segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A USP rumo ao futuro

folha de são paulo
JOSÉ ROBERTO CARDOSO E JOSÉ ANTONIO RAMIRES
A USP rumo ao futuro
O ensino de graduação precisa de um choque conceitual e de investimentos para recuperar o prejuízo causado pela atual gestão
É inegável que a USP seja a universidade de maior visibilidade do país. Suas diretrizes tornaram-se paradigmas de gestão e foram reproduzidas nesse universo complexo e heterogêneo do ensino superior.
Quais são, então, os agentes e as razões responsáveis por colocar nossa universidade no centro de críticas e agressões como há muito não se via? Em nossa avaliação, foi a ruptura dos canais de comunicação e o isolamento do poder.
Essa ruptura aboliu agendas com pró-reitores, vice-reitor e diretores e promoveu a maior concentração de poder em um único dirigente.
O restabelecimento desses canais é prioritário não só para garantir a governança perdida, mas também para promover uma cultura de paz que nos leve a praticar o diálogo e a superar dificuldades com civilidade.
A USP precisa voltar a ter serenidade para garantir a formação de qualidade e avançar na busca pelo conhecimento por meio de pesquisas de ponta, em ambiente que exale cultura, responsabilidade social e consciência ambiental.
A luta pela autonomia deve ser diária, pois problemas orçamentários a ameaçam. Mas, antes, é preciso superar a burocracia que hoje dificulta a conquista pela USP de um lugar entre as melhores universidades do mundo.
As demandas por inclusão social e rediscussão do poder precisam ser respondidas, e a comunidade deve ficar atenta para que compromissos já assumidos com ações afirmativas sejam cumpridos. A criação de um canal permanente de discussão mostrará a real intenção ao diálogo. Essa postura inibirá conflitos, invasões, preconceitos e agressões.
Quanto ao ensino, apesar de iniciativas isoladas, o impacto da tecnologia da informação e comunicação na graduação não está devidamente valorizado na universidade.
Observaram-se, na atual gestão, grandes avanços na computação corporativa. No entanto, o ensino on-line como suporte ao ensino presencial e como ferramenta de difusão do conhecimento gerado na USP precisa de uma solução definitiva para estarmos preparados para as mudanças do novo tempo.
O ensino on-line quebrará barreiras de acesso ao conhecimento qualificado. Em breve, a telepresença será corriqueira e os softwares reproduzirão as reações humanas, de modo que a aula presencial, no formato que a praticamos hoje, sofrerá modificações.
O estudante passará a ser um agente ativo na busca do conhecimento, e não passivo como em nossos dias, nos quais o professor é a única fonte do saber. O relacionamento do professor com o aluno evoluirá para a tutoria e para a orientação, e a carga horária será reduzida, pois o trabalho independente e dirigido será a maior ferramenta para a aquisição do conhecimento.
A redução da carga horária dará maior flexibilidade ao aluno para que realize atividades extraclasse, esportivas e culturais. Espaços lúdicos multidisciplinares, onde todos os saberes estejam presentes, serão abertos para estimular sua criatividade na produção de inovações em todas as áreas do conhecimento, para torná-lo um cidadão completo e avançado no seu tempo.
O ensino de graduação precisa de um choque conceitual e de investimentos para recuperar o prejuízo causado por uma gestão que não deu a adequada atenção à atividade-fim mais relevante da universidade.
O ramo de cultura e extensão será partícipe e chamado para assumir a tarefa de orientação nas questões sociais e, com ações articuladas, estabelecer agenda permanente de eventos para a comunidade. Essa pró-reitoria deverá prover a ponte segura de relacionamento com o setor produtivo com transparência e lucidez, para acelerar o processo criativo, inovador e levar a USP rumo ao futuro.

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