, a descrição segundo a qual o cérebro humano tem "receptores" para esses princípios, a surpreendente descoberta de que o nosso cérebro sintetiza uma substância capaz de atuar naqueles receptores (como se tivéssemos uma maconha produzida pelo nosso próprio cérebro, a anandamida) e a descrição de um sistema de neurotransmissão nervosa chamado de sistema canabinoide endógeno trouxeram um novo status científico para a maconha.
        E mais: muitos trabalhos científicos clínicos foram feitos no mundo demonstrando claramente que a maconha tem boas propriedades terapêuticas (dores neuro e miopáticas; esclerose múltipla; náusea e vômito resultantes da quimioterapia do câncer; e mais recentemente epilepsia e dores terminais do câncer).
        E, ainda, recentes pesquisas epidemiológicas, seguindo milhares de usuários crônicos e até pesados da maconha, feitas em importantes universidades dos Estados Unidos e do Reino Unido, cabalmente mostram que a maconha não afeta o desempenho cognitivo, não produz ganho de peso e não está associada a efeitos adversos da função pulmonar.
        Como consequência final desses conhecimentos novos, Canadá, Estados Unidos, Reino Unido e Holanda já têm medicamentos fabricados à base de maconha ou seus derivados. O medicamento fabricado no Reino Unido já foi aprovado pelos Ministérios da Saúde de 13 outros países (o último a aprovar foi a França) e é utilizado clinicamente, sob receitas, em mais de duas dezenas de outros países.
        E todos esses fatos estão à disposição do leitor em cerca de um milhar de trabalhos científicos, sendo apoiados pelo "American College of Physician", "American Medical Association", Ministério da Saúde de Israel, Espanha, Itália etc. (para maiores detalhes, ver o trabalho de revisão "Cannabis sativa L (maconha): Medicamento que renasce?").
        Até poderia ser dito que, para o opositor brasileiro do uso médico da maconha, à semelhança de uma pessoa ao ser confrontada com um documento que contradiz frontalmente sua superada convicção, declara: não li e não gostei!
        ANA CECÍLIA ROSELLI MARQUES
        O Brasil deveria descriminalizar a maconha?
        Cara ou coroa?
        NÃO
        Muito se tem falado por aí sobre o uso terapêutico da maconha e sua possível legalização no Brasil, após as mudanças de legislação ocorridas no vizinho Uruguai.
        Mas pouco se tem discutido, profundamente, a questão. O fato que parece estar esquecido é que a maconha é uma droga psicotrópica que causa dependência, uma grave doença do cérebro, e que cursa com muitas complicações.
        É verdade que algumas pesquisas vêm sendo feitas, inclusive no Brasil, para entender a ação dos diferentes componentes da Cannabis sp e sua utilização como medicamento. Mas também é verdade que os resultados ainda não são replicáveis (aplicáveis).
        Isto é, para o controle da dor ou do apetite, por exemplo, substâncias já testadas devem ser aplicadas. Experiências com a maconha sem consentimento assistido (informações sobre todos os benefícios e malefícios) são a solução?
        Estudos mostram que, além da dependência, o uso crônico produz bronquite crônica, insuficiência respiratória, aumento do risco de doenças cardiovasculares, câncer no sistema respiratório, diminuição da memória, ansiedade e depressão, episódios psicóticos e de pânico e, também, um comprometimento do rendimento acadêmico e/ou profissional. Por que optar por um caminho que oferece tantos riscos?
        A Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas, a Abead, pesquisou sobre algumas experiências de descriminalização no mundo e elaborou uma síntese de evidências sobre os resultados.
        Foram eles: o aumento do consumo, a redução da idade de experimentação, a diminuição do preço de comercialização e, portanto, um aumento da disponibilidade e do acesso à droga e, pior, um mercado para turistas que pode trazer outros riscos sociais e de saúde.
        Por esses e outros motivos, é preciso debater muito mais antes de se alterar a lei ou mesmo propor medidas mais liberalizantes.
        No Brasil, a percepção de risco relacionado à substância é muito baixa: a maconha é vista como uma droga leve, natural e que não faz tão mal, a despeito das respeitadas pesquisas já há muito publicadas que mostram um aumento significativo da taxa de doenças mentais entre os usuários quando comparados à população de não usuários da substância. Onde fica o direito humano, principalmente o do adolescente, à vida saudável, à saúde mental?
        Então, vale ainda mais uma pergunta. Se, em países desenvolvidos, a legalização trouxe consequências desastrosas, por que no Brasil, que enfrenta tantas outras dificuldades, como a falta de tratamento especializado, a falta de prevenção, uma política de drogas que precisa ser revista, tal impacto seria diferente?
        Para além dos usuários e defensores de direitos individuais de usar drogas, e não daqueles que lutam pelos direitos coletivos, é preciso entender que existem "clássicos" interesses econômicos em um novo negócio. Foi assim com o cigarro, tem sido assim com a bebida alcoólica, e o método utilizado para conseguir tal empreitada tão perversa é o uso da ambivalência.
        Vale a pena lembrar que a maconha não é um produto qualquer. É uma droga psicotrópica, mais uma entre tantas cujo consumo é preciso controlar, de impacto nas células humanas, na família e na sociedade.
        Não é possível fechar os olhos diante do jogo mercantilista. É preciso olhar firmemente para a situação da população brasileira, e não submetê-la a mais um fenômeno que não possui recursos para ser manejado. De que lado cairá a moeda?

        Andre Singer

        folha de são paulo
        Segunda chance
        Era evidente que ia ocorrer algo grave. De um lado, as reivindicações urbanas que emergiram em junho, no rastro do movimento contra o aumento das tarifas, despertaram a energia dos jovens. De outro, o governo federal decidiu apertar o cinto dos gastos públicos.
        Então, no protesto de sábado passado, aniversário de São Paulo, o destino se cumpriu. O estoquista Fabrício Chaves, 22, caiu com dois tiros. A PM afirma que foi atacada com estilete e reagiu em legítima defesa. O rapaz diz que só lançou mão do objeto perfurante depois de ser alvejado. É palavra contra palavra.
        Seja qual for a verdade, nas duas partes parece haver disposição para a guerra, algo que passa longe da experiência europeia, em que "black blocs" e tropa de choque parecem ter aprendido a encenar uma espécie de violência controlada. Aqui, numa sociedade em que a criminalidade cresceu de maneira assustadora, a truculência fica sempre a um passo de explodir.
        Por sorte, Chaves está fora de perigo e não foi ainda dessa vez que aconteceu uma morte no embate entre o movimento que deseja protestar contra a Copa e as forças de segurança. A pergunta é se vamos esperar inertes que ocorra uma fatalidade para então lamentar a incapacidade coletiva de encontrar soluções pacíficas quando há confronto social.
        O caminho certo foi indicado e executado pela prefeitura paulistana no caso dos "rolezinhos". As partes foram chamadas a negociar e, depois de vencidas as resistências de praxe, foi anunciado um início de entendimento entre a garotada da periferia e a associação dos shoppings. Em troca de limitar o número de participantes, os lojistas aceitariam novos "rolezinhos" dentro dos centros de compras.
        Nada garante que o acordo vá funcionar e é certo que a convergência nesse caso seja mais fácil, uma vez que não há teor ideológico explícito nas correrias dos "rolezeiros". No entanto, os atores políticos cumpriram o seu papel, legitimando os contendores e mediando o conflito. Com maior urgência, eles têm o dever de tentar o mesmo entre os organizadores dos protestos contra o Mundial e a PM.
        Goste-se ou não, é um direito não querer a Copa no Brasil. Há muitas razões para imaginar que o escasso dinheiro público disponível seria mais bem empregado em escolas e hospitais padrão Fifa do que em estádios que depois ficarão vazios. Não obstante, com a mesma força dos fatos, o evento vai ocorrer, e mais: para boa parte da população será o momento de torcer em favor do país, dentro e fora do campo.
        Em resumo, o embate existe e requer tratamento urgente. Se já não houvesse evidências suficientes de quão explosivo vai se tornar, as balas da última semana soaram como novo alerta.

        Ruy Castro

        folha de são paulo
        O ninho não mais vazio
        RIO DE JANEIRO - Há dias ("O ninho vazio", 17/1), escrevi sobre uma amiga cujos filhos tinham acabado de sair de casa e estava experimentando o que os psicólogos chamam de "síndrome do ninho vazio". Aproveitei para contar que eu próprio, entre o Natal e o Réveillon, vivera algo parecido, só que ao pé da letra. Uma rolinha --Lola, a Rola-- fizera seu ninho no meu terraço e passara uma semana sentada sobre um ovo, do qual saiu Lolita, a Rolita. E, antes que eu tivesse o prazer de ver mãe e filha em ação, voando para lá e para cá, foram embora sem se despedir. Ali entendi a síndrome do ninho vazio.
        Outro amigo, cujo conhecimento dos pássaros aprendi a admirar, me garantiu que Lola, a Rola, não podia estar muito longe. "Ela gostou daqui", ele disse. "Vai voltar para fazer outro ninho". E, para que eu não me jactasse de minhas virtudes como anfitrião, explicou-me que isso é instintivo nos pássaros. Se se sentem seguros em algum lugar, elegem-no para se aninhar. Com isso, retomei meu posto de observação --e não é que meu amigo tinha razão?
        Lola, a Rola, reapareceu e logo começou os trabalhos. Reconheci-a pelo estilo de gravetos que recolhe --secos, fininhos e compridos. Em poucos dias, o novo ninho ficou pronto, não muito distante do ninho original, este já em escombros. Só que, agora, com uma importante colaboração: a de seu marido Rollo, o Rola, talvez como mestre de obras. O fato é que, ao contrário da primeira vez, tive várias oportunidades de ver o casal empenhado na construção.
        E assim, com duas semanas de intervalo, eis-me avô de mais um ovo. Que, pela lei das probabilidades, deverá produzir um macho. E, sendo filho de Lola, a Rola, e Rollo, o Rola, só poderá se chamar --claro-- Rolezinho.
        Não vou dizer o nome de meu amigo amador de ornitologia. Só as iniciais: Janio de Freitas.

        José Simão

        folha de são paulo
        Ufa! Sensação Garrafa Térmica!
        'Dilma anuncia Chioro na Saúde!' Chiora na fila, chiora pra marcar consulta! Vai ser um Chiororô!
        Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Hoje a sensação térmica é de garrafa térmica! Um amigo comprou um iceberg usado pelo eBay! E a frase do dia: "Não chove na minha horta há duas semanas", Susana Vieira! Chama o carro-pipa! Chama o motorista! Eu acho que essas coroas da Globo tomam sucrilhos com Gardenal no café da manhã! Rarará!
        E o Niko e o Félix? Nunca vi dois gays tão lésbicas na minha vida! Rarará! O Walcyr foi o Carrasco do Malafeia e do Bolsonaro! Os próximos namoradinhos do Brasil: Malafeia e Bolsonaro! Vai ser o primeiro beijo gay gospel! Rarará! E o César não era um personagem, era um pleonasmo: corno cego! Rarará!
        E atenção! Dilma reforma o cemitério. Ops, o ministério! Piada Pronta: "Dilma anuncia Chioro na Saúde!" Chiora na fila, chiora pra marcar consulta! Vai ser um Chiororô! E ele tem cara de choro mesmo!
        Comunicações: sai Helena Chagas e entra Tomas Traumann. Sai Chagas e entra Traumann. Ministério do Hematoma!
        E se eu fosse porta-voz da Dilma, meu nome também seria TRAUMA! Aliás, a Dilma não tem porta-voz, tem porta-esporro! Rarará!
        E o Mantega, o agente 86? Não vai trocar por uma MÁRGARINA ou por uma RÍCOTA? E na Educação: um Paim de Santo!
        E atenção, black brócolis! Vai ter Copa e a Argentina vai ganhar! A Argentina tá precisando ganhar alguma coisa! E a Turma do Contra: Não Vai Ter Copa. Não Vai Ter Carnaval. Não Vai Ter Verão. Não Vai Ter Praia. Não Vai Ter Feriado. Não Vai Ter Pipoca. Não Vai Ter Piroca! Rarará!
        E a viagem da Dilma, a Grande Chefa Toura Sentada. Na próxima viagem é melhor ela comer no DOGÃO! No dogão do Félix com a Tetê Para-choque Para-lama. Dogão tipo podrão. Jantar em Lisboa e depois Cuba: roteiro castro-nômico. A Dilma fez um roteiro Castro-nômico. Rarará! O Fernando Henrique, quando viajava, só comia no rodízio. Rodízio de trufas com Cabernet Sauvignon! Ele não é sociólogo, é enólogo! Rarará!
        E adorei a charge do Miguel. Dilma para o Fidel: "Trouxe a quentinha de bacalhau que você me pediu!". Esse foi o presente da Dilma pro Fidel: uma quentinha de bacalhau! Xepa do jantar de Lisboa! Rarará! E aquela foto dela com olheiras, já estão chamando de zumbidenta! O Serra curtiu! Rarará!
        Nóis sofre, mas nóis goza!
        Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

        Painel das Letras - Raquel Cozer

        folha de são paulo

        Demissões na Laselva

        Há anos em crise, com dívidas estimadas em R$ 120 milhões, e desde agosto em processo de recuperação judicial, a Laselva demitiu semanas atrás, sem pagar direitos trabalhistas, 37 de seus cerca de 800 funcionários.
        Segundo demitidos, a livraria não realizava depósitos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) há dois anos e também não vinha fazendo os repasses previstos ao INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) e do Imposto de Renda. Eles afirmam que, na ocasião dos cortes, foram orientados pela rede a recorrer à Justiça para reaver seus direitos e informados de que haverá ainda 200 demissões. O escritório De Luizi, que representa a livraria na recuperação judicial, admitiu "débitos junto aos ex-colaboradores" e informou, sem estipular datas, que os pagamentos serão feitos.
        A LISTA DE CREDORES
        Maior livraria em aeroportos do país, com 60 pontos de venda, a Laselva entrou em maio de 2013 com o pedido de recuperação judicial, que a protege de pedidos de falência por parte de credores.
        O processo de recuperação foi iniciado em agosto e, em novembro, a rede listou quase 900 empresas e pessoas físicas às quais diz dever um total de R$ 77,8 milhões —o restante das dívidas é relacionado ao fisco e à Previdência.
        Entre os credores listados, estão o banco HSBC (R$ 16 milhões), a Infraero (R$ 11 milhões), editoras como Record e Objetiva (mais de R$ 1,4 milhão cada) e 16 ex-funcionários (R$ 348 mil). Os recém-demitidos não constam dessa lista e, segundo o De Luizi, serão pagos após a situação dos 16 ex-funcionários listados ser resolvida, o que deve ocorrer em um ano. Já pagamentos a fornecedores podem durar uma década.
        Divulgação
        PRÊMIO 'Flora & Ulysses', escrito por Kate DiCamillo e ilustrado por K.G. Campbell, que acabam de vencer a Newbery Medal, concedida pela American Library Association, sai pela WMF Martins Fontes em setembro
        PRÊMIO 'Flora & Ulysses', escrito por Kate DiCamillo e ilustrado por K.G. Campbell, que acabam de vencer a Newbery Medal, concedida pela American Library Association, sai pela WMF Martins Fontes em setembro
        A VERDADEIRA HISTÓRIA DE EMÍLIA
        Não é de hoje que Monteiro Lobato (1882-1948) divide educadores. Nos anos 1930, o autor enfrentava professoras sobre os modos pouco ortodoxos de sua personagem mais famosa. O fato é citado em "Emília: a Biografia Não Autorizada da Marquesa de Rabicó", fruto do mestrado de Socorro Acioli, que a Casa da Palavra lança neste ano.
        Vencedora do Jabuti 2013 de obra infantil por "Ela Tem Olhos de Céu" (Gaivota) e prestes a lançar o adulto "A Cabeça do Santo" (Companhia das Letras), Acioli disseca a boneca de pano, com curiosidades como seu time (Palmeiras) e o fato de ter sido repórter por um dia.
        Em tempo: a obra teve o aval da família de Lobato.
        Biografia do biógrafo O recente debate sobre biografias inspirou o crítico e ficcionista Silviano Santiago. Ele acaba de terminar o romance "Mil Rosas Roubadas", ainda sem editora, no qual trata de um professor aposentado que, ao saber da morte do melhor amigo e potencial biógrafo, resolve ele mesmo escrever a história do morto.
        Hit indiano Vem da Índia, onde saiu em inglês e nove dialetos e rendeu mais de US$ 11 milhões para sua editora, a maior aposta de best-seller da independente NVersos. Trata-se da "Trilogia Shiva", de Amish Tripathi.
        Hit indiano 2 Tripathi, 39, que era bancário antes do sucesso, conta nos livros a história do deus hindu Shiva. O primeiro, "The Immortals of Meluha", sai aqui em abril, junto com a edição americana. Filmes baseados na obra serão feitos em Bollywood, pela Dharma Productions, e em Hollywood, pela 108.
        Expansão A série "Star Wars" será destrinchada em 20 novelas que a Novo Século prevê para os próximos anos, após parceria fechada com a Disney. As histórias dos filmes, que terão nova trilogia no cinema a partir de 2016, serão ampliadas nos livros. 
        painel das letras
        Raquel Cozer é jornalista especializada na cobertura de literatura, mercado editorial e políticas de livro e leitura. É colunista e repórter da 'Ilustrada', naFolha, desde 2012, com passagem anterior pelo caderno de 2006 a 2009. Foi repórter do 'Sabático', no 'Estado de S. Paulo', e do jornal 'Agora', do Grupo Folha. Também trabalhou nas editoras Abril, Globo e Record. Escreve a coluna Painel das Letras, aos sábados.

        Álvaro Pereira Júnior

        folha de são paulo
        Rolezão em Bancoc
        Manifestações contra o governo bloqueiam até a avenida dos shoppings mais ricos da Tailândia
        Raspadinha de limão adoçada com mel, espeto de frango, salada de mamão verde, suco de romã, banquinhas de camisetas, rodas de violão, filas imensas para comer de graça curry com arroz branco. Estamos em um protesto.
        E não um protesto qualquer, mas o maior do mundo atual. É o "Shutdown Bangkok", vamos travar Bancoc, ação coordenada que bloqueou sete das principais vias e cruzamentos da capital tailandesa, metrópole cinza e frenética que vive em função dos carros, uma gêmea de São Paulo em longitude oposta.
        Começou no dia 13 de janeiro, segunda-feira. Sábado e domingo, 18 e 19, quando passei por lá, seguia com força. É protesto + show + comício + festa + vigília. A avenida Rama 1º está fechada pelos manifestantes.
        Querem reforma política imediata. Para eles, as eleições marcadas para amanhã não bastam. Rejeitam a democracia em vigor na Tailândia, comandada pela família Shinawatra. Yingluck Shinawatra é a atual primeira-ministra. O irmão dela, Thaksin, foi primeiro-ministro até 2006. Um golpe o derrubou, por corrupção e abuso de poder. Thaksin se autoexilou em Dubai. É de lá que continua mandando.
        O slogan "Shutdown Bangkok" tem um subtítulo: "Restart Thailand". O símbolo é o círculo cortado na parte superior, interrompido por uma curta linha reta, igual ao do botão de reiniciar dos computadores.
        São referências que não deixam dúvida sobre quem é a maioria dos milhões de manifestantes: jovens urbanos conectados que não aceitam a política "old-school" dos irmãos Shinawatra.
        Thaksin é adorado no Norte e no Nordeste, menos desenvolvidos. Conquistou essas regiões com subsídios para a agricultura e programas sociais. Mas Bancoc não o engole, com seu histórico de magnata da telefonia móvel e de dirigente que faz política à base de dinheiro.
        Até o dia em que escrevo, foram nove os mortos em protestos. Mas, na festiva avenida Rama 1º, não existe violência.
        Para chegar ao hotel, bem no meio da agitação, há uma série de bloqueios improvisados. Os "vigias" são civis, alguns mascarados, sempre muito jovens, inclusive crianças. Em todos os pontos, os "guardas" conversam rapidamente com o taxista, olham dentro do carro e mandam seguir.
        Nas metrópoles brasileiras, não há nada remotamente parecido com a avenida Rama 1º. Parei de contar, mas imagino que sejam pelo menos oito shopping centers, todos gigantescos e ultraluxuosos, ligados entre si por túneis e passarelas.
        É possível entrar no primeiro deles, passar pelas lojas mais caras do mercado planetário, pegar uma passarela para o centro de compras vizinho (que tem praticamente as mesmas marcas), entrar em mais um túnel para mais um shopping, perder a noção de onde se está, e emergir no outro extremo da avenida, em um rolezão de duas ou três horas, sem contato com o ar externo.
        Do lado de fora, no asfalto da rua interditada, são incontáveis --mas incontáveis mesmo-- as bancas de camisetas com estampas antigoverno. Há também centenas de barraquinhas de comida, quiosques de sucos, alguns trailers de partidos políticos (que distribuem comida e vendem camisetas "oficiais" das manifestações).
        Faz calor no inverno tailandês. Mas bate pouco sol na avenida, tomada pela sombra do skytrain. A dez metros do solo, o monotrilho que corta Bancoc funciona normalmente. O vulto metálico se desloca com eficiência e pontualidade, indiferente ao burburinho abaixo.
        Os shoppings de alto luxo da avenida também estão abertos. Alguns põem seguranças na porta; outros, nem isso. Manifestantes cansados abandonam por alguns minutos o protesto, vão tomar chá na praça de alimentação, aproveitam o ar-condicionado, depois voltam à rua para maldizer o governo.
        Turistas com sacolas da Prada tomam a mão inversa: descem até a rua para conferir o movimento. Compram camisetas, bebem suco, batem fotos.
        No cruzamento com a Phayathai Road, normalmente um rio metálico de automóveis, mas hoje inundado de gente, há um palco gigantesco. Vi uma espécie de Bob Dylan tailandês, desafinado, que tinha escrito no violão o mesmo lema de Woody Guthrie (1912-1967), inspirador de Dylan: "Esta máquina mata fascistas".
        Para que não se pense que esse era só um protesto do circuito Elizabeth Arden, vale ressaltar que as calçadas estavam tomadas por centenas, talvez milhares, de barracas de camping individuais, típicas do movimento Occupy. E não eram playboys que estavam lá dentro.