sábado, 28 de dezembro de 2013

Viagem espiritual

folha de são paulo

Filme mostra Marina Abramovic, a avó da performance, em visita a lugares no Brasil

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
DE NOVA YORK
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Depois de subir aos céus, no sábado passado, no ato final da temporada nova-iorquina de "Vida e Morte de Marina Abramovic", a "avó da performance", como ela se intitula, prepara-se para desembarcar no próximo fim de semana em São Paulo.
Abramovic visitará instalações do Sesc, onde fará, em março de 2015, uma grande retrospectiva de sua obra e mostrará trabalhos inéditos.
Ela também vai se encontrar com o diretor de cinema Marco Del Fiol, que prepara com o também diretor Cauê Ito um documentário com lançamento previsto para a época da exposição.

Marina Abramovic

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Divulgação
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Marina Abramovic segurando um cristal de quartzo em Corinto (MG)
O longa, ainda em fase de edição, foi filmado durante uma viagem de 40 dias da artista pelo Brasil em dezembro do ano passado.
Seguindo a expressão do mexicano Carlos Castaneda em seus livros sobre ensinamentos do índio Don Juan, Abramovic quis conhecer pessoas e lugares "de poder".
"Ela é curiosa em relação a situações que envolvem espiritualidade e formas não tradicionais de conhecimento", diz Del Fiol, que tem em mãos mais de cem horas de filme — registros da viagem, performances e conversas.
A incursão começou por Abadiânia, em Goiás, local em que o médium João Teixeira de Faria mantém a Casa Dom Inácio de Loyola, instituição que funciona como "hospital espiritual". O roteiro seguiu pelo Vale do Amanhecer, em Alto Paraíso, na entrada da Chapada dos Veadeiros, onde se reúne uma comunidade mediúnica.
A seguir, a artista conheceu o Jardim de Maitreya, também em Goiás, e viajou a Salvador.
A capital baiana foi um ponto de descanso e também uma oportunidade para ver igrejas e e rituais de candomblé — o que aconteceu na cidade histórica de Cachoeira, um dos berços da religiosidade afro-brasileira.
A esticada final foi pela Chapada Diamantina, com direito a experiência com ayahuasca, e Corinto, em Minas, a "terra dos cristais".
"Uma das coisas interessantes do filme é o registro dos diários que ela fazia. Ela sentava de olhos fechados diante da câmera e começava a falar", conta Del Fiol, que tem se dedicado nos últimos anos a filmes sobre arte e artistas contemporâneos — do baiano Marepe ao dinamarquês Olafur Eliasson.
Abramovic conhece o Brasil de outros carnavais. Em 1989, visitou as minas de cristais em Marabá — um dos elementos recorrentes em sua obra. Recentemente, em 2011, mostrou trabalhos na galeria Luciana Brito, em São Paulo.
FUNERAL
Conhecida pelas experiências radicais e penosas a que submete seu corpo, a artista, 67, anda obcecada pelo tema da morte. Já planejou seu funeral — uma performance, que prevê três sarcófagos— e vem apresentando, na Europa e nos EUA, uma peça sobre o tema, que encomendou ao diretor Bob Wilson.
"Vida e Morte de Marina Abramovic", com Willem Dafoe no papel de um sinistro e cômico narrador, repassa a biografia da artista, que entra em cena como ela mesma e no papel da mãe disciplinadora. É uma espécie de culto irônico à própria personagem — autocomplacente, na opinião de alguns críticos— que termina com sua ascensão, numa cena que remete diretamente ao santo imaginário do cristianismo.

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