quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O povo indesejado da Europa

O povo indesejado da Europa

Jörg Diehl, Fiona Ehlers, Özlem Gezer, Maximilian Popp e Fidelius Schmidt
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Veja fatos curiosos sobre povos ciganos no Brasil e no mundo8 fotos

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Na Europa e nos Estados Unidos a palavra "gipsy"- cigano- é evitada por estudiosos por apresentar caráter pejorativo, sendo adotado o termo "romani". O termo "rom" se refere a um membro do grupo de origem romani, sendo "roma" a forma plural. Segundo o geógrafo Marcos Toyanski, apesar de ser considerado o termo politicamente correto, nem todos os ciganos conhecem ou se consideram roma. A palavra "cigano", "cygani", "cikan", entre outras, são derivadas do grego "atsigani" que significa "não toque", "intocáveis"."Gitano" e "gipsy" são derivadas de "egyptian" pois acreditava-se que os roma vieram no Egito Tuca Vieira/Folha Imagem
A porta do armário voa por uma janela do andar de cima e aterriza numa pilha de entulho num gramado do subúrbio de Duisburg, em Rheinhausen. Meia dúzia de homens usando jaquetas grossas e chapéus de lã estão a apenas dois metros de distância. A porta poderia ter ferido alguém, mas Marian, Nico e os outros não movem um músculo. "Eles estão reformando", diz Marian. Os homens riem. "Não há problema."
Marian, que vem do nordeste da Romênia, mora no prédio de tijolos de oito andares há três anos. O lugar ficou conhecido por toda a Alemanha como "a casa dos problemas", "casa do terror" ou simplesmente como "casa cigana". Como se isso dissesse tudo.
Eis uma breve história do prédio: há alguns anos, ciganos vindos da Romênia se mudaram para lá. Muitos outros vieram depois até que o edifício abrigasse quase que exclusivamente imigrantes ciganos, mais do que a estrutura podia acomodar. Eles fizeram churrascos no quintal, o que gerou reclamações dos vizinhos. O lixo se empilhou em volta do prédio e o serviço de coleta se recusou a retirar. Isso atraiu ratos.
Os vidros das janelas quebraram e ninguém os substituiu. As escadarias começaram cheirar a urina. Alguns habitantes furtavam, enganavam pessoas ou as roubavam, o que levou a visitas frequentes da polícia. Nos primeiros nove meses do ano passado, um total de 277 crimes foram atribuídos a pessoas que vivem no prédio.
Então vieram os ativistas de extrema-direita. Eles protestaram em frente ao prédio e o criticavam em fóruns na internet. Em uma página do Facebook que tem como título o endereço da casa, "In den Peschen 3-5", Stefan K. escreveu: "Joguem uma bomba lá dentro, isso resolverá". Marian D. pediu: "Queimem esses babacas". A página tinha 1.690 curtidas até ser encerrada em agosto.
Naquele mês, os ocupantes do prédio se armaram com tacos. Ativistas de esquerda montaram guarda à noite. Quando a polícia tentou entrar no edifício numa noite de agosto, as pessoas lá dentro mantiveram-na para fora com barras de ferro e spray de pimenta.
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Fotógrafa registra 'pobreza e coragem' em comunidade cigana7 fotos

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7.ago.2013 - Há mais de mil pessoas que vivem na comunidade roma de Craica (na foto), cerca de metade delas com menos de 18 anos. A instituição de caridade Hope and Homes for Children ("Esperança e Lares para Crianças", em tradução livre) trabalha para manter as crianças com suas famílias - e fora de orfanatos e outras instituições do tipo Yvonne de Rosa/BBC

"Não tínhamos nada na Romênia"

Apesar disso, Nico ainda defende: "é bom aqui". Ele diz: "nossos filhos podem ir à escola, não há problemas com os vizinhos". Ele encontra trabalho ocasionalmente, e quando não está trabalhando, coleta garrafas descartadas e recupera o preço do vasilhame nos supermercados. "Não tínhamos nada na Romênia", diz ele.
Políticos da nova grande coalizão de conservadores e social-democratas da Alemanha estão envolvidos numa disputa sobre a imigração da Romênia e Bulgária porque as restrições de migração da UE foram suspensas em 1º de janeiro. O acordo de coalizão entre os partidos determina que "incentivos à migração para sistemas de bem-estar social deveriam ser reduzidos". Elmar Brok, do partido União Democrata Cristã da chanceler Angela Merkel, que coordena o Comitê de Assuntos Exteriores no Parlamento Europeu, demandou que os imigrantes que só vão para a Alemanha para receber benefícios devem ter suas impressões digitais coletadas.
Muitos imigrantes dos dois países têm boa escolaridade, mas entre eles também estão pessoas pobres e sem qualificação que têm poucas perspectivas de encontrar emprego na Alemanha. Em muitos casos, pertencem ao povo cigano.
Dezenas de milhares de ciganos como Marian e Nico fugiram da miséria e da discriminação que sofrem na Romênia, Bulgária, Sérvia, República Tcheca, Hungria e outros países. Mas na França, Itália e Alemanha, acabaram em acampamentos ou vivendo em moradias precárias. Alguns recorrem ao crime. Também no oeste praticamente todos eles permanecem muito pobres e discriminados.
Cerca de 10 a 12 milhões de ciganos vivem na Europa – mais do que a população da Áustria. Eles vivem no continente há mais de mil anos – e foram condenados ao ostracismo, perseguidos e reprimidos por serem ciganos durante séculos. Os nazistas assassinaram centenas de milhares deles. Os ciganos são a maior minoria da Europa – e continuam sendo o povo mais indesejado do continente.
Quase 70 anos depois do fim da era nazista, Merkel inaugurou em 2012 um monumento aos ciganos e sinti assassinados pelo Holocausto. Mas o debate agora levantado pela União Social Cristã, partido da Bavária irmão do CDU de Merkel, sobre os chamados "migrantes de pobreza" vindos da Bulgária e da Romênia, que também está sendo travado em outros países da União Europeia, mostra que os velhos preconceitos persistem na Europa. Os ciganos de pele escura cantam e roubam, não colocam sapatos nas crianças e gostam de viver na sujeira – essa é a tradição, segundo a visão preconceituosa.
Os governos ignoraram os ciganos por um longo tempo. A Alemanha tem sua minoria sinti integrada, a França teve os manouches e a Espanha os kale, mas ninguém mostrou nenhum interesse por eles – e ninguém perguntou sobre os ciganos do sudeste da Europa. O foco só se voltou para eles desde que cada vez mais ciganos começaram a chegar da Bulgária e Romênia e desde que o número de pessoas da Sérvia e Macedônia que buscam asilo dobrou de 2011 a 2012.
Hans -Peter Friedrich, do CSU, que foi ministro de Interior da Alemanha até recentemente, queria se livrar desses imigrantes o mais rápido possível e evitar que mais chegassem à Alemanha. Ele pediu que os países de origem melhorassem as condições de vida do povo cigano por lá.
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Exposição mostra trajetória de ciganos em fotos8 fotos

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A mostra também revisa os anos 40, 50 e 60, em que ocorre a migração dos ciganos do campo para as cidades e das cidades aos subúrbios dos centros urbanos. Isabel Hernángez, conhecida como Colita, tirou essa foto em 1963 Reprodução/BBC

Vivendo em cortiços

Uma visita a Antena, um assentamento na periferia da capital sérvia de Belgrado, mostra a extensão das melhorias necessárias na Bulgária, Romênia e Sérvia. Não há água corrente, os banheiros são buracos no chão. O ar cheira a urina, mofo e plástico queimado.
Ramiz, 28, vive no assentamento juntamente com 600 outros ciganos. Por 40 euros, ele comprou oito metros quadrados do terreno de um depósito de lixo para construir seu casebre. Ramiz diz que os ciganos são "o povo invisível de Belgrado". Metade dos moradores de Antena não têm passaporte ou certidão de nascimento. Para o governo sérvio, eles simplesmente não existem e não recebem benefícios sociais.
A maioria deles, como Ramiz, veio durante o conflito do Kosovo no final da década de 1990. Eles sonham em chegar ao rico Ocidente o mais rápido possível.
Durante o dia, Ramiz e seus filhos coletam papelão ou vasculham o lixo em busca de pacotes de sopa vencidos, caixas de cereais abertas ou chocolate em pó. No bolso, ele tem um cartão de visita de um homem que trafica pessoas sem documentos através da fronteira ao norte. O transporte custa 100 euros, as propinas para os guardas de fronteira custam 400. Ramiz espera conseguir clientes suficientes para que o traficante deixe que ele atravesse sem pagar nada.
Antena é apenas um assentamento deste tipo em Belgrado. Há centenas como este na Sérvia e milhares nos outros países da Europa Oriental. Em 2011, a Comissão Europeia junto com o Programa de Desenvolvimento da ONU e a Agência Europeia para os Direitos Fundamentais analisou as condições de vida de mais de 80 mil ciganos que vivem em 11 Estados membros da UE e descobriu que um terço deles estava desempregado, 20% não tinha qualquer assistência médica e 90% vivia abaixo da linha de pobreza.

Racismo e ataques

Mas os ciganos não estão apenas tentando fugir da pobreza. Eles também estão tentando fugir da discriminação e do abuso. Na Romênia, em janeiro passado, um grupo de extrema-direita defendeu a esterilização das mulheres ciganas. A Bulgária teve manifestações contra os ciganos na capital, Sófia, no ano passado. Em 2012, uma multidão na República Tcheca gritava "gás para os ciganos" depois que um jovem de 15 anos disse ter sido espancado por ciganos.
Ativistas de direitos humanos dizem que a situação dos ciganos é especialmente precária na Hungria – muito embora o governo afirme ter uma estratégia para integrá-los. "Os ciganos na Hungria são sistematicamente discriminados", diz Gabor Daróczi, diretor da fundação Romaversitas que financia projetos de educação para os ciganos. "Eles não conseguem encontrar trabalho, as crianças não vão para a escola." Ele disse que o sentimento contra os ciganos na Hungria o faz lembrar a década de 30. Em agosto, três homens foram condenados pelo assassinato de seis ciganos por ódio racial.
Membros do governo de direita do primeiro-ministro Viktor Orbán se mobilizam abertamente contra os ciganos. Zsolt Bayer, cofundador do partido Fidesz, no governo, e supostamente um confidente de Orbán, disse: "a maioria dos ciganos não são adequados para a vida comunitária. Eles imediatamente querem prejudicar todo mundo que veem. Se encontram resistência, cometem assassinato. Estes ciganos são animais e se comportam como animais. Eles não deveriam existir, os animais. Alguém tem que resolver isso – utilizando todos os meios disponíveis!"
Em março de 2011, militantes de extrema-direita ocuparam Gyöngyöspata, a 80 km a nordeste de Budapeste, durante várias semanas. Neonazistas marcharam pelas ruas ameaçando e espancando ciganos. O governo não interveio contra os racistas. Quando uma organização de ajuda levou centenas de crianças do vilarejo, o governo descreveu o resgate como "férias de Páscoa".
No final, a polícia se envolveu e os militantes foram embora. Mas a vida não melhorou para os ciganos em Gyöngyöspata. Eles vivem num assentamento no vale. Suas casas são feitas de ferro ondulado e aglomerado e, no inverno, os caminhos ficam cheios de lama.
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Mesmo com Hollande no poder, ciganos esperam por mudanças na França7 fotos

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Mulher varre tapete em acampamento cigano em La Courneuve, na França Leia maisCorentin Fohlen/The New York Times

"Controle de natalidade para ciganos"

O vilarejo é governado pelo partido de extrema-direita Jobbik, que demanda "controle de natalidade para os ciganos" e está ligado a um dos grupos de milícias neonazistas que aterrorizou os ciganos em Gyöngyöspata. A polícia cobra multas quando pedestres andam na rua ao invés de na calçada. Na escola em Gyöngyöspata, crianças ciganas têm aulas num andar separado.
Levando em conta esse tratamento, é um milagre que mais ciganos não tentem deixar seu país de origem. Mas eles também enfrentam discriminação em países mais ricos como a Alemanha. Eles costumam sofrer insultos e ataques, e não têm chances iguais no mercado de trabalho, diz Markus End, cientista político de Berlim. O racismo contra os sinti e ciganos é "uma ocorrência cotidiana na Alemanha", diz ele.
O centro de informação RomnoKher, com sede em Mannheim, apresentou um dos relatórios de End a representantes da Comissão de Direitos Humanos do parlamento alemão em dezembro de 2012. Ele continha relatos de preconceito da mídia contra o povo cigano, danos a monumentos em memória da deportação e assassinato de sintis e ciganos durante o nazismo e campanhas contra imigrantes do leste europeu.
Também houve violência contra os ciganos na Alemanha. Rudolf H., um sinti de Klingenhain, um vilarejo na Saxônia, foi chamado de "chefão de cor" e sua esposa Claudia de "cigana vadia". A família sinti sofreu insultos por seis anos. Seus filhos foram ameaçados na escola e a polícia uma vez teve de protegê-los de neonazistas no caminho da escola para casa.
Sua casa foi invadida várias vezes por pessoas que quebraram os móveis e cortaram o sofá. No outono de 2009, um tijolo foi arremessado pela janela com um bilhete preso que dizia: "Fujam, seus sujos". No Natal, sua casa foi incendiada. Foi quando a família desistiu e se mudou.
Mas o sentimento em relação aos ciganos é ainda mais hostil do que em outros países da UE. Na Itália, o governo está tentando realojar ciganos em bairros segregados feitos de contêineres.
Elviz Isola mora num desses acampamentos com sua mãe e muitos irmãos. Antes disso eles moravam em "Casolino 900", uma das maiores favelas da Europa que foi arrasada por tratores numa noite. Então o governo os realojou em Salone. Elviz espera no portão cercado de arame farpado. Há uma câmera de vigilância ao lado dele. Salone fica do lado de fora do anel viário que circunda Roma. É um lugar esquecido por Deus, acessível apenas por um caminho estreito. Atrás do portão fica um acampamento sombrio de contêineres de metal cada um medindo três por sete metros, em fileiras bem alinhadas, com janelas que lembram aberturas para atirar flechas.

Ratos, vira-latas e colchões apodrecendo

Cerca de 500 famílias moram no acampamento, em muitos casos, mais de seis ou sete pessoas em apenas 30 metros quadrados. Ratos correm ao longo dos caminhos entre os contêineres, cães vira-latas vagueiam por ali e o lugar é cheio de velhos sofás e colchões apodrecendo que os romanos jogam no local secretamente nos finais de semana. Mas Salone deveria ser um modelo de conjunto habitacional "totalmente equipado", financiado pela prefeitura, para a minoria – pelo menos, é assim que o governo italiano vê.
Na verdade, Salone é mais um gueto do que um bairro e priva os jovens como Elviz da chance de pertencer à Itália normal. São necessárias três ou quatro horas para chegar ao centro de Roma, onde eles podem conseguir um emprego ou uma capacitação. "Quem é que vai me pegar como um cavalariço, mecânico ou ajudante de cozinha morando tão longe, com este rótulo de "zingaro" que eu carrego na testa?", diz Elviz. "Eles ganham as eleições enfiando o povo cigano numa prisão como Salone."
No verão passado, o vice-presidente do conselho municipal de Gênova, disse: "águas-vivas são como os ciganos: inúteis e sempre um inconveniente". De acordo com um relatório da Anistia Internacional, os políticos veem a presença do povo cigano como algo "comparável a um desastre natural".
Houve um tempo, há mais de quatro anos, que Elviz Isola achava que as coisas poderiam mudar. Ativistas apresentaram uma queixa na UE contra a polícia por tirar as impressões digitais de menores ciganos. Elviz estava entre os queixosos, a decisão foi a seu favor e ele achou que tudo ficaria bem. Mas hoje, está resignado. "Nós ciganos não participamos de nenhuma guerra, somos um povo pacífico. Defender-nos agora, confrontarmos, de que serviria?"
Elviz e seus amigos preferem fazer rimas de rap à mesa em seu contêiner e escrever um blog sobre suas vidas como ciganos. Recentemente, eles até têm um pouco mais de dinheiro. O novo papa está atraindo mais peregrinos para a cidade e as mulheres estão mendigando e voltando para casa com mais dinheiro no bolso. O fato de que o Papa Francisco fala muitas vezes da pobreza e de visitar as margens da sociedade enche Elviz de esperança. "Ele deveria vir", diz Elviz. "Não há nada mais marginalizado do que nosso acampamento, em nenhum lugar da Europa."
A França também não tem muito escrúpulo quando se trata dos ciganos. Acampamentos com casas móveis e abrigos temporários, estabelecidos em muitos lugares pelos ciganos da Romênia e Bulgária, são simplesmente demolidos. O método começou durante o governo do presidente conservador Nicolas Sarkozy, e continuou durante o governo de seu sucessor socialista, François Hollande.
Não é apenas a Frente Nacional de direita que acredita que a maioria dos ciganos é incapaz de se integrar. O ministro do Interior socialista Manuel Valls concorda. O modo de vida deles é "extremamente diferente", diz. Ele imediatamente foi ameaçado de sanções pelo escritório da comissária europeia de justiça Viviane Reding,que deixou claro que os direitos da UE que garantem liberdade individual de ir e vir também se aplicam aos ciganos. O escritório dela observou que a UE fará tudo o que estiver a seu alcance para defender esses direitos.
Durante uma visita a Bruxelas, Reding sentou-se em seu escritório e suspirou. "É impossível vencer nessa questão", diz ela. A pouca importância que os estados membros da UE dão aos ciganos ficou clara para ela quando viajou para a cúpula do povo cigano em 2010 na cidade espanhola de Córdoba. "Apenas três ministros estiveram presentes", disse ela. O ministro de Interior alemão na época, Thomas de Maizière, também mostrou pouco interesse e enviou um representante.

"Não há necessidade de uma estratégia especial para os ciganos"

Depois da cúpula, Reding demandou que todos os estados membros da UE apresentassem uma estratégia para a integração dos ciganos. A resposta da Alemanha foi significativa: em 2011, um documento de várias páginas chegou de Berlim admitindo que havia dificuldades no que dizia respeito à integração de imigrantes. Mas, continuava, "não há necessidade de uma estratégia especial para os ciganos".
Na primavera de 2013 , Reding lançou uma mesa redonda para a discussão de questões relativas aos ciganos. A mesa tinha como objetivo fornecer uma oportunidade para organizações de ajuda e representantes dos gianos darem voz às suas preocupações e problemas. A lista resultante foi da pobreza e discriminação até dificuldades no acesso à educação e sistemas de saúde.
A UE, com frequência tão poderosa, têm pouca influência no que diz respeito à política em relação aos ciganos e Reding tem poucas possibilidades para impor sanções. Ela escreve cartas para o ministro de interior alemão Friedrich quando a retórica dele fica muito afiada. Ela também criticou a Itália e até deu início a procedimentos oficiais contra a França quando Paris expulsou um grande número de ciganos.
A voz de Reding mostra frustração quando ela diz: "as duas coisas principais que costumamos receber dos estados membros são: ou alguns discursos de domingo bem intencionados ou populismo dirigido contra os ciganos". Mas é impossível conquistar votos apoiando os ciganos. De fato, os estados membros nem usaram todos os 26,5 bilhões de euros disponibilizados ao longo dos últimos cinco anos para ajudar na integração dos ciganos.
Damian Draghici talvez pudesse explicar à comissária de Justiça o motivo disso. O homem de 43 anos é cigano e é um músico de sucesso. Ele foi coautor da trilha sonora da série "Piratas do Caribe".
Hoje, Draghici é o principal conselheiro de assuntos relativos aos ciganos para o primeiro-ministro romeno. Numa tarde de junho, ele se viu sentado numa sala de conferências em Bucareste, com seus óculso Ray-Ban na testa. De cabelos curtos, ele usa terno e fala inglês sem sotaque. Na mesa à sua frente havia garrafas de água, cartões de visita e dois smartphones.
Sim, disse ele, há uma estratégia para os ciganos na Romêni, mas só porque Bruxelas exigiu. É apenas um papel. Ele resume a estratégia para os ciganos de seu governo e os esforços de Bruxelas sucintamente: "só papo furado", diz ele.
Ele diz que ficaria feliz em ajudar no caso de haver problemas com os ciganos na Alemanha. Ele poderia ajudar com projetos nos vilarejos romenos envolvidos conforme for necessário, basta pedir, ele insiste. Quando ele fica sabendo que os pais na Alemanha recebem 20 vezes mais do estado para cada criança do que os pais ciganos, ele diz, incrédulo: "papo furado."
Ele diz que nos últimos 20 anos, as questões dos ciganos estiveram em último lugar na agenda política da Romênia. "Os ciganos hoje estão na mesma condição que estavam há 150 anos", diz ele. As cidades só podem ajudar os ciganos num nível local, ele acredita, e não por resolução de Bruxelas e certamente não do parlamento da Romênia. O legislativo do país tem apenas um deputado cigano para para cerca de dois milhões de ciganos no país.
No início de dezembro, os estados membros da UE aprovaram mais um documento em Bruxelas. Todos os 28 países se comprometeram a adotar medidas para acelerar a integração de suas populações ciganas. A comissária eurpeia Reding diz que isso mostra que os estados membros estão preparados para fazer algo para ajudar a minoria. "Não hesitaremos em lembrar os estados membros de suas obrigações e garantir que eles as cumpram", diz ela.
Pode ser. Mas quase no mesmo momento, os ministros do Interior europeus colocaram novas restrições à entrada sem visto a partir de países dos Bálcãs como a Sérvia e a Macedônia. O ex-ministro de Interior Friedrich até propôs, logo depois de passar para o ministério da Agricultura, que as liberdades de trânsito sejam limitadas para pessoas da Romênia e Bulgária, ambos membros plenos da UE.
Essas atitudes deixam os ciganos desconfiados de que a nova resolução para melhorar sua situação seja apenas um papel. Draghici poderia dizer: papo furado.
Tradução: Eloise de Vylder

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