terça-feira, 17 de dezembro de 2013

A inclusão de pessoas com deficiência - Alexandre Schmidt de Amorim

folha de são paulo
ALEXANDRE SCHMIDT DE AMORIM
TENDÊNCIAS/DEBATES
A inclusão de pessoas com deficiência
Muitos alunos que saem de escolas especiais têm como maior impeditivo no ensino regular não a estrutura física, mas o preconceito
O debate sobre a inclusão de pessoas com deficiência no ensino regular e a eliminação, ou não, das escolas especiais exige cautela, e não radicalismos. É justamente desse tema que trata a meta 4 do Plano Nacional de Educação.
A educação especial impacta 820.400 estudantes no Brasil (Censo Escolar, 2012). Hoje, 25% (199.656) deles estão nas instituições especiais. O número é grande e, por isso, antes de qualquer decisão política, é preciso saber quem são esses alunos, o que eles precisam e onde eles podem ser melhor atendidos.
Os pontos de análise são o preparo do ensino regular para receber alunos com deficiência, o papel das escolas especiais e a sociabilização.
De forma prática, a inclusão não é possível e positiva para todos. Existem diferentes tipos de deficiências --algumas em que a idade mental não passa de um ano e outras em que a possibilidade de aprendizagem é maior. É preciso estar pronto para lidar com cada uma delas, em seus diferentes níveis.
Em primeiro lugar, o ensino regular precisa ser melhor preparado para receber os alunos com deficiência que tenham potencial de inclusão. Os esforços públicos devem ir além do investimento em estrutura física. Precisam capacitar o professor, disponibilizar em número suficiente profissionais de apoio e orientar os demais alunos. Acompanhamos muitos casos, em todo o país, de alunos que saem de escolas especiais e têm como maior impeditivo no ensino regular não a estrutura física, mas o preconceito.
Em segundo lugar, precisamos entender que as mais de 4.000 escolas especiais no país desempenham papel fundamental para o deficiente que não acompanha o currículo regular. Essas instituições trabalham dentro dos potenciais do indivíduo e com o acompanhamento de que ele necessita.
Sabemos que, na prática, o professor do ensino regular não pode diminuir o ritmo de aula em função de um aluno. Por isso o fortalecimento das escolas especiais é fator de sucesso para o desenvolvimento pleno da pessoa com deficiência. No caso dessas escolas, o investimento deve ser aplicado na infraestrutura, aí sim o maior limitador de crescimento e causador da longa fila de espera.
O terceiro ponto, a socialização, deve se dar no ensino regular e no especial. É um fator decisivo no processo de inclusão. As práticas que promovem o relacionamento dos alunos de escolas especiais com os das regulares devem ser valorizadas e replicadas, uma vez que diminuem o preconceito e ajudam no desenvolvimento de todos.
Do mesmo modo, a sociedade deve ser foco de campanhas que levem à compreensão da deficiência, dando oportunidades de atuação para o deficiente, como o mercado de trabalho, esporte e atividades culturais.
Ao poder público, cabe apoiar a orientação das famílias que têm filho com deficiência, garantindo informação e formação para os parentes, tantas vezes esquecidos.
Com o trabalho nas três frentes, de forma integrada com o poder público, a pessoa com deficiência se desenvolverá dentro das suas potencialidades e será integrada como alguém capaz de exercer uma função útil em busca de seus objetivos.

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