quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Nos EUA, gays resistem a tomar pílula para evitar HIV - David Tuller

folha de são paulo
Nos EUA, gays resistem a tomar pílula para evitar HIV
Um ano e meio após a aprovação do Truvada nos EUA para prevenir a infecção, remédio ainda não 'pegou'
DAVID TULLERDO "NEW YORK TIMES"Michael Rubio, 28, lembra-se de como quatro amigos se tornaram soropositivos por fazerem sexo sem proteção no espaço de um ano. Essas notícias o levaram a experimentar uma nova forma de evitar o HIV: uma pílula diária que previne a infecção.
"Com meu círculo de amigos tão afetado no último ano, foi fácil optar por isso", afirmou.
Especialistas esperavam que o remédio, o Truvada (combinação de dois antirretrovirais usados para tratar pessoas com HIV desde 2004), fosse adotado com entusiasmo por homens gays saudáveis. Em vez disso, a droga está demorando para "pegar" nesses 18 últimos meses desde que foi aprovado como terapia profilática pela FDA (agência reguladora de remédios nos EUA).
No Brasil, o tratamento está passando por testes ainda.
Por 30 anos, a camisinha foi anunciada como única forma eficaz, além da abstinência, de evitar a transmissão do HIV. Mesmo assim, 50 mil novas infecções ocorrem a cada ano nos EUA. A transmissão entre homens representa metade desse total.
Médicos saudaram o Truvada como oportunidade de reduzir novas infecções entre jovens gays, pessoas cujos parceiros estão infectados e prostitutas. A FDA pediu que as receitas do Truvada fossem acompanhadas de aconselhamento, testes de HIV e promoção do sexo seguro.
Mas menos pessoas vêm usando a profilaxia pré-exposição do que se esperava. Segundo a Gilead Sciences, que fabrica a droga, 1.774 pessoas compraram Truvada nos EUA para prevenção contra o HIV entre janeiro de 2011, quando esse uso ainda era off-label (fora das recomendações da bula), e março de 2013.
Surpreendentemente, quase metade das receitas era de mulheres. Deborah Cohan, obstetra e ginecologista da Universidade da Califórnia, já receitou o Truvada para muitas mulheres cujos parceiros têm HIV, inclusive uma que quer ficar grávida.
Então por que mais homens não adotaram o tratamento? Alguns relataram ter recebido reações negativas dos médicos quando falaram sobre o assunto. O uso da droga como prevenção também carrega um estigma entre os gays. O termo "Truvada whore" (prostituta de Truvada) já apareceu em redes sociais. Efeitos colaterais como perda de densidade óssea, apesar de raros, preocupam.
Outra questão é que, com os avanços no tratamento, muitos jovens não viveram os piores anos da epidemia e têm menos medo da doença. E as drogas atuais baixam tanto os níveis virais nos infectados que o risco de transmissão se reduz muito, diminuindo a percepção de que a profilaxia seja necessária.
SEM CAMISINHA
Damon Jacobs, um psicoterapeuta de Nova York, começou a tomar o Truvada depois de terminar um relacionamento. "Percebi que não usava mais a camisinha com tanta frequência e isso me assustou", afirmou Jacobs, 42, que mantém uma página no Facebook promovendo a profilaxia pré-exposição. Ele disse que nunca se esqueceu de tomar uma só dose do remédio nos últimos dois anos, mas reconhece que agora ele usa camisinha ainda menos.
Esse comportamento preocupa os médicos. A parcela dos gays que dizem ter feito sexo anal sem proteção nos últimos 12 meses cresceu de 48% em 2005 para 57% em 2011, segundo pesquisa do governo americano.
A adesão ao tratamento é outro problema. Um estudo mostrou que muitos homens não tomavam a pílula todo dia, o que os deixava mais vulneráveis à infecção.
Para Kenneth Mayer, professor de medicina em Harvard, é cedo para pessimismo. "Vai levar tempo [para que mais gente use o remédio]. Estamos só no início."

    Paula Cesarino Costa

    folha de são paulo
    O ano que nunca começa
    RIO DE JANEIRO - Hoje deveria ser o primeiro dia útil de 2014. Como já é quinta-feira, não dá para começar nada para já ser interrompido no fim de semana. O ano então começa mesmo na segunda, dia 6.
    O calor se anuncia desesperador, o Rio está e continuará lotado de turistas em janeiro e fevereiro. Para quem não trabalha na praia ou dentro d'água será muito difícil voltar à vida normal e conseguir produzir.
    E a cidade se preparará para o Carnaval daqui a dois meses. A Quarta-Feira de Cinzas cai em 5 de março. O ano poderia começar na quinta, dia 6. Como ninguém é de ferro, deve começar de fato na segunda, 10 de março.
    Aí não tem mais desculpa, todos à luta cotidiana. Mas estaremos a três meses da Copa do Mundo no Brasil. O evento mais importante e mais esperado dos tempos recentes.
    O país inteiro, especialmente as 12 cidades-sede, estará na correria para arrumar a casa para receber milhares de visitantes. No dia 12 de junho, a seleção brasileira abre a Copa contra a Croácia no novo estádio do Itaquerão, em São Paulo.
    O que mal tinha começado a engatar para de novo. Por um mês, tudo fica em compasso de espera. Até a final em 13 de julho, quando o mundo inteiro estará de olho no gramado do Maracanã e no Rio, que ensaia para a Olimpíada em 2016.
    Então o primeiro dia para valer mesmo talvez passa a ser a segunda-feira, 14 de julho, o dia da queda da Bastilha, na Revolução Francesa. Pode nos inspirar, porque teremos de fazer as atribuições de um ano em seis meses. Coisa de perder a cabeça.
    Mas, durante todos os dias do ano, milhares de candidatos --a presidente, governador, senador, deputado-- estarão mesmo pensando em 5 de outubro, dia do primeiro turno das eleições. Terão um ano atribulado, que só começará a valer em 2015.
    2014 será um ano de Copa e eleições, mas só vai começar mesmo quando acabar.

    À espera da Copa

    folha de são paulo
    ROGÉRIO GENTILE
    À espera da Copa
    SÃO PAULO - Com a recuperação gradativa de Dilma Rousseff nas pesquisas, a Copa do Mundo passou a ser tratada por Marina Silva e Eduardo Campos (PSB) como a principal oportunidade, talvez a única, de reverter o favoritismo da petista na eleição presidencial de outubro.
    A despeito da economia manca, dos mensaleiros presos, das suspeitas contra tucanos em São Paulo, Marina e Campos não conseguiram avançar no discurso da "nova política", da "terceira via", lançado por ocasião da aliança feita em outubro, embaralhando-se com o oposicionismo puro e amarelado do PSDB. Qual é a diferença entre o governador pernambucano e o senador mineiro?
    Sem saber muito bem como seguir em frente, aguardam uma segunda onda de indignação. "Desejo [a essa multidão que foi às ruas] mais força e criatividade para renovar a democracia no Brasil em 2014", escreveu a ex-ministra, na Folha, na sexta-feira passada, citando o "país do futebol".
    Copa e eleição não costumam se misturar, mas o fato de a competição ocorrer aqui pode modificar as coisas. Um eventual fracasso na organização, problemas nos aeroportos ou na segurança têm potencial para despertar um sentimento de vergonha nacional. Mas torcer por isso é mais estúpido do que desejar o insucesso de Neymar e cia.
    A repetição dos protestos de junho também é uma possibilidade, afinal sempre há motivo para se revoltar no Brasil, e muitos estarão interessados em aproveitar a janela de exposição da Copa. Mas é necessário lembrar que os atos de 2013 só ganharam dimensão, levando multidões às ruas, quando a polícia de Alckmin usou de violência irracional contra manifestantes e jornalistas, indignando o país. Até então o aumento da tarifa mobilizara uma meia dúzia.
    Haverá um novo estopim em junho? Pode até acontecer, mas apostar nisso agora, como fazem Marina e Campos, submetendo-se a essa expectativa, é mais arriscado do que tentar adivinhar o vencedor da Copa.

      "Rolezinhos" - Editorial FolhaSP

      folha de são paulo
      "Rolezinhos"
      O objetivo seria "tumultuar, pegar geral, se divertir, sem roubos". Assim é definido, por seus próprios participantes, o "rolezinho", que chegou a reunir 6.000 jovens da periferia numa única ocasião.
      No dia 7 de dezembro, foi esse o número dos que atenderam à convocação das redes sociais para um encontro num shopping paulistano. Também a polícia compareceu, como é recomendável e de praxe em aglomerações dessa monta.
      Parte dos frequentadores do centro comercial assustou-se com a cena, que, sem ser prenúncio de atividade criminosa, não escondia suas intenções contestatárias.
      Trata-se de questionar a cultura do consumo, o exclusivismo dos espaços frequentados pelas classes abastadas e a suposta discriminação racial que lhe seria subjacente.
      "É arrastão", exclamou alguém. Deu-se o corre-corre, e quatro jovens terminaram sendo encaminhados à delegacia mais próxima.
      Conseguiu-se, assim, colocar o "preconceito social" em primeiro plano. Mas é de perguntar o quanto há de discriminatório na atitude dos que, cientes do risco real de arrastões e vandalismo no Brasil, entraram em pânico ao ver tantos jovens num mesmo lugar, com intenções não de todo explicitadas.
      Os "rolezinhos" se repetiram, acompanhados de intenções duvidosas de enquadrá-los em algum artigo da legislação penal.
      A novidade do fenômeno e a sutileza com que foge a classificações estabelecidas são sinais de algo nada novo: as imensas desigualdades de renda do país criam formas de segregação espacial, e áreas privadas, como os shopping centers, substituem, por razões de segurança e de pasteurização social, lugares tradicionais do convívio público, como ruas e praças.
      O incremento da renda das classes baixas e o maior acesso à informação tornaram mais aguda a percepção das diferenças que, paradoxalmente, começaram a se tornar menos dramáticas.
      Ao acesso a bens de consumo vêm somar-se outras reivindicações: o ingresso em espaços públicos, a luta pelo reconhecimento, a denúncia do preconceito --que se faz, num novo paradoxo, mais pela afirmação das diferenças de cultura, vocabulário, roupa e comportamento do que pela vontade da imitação e da fusão indiferenciada com o estrato superior.
      Igualdade e desigualdade, provocação e inofensividade, celebração e medo se misturam nos "rolezinhos"; num plano mais abstrato, ordem e progresso, ao lado de desordem e estagnação, fazem do fenômeno um retrato especialmente nítido do Brasil de nossos dias.

        Lobista do cartel participava de reuniões com a CPTM

        folha de são paulo
        Revelação é de ex-diretor da estatal em depoimento obtido pela Folha
        Alguns contratos de manutenção de trens da empresa paulista teriam apresentado sobrepreço de 30%
        FLÁVIO FERREIRAMARIO CESAR CARVALHODE SÃO PAULOApontado pela Polícia Federal como um dos consultores utilizados para pagar propina da Siemens e da Alstom a políticos do PSDB e servidores, o lobista Arthur Teixeira frequentou reuniões técnicas e acompanhou contratos dentro da sede da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
        A informação foi revelada por José Luiz Lavorente, diretor de operação e manutenção da CPTM, em depoimento à Corregedoria Geral da Administração que a Folha obteve.
        A corregedoria é o órgão do governo paulista que investiga a conduta dos servidores suspeitos de envolvimento com o cartel de trens.
        Segundo Lavorente, o lobista representou a Alstom, de origem francesa, a CAF, da Espanha, e a Bombardier, do Canadá. "Arthur Teixeira chegava a representar as empresas na fase de execução do contrato", completou.
        A CPTM afirma que são as empresas que decidem quem vai representá-las.
        Alstom, CAF e Bombardier venderam trens da série 2000 à CPTM, entregues em 2000. Meses depois, essas três empresas e a Siemens foram escolhidas, entre outras, para fazer a manutenção de três lotes de trens da estatal. Os três contratos, assinados em 2000 e 2001, custaram à CPTM R$ 744 milhões em valores atualizados.
        Os contratos de manutenção --os dos trens das séries 2000, 2100 e 3000-- foram alvos de cartel, segundo denúncia que a Siemens apresentou ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão do governo federal que cuida da defesa da concorrência. Um dos papéis entregues pela empresa alemã indica que se não houvesse conluio a companhia ofereceria proposta com valor 30% menor que o apresentado para ganhar a concorrência.
        A Siemens diz nesse documento que foi procurada à época das licitações por Arthur Teixeira e Sérgio Teixeira, que organizavam uma reunião entre empresas para combinar os preços.
        Em carta anônima enviada ao ombudsman da Siemens em 2008, cuja autoria hoje é atribuída ao ex-diretor da multinacional alemã Everton Rheinheimer, Lavorente foi apontado como beneficiário de propinas do cartel.
        Foi entre 1999 e 2000 que Lavorente diz ter conhecido Arthur Teixeira. Ele foi levado à CPTM por João Roberto Zaniboni, que ocupou o cargo de diretor de manutenção e operação entre 1999 e 2003. Nessa época, Lavorente era gerente de manutenção.
        A PF indiciou Zaniboni por suspeita de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de cartel. Autoridades suíças reportaram que Zaniboni recebeu US$ 103,5 mil de Arthur Teixeira em maio de 2000 e US$ 113,4 mil de Sérgio Teixeira, sócio de Arthur, em dezembro daquele ano. A conta de Zaniboni na Suíça teria movimentado US$ 836 mil, segundo autoridades do país.
        Teixeira foi indiciado pela PF como suspeito de ter cometido corrupção passiva, cartel, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
        Ele é apontado pelo Ministério Público da Suíça como o titular de uma conta cujo valor está bloqueado por causa da suspeita que recebeu dinheiro de corrupção.
        TCE
        Dois dos três contratos de manutenção apontados na delação da Siemens foram considerados irregulares pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado). Uma das razões foi que a CPTM mudou a destinação de recursos, originalmente programados para materiais importados, e os usou para a aquisição de produtos nacionais, o que não estava previsto nos contratos.

        OUTRO LADO
        Estatal afirma que não pode proibir presença de 'consultores' em reuniões
        DE SÃO PAULOA CPTM diz que são as empresas que indicam os representantes delas em reuniões. "A CPTM não possuía nem possui qualquer amparo legal para proibir a participação dos consultores das empresas nas reuniões relativas à execução do objeto do contrato. A regulamentação desse acompanhamento técnico é de competência da legislação federal, e não do estatuto da companhia."
        A Alstom não quis comentar por que os lobistas representavam a empresa. Em nota, a multinacional disse: "A Alstom trabalha com base em um rígido código de ética, definido e implementado por vários procedimentos, de maneira a respeitar todas as leis e regulamentações dos países em que atua."
        A Bombardier afirmou em nota que "jamais concedeu ao sr. Arthur Teixeira poderes para representá-la legalmente". A companhia canadense ainda negou "qualquer tipo de comportamento antiético ou que não respeite as leis de cada país onde está presente".
        O advogado de Arthur Teixeira, Roberto Garcia, disse que desconhece o depoimento de José Luiz Lavorente e a atuação de Teixeira em reuniões técnicas ou na execução de contratos da CPTM.
        Porém, se tais ações ocorreram, Teixeira trabalhou na condição de consultor. "Arthur Teixeira não é lobista, é profissional com competência técnica reconhecida pelo mercado", disse.
        O advogado Luiz Fernando Pacheco, que defende José Roberto Zaniboni, afirma que seu cliente nunca participou de reuniões com Teixeira na CPTM e não cometeu quaisquer crimes em sua atividade profissional.
        Folha não conseguiu localizar Lavorente nem representantes da CAF.

          Painel - Vera Magalhães

          folha de são paulo
          Plantão intensivo
          O governo protocolou no Tribunal de Contas da União em 30 de dezembro o recurso para que o órgão reveja a determinação do acórdão da ministra Ana Arraes que barrou o arrendamento de terminais no porto de Santos (SP) e no Pará. No mesmo dia, a equipe de Dilma Rousseff apresentou outro recurso, que contesta ressalvas feitas pelo TCU sobre os investimentos projetados para licitações de ferrovias. Os dois projetos são prioridades do Planalto na área de infraestrutura.
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          Assim... No primeiro caso, a Secretaria de Portos pede que seja revista a determinação de não publicar os editais antes de serem reapresentadas ao TCU as 19 providências pedidas pela relatora do processo. Isso não ocorreu em decisões relativas a rodovias, aeroportos e ferrovias.
          ... não Além disso, o governo solicita ao TCU que reconheça a impossibilidade de fixar tarifa teto para todos os arrendamentos, alegando que a decisão limitará a livre concorrência.
          Nos trilhos 1 No caso das ferrovias, a Agência Nacional de Transportes Terrestres contesta a redução feita pelo TCU no volume de investimentos, de R$ 6,4 bilhões para R$ 4,8 bilhões, para o trecho entre Lucas do Rio Verde (MT) e Campinorte (GO), o primeiro a ser concedido pelo novo modelo.
          Nos trilhos 2 Para o governo, um corte desse montante pode inviabilizar a concessão, uma vez que a disputa se dá com base no valor do investimento: quem fará a ferrovia com menor custo.
          Boca... Chefe do Ministério Público do Rio, o procurador-geral Marfan Vieira passou o Ano-Novo na área vip da prefeitura carioca em Copacabana. A festa, patrocinada por cinco empresas, teve bufê e champanhe à vontade.
          ... livre Vieira chefia o órgão responsável pelas ações na Justiça contra autoridades fluminenses. O procurador não quis comentar sua participação no evento.
          Expansão 1 A Prefeitura de São Paulo planeja organizar festas de Réveillon em outros parques da cidade na próxima virada de ano, a exemplo do evento realizado anteontem no Ibirapuera.
          Expansão 2 A Secretaria do Verde vai buscar áreas para as festas principalmente na zona norte e na zona leste.
          Alternativa Marina Silva fará novas investidas para convencer Luiza Erundina a ser a candidata do PSB ao governo de São Paulo. O movimento faz parte da tentativa da ex-senadora de consolidar o afastamento da sigla da campanha à reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB).
          Polos... Nos debates que teve com a cúpula do PSB sobre o tema, Marina apontou que o apoio à candidatura de Alckmin seria inadmissível, pois considera que o governo tucano tem um desempenho ruim na educação, uma de suas prioridades para a disputa eleitoral deste ano.
          ... opostos Outro argumento de Marina é o de que a mensagem de renovação política da Rede e de sua aliança com Eduardo Campos (PSB)
          seria incompatível com o PSDB paulista, que governa o Estado há quase 20 anos.
          Vai indo Um dos chamados "três porquinhos" da coordenação da campanha de Dilma em 2010, Antonio Palocci tem dado sinais de que quer ficar longe da disputa deste ano. O ex-ministro avisou a grão-petistas que pretende passar uma temporada fora do Brasil, a partir de agosto, para fazer um curso.
          Lado No programa de televisão do PV, que vai ao ar hoje, o presidente da sigla, José Luiz Penna, defende a "alternância de poder". Boa parte da propaganda é protagonizada por Eduardo Jorge, pré-candidato à Presidência.
          Eixo O PV produziu o programa em Brasília, sob o comando do marqueteiro da legenda, Luís Jorge Natal.
          TIROTEIO
          Já que a gerente Dilma e a economista Dilma fracassaram, só nos resta ter esperança na psicóloga Dilma. Que Freud nos ajude.
          DO SENADOR AÉCIO NEVES (MG), presidente do PSDB, sobre a afirmação de Dilma de que a área econômica do governo é alvo de "guerra psicológica".
          CONTRAPONTO
          Contrapropaganda
          Após um evento do governo de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) foi a um botequim no centro da capital paulista para tomar um café e, no caixa, reparou nos maços de cigarro que trazem propagandas que alertam para os males do fumo para a saúde.
          Uma das embalagens à mostra afirmava que o consumo de cigarro pode causar impotência sexual. Outro alertava que o fumo pode levar à morte.
          Alckmin virou-se para a atendente e perguntou:
          -O pessoal lê isso e compra o cigarro mesmo assim?
          -Ah, doutor. Eles compram. Mas todos querem o que mata! -respondeu a atendente.

            Medo de ser Índio - Fabio Maisonnave

            folha de são paulo
            Medo de ser Índio
            Por orientação da PF e da Funai, indígenas evitam a cidade de Humaitá, onde houve confrontos
            FABIANO MAISONNAVEENVIADO ESPECIAL À ALDEIA JU'I (AMAZONAS)
            Desde junho, o estudante indígena Elton Jiahui, 17, faz um curso por correspondência para o exame de admissão para a Marinha, sonho alimentado por dois amigos que seguem a carreira militar. Mas, por orientação da Polícia Federal e da Funai, ele diz que não fará a prova, marcada para depois de amanhã, em Humaitá.
            "Eles falaram que nenhum índio podia ficar na cidade. O policial disse para não pensar nisso [prova], mas na minha vida", disse Jiahui, em sua aldeia, que fica a 106 km da cidade.
            No município com cerca de 50 mil habitantes, centenas de manifestantes queimaram, em pleno Natal, a sede da Funai, ao menos 11 carros e um barco da instituição.
            Foi um protesto contra o desaparecimento de três moradores da região no último dia 16, em trecho da rodovia Transamazônica que atravessa o território indígena.
            Orientados pela Funai, Elton, que cursa o ensino médio em Humaitá, deixou a casa alugada onde mora na cidade e se refugiou no quartel do Exército no dia 24.
            Ele, seu pai, o cacique Pedro, que estava de compras na cidade, e outros 113 indígenas só puderam deixar o quartel após seis dias, quando foram levados às aldeias em um ônibus com escolta policial.
            Ao chegar à aldeia, às margens da Transamazônica, descobriram que o posto de pedágio construído pelos índios também fora incendiado, um dia após o Natal.
            Os pedágios dos indígenas funcionam desde 2006 e são bastante criticados pelos moradores da região, que reclamam o pagamento de até R$ 110 para transitar numa estrada ruim e sem pavimento.
            Os índios dizem que o pagamento é uma "reparação" pelos danos provocados pela rodovia. Decisões judiciais autorizaram o funcionamento desses pedágios. São cerca de dez, mas só funcionava um de cada vez, num esquema de rotação entre as aldeias. Todos foram incendiados na semana passada.
            Assustados, os cerca de 60 moradores da aldeia fugiram para o mato. Elda, 24, com o filho de três meses no colo, acabou se perdendo. Foi encontrada às nove horas depois, graças aos gritos dos homens que a buscavam.
            Desde então, mulheres e crianças dormem em acampamentos escondidos na mata, em redes e sobre folhas de bananeira no chão, enquanto os homens ficam de vigia nas casas de madeira à beira de rodovia.
            A aldeia ficou ainda cinco dias sem luz, depois que os manifestantes derrubaram um poste da rede com um trator. A eletricidade só foi restabelecida anteontem, quando descobriram que a bomba que puxava água do poço havia queimado.
            O cacique Pedro diz que o principal problema no curto prazo é o desabastecimento. Por causa da crise, ele teve de deixar em Humaitá a compra de mantimentos para o mês.
            A aldeia já não tem leite para as crianças. Uma jovem epilética só tem medicamento para mais quatro dias.
            Para piorar, o macaco de estimação da aldeia, Chicão, aproveitou a confusão durante o ataque ao pedágio para entrar na dispensa. Espalhou todo o arroz estocado no chão, comido em seguida pelas galinhas.
            Elda, filha de Pedro, diz que eles não podem sequer encomendar comida ao único ônibus que passa pela aldeia. "A PF disse que podiam envenenar."
            Sem carros, a Funai não visitou a aldeia desde o início da crise. Amedrontados, os funcionários deixaram a cidade e se refugiram em Porto Velho, a cerca de 200 km, apesar de o governo federal ter mobilizado cerca de 300 agentes de segurança para a região, incluindo militares e policiais federais.
            Os jiahui sofrem apesar de não estarem diretamente envolvidos com a crise. Os suspeitos do desaparecimento são a etnia vizinha tenharim. Seria uma retaliação contra a morte do cacique Ivan Tenharim, que apareceu morto na rodovia no início de dezembro, ao lado de sua moto.

            Contardo Calligaris

            folha de são paulo
            Vigília para o ano novo
            A maioria dos turistas são apenas compradores; eles só tem uma experiência: a de comprar
            O edifício principal da biblioteca pública de Nova York está na Quinta Avenida, entre as ruas 40 e 42.
            É uma construção imponente, no estilo Beaux-Arts, como a Grand Central Station, e a sala de leitura é majestosa, como o átrio de Grand Central: o Beaux-Arts gosta de espaços enormes, altos e sem colunas de sustentação.
            Não é um estilo pelo qual eu tenha uma paixão. Sempre achei um pouco pomposo, como tudo o que foi concebido e feito na época de Napoleão 3º e, logo depois, na Terceira República da França --a começar pela Ópera de Paris, que sempre me pareceu imitar um bolo de noiva.
            Enfim, o fato é que os turistas, onipresentes em Nova York nestes dias, sobem a escada externa, tiram uma foto de lembrança com aqueles dois leões de mármore, que aparecem em tantos filmes, e penetram no edifício. Eles param para outra foto no átrio (onde se ergue uma grande árvore de Natal) e continuam pela escada interna; quando chegam ao segundo andar, atravessam a sala dos computadores públicos e encontram o espaço que lhes é reservado na entrada da sala de consulta ao catálogo.
            Quanto ao acesso à sala de leitura, ele é protegido: os turistas ficam na porta, olhando, e um cartaz avisa que é bom manter o silêncio.
            Estou em Nova York para ler algumas (ao menos) fontes primárias (do século 15, 16 e 17) sobre possessão diabólica --isso porque Carlo Antonini, protagonista de minhas ficções, encontrará um exorcista e um endemoninhado num futuro próximo. Restabeleci minha carta de leitor (que não usava há tempos) e minha autorização de acesso à divisão dos livros raros, a sala 328, que é um lugar fechado (é preciso bater à porta), pouco frequentado (sobretudo durante as férias) e com regras estritas: por exemplo, não se entra com sobretudo, pasta ou caneta (a sala fornece papel e lápis).
            Estou lendo o relato do exorcismo de Nicole Obry (publicado pouco tempo depois dos fatos, em 1578), o "Flagellum Daemonum" (o flagelo dos demônios), de Gerônimo Menghe, que é um manual de exorcismo bem conhecido na época (1599), e "A Candle in the Dark" (uma vela no escuro), de Thomas Ady, que é um compendio das opiniões (já numerosas na época --1659) dos que acreditavam que não havia possessos, mas apenas enfermos.
            Voltarei a escrever sobre exorcistas e endemoninhados. Hoje, o que me importa é a estranha experiência de ler na divisão dos livros raros da biblioteca pública de Nova York, neste fim de 2013.
            A sala 328 se situa no fim da grande sala de leitura, longe dos turistas, mas, inevitavelmente, eu os cruzo quando chego e quando volto à sala do catálogo.
            Turista sempre foi um termo pejorativo. Chamava-se assim quem viajava por diversão e, inevitavelmente, conseguia uma experiência superficial e chocha do lugar visitado. Hoje, aqui em Nova York, isso parece ser o de menos. A maioria dos turistas são apenas "shoppers", compradores; eles só tem uma experiência: a de comprar. Os que visitam a biblioteca pública entre uma loja e outra devem ser a nata da categoria; mesmo assim, adultos e crianças, quase escondidos atrás das sacolas que carregam, eles olham para mim como se eu habitasse uma outra dimensão. Talvez, eles encarem a biblioteca como um aquário, onde é possível observar uma espécie em via de extinção.
            Não resisto à tentação de comparar os "shoppers" aos autores que estou lendo, para quem o mundo era um lugar complexo e interessantíssimo, em que cada opção comportava um risco radical, para a alma e para o corpo.
            Sinto tristeza --pelo mundo transformado em bazar, pela miséria da experiência do "shopper" (para quem nem os objetos adquiridos tem relevância, só a estupidez do comprar) e por uma perda que afetará gerações, compradores produzindo compradores.
            Entre 1 e 2 de janeiro, começarei o ano na vigília de poesia que acontece a cada ano, na igreja de Saint Mark. Pessoas ficarão na fila noite adentro, com uma temperatura prevista de 15 negativos, para conseguir um assento e passar a noite escutando 140 poetas.
            No passado, na hora das catástrofes que ameaçavam a sobrevivência de uma comunidade (peste, invasões, fome), as pessoas se instalavam nas igrejas, em vigília, e pediam a ajuda de Deus contra a barbárie que estava às portas. A noite de poesia de St Mark é meu equivalente laico daquelas vigílias.

            Ciência para políticas públicas - Roberto Berlinck

            folha de são paulo
            ROBERTO BERLINCK
            Ciência para políticas públicas
            Sábia iniciativa seria governos se aproximarem de especialistas que possam colaborar na elaboração de propostas de interesse social
            Dois mil e treze foi o melhor ano para a humanidade, segundo o blogueiro Zack Beauchamp ("The Breakthrough Institute").
            Nunca foi tão pequeno o número de mortes de crianças com menos de cinco anos de idade. A expectativa de vida média no planeta saltou de 47 anos no início dos anos 1950 para 70 anos em 2011.
            O número de pessoas vivendo em condições de extrema pobreza atingiu um mínimo. As guerras se tornaram menos frequentes e mortíferas. A violência, em geral, decresceu significativamente. Diferentes formas de discriminação estão cada vez menos presentes.
            Beauchamp atribui tais avanços em parte ao desenvolvimento científico e tecnológico, bem como à inovação de políticas públicas.
            Com o advento das democracias, da melhoria da educação, do desenvolvimento econômico e social, o reconhecimento que a ciência pode ser uma poderosa aliada na proposição de políticas públicas ganha cada vez mais importância.
            Em diversos países, chefes de Estado adotaram a recomendação científica ("scientific advice") como estratégia para obter suporte desse conhecimento e buscar alternativas na resolução de questões complexas das nações que comandam.
            Embora tais iniciativas pareçam de efetividade óbvia, nem sempre o são. Enquanto que a recomendação científica busca fornecer subsídios para a abordagem de problemas de acordo com princípios científicos, necessidades políticas por vezes predominam e acabam por deixar de lado a adoção de possíveis soluções que se fundamentam em pesquisa e conhecimento.
            Além disso, os princípios de responsabilidade moral de funcionamento da sociedade como um todo devem ser considerados como mais importantes sobre os da ciência, levantando questionamentos sobre determinadas formas do desenvolvimento científico e suas aplicações.
            O fomento à ciência e à inovação tecnológica é essencial para o desenvolvimento das nações, pois não somente leva à geração de conhecimento e inovação, mas também à formação de recursos humanos qualificados e cientistas com alto grau de expertise.
            A adoção da recomendação científica indicada por experts no estabelecimento de diretrizes e políticas públicas pode servir de ponto de partida para a resolução de problemas sérios, como a mitigação de consequências de catástrofes naturais e melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.
            Nada mais natural que a sociedade seja diretamente beneficiada pelo conhecimento científico que em boa parte financia.
            Sábia iniciativa seria governos se aproximarem de especialistas que possam colaborar no entendimento e na elaboração de propostas para atender a questões de interesse social. Colaborando com governos e tomadores de decisão, cientistas se tornam elementos chave na formulação de políticas públicas.