terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Globo de Ouro aponta para recuperação de Hollywood - Raul Juste Lores; Mauricio Stycer

folha de são paulo
Globo de Ouro aponta para recuperação de Hollywood
Sem franco favorito, premiação destacou variedade de bons filmes no ano
Melhor drama, '12 Anos de Escravidão' perdeu em outras seis categorias; 'Trapaça' ficou com três prêmios
RAUL JUSTE LORESDE WASHINGTONO pilequinho nada disfarçado de Jacqueline Bisset, 69, no palco do Globo de Ouro nos fez recordar por que essa cerimônia é tão mais leve e divertida que a do Oscar.
Mas também serviu para comprovar que o cinema de Hollywood recuperou em 2013 parte da relevância perdida nos anos recentes.
Neste ano, o cinema quase encostou no sucesso de crítica e público obtido nos últimos anos pela TV americana (ainda assim, a vitória da série "Breaking Bad" foi mais aplaudida que a de qualquer um dos filmes premiados).
A ótima fase de Hollywood promete um Oscar competitivo, depois de diversos filmecos alçados a vencedor nas últimas edições do prêmio ("O Discurso do Rei", em 2011, "O Artista", em 2012).
A premiação dos Globos foi picotada, sem um franco favorito. "12 Anos de Escravidão" --o melhor do ano, mas pesado para fazer grande bilheteria--, levou o prêmio de melhor drama, mas perdeu em todas as outras seis categorias a que concorria.
O drama espacial new-age "Gravidade", que arrecadou muito e concorria com quatro indicações, saiu com um único prêmio também, de melhor diretor para o mexicano Alfonso Cuarón.
"Trapaça", farsa inspirada em caso real dos anos 1970 que uniu agentes do FBI e escroques em Nova Jersey, levou melhor comédia/musical e rendeu prêmios para as atrizes Amy Adams e Jennifer Lawrence. A comédia concorria em sete categorias.
PEQUENO
Até um filme pequeno como "Clube de Compras Dallas", sobre a história real de soropositivos que contrabandeavam remédios não autorizados para tratar a Aids nos anos 1980, ganhou os prêmios de melhor ator e coadjuvante (Matthew McConaughey e Jared Leto, dois casos de "volta por cima").
"O Lobo de Wall Street", "Blue Jasmine" e "Ela" receberam um Globo cada. E vários filmes dessa ótima safra saíram de mãos vazias: "Nebraska", "Inside Llewyn Davis", "Philomena" e outros, como "Fruitvale Station", sequer foram indicados.
A TV é que precisa dar uma chacoalhada, depois de temporadas menos boas de "Homeland", "Girls", "Downton Abbey", "Modern Family", "True Blood" e "Mad Men", ignoradas na premiação. Faltam mais séries com o impacto pop-cultural de "Seinfeld", "A Sete Palmos", "Sex and the City" e "The West Wing".
Se "Breaking Bad" levou várias temporadas para conquistar o reconhecimento atual, que venham logo as próximas de "The Americans", "House of Cards", "The Newsroom" e "Game of Thrones".
    ANÁLISE
    Apresentadoras fazem cerimônia virar um stand-up inteligente
    Tina Fey e Amy Poehler aproveitam clima descontraído e não perdoam nem medalhões como Scorsese e DiCaprio
    MAURICIO STYCERCOLUNISTA DA FOLHAApresentando a festa pelo segundo ano, as comediantes Tina Fey e Amy Poehler estão conseguindo mudar a imagem do Globo de Ouro. Esqueça esta bobagem de "termômetro do Oscar" e preste atenção nas piadas.
    A premiação dos jornalistas estrangeiros em Hollywood virou um dos melhores shows de stand up da praça.
    Na comparação com o Oscar ou o Emmy, além de demorar menos, o Globo de Ouro sempre foi famoso por ser a festa de premiação durante a qual bebidas alcoólicas são servidas. Ou seja, sempre foi uma cerimônia mais descontraída. Mas com as duas comediantes na apresentação se tornou também palco de humor inteligente.
    Nas primeiras três frases da festa de 2014, as duas já tinham gargalhado do nome do prêmio, do público que assiste em casa pela TV e de atores candidatos ao prêmio.
    Não faltaram ironias com os principais filmes. "Se eu quisesse ver [o ator] Jonah Hill se masturbar numa festa na piscina, eu iria a uma festa na piscina de Jonah Hill", disse Amy Poehler, realçando o exagero de uma das muitas cenas de sexo no filme "O Lobo de Wall Street".
    Tina Fey explicando "Gravidade", protagonizado por Sandra Bullock e George Clooney, resumiu: "É a história de como George Clooney prefere flutuar no espaço e morrer a passar mais tempo com uma mulher da sua idade."
    Ou falando de Matthew McConaughey: "Para seu papel em Clube de Compras Dallas', ele perdeu 20 quilos --ou o que as mulheres chamam de estar em um filme".
    É curioso notar como os próprios atores se sentem mais à vontade no Globo de Ouro --talvez, justamente, por ser menos importante.
    Quem viu pelo TNT, no Brasil, se divertiu com a falta de censura sonora aos palavrões (alguns deles cortados pela NBC na transmissão para os Estados Unidos), ditos por Jacqueline Bisset, Elisabeth Moss e, em especial, Aaron Paul, que repetiu um dos bordões picantes de seu personagem em "Breaking Bad".
    Na melhor tradição do "Saturday Night Live", em que ambas trabalharam por muitos anos, com enorme sucesso, o stand-up do Globo de Ouro não poupou nenhum medalhão, incluindo Woody Allen, Martin Scorsese, Meryl Streep e Leonardo DiCaprio.
    Tina e Amy conseguiram fazer da cerimônia um bom programa mesmo para quem não está nem aí para a premiação. Não é pouca coisa.
      LÍNGUA AFIADA
      "É a história de como George Clooney prefere flutuar no espaço e morrer a passar mais tempo com uma mulher de sua idade"
      TINA FEY
      humorista, falando de "Gravidade" na abertura da premiação
      "Eu quero agradecer às pessoas que me deram felicidade, e elas foram muitas. E às pessoas que me trataram como merda, eu digo como a minha mãe: vão para o inferno e não voltem"
      JACQUELINE BISSET
      atriz, melhor atriz coadjuvante por "Dancing on the Edge"
      "Obrigada por me encherem de vodca do mesmo jeito que Judy Garland era abastecida com barbitúricos"
      CATE BLANCHETT
      atriz vencedora por "Blue Jasmine", agradecendo aos colegas de mesa
        FORA DO ROTEIRO
        SEM GRAÇA
        O canal E! Entertainment pediu desculpas ao ator Michael J. Fox por ter exibido como um dos "dados divertidos" que a doença de Parkinson do ator foi diagnosticada em 1991.
        SEM PALAVRAS
        Pega de surpresa com o prêmio de melhor atriz coadjuvante em série por "Dancing on the Edge", a britânica Jacqueline Bisset ficou nervosa e demorou a engatar o discurso.
        SEM BEIJO
        O rapper P. Diddy tentou cumprimentar com um beijo o cantor Bono, do U2, mas o irlandês virou o rosto. A cena se tornou meme nas redes sociais.
        SEM PERDÃO
        Enquanto Woody Allen era homenageado, o filho Ronan Farrow o criticava no Twitter. "Eles mencionaram a parte em que uma mulher confirmou publicamente ter sido molestada por ele aos 7 anos antes ou depois de Annie Hall'?", escreveu, em referência à irmã Dylan. A ex-mulher Mia Farrow também tuitou: "Hora de pegar um sorvete e mudar para Girls'".

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