sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Ruy Castro

folha de são paulo
Silêncio e gelo
RIO DE JANEIRO - Confesso que não sou muito de ver televisão --fiquei surpreso, outro dia, ao saber que o "Big Brother" ainda existe. Mas acabo de descobrir um remédio contra as altas temperaturas deste verão: assistir pela TV a cabo aos esportes de inverno que estão sendo disputados, creio que na Áustria, como eliminatórias para uma Olimpíada do gênero que, se não me engano, acontecerá na Rússia.
Tal imprecisão é porque, para que aquelas fabulosas corridas na neve e em pistas geladas possam refrescar a sala, devem ser assistidas sem o som da televisão. Mudas. Sob tal silêncio, as imagens ganham uma dimensão quase de balé; fazem pairar uma grande sensação de paz; e, se se concentrar, você entrará num relaxamento comparável ao de um "rigor mortis". Garanto uma queda de pelo menos dez graus na temperatura do ambiente.
Perde-se em informação, mas não em emoção. Será sempre excitante ver um sujeito se soltar do alto do morro sobre um par de esquis e descer driblando bandeirinhas a 200 km por hora. Torcemos para que ele cruze aquela neve maravilhosamente branca sem se estabacar e chegue ao final do percurso, onde o esperam homens com toucas soltas sobre as orelhas.
Outra modalidade de prender o fôlego é a dos homenzinhos que disparam por uma canaleta gelada num carrinho como aqueles de mafuá. Pode conter dois ou quatro homens por carrinho, o qual, pelo formato e velocidade, se converte numa bala humana. Mais arrojado ainda é o trenó que parece voar pela mesma canaleta, tendo a bordo um homem de barriga para cima, tipo maca, ou com a cabeça de frente para um possível obstáculo ou curva fechada.
Se tudo isso fizer com que você apenas sue ainda mais, só lhe restará apelar para o curling, o curioso esporte em que chaleiras deslizam pelo gelo e os jogadores saem varrendo desesperadamente a pista.

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