quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Evangélicos querem manter comissão de direitos humanos

folha de são paulo
Evangélicos querem manter comissão de direitos humanos
Bancada se mobiliza por cargo que deu impulso ao pastor Marco Feliciano
Aliado a movimentos sociais, deputado do PT busca apoio do partido para retomar controle do colegiado em 2014
MÁRCIO FALCÃOJOHANNA NUBLATDE BRASÍLIAEntusiasmados com a visibilidade que o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) conquistou durante o ano, integrantes da bancada evangélica querem manter sob seu domínio a Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
As articulações começaram logo após a despedida de Feliciano, que deixou o cargo na semana passada e, pelas regras da Câmara, não pode mais ser reconduzido à presidência do colegiado.
A estratégia dos evangélicos é convencer os partidos a indicar o maior número de representantes da bancada religiosa para compor a comissão em fevereiro, quando os deputados voltam ao trabalho após o recesso do fim de ano.
A avaliação de integrantes da bancada é que a comissão poderá ser um palco importante para os evangélicos defenderem seus pontos de vista e conquistarem votos nas eleições do próximo ano.
Em 2013, os trabalhos da comissão foram tumultuados devido à resistência dos movimentos sociais a Feliciano, a quem muitos militantes acusam de racismo e homofobia.
Mesmo sob ataque, inclusive durante a onda de protestos de rua de junho, ele permaneceu no comando da comissão e promoveu iniciativas polêmicas, como o projeto que autoriza psicólogos a oferecer tratamento a gays.
Um dos nomes que circula na bancada para representar os religiosos é o do deputado Marcos Rogério (PDT-RO). Alinhado a Feliciano, ele ajudou a derrubar projetos de interesse de movimentos sociais, como o que garantia igualdade no serviço público, independentemente de gênero e raça.
A movimentação dos religiosos, no entanto, pode esbarrar numa contraofensiva preparada por deputados ligados aos ativistas para evitar que as bancadas dos principais partidos transfiram suas vagas a siglas menores.
O Partido Social Cristão só assumiu o controle da Comissão de Direitos Humanos neste ano porque o PT, que a presidia, abriu mão do direito de continuar no comando e preferiu ficar com outras três comissões, incluindo a de Constituição e Justiça, a mais poderosa da Câmara.
O PSC não tinha direito a nenhuma vaga no colegiado, mas ficou com cinco cadeiras na comissão. Cederam vagas para a legenda o PMDB e o PTB. PSDB e PR também perderam espaço para integrantes da bancada evangélica.
Maior partido da Câmara, o PT marcou para o dia 3 de fevereiro uma reunião para definir o novo líder da bancada e as comissões que vai escolher para presidir em 2014. Comissões que garantam apoio a projetos de interesse da presidente Dilma Rousseff deverão receber prioridade.
Ex-ministro dos Direitos Humanos, o deputado Nilmário Miranda (PT-MG) tenta convencer o PT a retomar o controle da Comissão de Direitos Humanos. Já falou com 47 dos 89 deputados do PT e diz que o cenário é positivo.
O petista sustenta, no entanto, que a composição tem que ser um compromisso de todas as siglas. "Feliciano interrompeu 18 anos de serviço. A comissão viveu um ano de retrocesso, com uma pauta homofóbica, racista, discriminatória, contrária aos direitos humanos", afirmou.
Evangélico, o deputado federal Anderson Ferreira (PR-PE) disse que os religiosos são alvo de preconceito. "Como pode um deputado evangélico sofrer discriminação ao buscar a presidência da Comissão de Direitos Humanos?", questionou.
Segundo ele, que fez parte da comissão pelo segundo ano consecutivo, o colegiado avançou ao tratar de assuntos de interesse dos povos indígenas e dos negros. "Foi o ano de mais visibilidade nacional e de mais discussões para o setor", afirmou. "Antes, a comissão tinha uma minoria que ditava regras."
    BALANÇO
    Com pastor, 13 projetos passaram
    Marco Feliciano (PSC-SP) aprovou mais projetos como presidente da Comissão de Direitos Humanos que seus dois antecessores. A comissão analisou neste ano 16 projetos de lei, aprovando 13 e rejeitando três. Entre os que foram aprovados, estão o projeto da "cura gay", que depois foi arquivado, e o que livra padres e pastores de serem enquadrados por discriminação se expulsarem pessoas "em desacordo com suas crenças".
    Feliciano lança braço direito para Assembleia em SP
    AGUIRRE TALENTODE BRASÍLIAA Assembleia Legislativa de São Paulo pode ganhar seu Marco Feliciano em 2014: o pastor e deputado federal vai lançar a deputado estadual pelo PSC seu braço direito, o assessor parlamentar e cantor gospel Roberto Marinho.
    Marinho, 36, fará dobradinha com Feliciano para surfar na popularidade alcançada pelo pastor no período à frente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, onde defendeu posições contra direitos dos homossexuais.
    A aproximação entre os dois começou antes de Feliciano chegar à Câmara dos Deputados, graças à música gospel. Eles costumavam se encontrar em eventos evangélicos, até que em 2009 passaram a dividir o palco, com Marinho tocando teclado e cantando junto com Feliciano.
    O futuro candidato, que se refere a Marco Feliciano como "mentor", foi convidado para ser seu assessor após a vitória nas eleições de 2010.
    "O partido indicou pessoas com experiência para o gabinete, mas ele fez questão que eu viesse", lembra Marinho. "Ele me disse: Roberto, vamos juntos porque você é meu homem de confiança'."
    O assessor ganhou notoriedade por estar sempre ao lado de Feliciano, até mesmo no vídeo em que, dentro de um avião, passageiros cantaram a música "Robocop Gay", dos Mamonas Assassinas, e fizeram provocações ao deputado. O vídeo fez sucesso ao circular na internet, em agosto. Segundo Marinho, a partir desse episódio ele começou a ficar "mais famoso".
    "As pessoas diziam: Pastor, o senhor é muito sereno, mas o seu assessor podia ter se levantado e feito alguma coisa'. E começaram a perceber que eu também era do mesmo jeito", conta. "Não podem andar dois se não estiverem de acordo. Temos o mesmo pensamento, a mesma filosofia, por isso caminhamos juntos e damos tão certo."
    Com a popularidade em alta por causa das controvérsias provocadas por suas opiniões, o PSC estimulou Feliciano a lançar um nome para a Assembleia Legislativa paulista.
    Inicialmente, o pastor cogitou colocar na política alguém de sua família, mas desistiu. Em consenso com o partido, então, decidiu pela indicação de Marinho, que se filiou ao PSC em setembro.
    Marinho diz querer atrair jovens para o partido, planeja usar o mandato para o diálogo com prefeitos do interior e promete defender as mesmas posições de Feliciano.
    "Meu projeto principal é lutar em favor da família, ir contra o aborto, a discriminação das drogas, a violência e a pedofilia", afirma Marinho.
    Se dependesse da escolha dele, ele diz que "abraçaria" a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia. "Ajudando o pastor aqui eu me apaixonei por esse trabalho."

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