domingo, 8 de dezembro de 2013

Estudo inédito revela que homem brasileiro é mais baixo que roupas vendidas por grifes

folha de são paulo

Estudo inédito revela que homem brasileiro é mais baixo que roupas vendidas por grifes


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PEDRO DINIZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO
"O homem brasileiro não é 'tanquinho'. Tem barriga, é baixo, e seu peito e sua bunda são grandes. Ele é mais normal do que gostaria de ser."
A frase do gerente de inovação, estudos e pesquisas do Senai, Flávio Sabrá, oculta outra realidade: o mercado de moda masculina nacional também pensa que o brasileiro é diferente. Algumas das principais grifes nacionais não oferecem roupas condizentes com o tamanho do homem médio que vestem.
Baseada nos resultados parciais do estudo antropométrico realizado pelo Senai Cetiqt (Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil) e obtido com exclusividade, a reportagem visitou lojas de 11 marcas, no Rio e em São Paulo, e constatou que o desajuste médio entre corpo e vestimenta chega a 6 cm para mais na altura e 6 cm para menos no quadril.
As grifes testadas -Alexandre Herchcovitch, Conto Figueira, Crawford, Ellus, Noir Le Lis, Osklen, Reserva, Riachuelo, Richards, Sérgio K. e VR- foram escolhidas levando em conta relevância no mercado, diversidade de públicos-alvo e por terem modelagens distintas entre si.
O homem médio do Sudeste, de acordo com análise prévia, tem entre 1,72 m e 1,75 m. No teste da fita métrica feito com calças e camisas "slim", mais coladas ao corpo, nos tamanhos M e 40 das marcas, a soma é de quase 1,80 m.
O quadril das grifes é menor do que deveria ser. Enquanto elas trabalham com diâmetro de 94,5 cm, a média da pesquisa é de 100 cm.
Editoria de arte/Folhapress
DESAJUSTE MAIOR
Ao todo, o Senai mediu 1.806 homens em Minas Gerais, Rio e São Paulo. Quando forem tiradas medidas no Norte, no Nordeste e em parte do Sul, até julho de 2014, a média do desajuste da altura pode aumentar para até 8 cm.
"Em Manaus, o homem padrão mede cerca de 1,64 m. Já em Belém, 1,68 m", explica Sabrá, que há sete anos conduz o maior estudo do gênero já realizado no país.
Os homens citados por Sabrá, considerados baixos, representam 15,7% da população masculina. Os considerados altos, que medem mais de 1,81 m e encontram oferta ampla de roupas no mercado nacional, também correspondem a 15,7% do público.
Numa loja da grife Crawford, por exemplo, o vendedor passou 22 minutos até achar uma camisa no tamanho 38, que corresponde a um tamanho P na grade atual adotada pelo mercado.
"São as primeiras peças que desaparecem. Sempre sobram os tamanhos M e G", disse ele à reportagem, que não se identificou.
Numa filial da grife carioca Reserva, no Rio, um vendedor justificou a falta de uma camisa com modelagem menor afirmando que o "carioca gosta de roupa folgada, ao contrário dos paulistas".
Na loja da marca próxima à rua Oscar Freire, símbolo do consumo de alto padrão em São Paulo, o tamanho das peças M era similar ao do Rio. A oferta de camisetas pequenas, porém, era maior que no ponto carioca: havia uma arara só com esses modelos.
As camisas da Reserva, as calças da Osklen e as peças da Conto Figueira e da Sérgio K. tiveram algumas das menores medidas apuradas.
Bruno Passos, estilista da grife Conto Figueira, faz ressalvas à criação de uma tabela única a partir das medições. "Cada marca tem seu público-alvo e com suas medidas." O tamanho M da Conto, apesar de não ser tão grande quanto o das outras marcas pesquisadas, foi medido a partir do corpo do próprio dono (1,85 m).
MUDANÇA URGENTE
Segundo Flávio Sabrá, há na moda masculina um preconceito com o corpo real e uma relação esquizofrênica com a imagem de homem ideal vendida pelas marcas.
"Se as mulheres têm muita carne e não encontram roupas que caibam bem em seus corpos no tamanho G, os homens têm problemas similares no tamanho P", diz o pesquisador, que já trabalha com a Associação Brasileira de Normas Técnicas para normalizar a tabela de medidas do vestuário feminino.
Após reportagem da Folha em maio sobre o desajuste de medidas na moda feminina, a associação procurou o Senai para estabelecer nova tabela de referência.
Já há encomendas para normalização de medidas de vestuários masculino, terceira idade, obeso e infantil.
Alexandre Herchcovitch, João Pimenta e Sérgio K, de olho no mercado reprimido de baixinhos, já vendem peças PP, equivalente ao XS dos EUA e da Inglaterra.

Confira parcial de estudo sobre as medidas do corpo do homem brasileiro


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DE SÃO PAULO

Confira a parcial do Estudo Antropométrico da região Sudeste, correspondente ao corpo do homem brasileiro. Segundo o Senai Cetiqt, os dados correspondem à média nacional; no entanto, as medidas de altura podem diminuir até 2 cm.

Altos - maiores que 181,4cm (15,7% do total de homens pesquisados)
Medidas de Maior incidência:
3,0% - 183,1cm (altura); 106,6cm (busto); 94,6cm (cintura); 103,5cm (quadril)
2,9% - 182,8cm (altura); 102,6cm (busto); 89,8cm (cintura); 100,6cm (quadril)
2,8% - 182,6cm (altura); 98,7cm (busto); 85,0cm (cintura); 97,6cm (quadril)
Médias dos homens mais altos:
182,8cm (altura); 102,6cm (busto); 89,8cm (cintura); 100,6cm (quadril)
175,6cm - 181,3cm = Baixa incidência. Não entra na contagem.
Medianos - entre 172,6cm e 175,5cm (61,2% do total de homens pesquisados)
Medidas de Maior incidência:
12,1% - 174,0cm (altura); 103,4cm (busto); 91,8cm (cintura); 100,0cm (quadril)
10,5% - 173,8cm (altura); 99,5cm (busto); 87,0cm (cintura); 97,0cm (quadril)
9,3% - 174,2cm (altura); 107,4cm (busto); 96,6cm (cintura); 102,9cm (quadril)
8,5% - 173,5cm (altura); 95,5cm (busto); 82,1cm (cintura); 94,1cm (quadril)
5,9% - 173,3cm (altura); 91,5cm (busto); 77,3cm (cintura); 91,1cm (quadril)
5,8% - 174,5cm (altura); 111,4cm (busto); 101,4cm (cintura); 105,9cm (quadril)
Médias dos homens medianos:
174,0cm (altura); 103,4cm (busto); 91,8cm (cintura); 100,0cm (quadril)
167,1cm a 172,5 = Baixa incidência. Não entra na contagem.
Baixos -menos de 167,1cm (15,7% do total de homens pesquisados)
Medidas de Maior incidência:
3,4% - 165,4cm (altura); 100,2cm (busto); 88,8cm (cintura); 96,5cm (quadril)
3,2% - 165,2cm (altura); 96,2cm (busto); 84,0cm (cintura); 93,5cm (quadril)
2,3% - 165,6cm (altura); 104,2cm (busto); 93,6cm (cintura); 99,4cm (quadril)
2,0% - 164,9cm (altura); 92,2cm (busto); 79,2cm (cintura); 90,6cm (quadril)
Médias dos homens baixos:
165,6cm (altura); 104,2cm (busto); 93,6cm (cintura); 99,4cm (quadril)

'Comprar roupa é um suplício', diz cineasta que fez filme sobre o tema
Documentário 'Fora do Figurino', de Paulo Pélico, mostra confusão de tabelas nas grifes do país
Segundo estilista, peças maiores são tradição no Brasil; 'Era sempre a mãe que comprava maior, para não perder'
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE SÃO PAULOO périplo em busca de roupas que caiam bem virou até enredo de filme. No documentário "Fora do Figurino - As Medidas do Jeitinho Brasileiro", lançado neste ano, o cineasta Paulo Pélico mostra que o país nunca teve um estudo para apontar os padrões de medida dos brasileiros.
As referências das confecções, indica o filme, são tabelas estrangeiras. "As grifes têm contradições e o resultado é esse aborrecimento: em toda loja, a pessoa tem que provar a roupa. Isso tem um impacto econômico."
Pélico, 57, cruzou o país para fazer o filme. "Em Manaus, não achei ninguém que não tivesse problemas", diz ele, contando sobre a importância do serviço "UTI do jeans", que funciona na cidade para encurtar as barras das calças.
De estatura mediana (1,75 m), o cineasta conta que até para ele "comprar roupas é um suplício". "Não tem peça minha que não seja ajustada. A indústria do vestuário no Brasil não sobreviveria sem esse exército de costureiras."
O estilista Bruno Passos, dono da marca online Conto Figueira, diz que criou no site uma tabela com as medidas de todas as peças para evitar contratempos. "É um facilitador. Minha margem de troca não chega a 10%."
Segundo ele, a modelagem no país tende a ser maior por tradição. "Era sempre a mãe que comprava, e em tamanhos maiores por economia, para não perder' a roupa."
O estilista João Pimenta, que vende peças em geral menores do que a média, diz que investir em roupas em formato tubular foi opção para o corpo brasileiro, com tórax e braços grandes.
"Os homens estão com uma mania de academia que temos de acompanhar."
Pimenta diz ver vantagem no fato de o brasileiro não corresponder, segundo ele, àquele perfil "elegante como o europeu" ou "grande como o americano". Segundo diz, "a roupa cai melhor em quem tem bunda", ainda que seja mais difícil costurar. "O homem brasileiro não é gostoso, é popozudo."
ROUPA DE CRIANÇA
"É um desgosto", afirma o designer gráfico Yuri Rios, 23, 1,54 m de altura. "Já cheguei a rodar quatro shoppings e não achar nenhuma roupa que me coubesse."
Ele conta que já teve de recorrer a camisetas infantis ("para crianças de 12 anos") e calças da mãe. "O problema é que o cavalo aperta, e o bolso é pequeno", diz.
Camisa social, ele tem duas --uma delas, de mulher. "Já sofri preconceito", afirma Rios. "Uma vez peguei calças femininas e experimentei no provador infantil. A vendedora me mandou sair e disse que as peças não eram para mim."
O relações-públicas da Way Model, José Macedo, 28, diz comprar peças no exterior, em redes como Uniqlo e H&M, que têm "modelagem mais europeia e fit" --tudo para fugir dos ajustes.
"Se você compra algo de um estilista e ajusta, perde a identidade da roupa", diz o rapaz, de 1,66 m. "Ser baixinho só é bom no avião."

    OUTRO LADO
    Grifes afirmam que há pouca procura por tamanho PP
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHADas 11 grifes que tiveram medidas de calças e camisas M analisadas pela reportagem, Ellus, Richards, Riachuelo e VR afirmam não ver necessidade de ajustar sua modelagem média ou de incluir o tamanho PP em sua grade.
    A Ellus diz que sua tabela é baseada em pesquisas feitas com o consumidor. "A demanda por PP é extremamente baixa", diz a nota. A Richards afirmou em nota: "Mesmo o homem brasileiro sendo menor, nos preocupamos em alongar sua silhueta em camisas", diz a marca.
    Em nota, a VR afirma que seu "slim fit" cai bem para um consumidor baixo.
    A Riachuelo afirma usar uma média mais alta pois atende a todo o Brasil.
    A Sérgio K diz que há demanda por PP e que oferece produtos para homens menores. A Conto Figueira diz que não há procura.
    Alexandre Herchcovitch, Noir Le Lis, Reserva, Crawford e Osklen não responderam até a conclusão desta edição.
      ONDE ACHAR ROUPAS MENORES
      João Pimenta
      Os modelos tubulares e o recorte transpassado dos blazers de seis botões devem ser tendência na próxima estação
      Alexandre Herchcovitch
      Passará a produzir o tamanho XP em sua linha. A coleção de inverno 2014, inspirada em Lampião, dá início à empreitada
      Sérgio K
      O Midas da moda masculina "engomadinha" bota fé em linhas esporádicas no tamanho XP
      Topman
      Além do "slim fit", justo e curto, há uma preocupação extra com os materiais, que duram mais de uma estação

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