segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Ronaldo Lemos

folha de são paulo
INTERNETS
RONALDO LEMOS @lemos_ronaldo
Ninguém mais será anônimo nas ruas
Você vai a uma festa cheia de pessoas que parecem interessantes. Quem são elas? Um jeito de descobrir é perguntar para os amigos. Outro vai ser usar aplicativos como o Nametag, desenhados para o Google Glass.
Você aponta os óculos conectados do Google para alguém e bingo! O app mostra quem é, seu perfil em redes sociais e até mesmo se a pessoa tem registros criminais.
De acordo com o fundador da empresa, Kevin Tussy: "O Nametag vai transformar a paquera on-line e off-line em uma atividade muito mais segura e propiciar mais informações sobre as pessoas que estão a nossa volta".
Traduzindo: estamos caminhando rapidamente para um mundo em que ninguém mais será anônimo no espaço público. Nosso "login" para entrar nas redes sociais vai ser nosso próprio rosto. E não vai ter "logout", exceto se você andar mascarado.
Como essa perspectiva incomoda organizações e pessoas preocupadas com a privacidade (incluindo este colunista), o caminho para isso se disseminar vai ser árduo, mas não impossível.
O Nametag só exibe perfis de pessoas que voluntariamente se cadastraram no aplicativo. Ou seja, para eu poder ser identificado, tenho de me cadastrar.
Como tudo na internet, assim que os usuários perceberem as vantagens do cadastro (como ganhar descontos em lojas que reconhecem automaticamente o seu rosto), vão deixar a ideia de privacidade de lado e seguir em frente.
O Google anunciou que não vai aceitar aplicativos de reconhecimento facial no Google Glass. Com isso, o Nametag está por ora banido. A questão é saber até quando.
READER
JÁ ERA Paquerar só no mundo off-line
JÁ É Sites de paquera por localização geográfica
JÁ VEM Sites de paquera por reconhecimento facial

    Leão Serva

    folha de são paulo
    Por que só um tipo de ônibus pega fogo?
    Dos veículos incendiados, 94% são de empresas; 6% são das cooperativas de antigos 'perueiros'
    Do início do ano até sexta, 45 ônibus foram incendiados em São Paulo, causando prejuízo de R$ 23 milhões. Nenhum dos episódios envolveu discussão sobre ônibus ou tarifas, mas um fato chama atenção nos crimes: dos veículos queimados, 42 (94%) são de propriedade de empresas; só três (ou 6%) são de cooperativas (dos antigos perueiros).
    São Paulo tem dois sistemas de ônibus de transporte público: os intermunicipais (de propriedade de empresas, administrados pelo Estado, usam o cartão BOM) e os municipais (administrados pela prefeitura, usam Bilhete Único).
    O sistema municipal, por sua vez, está dividido entre "empresas concessionárias" (oito consórcios que ganharam a concorrência de 2003 para explorar linhas longas, corredores e o centro); e "permissionárias" (12 cooperativas de proprietários independentes exploram linhas locais, de um bairro a outro ou aos corredores). Visualmente, são veículos semelhantes.
    Em 2003, ao criar o Bilhete Único, o secretário Jilmar Tatto (que voltou ao cargo em 2013) estabeleceu os dois modelos; os permissionários tiveram contratos de sete anos, renováveis por mais três (total, dez, completados no ano passado); as empresas que ganharam a concorrência tiveram contratos de dez anos, renováveis por mais cinco (máximo até 2018).
    Ao assumir a prefeitura, Fernando Haddad iniciou uma concorrência para reestruturar o sistema. Tatto apresentou proposta detalhada. Com as manifestações de junho, o prefeito decidiu contratar uma auditoria e adiar o processo. Na sexta-feira, Jilmar Tatto disse à coluna que a nova licitação deve ficar para o ano que vem.
    Há uma disputa intensa entre os dois tipos de contratados do município: em 2004, as concessionárias faziam 70% das viagens e as permissionárias, 30%; hoje, trocaram de posição: as cooperativas levam mais da metade dos passageiros. Estão em jogo fatias de um bolo que vale cerca de R$ 6 bilhões/ano.
    Quando o atual sistema era negociado, a então prefeita Marta Suplicy usou colete a prova de balas, dizendo-se ameaçada por máfias do transporte público. Mas, desde 2004, continuam sem conclusão as investigações sobre a suposta influência do crime organizado nas cooperativas.
    Embora insista que "a polícia tem que investigar todas as hipóteses", o secretário Tatto diz que os incêndios "parecem manifestações específicas de questões locais, sem ligação com transportes". O secretário da Segurança Pública, Fernando Grella, também diz: "Não descartamos nenhuma hipótese". Mas intui algo diferente: "Em alguns casos, parece haver ação orquestrada".
    Ainda não há conclusões. Na sexta, ele computava "42 autores foram identificados, 37 deles presos ou apreendidos (os menores)".
    Na cidade circulam cerca de 15 mil ônibus municipais, sendo 60% das concessionárias e 40% de permissionárias (os intermunicipais são outros 4,8 mil). Mas, novamente, 94% dos veículos incendiados são de empresas e só 6%, de cooperativas. Em nenhum bairro a proporção entre os dois tipos é essa. Isso quer dizer que os responsáveis pela queima dos ônibus (que custam R$ 500 mil cada) escolhem seus alvos.
    O que se pode concluir disso? Até aqui, nada. Mas fica a dúvida significativa: por que só um tipo de ônibus pega fogo?

      Vacina anti-HIV da USP passa no 1º teste

      folha de são paulo
      Vacina anti-HIV da USP passa no 1º teste
      Experimento inicial com quatro macacos obtém sucesso no Instituto Butantan; nova etapa vai usar 28 animais
      Grupo usou DNA para ativar reação imune em primatas; nova fase tem vírus inofensivo para inocular genes
      SALVADOR NOGUEIRACOLABORAÇÃO PARA A FOLHA
      O projeto piloto do teste em macacos de uma vacina contra o HIV desenvolvida pela USP obteve resultados preliminares surpreendentemente positivos, afirmam os cientistas que o conduziram.
      "Testamos a resposta imune dos animais e os resultados foram excelentes", conta Edecio Cunha Neto, pesquisador que liderou os trabalhos de desenvolvimento da vacina. "Os sinais foram bem mais intensos do que os que encontramos em camundongos", diz Susan Ribeiro, cientista associada ao projeto.
      A surpresa dos pesquisadores, que ministraram três doses separadas por 15 dias em quatro macacos-resos do Instituto Butantan, se deu pelo fato de que normalmente a reação a essa modalidade de vacinação é menor em primatas do que em roedores.
      Trata-se de uma vacina de DNA. Os cientistas "escrevem" nessa molécula trechos de genes que codificam pedaços de proteínas do vírus causador da Aids.
      Com a inserção do DNA no organismo, a ideia é que ele seja usado dentro das células para fabricar só essas miniproteínas (chamadas peptídeos), sem o vírus original.
      Esses pequenos pedaços proteicos foram escolhidos com base em pacientes que têm resposta imune incomumente alta ao HIV. Estudos conduzidos desde 2001 chegaram a 18 peptídeos que são candidatos a produzir reação forte do sistema de defesa.
      Testes feitos em camundongos modificados para ter imunologia similar à humana mostraram que é possível ensinar células responsáveis pela identificação de patógenos invasores a identificar esses peptídeos e atacá-los.
      A premissa é que, se o sistema imunológico aprender a reconhecer esse material rapidamente e reagir para destruí-lo, é isso que ele fará ao encontrar o HIV de verdade.
      Contorna-se, portanto, um dos maiores desafios de combate ao vírus: o fato de que ele costuma passar ileso pelo sistema imunológico, que não o reconhece como um invasor perigoso até que seja tarde demais. Como o HIV infecta justamente as células de defesa, ele desativa mecanismos do nosso organismo que nos defendem de infecções.
      Os dados obtidos pelo projeto-piloto são animadores, mas ainda não consistem em prova definitiva de sucesso. Um dos problemas é o número reduzido de animais.
      A ideia agora é expandir o teste para 28 macacos e desenvolver um protocolo diferente, que envolve outra forma de administrar a vacina.
      VÍRUS CONTRA VÍRUS
      Em vez de injetar o DNA diretamente no organismo, a proposta envolve incluir o DNA que codifica esses peptídeos do HIV no genoma de vírus "atenuados" --incapazes de causar infecção mas indutores de potentes respostas imunes. Uma opção seria usar o vírus da vacina da febre amarela em combinação com outros vetores virais, aparentados da vacina da varíola e do causador do resfriado nos chimpanzés.
      O procedimento torna esses vírus uma espécie de dublê do patógeno mortal. Espera-se que a resposta imune seja ainda mais poderosa com o uso desse recurso.
      Caso os testes sejam todos bem-sucedidos, estará pavimentado o caminho para os ensaios clínicos com humanos. O grupo da USP busca parceiros na iniciativa privada para conduzir essa etapa final, que envolve custos da ordem de R$ 250 milhões. Até o momento, a pesquisa consumiu cerca de R$ 1 milhão.

      Ruy Castro

      folha de são paulo
      Exposição narcisista
      RIO DE JANEIRO - Por que Sherlock Holmes, em seu tempo, conseguia solucionar qualquer caso policial? Porque só ele dominava certas disciplinas úteis à análise da cena do crime. Exemplos. Pela cinza no chão, sabia identificar a marca do charuto que o suspeito estivesse fumando. Pelo tipo de terra deixado pelos sapatos do criminoso, era capaz de deduzir de que região de Londres ele saíra. E, pela distância entre as pegadas do sujeito na lama, podia estabelecer o seu peso, altura, cor dos olhos, profissão e até preferências literárias --Dickens ou Thackeray?
      A Londres de Sherlock era a de 1890, em que havia grandes marcas de charutos, as ruas eram de terra e, quando chovia, viravam um lamaçal. Hoje, quase ninguém mais fuma, as cidades são asfaltadas e os crimes, cada vez menos cometidos por leitores de Dickens ou de Thackeray.
      Por outro lado, com a tecnologia atual, ficou quase impossível fazer alguma coisa errada e não ser descoberto. Se alguém mata na estrada e foge sem prestar socorro, logo aparecem imagens gravadas por uma câmera. Assaltar uma loja, fazer um arrastão num prédio ou matar 30 crianças numa escola, a mesma coisa --o criminoso nem sempre se dá conta de que está sendo filmado por todos os ângulos.
      Vide o caso do rojão atirado contra o cinegrafista Santiago Andrade. Os acusados podem negar a autoria, culpar-se mutuamente ou até inventar um terceiro participante --na verdade, todos naquela cena foram assassinos de Santiago. Não importa. Até por solidariedade a ele, os cinegrafistas do Rio, em massa, estão examinando suas coberturas, quadro a quadro, em busca do passado dos dois "black blocs".
      E há também a irrefreável tendência desse tipo de elementos a se gabar de suas façanhas pelas redes "sociais", como se tal exposição narcisista não pudesse um dia servir para incriminá-los.

      Venezuela no abismo [editorial folhasp]

      folha de são paulo
      Venezuela no abismo
      O saldo de três mortos a tiros e dezenas de feridos durante protestos estudantis na semana passada são mais uma evidência de que o governo Nicolás Maduro aposta na repressão para debelar a crescente insatisfação na Venezuela, imersa no desabastecimento crônico, na inflação galopante e na insegurança generalizada.
      A passeata reuniu milhares de universitários no centro de Caracas e em outras cidades do país, no maior ato oposicionista desde a eleição de Maduro, há dez meses.
      Estudantes pretendiam ser recebidos pela procuradora-geral, Luisa Ortega Díaz. Reivindicavam a liberação de três colegas que, durante protestos anteriores, haviam sido presos, levados a um quartel e depois transferidos a um presídio a 500 km de distância.
      Irritados com a chefe do Ministério Público, que se recusava a recebê-los, manifestantes atacaram policiais e o prédio da instituição.
      A reação à condenável violência estudantil foi desproporcional. Imagens mostram que agentes do Sebin (Serviço Bolivariano de Inteligência) utilizaram armas de fogo e que os estudantes foram atacados também por "coletivos", organizações civis que apoiam a defesa armada da "revolução bolivariana".
      Fora das ruas, a atuação de Nicolás Maduro foi lamentável. O presidente justificou a truculência como resposta a um fantasioso "golpe de Estado planejado".
      O embate serviu ainda para tirar do ar o canal a cabo NTN24, que transmitia os confrontos ao vivo. Com isso, aumentou ainda mais o controle estatal sobre os meios de comunicação críticos ao governo, hoje praticamente reduzidos a um punhado de jornais impressos --entre os quais se destacam "El Universal" e "El Nacional".
      Eleito na esteira da morte de Hugo Chávez e tendo superado seu adversário por apenas 1,6 ponto percentual, Maduro se mostra incapaz de enfrentar a situação econômica extremamente delicada. A inflação do ano passado chegou a 56%, estimulada pelo desabastecimento de produtos básicos.
      Sem coragem para enfrentar os gargalos da Venezuela, Maduro aprofunda os erros de Chávez, com uma política econômica suicida e uma dependência cada vez maior das Forças Armadas.
      Protestos oposicionistas, intolerância política e dificuldades econômicas empurram a Venezuela para o fundo de um abismo que ela própria criou --e do qual não sabe como escapar.

      Em sua 14ª edição, Big Brother Brasil tenta ganhar audiência dando mais espaço a comportamentos ousados

      folha de são paulo
      Libbberou Geral
      Em sua 14ª edição, Big Brother Brasil tenta ganhar audiência dando mais espaço a comportamentos ousados
      ALBERTO PEREIRA JR.EDITOR DO "F5"Na estreia do "Big Brother Brasil", em janeiro, Pedro Bial apresentou a 14ª edição do reality show da Globo como a temporada da paixão.
      Mais do que o sentimento, a atração tem mostrado uma sucessão de comportamentos liberais e quebras de tabus na emissora.
      No "BBB14", já não surpreende ver participantes tomarem banho nus, fazerem striptease e sexo.
      Um romance lésbico --o primeiro da história do programa brasileiro-- antecedeu até mesmo o polêmico beijo gay no final da novela "Amor à Vida".
      Para Bruno Campanella, autor de tese de doutorado sobre o "BBBl", o maior exibicionismo dos participantes se deve a "uma ampliação das fronteiras da sociedade".
      Professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), ele se refere a transformações exemplificadas pelas conquistas LGBT e pelos protestos. "Imagino que há dez anos esse mesmo grupo de confinados não mostraria as mesmas atitudes."
      O psiquiatra Marcelo Arantes, que esteve no "BBB8" (2008), também vê como "tendência natural" o "afrouxamento moral dos confinados". "Eles precisam de visibilidade, então abusam de recursos próprios. Durante a seleção, a produção especula o que cada um pode fazer ali, e escolhe os mais ousados."
      Segundo Arantes, não há orientação da direção do programa sobre nudez e sexo. "Mas eles tocam a sirene, quando acham que alguém está falando algo impróprio. Dispararam para mim quando mencionei a participação de gays nas Forças Armadas."
      AUDIÊNCIA
      Segundo Susan Mello, do site De Cara pra Lua, especializado na cobertura do reality, a montagem do elenco atual buscou tipos mais ousados para ganhar audiência.
      Além de modelos e marombados, o "BBB14" conta com uma stripper profissional, Clara Aguilar. Na casa, ela engatou namoro com Vanessa Mesquita, que já apresentou um talk show erótico. "Claro que é para ter mais ibope, mas será que está conseguindo?", questiona Mello.
      Nos seus 30 primeiros dias, o "BBB14" registrou média de 25,4 pontos no ibope. Cada ponto equivale a 65 mil domicílios na Grande São Paulo. No mesmo período, em 2013, o reality marcou um ponto a menos, com 24 pontos. Os 30 dias inicias do "BBB12" (2012) marcaram 27 pontos.
      O aumento de cenas ousadas no programa ainda não gerou denúncias. Consultado pela reportagem, o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro informou que, até o momento, essa edição conta com uma representação, motivada por um comentário de teor considerado racista de Cássio Lanes.
      Folha procurou o diretor de núcleo do "BBB14", Boninho, e o apresentador Pedro Bial para comentar a reportagem. Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Globo respondeu que o reality "apresenta sempre inovações, e isso inclui a formação de casais, as alianças entre os participantes, as desavenças, as festas, as provas".
        Fora do Brasil, reality show é mais liberal
        DE SÃO PAULOEm 2012, público e participantes do "BBB 12" reagiram com surpresa ao desprendimento de Noemí Merino. Num intercâmbio entre a atração da Globo e seu congênere da Espanha, a jovem não se intimidou: trocava-se e tomava banho completamente nua. A prática, segundo ela, era comum entre os concorrentes de seu país.
        Em um de seus indefectíveis discursos, Pedro Bial resumiu o ineditismo do comportamento em solo nacional. "Nossa hóspede vem nos demonstrando que, para trocar de roupa no Big Brother', não é preciso fazer contorcionismo sob os edredons."
        Também no "BBB12", Daniel Echaniz foi expulso por ter praticado suposto abuso sexual contra Monique Amin. O caso chegou a ser investigado pela polícia, mas foi arquivado, após a jovem declarar que o ato foi consensual.
        Na África do Sul, em 2007, comportamento semelhante de um jogador não motivou expulsão, e ele venceu o programa.
        Com presença em cerca de 40 países, o "Big Brother" mundo afora é mais liberal, diz o estudioso Bruno Campanella. "A cultura latina é conservadora. Até topless na praia é questão controvertida no Brasil."
        Sexo diante das câmeras, troca de casais e até orgias já foram realizadas nas versões alemãs, inglesas e norte-americanas do programa. Na Dinamarca um casal de ex-participantes declarou ter concebido o filho dentro do reality, em 2003.

          Gregorio Duvivier

          folha de são paulo
          Acabou a baderna
          A legislação vai mudar, graças a Deus (e à Dilma). A ex-guerrilheira, quem diria, vai baixar o AI-5
          Acabou a baderna. Encontraram o grande financiador do movimento. Já foi provado que membros do PSOL doaram 150 reais para se realizar uma ceia de Natal para mendigos e o dinheiro foi usado para comprar várias rabanadas. Como se sabe, poucas coisas são mais letais que uma rabanada na cara, especialmente se ela estiver dormida.
          Muita gente já deve ter morrido a golpes de rabanada do PSOL. Isso porque o pessoal não declarou o panetone. Um panetone é uma arma branca! Ainda mais se for daqueles bem duros, da Visconti. Quando pega na testa, mata na hora. Mas não vai mais matar ninguém. A fonte secou!
          Engraçado pensar que alguns acreditavam que o motivo da revolta de junho era a insatisfação popular. Finalmente ficou provado que não. O povo está muito feliz. Eduardo Paes já aumentou a passagem de novo. E não vai dar em nada. O povo não tem problema nenhum com aumento de passagem. O povo não tem problema nenhum com nada. Quem inventa problema é a esquerda caviar. O povo está feliz. Sempre esteve.
          Detalhe: ao exumarem o corpo de Josef Stálin, descobriu-se que em sua farda, no bolso esquerdo, havia uma estrela na qual podia-se ler as impressões digitais de Iran Kruschewsky, assessor de Stálin, cuja filha primogênita, Anna Nicolaievna, foi amante de Miriam Pletskaya, embaixatriz da extinta Tchecoslováquia cujo filho, Benjamin Berndorff, tem as mesmas iniciais de Bruno Bianchi, ortopedista brasileiro nascido em 1967, mesmo ano em que nasceu o deputado Marcelo Freixo. Procurado, o deputado negou qualquer envolvimento com o regime stalinista.
          "Não acho que o ano em que eu nasci seja um dado relevante para tecer esse tipo de conexão estapafúrdia", afirmou o deputado, saindo pela tangente. A palavra "estapafúrdia", no entanto, já havia sido usada por José Sapir, meu cunhado, para designar a roupa que uma senhora usava em Copacabana, bairro do Rio de Janeiro, cidade onde nasceu Oscar Niemeyer, stalinista confesso. Ou seja...
          A legislação vai mudar, graças a Deus (e à Dilma). Não vamos mais tolerar baderna. A ex-guerrilheira, quem diria, vai baixar o AI-5. O Brasil finalmente está virando um país sério: bandido preso no poste, Polícia Militar ameaçando Porta dos Fundos, leis antiterrorismo. O caminho se abriu. Este é o ano em que Bolsonaro vai assumir a presidência da Comissão de Direitos Humanos. Chegou o momento, Capitão! Em abril, nossa revolução faz 50 anos.

          Luiz Felipe Pondé

          folha de são paulo
          Hobbes nas ruas
          Gente comum quer uma vida pautada por rotinas de trabalho, escola, lazer e consumo
          Dias atrás, o Brasil se chocou com cenas de violência nas ruas. Pessoas comuns batendo em supostos (ou comprovados) bandidos. Policiais tendo que protegê-los da fúria da gente comum.
          De um lado, uma jornalista faz comentários arriscados na TV, do outro, setores da intelligentsia pedem providências do Ministério Público contra a jornalista, botando ainda mais lenha na fogueira da atmosfera de ódio e ressentimento que toma conta, lentamente, da alta, média e baixa culturas nacionais.
          Não se pode defender o espancamento na rua, mesmo sendo bandido. Só o Estado detém o monopólio legítimo da violência. Mas é esta mesma intelligentsia (tribunais, universidades, mídia, escolas, ONGs) que vem sistematicamente erodindo esse monopólio legítimo da violência que pertence à polícia. Claro que os erros desta precisam ser sanados, mas a sociedade não faz nada para melhorar o tratamento institucional dado à polícia, e sem ela, sim, a gente comum vai espancar supostos (ou comprovados) bandidos na rua. E vai piorar.
          O espancamento de supostos (ou comprovados) bandidos na rua é parte do fenômeno de massa que os inteligentinhos chamam de "jornadas de junho", num esforço de reviver a ejaculação precoce que foi o Maio de 68 na França, aquela revolução de mimados.
          Lembremos que quando as manifestações do ano passado atingiram o nível de massa, os inteligentinhos começaram a gritar dizendo que o movimento (deles!) tinha sido sequestrado por setores "conservadores" da sociedade. Para eles, "conservador" é todo mundo que não os obedece e não os teme, mesmo que seja apenas para parar a Paulista.
          Se no ano passado vimos uma inesperada crise na representação política, agora assistimos a um crescente rompimento do contrato social. E quem está na rua é o homem descrito pelo intelectual honesto que foi Hobbes, e não o pseudo-homem dos "delírios do caminhante solitário" e vaidoso Rousseau.
          Já falei algumas vezes nesta coluna do que podemos chamar de psicologia da gente comum. Esta gente que a intelligentsia, na verdade, despreza, apesar de posar de defensora da gente comum. Digamos a verdade. Nossa contradição aparece quando, por exemplo, algumas pessoas começam a gritar contra gente mal-educada e sem compostura frequentando aeroportos, e os "defensores dos menos privilegiados" saem ao ataque da burguesia chocadinha reclamona.
          Infelizmente, a intelligentsia não percebe que tanto a burguesia chocadinha quanto os mais pobres fazem parte da mesma categoria de gente comum. Perdemos, nós da intelligentsia, a capacidade de enxergar essa gente comum, porque vivemos em nossa "casinha" correndo atrás da produtividade inócua da Sua Excelência Capes ou delirando com seres humanos que não existem.
          E qual é a psicologia de gente comum? Gente comum é duramente meritocrática: quem não trabalha é vagabundo. Não quer ser assaltada quando vai para o trabalho ou para casa (e se for, quer ver o ladrão se ferrar feio!), quer também casa própria, metrô e ônibus que andem, comprar um carro logo que for possível, hospital sem muita fila, comer pizza no domingo, transar por cinco minutos quando não estiver muito estressada, ir para praia, ganhar cada vez mais, ir ao cinema mais perto de casa, ir ao salão de beleza, ver os filhos crescerem, tomar cerveja, e se der, ler alguma coisa além de ver TV.
          E, digamos: pagam impostos e tem todo o direito de viver assim (menos de bater em gente na rua). Mas vão bater em supostos (ou comprovados) ladrões cada vez mais porque estão sentindo que a sociedade não está nem aí para eles.
          Quando a chamada classe D alcançar os níveis do consumo da classe C, vão querer a mesma coisa. Uma vida pautada por rotinas de trabalho, escola, lazer, consumo e férias. E quem ficar no caminho vai apanhar. Esta é única "consciência social" que existe.
          Quando essa massa de gente que está de saco cheio de ser pisada no trem, de pagar imposto e não poder andar com seu carro nas ruas, de ver sua filha com medo, agir, o homem de Hobbes fará sua "revolução". A vida será doída, violenta e breve.