quarta-feira, 5 de março de 2014

Fantasia de presidente - Vinicius Torres Freire

folha de são paulo
Fantasia de presidente
A esta altura, quem quer ser presidente tem de responder a sério certas perguntas, sem mentir
DAQUI A QUATRO meses, começa a campanha para a eleição de presidente e outras. Daqui a sete meses, a gente vota no primeiro turno. Ainda não sabemos praticamente nada do que pensam os candidatos a presidente, seja porque eles não falem a sério sobre o assunto, seja talvez porque eles não pensem mesmo.
Pode ser que ainda estejam "elaborando o programa". Pode ser. Mas, a esta altura, se a cidadã ou o cidadão quer ser presidente deve ser porque tem ao menos algumas ideias diferentes do que fazer do governo.
Não vale conversinha, generalidades entre burras, malandras e ignorantes, como dizer que "defende o tripé macroeconômico", que "o Brasil parou", que vai "acabar com a velha política de raposas", qualquer frase com expressões tais como "herança", maldita ou bendita, "pessimismo", "preservar as conquistas sociais e avançar" ou, vomitivo, "choque de gestão".
Isto posto, o óbvio, note-se que há perguntas a berrar nos desertos do debate político-econômico, questões para as quais quaisquer "ministério paralelo" ou partido organizados deveriam ter respostas prontas ou quase isso. Trata-se de problemas específicos grandes, mas que podem também dar uma ideia geral do modo de pensar do candidato.
Por exemplo.
O candidato vai reajustar os combustíveis em 2015? O tabelamento informal da gasolina leva à breca a maior empresa do país, a Petrobras, e cria tsunamis de problemas na economia toda.
Vai repassar a conta da eletricidade cara para os consumidores? Ou o governo vai fazer mais dívida cara para bancar o subsídio?
Por falar em eletricidade, qual a primeira mudança importante a ser feita, e logo, dado que tais mudanças demoram a fazer efeito e, caso o Brasil cresça rápido, tal como o candidato promete, pode faltar energia?
O candidato vai parar de passar dinheiro para o BNDES?
O candidato vai continuar a reajustar os benefícios sociais e da Previdência acima da inflação? Se reajustar, de onde vai tirar dinheiro para investir mais, como promete, e abater a dívida pública? Dizer que vai fazer "choque de gestão" é mentira ou ignorância grossa do governo do Brasil.
Os candidatos têm dito que vão "refundar a Federação" (basicamente, dar mais dinheiro federal para Estados e municípios). Como fazer tal coisa sem aumentar impostos, o que quebraria o governo federal, elevaria as taxas de juros e deixaria o país em desordem econômica?
Educação básica é assunto regional, mas: como o presidente pode liderar Estados e cidades de modo a melhorar a qualidade da escola? Não vale vir com generalidades (mais dinheiro, "qualificação dos professores" etc.).
O candidato pensa em reforma das polícias? Como transformá-las em polícias profissionais para um país democrático?
O candidato privatizaria os portos (isto é, acabaria com as estatais da boquinha e da burocracia)?
Como fazer, desde o primeiro dia de governo, para acabar com as burocracias tributárias, alfandegárias e outras que infernizam a vida das empresas?
Pergunte ao candidato. A esta altura, ele deveria saber o que responder. Se não sabe, é despreparado; se não diz, quer nos enrolar. Mentir.
vinit@uol.com.br

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