quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Cacilda, a obsessão e Livro celebra 55 anos de Teatro Oficina

folha de são paulo
Cacilda, a obsessão
O diretor José Celso Martinez Corrêa estreia no sábado a quarta parte da saga sobre Cacilda Becker, iniciada nos anos 1990; ele brinca dizendo que o texto da peça é psicografado e ameaça: a quinta parte está a caminho
GUSTAVO FIORATTIDE SÃO PAULOSentado em uma poltrona de sua casa no Paraíso, bairro paulistano, pés sobre a mesa, um colar indígena no pescoço e o cigarro apertado na mão, o diretor José Celso Martinez Corrêa, ao cair da noite de terça, divaga sobre a atriz Cacilda Becker (1921-1969).
Bom, não é a primeira vez que ele faz isso.
Mito maior da geração de artistas que transitou pelo Teatro Brasileiro de Comédia, Cacilda tornou-se o centro de uma louca obsessão na obra de Zé Celso, o diretor do grupo Uzyna Uzona, sediado no Teatro Oficina, no Bexiga.
Neste sábado, ele estreia "Cacilda!!!! - a Fábrica de Cinema e Teatro", quarta parte de uma saga biográfica iniciada nos anos 1990.
A primeira parte, "Cacilda!" (o número de exclamações determina o capítulo), trazia Bete Coelho, Leona Cavalli e Giulia Gam no personagem-título. Agora, fazem o papel Camila Mota e Sylvia Prado, veteranas do grupo.
"Zé, quantas Cacildas mais virão por aí?". "Não sei. Vai ter a Cacilda cinco exclamações, depois encenaremos A Tempestade' [Shakespeare]."
A nova montagem só terá cinco apresentações neste ano, uma no dia 23, em homenagem ao irmão de Zé Celso, Luis Antônio Martinez Corrêa, diretor de teatro assassinado em 1987.
TALENTO E LOBBY
Com um sorriso maroto, o diretor diz que os textos "são psicografados". Seu vasto campo de pesquisa inclui cartas guardadas pela biógrafa da atriz, Maria Thereza Vargas. Mas a liberdade poética fala mais alto, especialmente na criação de diálogos.
A nova "Cacilda" visita um momento na vida da atriz em que ela já se estabeleceu como intérprete estrelada, com trânsito entre poderosos, inclusive entre ricaços da sociedade paulistana e carioca.
Na peça, ela marca presença em eventos importantes para a cultura brasileira, esticando seu talento ao lobby entre empresários e políticos, como na criação da companhia cinematográfica Vera Cruz, no fim dos anos 1940.
Também seus amores são retratados, com foco no relacionamento com Adolfo Celi (1922-1986). "Cacilda era namoradeira", diz o diretor, que a conheceu nos anos 1950.
A vida sobre os palcos ganha passagens, com menções a "Arsênico e Alfazema", comédia de Joseph Kesselring, e "A Importância de ser Prudente", de Oscar Wilde.
    Publicação, que será lançada no dia 23, lista os nomes dos mais de 1.300 artistas que já passaram pelo palco do espaço
    Obra independente reproduz desde o mapa astral do grupo teatral até reportagens e programas de peças
    DE SÃO PAULOMais de 1.300 artistas já passaram pelo palco do Teatro Oficina nos seus 55 anos de existência. É uma conclusão cravada em "Oficina50+, Labirinto da Criação", livro independente organizado pelo ator e designer gráfico Mariano Mattos Martins, a ser lançado no Oficina no dia 23.
    Para juntar esses nomes em três páginas do livro, Mariano consultou programas de espetáculos e eventos que o Oficina realizou até hoje.
    A pesquisa foi levantada nos dois principais acervos do grupo, um deles guardado em uma casa no Bexiga, o outro aos cuidados da Unicamp, em Campinas.
    Embora se perca no excessivo número de reproduções de matérias de jornais, o livro traz preciosidades, como os mapas astrais riscados pelo astrólogo cubano Hector Othon a partir das datas de aniversário das três principais fases do grupo. "Consideramos que o Oficina nasceu três vezes", diz Martins.
    Ele se refere à estreia do grupo em 28 de outubro de 1958 (escorpião), com o espetáculo amador "Vento Forte para Papagaio Subir"; depois à estreia de "A Vida Impressa em Dólar" em 16 de agosto de 1961 (leão), início da vida profissional do Oficina; e, finalmente, à inauguração do projeto arquitetônico de Lina Bo Bardi para o teatro, em 3 de outubro de 1993 (libra).
    Sobre as reproduções de reportagens, Martins diz que a ideia era começar a tornar público os documentos guardados pelos acervos.
    Há também textos de programas, cartas escritas pelo diretor Zé Celso à imprensa ou a órgãos do poder público e, ainda, um conjunto de textos criados especialmente para esta publicação, assinados pelos atores Aury Porto e Pascoal da Conceição e a diretora Cibele Forjaz, entre outros nomes.
    Descontados os trechos que propagam veneração à figura de Zé Celso (de fato, São Paulo está cheio de grupos que foram formados dentro do Oficina, como se aquele conhecido "terreiro eletrônico" fosse mesmo um berço), pesca-se aqui e ali alguns relatos inéditos e valiosos.
    TRIBOS
    A apresentação da saga "Os Sertões" no próprio sertão nordestino, descrita pelo ator Lucas Weglinski, é um exemplo: mostra o encontro do Oficina com o sertanejo, revelando as excentricidades das duas tribos.
    De um lado, trabalhadores e também ativistas do Movimento dos Sem Terra, do outro, atores propondo exercícios vocais e corporais aos vizinhos desconhecidos.
    Um coro é formado dentro do MST --e eles vão mesmo cantar "Asa Branca" durante as apresentações, realizadas no ano de 2004.
    Com custo de R$ 270 mil financiados a partir de lei de renúncia fiscal, a obra tem tiragem de 2.000 exemplares; 1.500 serão distribuídos para bibliotecas, universidades e outras instituições, e os 500 restantes serão vendidos no lançamento, por R$ 20.

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