quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Martin Wolf

folha de são paulo

Se os robôs nos dividirem, eles vencerão

Com sua lâmpada mágica, Aladim era capaz de comandar um ser inteligente capaz de realizar todos os seus desejos. O gênio que o servia era um espírito. Mas o sonho de servidores artificiais poderosos e inteligentes também abarcava seres físicos. Agora, está se tornando uma realidade feita de silício, metal e plástico. Mas será um sonho ou um pesadelo? As máquinas inteligentes se provarão benéficas? Ou serão monstros de Frankenstein?
Essa é a questão proposta por "The Second Machine Age", novo livro de Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, sigla em inglês). O texto prevê que experimentaremos "dois dos mais espantosos eventos da história humana: a criação de inteligência mecânica verdadeira e a conexão de todos os seres humanos por meio de uma rede digital comum, transformando a economia do planeta. Inovadores, empreendedores, cientistas, inventores e muitos outros tipos de geeks tirarão vantagem dessa cornucópia para criar tecnologias que nos deslumbrarão, deliciarão e trabalharão por nós".
O que distingue a segunda era da máquina da primeira é a inteligência. As máquinas da primeira era substituíram e multiplicaram o trabalho físico de seres humanos e animais. As máquinas da segunda era substituirão e multiplicarão nossa inteligência. A força propulsora por trás dessa revolução, argumentam os autores, é o aumento exponencial de potência (ou a queda exponencial de custo) da computação. O exemplo célebre é a Lei de Moore, que leva o nome de Gordon Moore, fundador da Intel. Por meio século, o número de transistores em um chip semicondutor dobrou pelo menos a cada dois anos. Progresso semelhante aconteceu em outras áreas.
Os autores argumentam que depois de meio século de progresso, estamos agora vendo saltos na inteligência mecânica. Com o crescimento exponencial do poder de computação, computadores estão realizando tarefas que eram consideradas além de sua capacidade alguns anos atrás. Em breve, eles preveem, haverá inteligência mecânica em ação em toda parte. O paralelo que oferecem é a história do inventor do xadrez, que pediu como recompensa um grão de arroz pela primeira casa do tabuleiro, dois pela segunda, quatro pela terceira, e assim por diante. O total é administrável na primeira metade do tabuleiro, mas atinge proporções descomunais na segunda. As recompensas que receberemos crescerão da mesma maneira.
No entanto, para parafrasear uma famosa piada sobre computadores que Robert Solow, economista do MIT laureado com o Nobel, fez em 1987, vemos a tecnologia da informação em toda parte mas não nas estatísticas de produtividade. As tendência de produção por hora nos Estados Unidos são bastante medíocres. De fato, depois de uma alta encorajadora nos anos 90 e começo dos 2000, o crescimento recuou de novo. O desempenho recente em outras economias de alta renda é ainda pior.
Uma possível explicação é que o impacto dessas tecnologias esteja sendo superestimado. Não surpreende que os autores do livro discordem. De fato, argumentam que, longe de estarem exauridas, as possibilidades são ilimitadas: "A digitalização torna disponível imensas massas de dados relevantes para quase qualquer situação, e essa informação pode ser reproduzida e reutilizada infinitamente".
Se isso é fato, por que a expansão medida na produção é tão modesta? As respostas oferecidas são: a pletora de serviços baratos ou grátis (Skype e Wikipedia); a escala dos serviços de entretenimento nos quais as pessoas mesmas são a atração (Facebook); e a falha em incorporar plenamente aos cálculos todos os novos produtos e serviços. Antes de junho de 2007, um iPhone estava fora do alcance até mesmo do homem mais rico do planeta. Seu preço era infinito. A queda de um preço infinito para um preço definido não está refletida nos índices de preços. Além disso, o "superávit de consumo" dos produtos e serviços digitais - a diferença entre seu preço e seu valor para os consumidores - é muitas vezes imensa. Por fim, os indicadores de PIB (Produto Interno Bruto) muitas vezes subestimam o investimento em ativos intangíveis.
Parece bastante plausível que a proliferação de novos aparelhos e a ascensão da economia digital, com seus custos marginais singularmente baixos, tenham exercido efeito muito maior sobre o bem-estar e até mesmo o PIB do que os indicadores atuais sugerem.
Mas restam preocupações. A era da informação coincidiu com - e em certa medida causou - tendências econômicas adversas: estagnação na renda média real; crescente desigualdade na renda dos trabalhadores e na distribuição de renda entre o trabalho e o capital; e crescente desemprego de longo prazo.
Entre as explicações para isso estão: a rápida alta na produtividade da indústria; mudanças tecnológicas para as quais a capacitação profissional é importante; a ascensão de mercados mundiais nos quais o vencedor leva tudo; e o papel da renda garantida auferida, especialmente por meio da propriedade intelectual. Pense na diferença entre o custo de desenvolvimento do algoritmo do Google e o seu valor. A globalização e a liberação financeira também exercem influência, ambas propelidas por novas tecnologias.
Acima de tudo, o livro insiste, esse é apenas o começo. Boa parte do trabalho mental de rotina será computadorizado, como aconteceu com as funções auxiliares. Os empregos de renda média passarão por nova contração. O resultado poderá ser uma polarização de renda ainda maior, com um pequeno grupo de vencedores no topo e um grupo imensamente maior enfrentando dificuldades, mais abaixo. Em 2012, por exemplo, o 1% mais rico dos norte-americanos ficou com 22% da renda do país, mais que o dobro de sua proporção nos anos 1980.
Existem bons motivos para que as pessoas se sintam incomodadas com isso. Para começar, as vidas de quem ficar por baixo podem piorar. Os autores apontam que a expectativa de vida de uma mulher branca norte-americana desprovida de diploma secundário caiu em cinco anos entre 1990 e 2008. Segundo, se a renda se tornar desigual demais, as oportunidades para os jovens escassearão. Terceiro, os ricos se tornam indiferentes ao destino dos demais. Por fim, emerge uma vasta desigualdade de poder, o que faz do ideal de cidadania democrática uma piada.
No futuro distante, máquinas pensantes podem até mesmo dominar nosso senso sobre o que somos - da mesma forma que os melhores jogadores humanos de xadrez hoje sabem que não são mais os melhores do planeta. Mas muito antes disso, os autores sugerem que a disparidade de renda deve se ampliar ainda mais, maculando a era de oportunidade que o livro também promete.
Grandes desafios terão de ser encarados, portanto, tanto agora quanto no futuro, se queremos garantir que as novas máquinas não se tornem nossos monstros de Frankenstein. Eles têm implicações sérias para a política pública quanto a direitos de propriedade, educação, tributação e outras medidas governamentais com o objetivo de promover o bem-estar humano. Considerarei essas questões controversas na semana que vem.
Tradução de PAULO MIGLIACci

Martha Medeiros

A melhor vida possível - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 02/02


Quanto mais converso por aí, mais percebo que é inútil acreditar em verdades absolutas e fórmulas ideais de convivência. Cada pessoa tem familiares que influenciaram suas escolhas, medos herdados e medos adquiridos, sonhos altos demais ou mesmo nenhum, e um número incalculável de perguntas sem respostas, de desejos embaraçosos, de mágoas vitalícias. Quem vai decretar para mim o que é melhor para mim? E quem vai dizer o que é melhor para você? Com que topete? 


A melhor vida não é aquela que atende os mandamentos universais, as ordens celestes e os clichês eternizados, mas a que se tornou possível, a que você vem construindo a despeito de todas as suas dúvidas. 


A melhor vida seria a da Gisele Bündchen, pensa a menina feia. A melhor vida seria a da Dilma, pensa a vereadora de uma cidadezinha do interior. Enquanto isso, vivem a vida possível, sem perceber o quanto deveriam ser gratas por não precisarem arcar com consequências que desconhecem. 


A melhor vida para mim é bem diferente da melhor vida para você. Reúna o planeta inteiro e não se encontrará duas pessoas que planejem possuir a mesma vida, porque uns não querem ter horário para nada, outros se envaidecem de ter suas atitudes comentadas por estranhos, há os que se paralisam à primeira frustração, os que estão sempre inventando novos desafios, e a vida possível de cada um torna-se impossível para os demais, o que não deixa de ser uma piada termos que conviver intimamente uns com os outros apesar desse tabuleiro inesgotável de escolhas e destinos. 


Se eu almejar uma vida ideal, terei que me basear na vida dos outros, pois o ideal é fruto de uma racionalização coletiva e consagrada, enquanto que se eu me contentar com uma vida possível, volto a assumir algum controle sobre os royalties das minhas decisões. 


O que não impede que ela seja ótima, a mais adequada para o fôlego que tenho, a mais realizável dentro de minhas ambições, a menos sofrida, já que regulada pelo autoconhecimento que adquiri até aqui. Tenho como manejar uma vida possível de um jeito que jamais teria de manejar uma vida perfeita, até porque vida perfeita não é deste mundo, e o sobrenatural é matéria que não domino. 


A melhor vida não é a focada em suposições, fantasias, esperas, surpresas e demais previsões que raramente se confirmam. A melhor vida não é aquela que é cumprida feito um pagamento de dívida, como um acerto de contas com nossos antigos anseios juvenis. 


A melhor vida não é a que desenhamos quando criança na folha do caderno, a casinha de venezianas abertas, a fumaça saindo pela chaminé e os girassóis protegidos por uma cerquinha branca, e tudo o que isso sugere de proteção e vizinhança com os desejos comuns a todos. A melhor vida possível é aquela que você ainda vem desenhando, mesmo já com algumas pontas de lápis quebradas.

ONU pede ao Vaticano que denuncie os pedófilos à justiça

folha de são paulo

ONU pede ao Vaticano que denuncie os pedófilos à justiça

O Vaticano tem que afastar de seus cargos todos aqueles que abusaram sexualmente de crianças e denunciá-los à polícia, afirmou nesta quarta-feira o Comitê da ONU sobre os Direitos da Criança.
Nas conclusões de um relatório, o comitê pede à Santa Sé para "afastar de imediato de suas funções todos os autores conhecidos e suspeitos de abusos sexuais de crianças, assim como denunciá-los às autoridades competentes para que os investiguem e sejam processados".
O relatório foi divulgado após uma audiência realizada no mês passado em Genebra, em que os membros da comissão, composta por 18 especialistas em direitos humanos de todo o mundo, que questionou o Vaticano sobre sua política contra a pedofilia.
No relatório, a comissão afirma que a Igreja Católica não fez o suficiente para cumprir o seu compromisso de erradicar a pedofilia.
"O comitê da ONU sublinha a sua profunda preocupação com o abuso sexual de crianças por membros de igrejas católicas que operam sob a autoridade da Santa Sé, e lembrou que os crimes cometidos por religiosos preocupação dezenas de milhares de crianças ao redor do mundo" disse o relatório.
"A Comissão está muito preocupada que o Vaticano não reconhece a extensão dos crimes cometidos, não tomou as medidas apropriadas para lidar com casos de pedofilia nem tomou medidas para proteger as crianças ou adotou políticas e práticas que levaram à continuação da abuso e impunidade dos agressores", acrescentou o relatório
O relatório critica especialmente a política de trocar padres pedófilos de paróquia, uma prática considerada como tentativa de encobrir os crimes e evitar que sejam julgado pelas autoridades civis.
De acordo com o relatório, "a prática tem permitido a muitos sacerdotes de permanecem em contato com as crianças e continuarem a abusar delas"

Francisco Daudt

folha de são paulo
Acima de mim
O Superego continua sendo o ideal de perfeição "Acima de nós" com poderes de nos ameaçar com a vergonha
Superego, conceito de Freud, é tradução latina do alemão corrente (das überich; le surmoi) e tem uma história evolutiva fascinante. Qualquer mamífero, em graus variados de complexidade, tem um programa mental para detectar perigo e oportunidades. Nasce com eles, nasce conosco, faz parte dos programas herdados nos genes.
Somos capazes de entrar em contato com suas origens primitivas se encontramos uma cobra no caminho. "Algo", mais forte do que nós, aciona um pânico imediato.
Observo o Flap (cão da minha filha) e vejo seu programa perigo-oportunidade funcionando de maneira complexa. Ele bajula, se submete, pede atenção --na parte da oportunidade-- e se enfia debaixo da cama à simples menção de "banho" (perigo).
Mas nada se compara ao nosso programa de base e à sofisticação que ele desenvolveu.
Pelo fato de sermos bichos capazes de consciência e reflexão, além de absorvermos ensinamentos como nenhum outro, o nosso Superego vai se tornando mais e mais complexo pela vida afora.
Para evitar o perigo, ele desenvolve busca de controle. Para controlar, ele passa a buscar sentido em tudo, a procurar entender e dominar o funcionamento do mundo.
Um dos primeiros exemplos disso é também a primeira mostra de consciência em nossa espécie: nossos ancestrais perceberam que, assim como seus pares, eles também iriam morrer, logo, era preciso controlar a morte. Aí começaram os ritos fúnebres e as mitologias de vida após a morte, comum em todas as religiões desde então.
Já se vê que o medo pediu controle, o controle inventou uma história que explicasse o perigo, a história ganhou status de crença inabalável. Estava inventado o dogma: algo "Acima de mim" que não aceita questionamentos.
Como eu justamente estou questionando o dogma, por contar sua história, prevejo rancores levantados nos que o defendem. Lembro então que, mesmo para os religiosos, a teologia anda no fio da navalha entre a fé e a heresia.
Mas a evolução não parou por aí. Agora o programa é algo "Acima de mim", descolado do Eu, que olha para ele com reverência e temor.
Não por acaso muitos religiosos se proclamam "tementes a Deus" (têm medo dele e o reverenciam no mesmo termo).
Outra atribuição dada ao Superego é seu caráter de perfeição ideal e pureza absoluta, diante da qual estamos sempre em falta, sempre abaixo.
Platão, o filósofo grego de há 2400 anos, formalizou uma teoria antecessora do Superego, ao dizer que o mundo da matéria (nós) vive atolado numa caverna obscura que, do luminoso e perfeito mundo das ideias que lá fora vive, só pode enxergar as sombras projetadas no fosso.
Tudo o que conseguimos não passa de cópias inferiores do Ideal. Todos os deuses criados pelo homem à sua imagem e semelhança tiveram essa característica de Ideal.
O Superego, em sua versão atual, continua sendo o ideal de perfeição "Acima de nós", com poderes de nos ameaçar com a vergonha, a culpa, a perda do amor das pessoas queridas, a "sifudência", de nos criticar, julgar e condenar.
Se a consciência é uma graça, essa é sua desgraça.
www.franciscodaudt.com.br

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    folha de são paulo
    Depois daquele beijo
    Ao exibir no capítulo final da novela "Amor à Vida" um beijo amoroso entre dois personagens masculinos, a TV Globo atendeu a uma demanda que se intensificava nos últimos anos.
    Em que pese a presença regular da temática gay na teledramaturgia nacional, levantava-se a reivindicação de um ato que selasse de maneira convencional o amor entre pessoas do mesmo sexo.
    Este ato, segundo as convenções do gênero, é o beijo. Nada mais clássico, com efeito, do que as cenas finais em que galãs e heroínas longamente tocam seus lábios em sinal de união afetiva.
    Consumado, o ósculo gay cumpriu seu papel de atrair audiência, provocar polêmicas e reverberar na mídia. Criticado por alguns, foi festejado por homossexuais, em alguns casos como se representasse a redenção da minoria discriminada.
    A exultação decorre da hipertrofia midiática: as novelas infiltram-se de tal maneira no cotidiano da população que não raro se confundem com a realidade.
    Não há dúvida de que a telenovela pode servir como termômetro moral e comportamental de um determinado momento da sociedade. Se isso é verdade, o beijo entre pessoas do mesmo sexo passa a fazer parte de um repertório socialmente aceito. Talvez seja a chancela que faltava a um movimento crescente nas últimas décadas.
    É forçoso reconhecer e lamentar, no entanto, que a homofobia, em parte como reação aos avanços, ainda resiste. Enquanto se discutia o final da novela, a polícia investigava mais um caso de agressão a homossexuais ocorrido na região da rua Augusta, no centro de São Paulo.
    Ninguém é obrigado a ter simpatia por gays ou gostar de ver dois homens ou duas mulheres se beijando. Daí não se segue, contudo, que seja aceitável a repulsa agressiva à homossexualidade.
    Oscila-se, no Brasil, entre a atmosfera de tolerância --e até de celebração-- e a rejeição violenta. A Constituição veta a discriminação por raça, sexo ou religião. Os preconceitos, porém, sobrevivem, enraizados em situações históricas e culturais.
    Não se muda um país de uma hora para a outra --ou com um capítulo de telenovela. Mas, com todos os limites, o Brasil talvez venha a se tornar menos intolerante depois daquele beijo.

    José Simão

    folha de são paulo
    Ueba! Marina é o Bial de coque!
    'Cantor Leonardo é preso portando munição'. Balada Sertaneja. A munição era uma caixa de CDs dele
    Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Calor! Frente Frita! Frita até os miolos. Acho que esses ônibus em São Paulo não foram incendiados, entraram em combustão!
    E a pele que vira pele de jacaré? Crocodilo Style! E a Dilma vai lançar o Bolsa Calor: todo brasileiro terá direito a uma piscininha de plástico! Azulzinha, por favor!
    E o negócio é filar ar-condicionado em banco. Vou levar cadeira de praia pra agência do Banco do Brasil. Mas aí você corre o perigo de eles quererem te vender título de capitalização Ourocap! Rarará!
    E o primeiro capítulo da novela do Manoel Carlos? Sem Leblon! E sem ar-condicionado! E a melhor Helena seria a Heloísa Helena. Barraco garantido. Só que a Heloísa Helena não tem dinheiro pra morar no Leblon! Rarará!
    E essa: "Cantor Leonardo preso em Brasília portando munição". BALADA! Balada Sertaneja. A munição era pra balada! A munição era uma caixa de CDs do Leonardo. Ou como disse um tuiteiro: "O preço dos ingressos pro show do Leonardo é um tiro no peito!" Rarará!
    E essa: "Rede e PSB lançam diretrizes de programa". E tudo em verso! Eles rimaram digital com social! E conseguiram rimar Bornhausen com socialista!
    E a Marina discursando parece a Menina Pastora Louca. E o Campos com aqueles dois olhos esbugalhados parece o Jack Nicholson em "O Iluminado"! Marina Pastora Louca e o Iluminado! Rarará!
    E, como a Marina parece uma tartaruga sem casco, devia ser presidente do Projeto Tamar! E o PSB conseguiu uma façanha: encaixar o Heráclito Fortes e o Bornhausen num partido socialista! Aceitamos qualquer um, contanto que não seja socialista. Rarará!
    E eu não entendo nada do que a Marina fala: "Podemos superar a fragmentação do mundo em crise compondo novas sínteses baseadas em novas harmonias". Tradução: o pinto do meu pai fugiu com a galinha do vizinho. A Marina é o Bial da política. É um Bial de coque! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
    O Brasil é lúdico! Brasileiro escreve errado, mas todo mundo se entende! Olha essa placa em Curitiba: "Vende-se uma cama. Um corchom de sortero. Uma bisecleta. Uma geladeira. Uma samfona". Isso é tudo o que uma pessoa precisa pra viver. Inclusive, a SAMFONA! Eu quero a SAMFONA! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

      Banda de mascarados faz protesto 'vandalizando' hits

      folha de são paulo
      Banda de mascarados faz protesto 'vandalizando' hits
      Em estúdio, Los Vânda cria versões bem-humoradas de canções famosas nas quais faz ataques a políticos e à PM
      MARCO AURÉLIO CANÔNICODO RIOMesmo em ritmo de rock, a melodia é facilmente reconhecível: trata-se de "Dancin' Days", sucesso na voz das Frenéticas. Já a letra...
      "A gente às vezes/sente/sofre/cansa/de te ver roubar. Na nossa testa/mete/chumbo. Morador de bem se fudeu/na UPP."
      Essa é a versão "vandalizada" do hit dos anos 1970, que ganhou o título "Cabral Vê se Vaza" --em referência ao governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB)--, feita pelos cariocas do Los Vânda, uma espécie de banda "black bloc" formada por cinco mascarados que adaptam canções conhecidas com bem-humoradas letras de protesto.
      O grupo apareceu publicamente no final de agosto, postando vídeos no YouTube e no Facebook com versões que ecoavam os temas levados às ruas nos protestos populares.
      Até ontem, havia 16 canções "vandalizadas", entre elas sucessos de cantores como Roberto Carlos ("Remoções"), Tim Maia ("Do Paes ao Cabral"), Jorge Ben Jor ("Os Alckmins Estão Chegando") e até do Nirvana ("Smells Like Obama SPYrit").
      "A primeira ideia era de fazer uma espécie de bloco ou mesmo uma roda de samba inspirada principalmente no bloco Quanta Ladeira, de Recife, e no espírito esculhambativo do Carnaval", dizem os integrantes da banda à Folha, em entrevista por e-mail.
      Mas a partir dos protestos e da reação policial a eles, concluíram que a esculhambação estava imbuída de revolta e mudaram para o rock.
      O quinteto (vocal, baixo, bateria e guitarras) esconde seus rostos, geralmente com máscaras variadas --Homem de Ferro, Jason, Darth Maul, Galinha Pintadinha.
      O anonimato, segundo eles, é uma forma de "se colocar ao lado de quem se protege nas manifestações", mas também uma negação da "cultura do eu"."Não importa quem somos. Os vídeos, as músicas, falam por si."
      Os cinco dizem ser um grupo politicamente heterogêneo. "Nenhum de nós é de direita, tampouco é direito."
      Além de detonar políticos, a "grande mídia" e a PM, os vídeos mostram que a banda não é amadora --os vídeos são simples, mas com legendas, todos bem ensaiados, gravados no mesmo estúdio.
      O Los Vânda não tem planos para sair das redes sociais --já pensaram em fazer shows, mas não se esforçaram, e não cogitam lançar as canções em outro formato. Até porque acreditam que os detentores dos direitos não as liberariam.
      Folha procurou alguns dos compositores de canções "vandalizadas" para saber o que acharam; apenas Nelson Motta, que teve as suas "Dancin' Days" e "Um Novo Tempo" usadas, se manifestou.
      "Por mim, podem fazer as paródias que quiserem com as minhas músicas. Só não podem me obrigar a ouvir. Divirtam-se", escreveu Motta.
      Para este ano de Copa e eleições, os rapazes dizem já ter várias músicas. "Adoraríamos não ter esse material todo, mas ele está aí, gritando na nossa frente, então vamos gritar também."
      HIT DE PROTESTO
      "O Paes" (versão do grupo Los Vânda para a música "A Paz", lançada em 1986 pelo cantor Gilberto Gil)
      O Paes invadiu o meu barracão
      De repente me encheu de gás
      Descobri que era remoção
      Minha casa foi toda ao chão
      Apanhei dos policiais
      O Paes foi provar que era valentão
      Esbofeteou um rapaz
      Quero ver é sair na mão
      Contra toda população
      Que reprova o que você faz

      Marcelo Coelho

      folha de são paulo
      Na escuridão
      Assassinato do cineasta Eduardo Coutinho talvez leve a ver seus filmes de outro modo
      É muito difícil, e quase invasivo, falar de tragédias como a ocorrida com Eduardo Coutinho. Um assassinato a golpes de faca, ao que tudo indica cometido pelo próprio filho, que sofre de esquizofrenia: ninguém teria nada a acrescentar à brutalidade do acontecido --não fosse o morto um dos mais importantes cineastas da atualidade.
      Não há como procurar sentido nos fatos, mas talvez se torne inevitável ver os filmes de Eduardo Coutinho de outro jeito a partir de agora.
      Lembro por exemplo um documentário antigo do diretor, "Santo Forte". Naquele filme, com depoimentos de vários moradores de uma favela sobre as próprias experiências religiosas, o limite entre loucura e sanidade mental era questionado o tempo todo.
      Pessoas sensatas, e mesmo descrentes, falavam com naturalidade de eventos sobrenaturais; o surto psicótico e a visão religiosa se confundiam no que era narrado, sem que ninguém deixasse de parecer normal depois daquilo.
      Normais, para lá de normais, também eram os moradores de "Edifício Master". Nada mais desinteressante, na aparência, do que aquelas personagens da classe média carioca.
      Bastava deixar o tempo fluir, entretanto, para que em cada conversa a pessoa mais banal abrisse abismos de singularidade e sofrimento. É como se ninguém pudesse passar ileso pela vida --e o que diferencia cada ser humano de outro consistiria, sobretudo, na sua soma própria de acidentes.
      Uso o termo como quem fala em "acidentes geográficos": uma encosta, um precipício, uma montanha, cada qual com sua forma particular, resultado de não sei quantos tremores de terra, desabamentos, enxurradas, depósitos, florescimentos e resistências.
      Ileso, entretanto, e sempre igual, parecia ser o próprio Eduardo Coutinho, abordando seus entrevistados, filme depois de filme. Era uma atitude que cheguei a qualificar de "quase sádica" a propósito de "As Canções".
      Vai chegar a hora, pensa o espectador, em que o entrevistado vai desabar no choro, apesar dos esforços para demonstrar a própria força, a capacidade de reconstruir a vida depois de alguma tragédia familiar ou grande decepção amorosa.
      Atrás da câmera, Eduardo Coutinho não se abria para ninguém; qualquer documentarista conta ademais com um álibi suplementar, porque nem sequer a sua fantasia entra em cena.
      O sofrimento, pensa o espectador, está nos outros. Tratava-se, de um modo muito radical, de um cinema "na terceira pessoa". Era tão grande a recusa de Coutinho em fazer do cinema um lugar para a própria imaginação que seus documentários mostravam sempre a parafernália das câmeras e dos refletores.
      Com isso, mostrava-se que a realidade dos entrevistados já estava tingida, por si mesma, de uma dose considerável de delírio, de autoengano, de mania. Coutinho, da sua cadeira de diretor, ocupava sempre o lugar do equilíbrio, do enquadramento, do responsável por deixar as coisas em seus devidos termos.
      Por isso mesmo, nos seus filmes ele ficava no escuro. A escuridão à sua volta, entretanto, parece ter sido maior do que qualquer pessoa poderia prever.
      • * *
      Sabia que tinha esquecido alguma coisa no artigo da semana passada, sobre "Tango Livre". No filme, um grupo de presidiários aprende os segredos do tango, que historicamente começou de fato como uma dança só entre homens.
      Sugeri que a descoberta da masculinidade envolve também, para não cair em caricatura, o conhecimento da própria feminilidade. A ideia me veio depois de ler uma página de "Hora de Alimentar Serpentes", livro de prosas curtas de Marina Colasanti (ed. Global).
      Numa carta a seu amigo Fliess, Freud escreveu que estava se acostumando "a considerar todo ato sexual como acontecendo entre quatro indivíduos". Um dos personagens anônimos de Marina Colasanti incomoda-se "com a presença de tantos" ao fazer amor com a mulher.
      "Por fim", escreve a autora, "desfez-se dos outros três que lhe ocupavam os lençóis, e dedicou-se a amar somente a parte feminina de si mesmo".
      Muitas estratégias de "despersonalização" como essa criam as surpresas às vezes forçadas, outras vezes de muito impacto poético, de "Hora de Alimentar Serpentes".
      Cito, e talvez venha a propósito, o texto que inspirou o título do livro.
      "Hora de alimentar as serpentes que habitavam sua cabeça. Concentrou o pensamento em pequenas criaturas vivas, rã, passarinho. Um gosto de sangue chegou-lhe à boca, e o mover-se do novelo sibilante, que apenas intuía, aquietou-se. Sua segurança estava garantida por mais algum tempo. Dia chegaria, entretanto, em que suas inquilinas haveriam de pôr ovos."

      Helio Schwartsman

      folha de são paulo
      O fim das mordomias
      SÃO PAULO - Deu na Folha que senadores são reembolsados por gastos ligados à atividade parlamentar que ultrapassam duas centenas de milhares de reais. No ano passado, a Casa pagou R$ 23,2 milhões para ressarcir os 81 senadores de suas despesas com segurança, consultoria e divulgação de atos. Pior, há um forte cheiro de superfaturamento. Um de nossos valorosos parlamentares torrou R$ 185 mil na criação e manutenção de seu site, um serviço que, no mundo real, dificilmente custaria mais de R$ 10 mil.
      Somem-se a esse mecanismo de compensações as verbas de gabinete, o quinhão de passagens aéreas e a cota de contratação de auxiliares, entre outros benefícios, e não dá para recriminar os cidadãos por acharem que congressistas em geral e senadores em particular levam uma vida nababesca à custa do contribuinte. Igualmente grave, os escândalos periódicos que pipocam nessa seara ajudam a corroer ainda mais a reputação do Parlamento.
      Meu palpite é que o acúmulo de benesses causa mais danos à imagem do Congresso do que o volume efetivo de gastos. Minha sugestão, assim, é que dupliquemos ou até quadrupliquemos (o valor exato é uma questão de fazer as contas) os vencimentos dos parlamentares e, em contrapartida, que todos os pagamentos extras e mordomias sejam extintos.
      Cada representante faz o que achar melhor com o dinheiro. Se quiser contratar 20 assessores ou nenhum, é uma decisão de foro íntimo. Se o escritório precisa de clipe, cabe ao parlamentar providenciar. Na hora de visitar as bases, pode escolher se vai de avião ou de ônibus, hipótese em que embolsa a diferença.
      A grande vantagem desse esquema é que os deputados e senadores tenderiam a ser mais parcimoniosos em seus gastos e não precisaríamos mais perder tempo em infrutíferas discussões metafísicas sobre se a despesa X configura-se ou não como um gasto parlamentar legítimo.
      helio@uol.com.br
        Helio Schwartsman

      Ruy Castro

      folha de são paulo
      Neblina e sombras
      RIO DE JANEIRO - Woody Allen de novo na berlinda. Sua filha adotiva Dylan, revoltada com a indicação ao Oscar de "Blue Jasmine", novo filme de Woody, escreveu carta ao "New York Times" detalhando os alegados abusos sexuais que teria sofrido dele aos sete anos, em 1992. A carta seria também uma resposta ao incisivo artigo do cineasta Robert Weide em defesa de Allen, publicado há dias no site de notícias "The Daily Beast".
      A volta do assunto ao noticiário, 21 anos depois do escândalo, se deve a tuítes irônicos de Mia Farrow, sua ex-mulher, e do filho de ambos, Ronan, durante a recente transmissão de entrega de um prêmio de cinema para Woody. Os tuítes provocaram uma enchente de comentários que dão de barato sua culpa, embora nada jamais tenha sido provado contra ele. Como a carta de Dylan será muito mais lida que o artigo de Weide, eis alguns pontos enfatizados pelo defensor de Woody.
      A junta médica que examinou Dylan na época atestou que ela não foi molestada. Woody nem sequer foi acusado. Um vídeo em que a menina responde a perguntas de Mia parece ter sido editado de modo a incriminar Woody. A babá de Dylan, para quem Woody era inocente, declarou em juízo que Mia tentou forçá-la a depor contra ele. Aos médicos que a interrogaram, Dylan deu respostas contraditórias com intervalos de dias --como se tivesse sido instruída entre um depoimento e outro.
      Mas, na carta ao "Times", Dylan foi mais objetiva. Contou como era levada por Woody ao sótão da casa de Mia em Connecticut e ele se deitava com ela, embora sem tocá-la sexualmente. A acusação é grave, e o caso não vai parar por aí.
      Caso ainda com mais neblina e sombras do que luz. Um irmão de Mia, John Charles Farrow, acaba de ser condenado a dez anos de prisão por sucessivos casos de pedofilia. Até agora não se pronunciou a respeito.

      Elio Gaspari

      jornal o globo
      A fritura de Helena Chagas
      Pela 1ª vez, o destino das verbas decidiu o futuro da máquina de comunicação do governo federal
      O comissariado fritou a ministra Helena Chagas. Pela primeira vez em quase um século, desde que o jornalista Lourival Fontes foi cuidar da imagem de Getúlio Vargas, o funcionário encarregado da comunicação do Palácio do Planalto caiu por causa de dinheiro, acusado de não atender aos objetivos políticos do governo. A jornalista, com 32 anos de carreira, teve no seu ofício um desempenho muito superior à média do comissariado petista. Não a fritaram porque divulgou o que não devia, ou deixou de divulgar o que devia. Muito menos porque suas opiniões políticas divergiam do governo. Na raiz do mal-estar estavam apenas verbas, o dinheiro da Viúva.
      Seja qual for o governo, sempre haverá alguém reclamando porque não recebe dele verbas publicitárias proporcionais à fidelidade com que o defende. O patrono dessa espécie deveria ser o jornalista Alexandre von Baumgarten. Amigo de generais da ditadura, queria reerguer uma revista falida e buscava no Planalto perdões de dívidas e verbas publicitárias. Acabou-se em 1982, com uma bala na cabeça, e deixou um dossiê acusando o Serviço Nacional de Informações pela sua morte.
      Em 2012 a máquina de propaganda do palácio moveu R$ 1,9 bilhão. Esse é o dinheiro que Brasília promete repassar ao governo do Estado do Rio para enfrentar desastres naturais. Noutra conta, R$ 1,2 bilhão é o total dos financiamentos brasileiros para obras e serviços em Cuba. Vale lembrar que esse tipo de munificência não foi inventada pelo PT, nem é exclusiva do governo federal. Ele apenas inflou-a, pois em 2000 o tucanato torrou R$ 1,2 bilhão.
      Em 2012 o Planalto gastou mais em publicidade que a Ambev (R$ 1,6 bilhão), que vive de vender cervejas e refrigerantes. Com R$ 1,7 bilhão, a Caixa Econômica (cujas despesas não estão na caixa do Planalto) gastou mais que o Bradesco e o Itaú, somados.
      A conta de R$ 1,9 bilhão expande-se para uma cifra difícil de ser calculada. Nela entram outras campanhas promocionais, como as de ministérios, empresas estatais e contratos com agências de relações públicas que se superpõem às burocracias do Estado. Num cálculo grosseiro, esse aparelho federal pode custar até R$ 4 bilhões por ano.
      Quando um governo desenvolve a mentalidade do sítio, julgando-se injustiçado pelos meios de comunicação, a arca torna-se um saco sem fundo, capturada por um círculo vicioso: se estão contra nós, precisamos ajudar quem nos defende e, se alguém nos defende, nada mais natural que ajudá-lo. Num outro estágio, o hierarca federal, estadual ou municipal, seja qual for seu partido, confunde deliberadamente a divulgação de políticas públicas com a exaltação de suas próprias atividades (leia-se candidaturas). Como fica feio fazer isso com o aparelho do Estado, privatizam a ambição política e estatizam seu custo. Em 2013 o Ministério da Saúde gastou R$ 232 milhões e Alexandre Padilha disputará o governo de São Paulo.
      Pedir que os governos parem de gastar dinheiro com publicidade num ano eleitoral é um exercício fútil. Precisamente porque este é um ano eleitoral, o balcão está aberto para candidatos capazes de se comprometer a reduzir drasticamente esse tipo de despesa. Basta contar ao público quanto seus antecessores torraram e dizer quanto e como pretendem gastar.