quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Dupla de rap Macklemore & Ryan Lewis desbanca veteranos e compra briga com hit sobre amor gay

folha de são paulo
Deu branco
Dupla de rap Macklemore & Ryan Lewis desbanca veteranos e compra briga com hit sobre amor gay
GIULIANA DE TOLEDODE SÃO PAULONo lugar de um carrão novo, um patinete ou um velho DeLorean. Em vez de roupas de marca, um casaco de pele que parece da avó. No lugar de garotas em trajes mínimos, casais gays se beijando. Assim são os clipes da dupla americana de rap Macklemore & Ryan Lewis.
Brancos, com um hit sobre amor gay ("Same Love") e outro sobre compras em brechó ("Thrift Shop"), o duo venceu a categoria de artista revelação e os três principais prêmios de rap do último Grammy, quebrando expectativas.
Com uma carreira que ganhou força só no último ano, Macklemore & Ryan Lewis desbancaram, não só no Grammy mas também na parada da "Billboard", concorrentes veteranos como Kanye West e Jay-Z e geraram controvérsia entre os puristas do estilo. Macklemore --fora dos palcos, o americano Ben Haggerty, 30, de Seattle--, aliás, alimentou a polêmica.
O rapper, logo após receber o prêmio de álbum do ano, por "The Heist", publicou no Instagram uma mensagem de desculpas ao amigo Kendrick Lamar, negro e um dos favoritos com seu "Good Kid, M.A.A.D City".
Para Macklemore, ele e a outra metade menos conhecida da dupla, o produtor Ryan Lewis, 25, "roubaram", por serem brancos, o prêmio de Lamar, que teria feito um disco melhor.
"Em termos das pessoas que estão votando, preenchendo as urnas [do Grammy], temos uma vantagem injusta devido à raça, devido ao fato de que tivemos grande sucesso de rádio, devido ao fato de que o nosso nome estava circulando mais na indústria dessas pessoas que preenchem as cédulas", disse o rapper à rádio nova-iorquina especializada em hip-hop Hot 97.
Desde que a categoria de álbum de rap foi criada, em 1996, outras cinco vezes o gramofone dourado ficou com um branco --todas com Eminem, que se diz admirador de Macklemore.
"Eu ouvi todo o álbum dele. Ele é realmente da hora'", disse o branco de maior sucesso da história do estilo, em entrevista à revista americana "Rolling Stone". "Ele é um ótimo compositor. Conceitualmente, as coisas que ele faz são incríveis."
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    GIULIANA DE TOLEDODE SÃO PAULO
    Com o hit "Same Love", que apoia o casamento gay, a dupla Macklemore & Ryan Lewis mexeu no vespeiro do mundo dos machões do rap.
    Snoop Lion (ex-Snoop Dogg), 42, um dos principais nomes do estilo, já disse que gays não são bem-vindos. "Rap é masculino. É como um time de futebol. Você não pode estar num vestiário cheio de caras durões e, do nada, dizer Ei, cara, gosto de você", afirmou ao "Guardian".
    A declaração, em abril passado, era sobre a saída do armário do rapper californiano Frank Ocean. "Ele não é um rapper. É um cantor. Isso é aceitável no mundo dos cantores, mas, no mundo do rap, não sei se isso vai ser aceitável algum dia", completou.
    Nesta semana, o preconceito contra Ocean voltou à tona. O rapper T-Pain, em entrevista ao site VladTV, sem citar nomes, disse conhecer rappers que já se negaram a trabalhar com Ocean.
    Heterossexual, Macklemore --que se recupera do vício em drogas-- diz dar a cara a tapa por convicção na causa.
    Em "Same Love", com vocais da cantora Mary Lambert, ele lembra que, quando criança, chegou a achar que fosse gay porque sabia desenhar e manter o quarto organizado. Contou aos prantos à mãe, que lhe fez ver além dos rótulos, diz a canção.
    No Grammy, o duo "causou", com Madonna e Queen Latifah, ao promover um casamento gay coletivo ao cantar a música, que foi adotada como uma espécie de hino em Estados americanos que buscam a aprovação da união.
    'HIPOCRISIA'
    E se um rapper brasileiro falasse sobre casamento gay? "Tenho certeza de que a polêmica seria muito maior [do que nos EUA] e receberia muitas críticas das pessoas do próprio movimento", diz o rapper paulistano Projota, 27.
    "Estamos atrasados. Aqui a gente recém começou a assimilar o fato de termos raps que não falem somente da periferia e não sejam voltados só para o periférico'", avalia.
    Para Gabriel O Pensador, 39, que citou o amor gay em "Se Liga Aí", a questão é tratada com hipocrisia no país. "Putaria pode, mas amor entre pessoas do mesmo sexo, não. Não faz sentido", diz.
    "O trabalho [de Macklemore e Lewis] tem conteúdo e personalidade, o que já é um diferencial enorme num cenário onde muitos usam e abusam de fórmulas de comportamento, postura, marra, ostentação", avalia o carioca.
    Apesar do "atraso" brasileiro, para Thaide, 46, um rap com tema gay poderia ser bem-sucedido, com as portas já abertas pela canção americana. "Same Love' é uma música que mexe com a valorização do ser humano. Pessoas que não se sentiam apoiadas até então provavelmente vão fazer músicas assim agora."

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