quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Ministro alemão alerta que energias renováveis podem minar indústria

Ministro alemão alerta que energias renováveis podem minar indústria

Melissa Eddy
O novo ministro da Energia da Alemanha fez um sério alerta na terça-feira (21) sobre as metas ambiciosas do país de tornar seu setor de energia mais dependente de fontes renováveis, dizendo que a alta dos custos pode minar o apoio público e colocar em risco a poderosa base industrial alemã. Sigmar Gabriel, em seu primeiro discurso importante, disse em uma conferência anual de energia, organizada pelo jornal "Handelsblatt" em Berlim, que os custos anuais de renováveis de cerca de 24 bilhões de euros para o consumidor já estavam pressionando os limites com que a economia alemã, a mais poderosa da Europa, é capaz de arcar.
"Nós precisamos ter em mente que todo o futuro econômico de nosso país depende disso", disse Gabriel, que é responsável pela Energiewende, ou transição energética. "A transição energética tem o potencial de ser um sucesso econômico, mas também pode causar uma desindustrialização traumática de nosso país".

As propostas de Gabriel para reforma da lei de energia foram apresentadas ao novo Gabinete da chanceler Angela Merkel na quarta-feira (22). Ele é presidente do Partido Social-Democrata, que formou uma coalizão de governo em dezembro com a União Democrata Cristã de Merkel. O país está aguardando por seus planos para reforma da Energiewende, que foi implantada em 2011 pelo governo anterior da chanceler, em resposta ao desastre nuclear no Japão.

As propostas alemãs estão sendo discutidas enquanto a União Europeia planejava anunciar também na quarta-feira (22) suas metas climáticas e energéticas para 2030. As autoridades estão tentando equilibrar os interesses das empresas com o imperativo de redução de emissões dos gases que causam o aquecimento global. A Alemanha se vê como um exemplo de como adotar fontes de energia mais limpas. Berlim agora quer assegurar que sua própria transição energética não coloque em risco o progresso na redução de emissões.

Colocar a energia alemã no caminho certo é tão importante para a nova coalizão de governo que Gabriel foi encarregado de duas pastas antes separadas, em uma espécie de superministério que combina energia e economia. Suas propostas reduziriam alguns dos subsídios pagos aos produtores de eletricidade gerada por produção solar e eólica, em até um terço até 2015, estabelecendo ao mesmo tempo limites para melhorar o controle da expansão de fazendas eólicas e solares, segundo documentos, versões dos quais foram amplamente divulgadas pela imprensa alemã. "Nós precisamos controlar a expansão da energia renovável para não termos a anarquia que vimos anteriormente", disse Gabriel. "Nós precisamos reduzir os custos para que permaneça de preço acessível."
Ampliar

Planta que atinge seis metros em 120 dias é promessa na produção de energia4 fotos

3 / 4
O sorgo da variedade Palo Alto, desenvolvido pela Nexsteppe pode chegar a 6 metros, e tem produtividade de até 89 toneladas por hectare; a planta é promessa na produção de energia através da queima Leia mais Divulgação/Nexsteppe

Ao mesmo tempo, Gabriel buscou minimizar as expectativas de que pode promover mudanças radicais. Ele enfatizou repetidamente que não está prometendo reduzir os preços da eletricidade, que já estão entre os mais altos na Europa. A Alemanha enfrenta um equilíbrio delicado. Ela deseja manter o ritmo de avanço da energia renovável assegurando, ao mesmo tempo, que seu preço permaneça acessível. O país deseja desativar gradualmente seus reatores nucleares até 2022, aumentando o percentual de energia gerada por fontes renováveis para 40% ou 45% até 2025. No ano passado, 23,4% de toda energia produzida na Alemanha vinha de fontes renováveis.

O governo de Merkel deseja que a reforma da lei seja aprovada pelo Parlamento até a metade do ano, em um esforço para conter a alta dos custos. Para aumentar a pressão, há uma investigação pela União Europeia das isenções para operações de uso intensivo de energia na Alemanha, que Bruxelas diz que podem violar as leis de comércio, mas que Berlim argumenta serem necessárias para manter a competitividade do país. Gabriel disse que reagiria contra Bruxelas, argumentando que a Alemanha estava conduzindo um experimento que pode vir a beneficiar todos os 28 países do bloco. "Nós estamos tentando aliviar fardos como em nenhum outro lugar na Europa", disse Gabriel. "A Alemanha está pagando pela curva de aprendizado para que outros não precisem pagar por ela, mas precisamos manter isso a um preço que a indústria alemã possa pagar."

A Alemanha também enfrenta o desafio de assegurar a estabilidade do mercado de energia. Os provedores de energia convencional sofreram perdas devastadoras devido aos desequilíbrios no mercado de energia causados pelas fontes renováveis altamente subsidiadas. Vários exigiram que o governo os compense por manterem usinas não lucrativas em funcionamento para assegurar a estabilidade do mercado.

Peter Terium, o chefe da companhia elétrica alemã RWE, disse na conferência que a energia nuclear pode ser eliminada antes mesmo do que o governo planejava, já que não é mais lucrativa. "Não seria responsável permitir que um reator continue funcionando quando está dando prejuízo diariamente", disse Terium. Gabriel rejeitou subsídios para as usinas elétricas convencionais, mas disse que conversará com os líderes do setor para descobrir qual a melhor forma de tratar o problema.

Um efeito adverso da transição energética da Alemanha é o aumento do uso de linhito (carvão marrom), um das fontes mais baratas e mais sujas de energia. A Alemanha já é maior produtora do mundo de linhito e, no ano passado, produziu mais eletricidade a partir do linhito do que em qualquer momento desde 1990.

Tradução: George El Khouri Andolfato

Ampliar

Saiba quanto cada eletrodoméstico gasta de energia11 fotos

1 / 11
O Idec fez um levantamento para saber qual é o consumo de energia dos eletrodomésticos usados na cozinha e na lavanderia. Confira, a seguir, o gasto médio de cada um Leia mais Arte/UOL

Nenhum comentário:

Postar um comentário