sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Ruy Castro

folha de são paulo
A causa da liberdade
RIO DE JANEIRO - Há um mês, a convite do Instituto de Referência da Imagem e do Som, de Fortaleza, doze biógrafos foram falar de seu ofício na capital cearense. Durante quatro dias, em lonas lotadas por um público atilado e vibrante, discutimos métodos de trabalho, a análise de cada partícula de informação, o que usar e o que deixar de fora, o respeito ao anonimato das fontes e outros prazeres e agruras do gênero.
Pela expressão dos rostos, via-se que a plateia se admirava com a complexidade da preparação de uma biografia e com a descoberta de que nenhum biografado existe no vazio. Está cercado de pessoas próximas, estas, por sua vez, remetendo a outras, e todas, compondo o mosaico de uma cidade, um país, uma época. A fazer da biografia --o levantamento de uma vida-- um ramal personalizado da ciência maior, que é a história.
Por ter sido planejado em julho, foi por acaso --um feliz acaso-- que o congresso se deu simultaneamente à luta em defesa das biografias não autorizadas e contra a sanha censória desencadeada por alguns artistas comandados por Roberto Carlos. Falou-se muito do assunto nos debates. E, pela amostra da plateia cearense, pode-se dizer que a opinião pública optou esmagadoramente pela liberdade de expressão.
Ao fim dos trabalhos, produziu-se um documento, a "Carta de Fortaleza", alertando para o fato de que essa luta não é só dos biógrafos. Interessa também aos historiadores, documentaristas, ensaístas, pesquisadores, jornalistas --e aos brasileiros em geral, cujo acesso à história precisa ser sagrado.
Um dos nossos sugeriu brincando que, se os inimigos das biografias independentes --Roberto Carlos, Chico Buarque, Gilberto Gil, José Sarney, Paulo Maluf e outros-- fizessem um congresso próprio para defender suas ideias, a causa da liberdade venceria mais depressa.

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